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J. Borges PDF

33 Pages·2015·0.43 MB·Portuguese
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artistas Jonathas Andrade Arrigo Barnabé J. Borges b r Sofia Borges a s i l Rodrigo Cass e i r o Adriano Costa s p o Deyson Gilbert r t o Fernanda Gomes d a p a Marcellvs L. r t e Milton Machado Montez Magno Cinthia Marcelle Maria Martins Thiago Martins de Melo Rodrigo Mateus Cildo Meireles Pedro Moraleida Paulo Nazareth curadores Rivane Neuenschwander Gunnar B. Kvaran Paulo Nimer Pjota Hans Ulrich Obrist Sara Ramo Thierry Raspail Mayana Redin Gustavo Speridião Tunga Adriana Varejão Caetano Veloso Carlos Zilio Imagine Brazil iNSTiTUTO TOMie OHTAKe Observar a história da arte brasileira e, simultaneamente, participar da forma como se constroem os olhares para o seu presente; assim procura atuar o Instituto Tomie Ohtake. Para isso, receber a itinerância da mostra Imagine Brazil, iniciada em Oslo, é uma oportunidade sem par. A exposição reúne um grupo diverso de artistas brasileiros e se pergunta: Como propor um recorte sobre arte contemporânea no Brasil, país cuja pluralidade, heterogeneidade e extensão geográfica tornam tão difícil circunscrevê-la? i m O desafio é ainda maior quando se considera o contexto a europeu para o qual o projeto expositivo foi pensado e cujo público g i em geral pouco conhece sobre a história e a arte do país. Imagine n o e ri Brazil, como o título o indica, desafia as projeções e os imaginários b á prontos sobre o país, mobilizando olhares estrangeiros para uma r m a produção que, embora se insira na cena internacional, é por muitas u z s vezes alusiva a questões prioritariamente associadas ao contexto e il à realidade local. Sem pretender esgotar a amplitude da arte brasileira, os curadores Gunnar Kvaran (diretor Astrup Fearnley Museet), Hans Ulrich Obrist (codiretor de exposições e programas, diretor de projetos internacionais Serpentine Gallery, Londres) e Thierry Raspail (diretor, Musée d’Art Contemporain de Lyon e diretor artístico Biennale de Lyon) se valeram de extensa pesquisa e interlocução com agentes culturais. O resultado se concentra na 3 Imagine Brazil cena emergente do país e, em particular, em jovens artistas que(se) instituto tomie ohtake questionam a herança do modernismo em trabalhos que refletem sobre a história, a situação social e econômica do Brasil. Cada um desses artistas pode, por sua vez, indicar outros artistas que 4 Imagine Brazil consideram referenciais para as suas práticas. Sendo assim, trata- gunnar b. kvaran se de um projeto colaborativo tanto na prospecção e pesquisa hans ulrich obrist como na elaboração da própria temática. thierry raspail Tendo passado pelo Astrup Fearnley Museet e Musée d’Art Contemporain de Lyon, a itinerância conserva a seleção de artistas 6 Brasileiros por Toda Parte mas traz trabalhos inéditos, especialmente feitos para a versão kiki mazzuchelli brasileira de Imagine Brazil. Instituto Tomie Ohtake agradece o patrocínio da Polishop, o 10 Os Artistas apoio da HDI, o Ministério da Cultura e a Secretaria de Estada da Cultura que através de suas leis de incentivo viabilizaram a execução desse ambicioso projeto. 36 Cenário Artístico 37 Sul 3 39 Norte 40 Nordeste 44 Centro Oeste 50 Minas Gerais 56 Rio de Janeiro 58 São Paulo Imagine Brazil Desde o início de nosso projeto percebemos que nossas uma de suas instalações proporciona um momento de iluminação. juntamente com uma visão fragmentada de sua trajetória. Tal seleção pesquisas estavam nos conduzindo a uma nova e fascinante geração Sua obra é um reflexo da noção de memória e amnésia, tanto apresenta, de fato, uma versão original e singular da história da arte de jovens artistas brasileiros de diversos matizes, que formariam o pessoais como coletivas. Rodrigo Cass cria cenas poéticas brasileira. corpus de nossa exposição. No entanto, como estávamos cientes de politicamente encharcadas navegando entre a vida cotidiana, Considerando o caráter subjetivo da seleção, decidimos produzir GUNNAR B. KVARAN DIRETOR, ASTRUP FEARNLEy MUSEET, OSLO que o conhecimento da arte contemporânea brasileira na Europa e referências artísticas e sua própria imaginação, ao passo que Paulo um catálogo que incluiria mais informações e perspectivas sobre os HANS ULRiCH OBRiST CODIRETOR DE ExPOSIçõES E PROGRAMAS E em outras partes do mundo era bastante reduzido e que nunca Nazareth nos leva pelo mundo, mas ao mesmo tempo permanece diferentes cenários artísticos no Brasil. Devido à escala e DIRETOR DE PROJETOS INTERNACIONAIS, SERPENTINE GALLERy, LONDRES THieRRy RASPAiL DIRETOR, MUSÉE D’ART CONTEMPORAIN, LyON E poderíamos produzir uma apresentação abrangente de um cenário ancorado a suas próprias origens dualísticas. Artista-etnógrafo de complexidade do projeto, dividimos o país em cinco regiões e DIRETOR ARTÍSTICO DA BIENNALE DE LyON complexo em geral, tornou-se imperativo pelo menos produzir um performances de longa duração, coleciona em suas jornadas objetos, pedimos a críticos e estudiosos proeminentes que discorressem catálogo que refletisse e representasse a riqueza da arte