UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA – UFBA FACULDADE DE DIREITO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO JAMILLE DE SEIXAS SOUZA A PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL À LIBERDADE RELIGIOSA NA RELAÇÃO DE EMPREGO E A TEORIA DO DEVER DA ACOMODAÇÃO RAZOÁVEL Salvador 2017 JAMILLE DE SEIXAS SOUZA A PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL À LIBERDADE RELIGIOSA NA RELAÇÃO DE EMPREGO E A TEORIA DO DEVER DA ACOMODAÇÃO RAZOÁVEL Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Direito da Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Direito. Orientador: Professor Doutor Manoel Jorge e Silva Neto Salvador 2017 JAMILLE DE SEIXAS SOUZA A PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL À LIBERDADE RELIGIOSA NA RELAÇÃO DE EMPREGO E A TEORIA DO DEVER DA ACOMODAÇÃO RAZOÁVEL Dissertação aprovada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Direito, no Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia, pela seguinte banca examinadora: ________________________________________________________ Professor Manoel Jorge e Silva Neto – Orientador Doutor em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Universidade Federal da Bahia ________________________________________________________ Professor Saulo José Casali Bahia Doutor em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Universidade Federal da Bahia ________________________________________________________ Professor Alexandre de Souza Agra Belmonte Doutor em Direito pela Universidade Gama Filho Instituto de Educação Superior de Brasília Salvador, Bahia _____/_____/ 2017. AGRADECIMENTOS Chegado o fim, o mínimo que faço é agradecer. Agradecer pela oportunidade de crescimento científico, agradecer por ter me superado a cada desafio desse mestrado, agradecer por ter evoluído enquanto humana que sou e por ter constatado, mais uma vez, que nada glorioso independe de renúncias e por isso a luta deve ser contínua. Especificamente agradeço a Deus, esse Ser de proteção e amor e vanguardista da liberdade, porque Dele vem o livre-arbítrio, maior bem humano. Agradeço também a Deus pela mãe que me deu nessa vida encarnada, sem ela jamais eu teria conseguido, sem ela não penso em poder mais nada. Ao meu filho, que por tantas vezes deixei com sua melhor mãe, não só agradeço como reverencio por não ter me permitido desistir, vez que maior que a dor de renunciar a sua presença, seria a dor de decepcioná-lo. Agradeço à minha irmã, por seu apoio incondicional, minha alegria diária, e a André, por aceitar minha ausência ciente da comunhão dos frutos. Ao meu pai e minha avó. Sempre por vocês e para vocês. Institucionalmente, agradeço poder carregar a responsabilidade que o nome UFBA traz, e agradeço ao Professor Doutor Manoel Jorge e Silva Neto pela honra de orientar-me com seu oceano de saber constitucional e pela confiança depositada ao convidar minha banca avaliadora, e ao Professor Doutor Saulo Casali pela transformação operada na minha forma de ver o Direito. Agradeço aos queridos Professores Ana Paola Machado Diniz e José Cairo Junior por acreditarem em mim quando nem eu acreditei. Ao professor Aloisio Cristovam dos Santos Junior agradeço pela lição de generosidade que me deixou. Também agradeço às Dras. Sofia Vilela e Edelamare Melo, procuradoras do Ministério Público do Trabalho, pela atenção que me dispensaram. E aos colaboradores Rita Moreira e João Paulo Hartmann por me emprestarem suas histórias de vida que tanto enriqueceram o trabalho. Agradeço ao Grupo Chaves pela compreensão das ausências, aos estagiários pelas discussões quanto ao tema, aos meus amigos por saberem sofrer sentindo minha falta ao deixarem de me telefonar ou convidar para qualquer evento, e a toda minha família que tanto admiro. Agradeço aos meus alunos e aos colegas que conheci no mestrado, que sempre me trataram com atenção, em especial e com muito carinho a Gabriela Costa e Silva, menina prodígio que tantas lições de responsabilidade e respeito me deixou, meu esteio nessa árdua jornada, assim como Diogo Barbosa, mais um anjo de luz caído na terra. Agradecer, porque sozinha eu não seria capaz. Espero poder retribuir socialmente o que o mestrado me ensinou na perspectiva de que a construção de uma sociedade melhor perpassa o respeito e também o conhecimento. povo ao poder Quando nas praças s’eleva Do povo a sublime voz… Um raio ilumina a treva O Cristo assombra o algoz… Que o gigante da calçada Com pé sobre a barricada Desgrenhado, enorme, e nu, Em Roma é Catão ou Mário, É Jesus sobre o Calvário, É Garibaldi ou Kossuth. A praça! A praça é do povo Como o céu é do condor É o antro onde a liberdade Cria águias em seu calor. Senhor!