histórias e ideias, que transforma em desenhos, esculturas e filmes. sobre cada área: Gabriella Motta sobre o Sul do Brasil, Amando b r Todos nós temos uma ideia própria do Brasil. É um país próximo contemporânea no Brasil. Como artista mestiço, vaga e desliza por diferentes mundos e Queiroz sobre o Norte, Clarissa Diniz sobre o Nordeste, Mathias a s de nós e, ao mesmo tempo, distante, misterioso e insólito. De certa A história da arte brasileira é bem documentada, especialmente múltiplas tradições étnicas, misturando ficção e realidade. Monteiro sobre o Centro-Oeste, Francisca Caporali sobre Minas i l forma, o Brasil é um país imaginário. De natureza espetacular e a do modernismo brasileiro, tais como os movimentos concretista, A fotógrafa conceitual Sofia Borges trabalha como pintora, Gerais, Paulo Miyada sobre São Paulo e Marcelo Campos sobre o Rio e i mágica, de diversidade étnica e social. Na verdade, não é um único neoconcretista e tropicalista, que se desenvolveram de forma criando imagens de estranha beleza narrativa com uma multiplicidade de Janeiro. O principal foco desses textos são os jovens artistas, mas r o país, mas nações múltiplas, variadas, ricas e deslumbrantes. Assim, independente, mas ao mesmo tempo em profundo diálogo com as de camadas cristalizadas através de um longo processo de revelação. eles também examinam a infraestrutura sócio-artística de cada s l não é possível resumir a nação ou o país, e o mesmo vale para o diferentes tendências modernistas na Europa e América do Norte. Imagens estáticas e em movimento também estão presentes nas região: museus, galerias de arte, críticos, mídia e escolas de arte. E po im zi cenário artístico. Artistas como Oscar Niemeyer, Lygia Clark, Hélio Oiticica, Lygia fotografias e nos vídeos conceituais de Cinthia Marcelle, que para fortalecer esta mediação da arte contemporânea brasileira, r a a É por este motivo que denominamos nossa mostra Imagine Pape e Ernesto Neto, fazem parte do patrimônio internacional registra e reage à realidade, dando forma ao tempo, sequência, ação, convidamos Kiki Mazzucchelli, curadora e crítica brasileira que t g r b Brazil. O que o público verá é uma constelação de obras de jovens modernista e artístico e são reconhecidos pelo público em geral de caos e alienação, ao passo que em suas instalações, Sara Ramo dá evoluiu ao longo dos anos no mundo da arte brasileira e internacional, o in agine aeerxmtpiesotrsagisçe,ãn oten: .ou smTsaaa m svbeilésemãçoã oa spdorebe rsaeer tnistaat amsa ormste a idscu eoasnst taebmmeolpesoctrridâanso es apc aorbnarvlaeidslaialsed ioràas tedoxodigsotme o át taimcmaub neéd moe .su tPmruaatru aarleratlleais mtcaoe nndctoee iqtauu aeel s estaux pagsli rcacitnoadnmetr eatnprtaaedr tibçerãsao sn ilame iorEadu ermorenpniaso teas fdaoserssmolomac baàmr aedmnoetsom. sMó oraiuar cbedrliilsnvtcso arLc cicdooamn d auttrrzaa dovi éeçsõs pedese ca tabmdsuuodrrd aaan usç maes mn o dsveeo u etses mcvaípdlaeo o, eas pCcraaírtdiaca oo a foerturies ectasec ré rsi tuaopar r vbeisrsaeãsnoit lepaidarorot. i pcDuoelras mtra de faioo ar mrdteea , uc vomisnaat meamnoápsl oiasr eâm ncaeriaíot irbc parao dsliiefleo uinrmaia. da par e braz m para a exposição pelos mais jovens que os escolheram, oferecendo América do Norte, mas mais aberta, mais poética e mais politicamente um ritmo e a uma duração diferentes, desviando nossa atenção do em termos de conhecimento e perspectivas da arte contemporânea t i e l i um panorama da arte recente no Brasil, e uma exposição de livros de engajada, como podemos observar nas obras de Cildo Meireles. tema para a natureza e a linguagem do filme. no Brasil. artistas emergentes, com curadoria de Jacopo Crivelli Visconti e Ana No Brasil existe uma história e um patrimônio da arte que podem Todos os pintores da exposição podem ser descritos como Durante nossa pesquisa, nos deparamos com um crescente Luiza Fonseca. Não existe a pretensão de expressar uma verdade ser contundentes demais para os artistas brasileiros emergentes expressionistas, mas abordam temas e estruturas narrativas bem interesse e produção de livros de artistas. Uma prática artística única através destas escolhas, apenas levantar hipóteses e propostas acompanharem. Mas, como cada nova geração de artistas, apoiada diferentes. O carioca Gustavo Speridião, que também trabalha com comum internacionalmente, os livros de artistas têm uma longa com base em nosso conhecimento, sensibilidade e experiência, as por críticos, curadores e galeristas, esta geração rompe limites e filme e vídeo, capta a energia pura da cidade, que é transferida para trajetória na arte brasileira e ocupa posição central na geração de opções pessoais de jovens artistas brasileiros e a expertise de oferece novas premissas conceituais, propostas e visões artísticas. O a tela na forma de textos, imagens e gestos. Suas pinturas de base jovens artistas brasileiros. Convidamos dois curadores especialistas curadores brasileiros. Como sempre quando se confronta com uma que chamou nossa atenção em particular foi que, de certa forma, verbal enunciam um claro sentido de protesto. Já o paulistano Paulo neste formato, Jacopo Crivelli Visconti e Ana Luiza Fonseca, para obra de arte, é preciso imaginação. uma série de jovens artistas se afastou da tradição modernista. Não Nimer Pjota se iniciou na arte de rua, mas agora trabalha em estúdio. montar a mostra de livros destes jovens artistas brasileiros. Ao longo dos últimos dez anos, o Astrup Fearnley Museet iniciou trabalham mais com paradigmas formais e estéticos daquela Manteve os mecanismos e materiais, assim como as qualidades Nosso encontro com a arte brasileira constituiu uma experiência pesquisas e organizou exposições apresentando jovens artistas tradição. Em lugar disso, questionam e desconstroem seu legado, participativas e aparentemente aleatórias da arte de rua, no entanto, memorável em termos de escala, diversidade e qualidade da criação contemporâneos da América do Norte (The Uncertain States of muitas vezes com certa ironia e perspicácia. Inventam novos códigos para criar suas pinturas socialmente engajadas. Também artística. Também travamos conhecimento com um número America, com curadoria de Daniel Birnbaum, Gunnar B. Kvaran e e procedimentos, que são em grande parte baseados em conceitos. politicamente motivado é seu colega de São Luís do Maranhão, impressionante de estudiosos, críticos, curadores e intelectuais que Hans Ulrich Obrist), da China (China Power Station, com curadoria Poderíamos chamar de conceitualismo narrativo, com uma ampla Thiago Martins de Melo, que trabalha com complexas estruturas emprestam profissionalismo ao mundo da arte brasileira. De modo de Julia Peyton-Jones, Gunnar B. Kvaran e Hans Ulrich Obrist) e da gama de temas, um enfoque utilizado para reexaminar a complexa pictóricas em camadas e imagética violenta, representando a si geral, em nosso entender, esta emergente geração de artistas se Índia (Indian Highway, com curadoria de Julia Peyton-Jones, Gunnar história da arte e a dolorosa história do país, assim como destacar as próprio com sua esposa em um mundo de deuses, demônios e seres afasta da tradição modernista pura que dominou o cenário artístico B. Kvaran e Hans Ulrich Obrist). A intrigante complexidade e riqueza tensões e desigualdades sociais e econômicas que afetam a nação. humanos, corrupção política e exorcismo social em sua comunidade brasileiro nas últimas décadas e se detém mais nas premissas destas mostras se baseiam em um modelo orgânico de curadoria em A partir do rico e complexo panorama artístico do Brasil, local na região amazônica. conceituais da criação artística: uma arte que informa sobre arte, que as exposições, quando itinerantes, se transformam e evoluem selecionamos artistas que propõem uma nova linguagem artística Depois de selecionarmos os artistas para a exposição, discutimos memória e considerações autorreflexivas, mas, sobretudo, sobre em cada novo local. Desta vez, juntamente com o Musée d’Art para desenvolver uma temática importante e urgente. Deparamo- sua estrutura e narrativa. Concordamos que era importante, de uma questões sociais e políticas prementes, tais como discriminação, Contemporain de Lyon, escolhemos o Brasil. Durante cinco anos nos com uma produção e um crescimento artísticos extremamente forma ou de outra, contextualizar esses jovens artistas sem criar racismo, fracasso da utopia modernista, violência urbana, fragilidade exploramos diferentes regiões do país para conhecer seus inspiradores destes jovens artistas, que mergulharam em uma nossa própria exposição histórica. Decidimos pedir a cada um deles e exploração da Floresta Amazônica. Os artistas apresentados aqui efervescentes cenários artísticos, que recebem cada vez mais miríade de possibilidades oferecida por obras com base conceitual. que convidasse um artista estabelecido que considerassem trataram de tudo isso, no entanto, sem jamais negligenciar os atenção de todo o mundo. Entramos em contato com artistas e Lançam mão de uma variedade de linguagens, pesquisas complexas importante para a arte contemporânea brasileira ou para sua própria aspectos formais que conferem à obra de arte seu impacto visual e curadores brasileiros que já conhecíamos e pedimos que nos e experimentação com palavras, materiais e estruturas para obra. As respostas foram diversas e altamente informativas no que se sua originalidade. 4 apresentassem ao mundo da arte no Brasil; em seguida, conhecemos concretizar suas ideias. refere às suas relações com a história da arte brasileira. Enquanto Quando recebemos o convite para mostrar Imagine Brazil no 5 críticos, curadores independentes e de museus, jornalistas, editores Podemos ver nas obras de Gilbert Deyson, que brinca com o Gustavo Speridião e Cinthia Marcelle convidaram os pintores Carlos Instituto Tomie Ohtake em São Paulo, pensamos que seria importante de revistas, gestores de programas de residência, acadêmicos, readymade e o readymade alterado, objetos justapostos por meio da Zilio e Pedro Moraleida, Marcellvs L e Jonathas de Andrade não atualizar a seleção de obras na exposição. Se fôssemos mostrar amantes da arte, galeristas e colecionadores, sempre formulando as tensão, da instabilidade, de