… pois quereis a praça? Desgraçada a populaça Só tem a rua de seu… Ninguém vos rouba os castelos Tendes palácios tão belos… Deixai a terra ao Anteu. Na tortura, na fogueira… Nas tocas da inquisição Chiava o ferro na carne Porém gritava a aflição. Pois bem… nest’hora poluta Nós bebemos a cicuta Sufocados no estertor; Deíxai-nos soltar um grito Que topando no infinito Talvez desperte o Senhor. Castro Alves RESUMO A presente dissertação foi desenvolvida no intuito de demonstrar que a teoria estadunidense do dever da acomodação razoável, o duty of reasonable accommodation, pode ser recepcionada no ordenamento jurídico brasileiro como instrumento de efetividade do direito fundamental à liberdade de consciência e de crença, principalmente quando revestida pela liberdade religiosa a ser exercida na relação de emprego. Sendo a religião uma convicção subconsciente de quem a possui, impossível que dela o homem se dissocie no ambiente de emprego, pelo que deve ser respeitada e tolerada, mas desde que seu exercício não implique prejuízos excessivos e desarmonia ambiental. Nesse espeque, dita teoria mostra-se como a melhor técnica de sopesamento entre os direitos fundamentais à livre iniciativa e à propriedade privada em circunstância conflituosa com o exercício da liberdade religiosa, servindo de parâmetro às alterações contratuais do vínculo empregatício, moldadas pela legislação trabalhista. Assim, práticas de cunho religioso como proselitismo, escusa de consciência e mudança de credo devem ser acomodadas, porém, em consonância com os limites nucleares dos direitos fundamentais em voga. A pretensão especial dessa pesquisa é demonstrar que o dever da acomodação razoável é a instrumentalização mais equilibrada da aplicabilidade dos direitos fundamentais sobre as relações privadas, devendo por isso ser difundida no Brasil por representar também, mesmo que indiretamente, a redução das práticas intolerantes e discriminatórias. Palavras-chave: Dever da Acomodação Razoável; Liberdade Religiosa; Relação de Emprego; Direitos Fundamentais. ABSTRACT The present dissertation was developed in order to demonstrate that the American theory of the duty of reasonable accommodation, the duty of reasonable accommodation, can be accepted in the Brazilian legal system as an instrument of effectiveness of the fundamental right to freedom of conscience and belief, especially when coated religious freedom to be exercised in the employment relationship. Since religion is a subconscious conviction of who possesses it, it is impossible for man to dissociate himself from the environment of employment, so he must be respected and tolerated, but provided that his exercise does not entail excessive harm and environmental disharmony. In this context, this theory is shown as the best technique for balancing the fundamental rights to free initiative and private property in a situation that conflicts with the exercise of religious freedom, serving as a parameter to the contractual changes in the employment relationship, shaped by labor legislation. Thus, religious practices such as proselytism, conscientious objection and change of creed should be accommodated, however, in line with the core limits of fundamental rights in vogue. The special claim of this research is to demonstrate that the duty of reasonable accommodation is the most balanced instrumentalization of the applicability of fundamental rights over private relations, and should therefore be diffused in Brazil because it also represents, even indirectly, the reduction of intolerant and discriminatory practices . Keywords: Duty of reasonable accommodation; Religious freedom; Employment Relations; Fundamental rights. LISTA DE ABREVIATURAS ADA Americans with Disabilities Act ADI Ação Direta de Inconstitucionalidade ADPF Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental AED Análise Econômica do Direito CDC Código de Defesa do Consumidor CDPD Convenção sobre os Direitos de Pessoas com Deficiências CEDH Corte Europeia de Direitos Humanos CF Constituição Federal CLT Convenção das Leis do Trabalho CNBB Confederação Nacional dos Bispos do Brasil CPC Código de Processo Civil DEJT Diário Eletrônico da Justiça do Trabalho EEOC Equal Employment Opportunity Commission ESMPU Escola Superior do Ministério Público da União MPT Ministério Público do Trabalho MPU Ministério Público da União MTE Ministério do Trabalho e Emprego OIT Organização Internacional do Trabalho ONU Organização das Nações Unidas RO Recurso Ordinário RR Recurso de Revista SIDA Síndrome da Imunodeficiência Adquirida STF Supremo Tribunal Federal TAC Termo de Ajuste de Conduta TJSP Tribunal de Justiça de São Paulo TRT Tribunal Regional do Trabalho TST Tribunal Superior do Trabalho UFBA Universidade Federal da Bahia SUMÁRIO INTRODUÇÃO 11 1 HOMEM E RELIGIÃO: INTERSEÇÃO SUBJETIVA INEVITÁVEL 16 1.1 A CONVIVÊNCIA SOCIAL ENTRE O HOMEM E A RELIGIÃO 16 1.2 EXISTE CONCEITO JURÍDICO DE RELIGIÃO? 20 1.3 SEPARAÇÃO ENTRE ESTADO E RELIGIÃO E O DESPONTAR DA 23 LIBERDADE RELIGIOSA 1.3.1 O Estado laico e o Estado Democrático de Direito 27 1.3.2 Exercício da religião como direito transindividual 32 1.4 O QUE É LIBERDADE RELIGIOSA? 36 1.4.1 O direito fundamental à liberdade religiosa 39 1.4.2 Liberdade religiosa como desdobramento de outras liberdades 42 1.5 A PROTEÇÃO À LIBERDADE RELIGIOSA NO ORDENAMENTO 45 JURÍDICO INTERNACIONAL E BRASILEIRO 2 O EXERCÍCIO DA LIBERDADE RELIGIOSA NA RELAÇÃO DE 48 EMPREGO 2.1 ASPECTOS GERAIS DA RELAÇÃO DE EMPREGO 49 2.1.1 Conceitos e elementos jurídicos da relação de emprego 49 2.1.2 Princípios e regras 50 2.1.2.1 Princípios gerais do Direito 53 2.1.2.2 Princípios específicos que norteiam a relação de emprego 57 2.1.3 Direitos fundamentais do empregado 59 2.1.4 Poder diretivo do empregador 60 2.2 COLISÃO ENTRE DIREITOS FUNDAMENTAIS DE LIBERDADE 62 RELIGIOSA E DE PROTEÇÃO AO EMPREGO 2.2.1 Ponderação e Harmonização entre direitos fundamentais 63 2.2.2 Princípio da máxima efetividade 64 2.2.3 Dever da acomodação razoável 66 2.2.3.1 Aspectos gerais da teoria do dever da acomodação razoável 66 2.2.3.2 Origem da teoria 67 2.2.3.3 Conceito 69 2.2.3.4 Contexto jurídico brasileiro para acolhimento da teoria da acomodação 70
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