construções aleatórias e de vínculos optaram por artistas visuais, mas pelos músicos Arrigo Barnabé e trabalhos de artistas brasileiros emergentes em seu próprio país, mesmas perguntas em nossa busca pelos melhores da nova geração imprevisíveis. Em suas narrativas conceituais, Rodrigo Matheus Caetano Veloso. E, embora alguns tenham selecionado artistas mais onde a cena de arte é excepcionalmente dinâmica, estaria claro que de artistas jovens que surge no mundo da arte brasileira. Enquanto também usa o readymade alterado, neste caso para contar histórias históricos atuantes no final do século 20, tais como Paulo Nazareth seria importante mostrar novas obras. Evidente que mantivemos a pesquisávamos o cenário emergente, o qual, em sua maior parte, sobre monumentos e arquitetura, o meio ambiente, comércio e com o entalhador autodidata J Borges, e Sofia Borges com a mesma relação de artistas e o mesmo modelo curatorial, ao qual os não dispunha de documentação oficial, lemos, ouvimos, observamos política, ao passo que Adriano Costa emprega objetos encontrados escultora Maria Martins, outros convidaram artistas de uma geração jovens artistas, escolhidos pelos curadores, foram solicitados a e acumulamos conhecimento e documentação da história e da para desconstruir e subverter o sistema modernista, introduzindo a mais velha que atualmente lideram o cenário artístico brasileiro, convidar artistas mais estabelecidos. Nessa edição não pudemos história da arte do Brasil. Foi extremamente positivo o fato de, no dúvida e o risco, e se abrindo para uma reflexão criativa sobre o como Thiago Martins de Melo e Adriano Costa com Tunga, Rodrigo não incluir a mostra ‘Livros de Artistas’ em razão do espaço expositivo. Brasil, existir uma infraestrutura genuína, um ‘sistema de arte’, com objeto da arte. As obras de Mayana Redin, que apropriam cartões Matheus com Fernanda Gomes, Mayana Redin com Milton Imagine Brazil foi apresentada pela primeira vez no Astrup todos os mesmos ingredientes de que dispomos no mundo da arte postais são mais poéticas e frágeis, tratando da migração subjetiva Machado, Deyson Gilbert com Montez Magno e Sara Ramo com Fearnley Museet em Oslo, Noruega, em 2013. Em seguida, a mostra europeia. Em parte devido a isto, nossa pesquisa avançou da imagem, memória e metamorfoses, transformações relacionadas Cildo Meireles. Uma geração mais jovem de artistas brasileiros itinerou para o Musée d’Art Contemporain de Lyon na França, em relativamente rápido. Organizamos os dados e mapeamos a situação com o tempo e deslocamento. Em suas instalações com textos e altamente influentes é representada por Rivane Neuenschwander, 2014, e então para o Museum of Contemporary Art em Doha, Qatar, artística do país, assim como ampliamos o diálogo com artistas e imagens, múltiplos documentos e acervos Jonathas de Andrade selecionada por Rodrigo Cass, e Adriana Varejão, por Paulo Nimer em 2015. A exposição será realizada na DHC/ART Fondation pour profissionais de todas as regiões do Brasil. analisa e desconstrói sistemas pessoais, sociais e políticos. Cada Pjota. O resultado é uma exposição de artistas emergentes l’art contemporain em Montreal, Canadá, em 2015. Brasileiros por toda parte1 opção muito mais atraente e viável do que era há vinte ou mesmo Ex-cêntricos: Da América Latina para o Brasil contemporâneas em que se criavam situações curatoriais precisas dez anos, o que é certamente um grande passo à frente para um para questionar a historiografia eurocêntrica. Os visitantes viam país que historicamente relegou sua cultura a um plano secundário. É possível traçar um certo paralelo entre as várias exposições peças de artistas latino-americanos ao lado de obras ocidentais Nos últimos anos, na medida em que as novas galerias começavam latino-americanas realizadas em instituições norte-americanas e canônicas, formando uma narrativa que colocava a arte não KiKi MAZZUCHeLLi a representar uma geração de artistas emergentes, formou-se um europeias durante o final da década de 1980 e início dos anos 1990 hegemônica como elemento intrínseco à História da Arte grupo de colecionadores locais, ávidos por comprar arte – todas elas levando às celebrações do 5º centenário da descoberta dominante e não mais como nota de rodapé. Além disso, a seção Comecemos com uma imagem: uma moeda de libra esterlina, contemporânea. A expansão do mercado interno permitiu que da América em 1992 – e a atual onda de exposições com temática contemporânea da mostra – com curadoria conjunta de Adriano suspensa perpendicularmente ao piso por um fio fino atado a uma muitas dessas galerias se expandissem para feiras de arte brasileira. A principal crítica às mostras anteriores foi a própria Pedrosa – apresentava um grupo de artistas brasileiros emergentes ee barra de madeira, com a borda inferior junto ao chão. Estes internacionais, propiciando maior exposição a uma jovem geração ideia de que essas mostras coletivas conseguiriam cobrir a como Adriana Varejão, Beatriz Milhazes, Ernesto Neto e Rivane b tt r rr elementos, por sua vez, são suspensos pela mesma estrutura (a de artistas. produção artística de um território tão grande e heterogêneo. Neuenschwander, que obteriam ampla exposição internacional na a aa s pp moeda substituída por um disco de metal na mesma proporção Isto não quer dizer que houve avanços significativos na arena Outro problema identificado por vários críticos foi o fato de que década seguinte. A 24ª Bienal de São Paulo teve impacto i a a dos outros objetos), uma operação que se repete seis vezes, institucional: o mercado ainda cria em grande parte a maioria das essas exposições haviam sido organizadas principalmente por significativo sobre o mundo da arte global, sendo que o conceito le odod criando uma composição semelhante a um móbile. Toda vez que a oportunidades disponíveis aos artistas. Com muito poucas curadores estrangeiros que tinham conhecimento limitado sobre local de antropofagia foi rapidamente assimilado (e muitas vezes iro tt estrutura é reproduzida, seus três componentes (disco, cabo, barra exceções, os museus e as galerias públicas continuam a lutar os países e não tinham a expertise dos profissionais locais. Em distorcido) por acadêmicos e curadores do mundo inteiro. s r r de madeira) dobram de tamanho em progressão geométrica, com contra a indiferença do Estado em equacionar os problemas 1990, a curadora e crítica de arte brasileira Aracy Amaral, uma das Aproximadamente dez anos depois, em 2009, Pedrosa p oo o pp o disco/moeda maior atingindo um diâmetro de 1,28 metro. Embora estruturais e financeiros básicos que corroem o estabelecimento mais diligentes críticas das mostras genéricas latino-americanas inverteria de alguma forma a equação da antropofagia na r s s o intricado sistema de suspensão criado pelo artista brasileiro de programas de longo prazo coerentes, capazes de promover a da virada da década, começou a questionar ideias estabelecidas tradicional exposição da pesquisa nacional, Panorama da Arte t oo Marcius Galan em sua instalação de grande escala Immobile (2013) prática e a pesquisa artística e a preservação e a expansão de sobre centro e periferia que ressoariam fortemente no mundo das Brasileira no Museu de Arte Moderna de São Paulo. Depois de o rr d eiei seja perfeitamente balanceado e estático, também parece sugerir acervos existentes.2 Restrições financeiras e operacionais também artes vinte anos depois: praticamente duas décadas de exposição internacional crescente a ilil a iminência do caos. A obra atinge uma escala incontrolável muito significam que os museus lutam para criar um programa regular de da arte brasileira, o curador organizou uma mostra coletiva apenas p ss a aa rapidamente e, ao mesmo tempo, implica que a mesma fórmula exposições internacionais. Enquanto isso, o setor privado Até que ponto é prejudicial para a disseminação de um com artistas estrangeiros que buscavam a modernidade brasileira r rr matemática poderia ser aplicada também a essas estruturas (principalmente os bancos e as empresas de telecomunicações) se verdadeiro quadro da arte brasileira que especialistas europeus como fonte para sua arte. É importante dizer que a exposição t bb e infinitamente, com a instalação atingindo proporções ainda mais aproveitam de um esquema generoso de isenção fiscal para ou americanos sempre busquem ‘o outro’ aqui, espelhando também marcou um momento em que a arte brasileira não absurdas. Um “móbile” paradoxalmente “estático”, já que os discos financiar seus próprios centros culturais, que muitas vezes operam como brasileiras apenas as manifestações artísticas ex- precisava mais se afirmar no cenário internacional, com sua ficam no chão, a obra parece que poderia ser colocada em sem uma agenda cultural específica ou uma orientação curatorial. cêntricas, antagonistas e, portanto, a arte fora do centro presença disseminada confirmada pela influência na obra de movimento por qualquer pequeno distúrbio. Por um lado, este Neste contexto, ainda parece haver uma grande defasagem a ser representada por tais manifestações e sua arte cultuada e artistas de vários países diferentes. Em seu texto de apresentação, extraordinário aparato ressalta o despropósito de aplicar uma eliminada entre a expansão do mercado de arte local e o sistema urbana de um país desenvolvido? A que centro se referem? Adriano Pedrosa afirma que: fórmula matemática abstrata ao mundo físico e, por outro, assume institucional do país. Uma das consequências mais críticas desta Quando presumimos nossa própria realidade como centro, um significado muito interessante em vista do recente colapso do situação é o fato de que a prática artística deve em grande parte se apenas assim poderemos ver os pontos de vista exóticos destes o 31º Panorama se concentrou efetivamente na importância mercado financeiro que culminou no “aperto de crédito” de 2008, basear na venda de obras de arte para sobreviver dentro de um curadores que são tão ‘ex-cêntricos’ em relação à nossa vida que a cultura brasileira agora representa para um número pois se baseia em um fino equilíbrio entre elementos circuito que oferece poucas oportunidades para a pesquisa de cotidiana brutal com complacência. Que centro? Onde está o significativo de artistas estrangeiros. Este fenômeno pode interdependentes para permanecer estável. longo prazo e para o desenvolvimento de projetos não comerciais. centro?3 remontar às últimas décadas, com o reconhecimento O motivo pelo qual evoco esta imagem em particular é que nos No entanto, a geração de artistas que surgiu na última década internacional crescente da obra dos artistas plásticos brasileiros leva a um momento específico na história – mais ou menos os parece ter encontrado formas para escapar do provincianismo e Aracy escreveu estas palavras antes de uma série de discussões Lygia Clark, Hélio Oiticica e Lygia Pape, os arquitetos Lina Bo últimos cinco anos –, quando as rápidas mudanças econômicas das restrições do circuito local por meio de conexão e diálogo sobre modernidades alternativas e a descolonização se tornou Bardi, Oscar Niemeyer e Paulo Mendes da Rocha, o fenômeno globais significavam que o Brasil, país que passou pela recente crescentes com a comunidade artística internacional. Artistas altamente disseminada dentro do campo da arte. Foi também da Bossa Nova e Tropicália, entre outros. Se, por meio da crise financeira relativamente ileso, veio a ocupar um lugar mais como Adriano Costa, Jonathas de Andrade e Paulo Nazareth, antes que uma série de outras exposições com foco na arte Antropofagia, celebrada por Oswald de Andrade em seu proeminente no cenário internacional. Hoje somos testemunhas entre muitos outros que começaram a expor suas obras brasileira – algumas mais genéricas e tendendo a exoticização e “Manifesto Antropofago” de 1928, o intelectual brasileiro de um surto inédito de interesse mundial em tudo o que é brasileiro aproximadamente nos últimos cinco anos, rapidamente obtiveram outras mais específicas, incluindo mostras individuais de artistas moderno se apropriou da cultura europeia para digeri-la e e um de seus efeitos colaterais é que a arte contemporânea exposição internacional e agora passam períodos cada vez mais vivos e históricos – foi realizada em diferentes instituições produzir algo genuíno, agora é a cultura brasileira que é brasileira parece estar em todo lugar: é uma característica normal longos trabalhando no exterior. Outros, como Alexandre da Cunha, internacionais durante os anos 1990 e 2000. Para tentar entender o canibalizada pelo estrangeiro – a Europa no almoço e o Brasil em mostras individuais e coletivas em alguns dos museus mais Marcellvs L. e Tonico Lemos Auad, mudaram de país contexto de então, é suficiente reconhecer que pareceria no jantar.4 renomados da América e Europa, nas principais feiras de arte e em permanentemente e construíram suas carreiras na Europa. E uma improvável que um museu realizaria um levantamento da arte revistas especializadas. Este movimento muito recente – embora artista como Renata Lucas, embora oficialmente baseada no Rio latino-americana hoje. O mundo das artes certamente amadureceu Apesar da onda crítica que se seguiu à decisão de Adriano certamente um produto dele – não deve ser confundido com o de Janeiro, encontrou um ambiente de trabalho muito mais e se abriu para novas vozes de locais periféricos nos últimos vinte Pedrosa de expor apenas obras de estrangeiros em uma exposição processo mais longo do que é comumente denominado acolhedor nos Estados Unidos e na Europa para seus ambiciosos anos, mas considerando-se a atual onda de exposições com de pesquisa nacional, esta edição do Panorama parece ter tido 6 “internacionalização da arte brasileira”, que remonta projetos com locais específicos, que exigem grande suporte temática brasileira, o conceito de Aracy Amaral de “ex-cêntrico” impacto significativo na geração jovem de artistas locais. O fato de 7 aproximadamente ao início da década de 1990, gradualmente institucional. ainda nos pode ajudar a questionar possíveis generalizações. que a maior parte dos artistas da exposição abordou e explorou as propiciando exposição a artistas e movimentos brasileiros no Nem é preciso dizer que a acolhida da arte brasileira no exterior, No final dos anos 1990, o problema da centralidade colocado fontes culturais mais canônicas do Brasil com tal facilidade e sem exterior. Enquanto no início da década de 2000, o conhecimento facilitada pela economia saudável do país desempenha um papel por Aracy estava na base de uma exposição que desempenhava muita reverência parece ter aberto possibilidades para um exame global sobre arte brasileira era relativamente restrito a um pequeno importante neste processo relativamente recente. Mas, também é um papel definidor no estabelecimento da arte brasileira no interno de nosso próprio passado histórico. Foram obras que grupo de acadêmicos, os profissionais da arte e colecionadores verdade que o clima econômico favorável responde apenas cenário internacional. Uma contribuição importante para a empregavam imagens e referências que podem ter parecido muito interessados no assunto, na situação atual, ela se tornou um capital parcialmente pela onda de interesse na arte brasileira em todo o afirmação de uma historiografia brasileira da arte nas duas últimas facilmente submetidas a crítica ou tratadas como clichês se usadas cultural altamente desejável na medida em que o país ganhou mundo, que não pode ser completamente desvinculado do décadas, a 24ª Bienal de São Paulo (1998) se concentrou no por artistas brasileiros, mas agora o tabu havia sido quebrado. proeminência econômica global. Portanto, parece justo dizer que processo mais longo de absorção da arte brasileira no exterior, conceito de “Antropofagia” do poeta modernista e agent Esta brevíssima descrição de três momentos distintos no a hiperexposição da arte brasileira está intrinsecamente vinculada acima mencionado. Embora haja claramente um paralelo entre a provocateur Oswald de Andrade: em seu famoso Manifesto processo de “internacionalização da arte brasileira” é necessária a interesses econômicos, espelhando a mudança econômica expansão econômica do país a partir de 2003 e o aumento da Antropófago (1928), Oswald de Andrade apresentou abertamente para entender o atual contexto de produção artística no país. Se, global que ocorreu na última década. exposição internacional de suas manifestações artísticas no mundo o canibalismo ritual dos índios tupi como metáfora do processo no final da década de 1980, a arte brasileira era vista como parte de Em termos de produção artística, o impacto desse novo – especialmente após a crise financeira de 2008 –, é importante crítico da formação cultural do Brasil, pelo qual as ideias e os um bloco maior da América Latina, no final da década de 1990 já fenômeno pode ser identificado em muitas instâncias do sistema examinar alguns momentos particularmente significativos na modelos europeus eram consumidos, digeridos e transformados era reconhecida por suas características distintas, finalmente de arte local e produziu consequências positivas e negativas. Do trajetória do circuito de arte do Brasil nas últimas duas décadas em algo original e novo. A Bienal apresentava uma seção histórica atingindo influência internacional no final da década de 2000. lado positivo, hoje tornar-se artista profissional no Brasil é uma para tentar entender a atual situação e seus possíveis desfechos. abrangente, incluindo uma grande seleção de obras históricas e Houve, sem dúvida, outras mudanças internas significativas no decorrer das duas últimas décadas, como, por exemplo, a relativa do 31º Panorama em 2009. Jonathas de Andrade desenvolveu uma para problematizar o presente ao criar um diálogo com obras de descentralização do circuito das artes do eixo Rio-São Paulo para série de projetos com foco em momentos diferentes da história importantes artistas brasileiros estabelecidos ou históricos e ao outras capitais e a expansão do mercado de arte. A Bienal do brasileira, com interesse particular na produção intelectual de observar a formação econômica, social e política do país. De fato, Mercosul, em Porto Alegre, o Instituto Inhotim, em Brumadinho Recife e do Nordeste. A arquitetura modernista da cidade e as esta vasta gama de assuntos se traduz em práticas muito próximo a Belo Horizonte e o trabalho de vários curadores para transformações dentro de seu tecido urbano na segunda metade heterogêneas. Portanto, seria impossível tentar identificar um promover a produção e a disseminação artísticas em outras regiões do século 20 foram o ponto de partida para Ressaca Tropical, único aspecto subjacente que pudesse servir para definir estas do país (Orlando Maneschy em Belém, Cristiana Tejo e Moacir dos 2009, uma grande instalação composta por fotos e páginas de um pessoas como “nova geração”. O que poderíamos alegar é que Anjos em Recife, entre outros) contribuíram para o surgimento de diário encontrado da década de 1970. Em uma peça subsequente, todos esses artistas compartilham um complexo vocabulário ee novas gerações de artistas fora dos grandes centros que oferecem Jonathas voltaria o olhar para um dos principais projetos culturais conceitual e visual, assim como uma história e condições b tt r rr novas perspectivas sobre nosso legado cultural. da primeira metade do século 20 no Brasil. Para o projeto Educação específicas da vida cotidiana – uma sensibilidade – que são a aa s pp para Adultos (2010), ele usou letreiros segundo o método do inevitavelmente incorporadas em sua produção. Considerando o i a a educador de Recife, Paulo Freire, com base naqueles usados por desaquecimento econômico desde 2010 e as recentes passeatas le odod Olhar para Dentro: Microgenealogias, Território e História sua mãe para dar aulas de alfabetização para adultos na década de no país, há uma ameaça iminente de que a arte brasileira não iro tt 1980. Estes foram ligeiramente alterados depois que ele realizou permanecerá no palco central internacional por muito tempo. No s r r Deveríamos perguntar se é mesmo possível falar sobre uma uma sessão de ensino de um mês com um grupo de costureiras entanto, além do atual frenesi da mídia, a trajetória cultural do País p oo o pp nova geração de artistas brasileiros hoje – uma geração distinta do analfabetas. Nas duas obras, aspectos diferentes da história e da comprovou que pode produzir artistas excepcionais mesmo em r s s grupo heterogêneo que surgiu no país nas duas últimas décadas. memória do país são evocados e colocados em confronto com o tempos difíceis. t oo o De fato, agrupar tantas práticas diferentes sob conceitos como presente pós-utópico. É importante notar que Jonathas afirma rr d eiei idade e nacionalidade parece ser um gesto simplista e pode levar a com convicção sua identidade como artista nordestino e toma Notas a ilil generalizações indesejadas. O que realmente temos – mesmo em muitas de suas referências de seu local de origem, mas o faz sem 1(E. Ost rtaítnugloe ifraozs rpeofer rtêondcai ap aarot ed)i,t otí tnualo l ídnga u3a1 ªt uepdii,ç Mãoa dmaõ eyxapgousairçaã oo pbáie mnaalm Põa npourpaém a da p ss a aa décadas anteriores – são manifestações individuais que são cair na armadilha do regionalismo. Arte Brasileira, Museu de Arte Moderna de São Paulo, 2009. r rr estilisticamente diversas, mas de alguma forma conectadas pelos Os artistas paulistanos Beto Shwafaty e Marcelo Cidade estão 2. A crítica e curadora Aracy Amaral, de São Paulo, ex-diretora do MAC-USP e da t bb Pinacoteca do Estado de São Paulo na década de 1990, escreveu extensivamente e mesmos contextos culturais e sociais. Como alternativa para tais também entre aqueles que escolheram examinar a história do sobre a situação precária das instituições de arte brasileiras. 3. Aracy Amaral, “Cêntricos e ex-cêntricos: que centro? onde está o centro?” (1990), categorizações totalmente abrangentes, o curador mexicano Brasil para refletir sobre a situação contemporânea do país. in Textos do Trópico de Capricórnio – Artigos e ensaios (1980-2005), Vol. 2: Circuitos Pablo León de la Barra sugeriu o modelo mais flexível do Novo Remediações (2010), de Shwafaty, é uma instalação que apresenta da arte na América Latina e no Brasil, São Paulo: Ed. 34, 2006. p. 92. Museo Tropical, um acervo sempre em expansão de obras de arte uma vídeo-colagem de filmagens encontradas e vozes em off que 4. Adriano Pedrosa, ‘Mamõyaguara opá mamõ pupé’, 31º Panorama da Arte Brasileira, Museu de Arte Moderna de São Paulo, 2009, p. 29. e ideias de diferentes locais geográficos que são agrupados se concentram na ideia da identidade e do progresso nacionais, 5. Pablo León de la Barra, “Notes from the Tropics”, in Hossein Amirsadeghi and conforme afinidades conceituais: ‘A produção artística dentro e traçando paralelos entre o período desenvolvimentista do país nos Catherine Petitgas (eds.) Contemporary Art Brazil, London: Thames & Hudson, 2011. 6. Embora nascida e atualmente residente na Espanha, Sara Ramo morou e trabalhou fora do Brasil recentemente renovou o conceito de tropical para anos 1950 e 1960 e sua recente expansão econômica. Cidade, que em Belo Horizonte durante seus anos de formação. definir uma sensibilidade que se origina entre os Trópicos e que expõe desde o início da década de 2000, produziu várias peças difere da europeia ou norte-americana’.5 que fazem referência direta a obras de artistas e arquitetos como Da mesma forma, parece mais produtivo procurar examinar Hélio Oiticica, Lygia Clark e Lina Bo Bardi. Por outro lado, Paulo determinadas práticas emergentes do Brasil com base em suas Nazareth se destaca quase sozinho no circuito da arte brasileira afinidades conceituais com alguns dos desenvolvimentos artísticos como artista cuja prática conceitual e desempenho tratam da durante esse período crítico de vinte anos em que houve mudanças formação étnica do país e das características persistentes de seu drásticas nos circuitos de arte interno e externo. O reconhecimento passado colonial. internacional de vários artistas que surgiram na década de 1990 No entanto, a história cultural do Brasil não é a única fonte do certamente teve impacto sobre o mundo interno das artes, não amplo leque de práticas artísticas que emergiram na última apenas em termos comerciais, mas também porque estes artistas década. Nascido em Manaus, Rodrigo Braga desenvolveu um se tornaram referências importantes para a geração que estava conjunto coerente de obras que representam a luta incessante sendo formada na virada do século. Parece plausível, por exemplo, entre o homem e a natureza em um país onde os ricos recursos identificar uma “sensibilidade” semelhante – emprestando o termo naturais são continuamente devastados em nome do progresso e de León de la Barra – nas obras das artistas de Belo Horizonte da civilização. Longe de idealizar ou romantizar a beleza da Cinthia Marcelle, Marilá Dardot e Sara Ramo6 e a delicada prática natureza brasileira, suas obras são caracterizadas por ideias de conceitual de Rivane Neuenschwander, artista da mesma cidade violência, atrito e resistência. O artista catalão baseado no Rio de que ganhou proeminência praticamente uma década antes. Janeiro Daniel Steegmann Mangrané também volta o olhar para a 8 Embora as três artistas mais jovens tenham diferentes abordagens natureza, mas em seu caso as florestas tropicais brasileiras 9 e estilos, suas subversões conceituais de elementos da vida parecem fontes anímicas de sistemas de conhecimento não cotidiana (arquitetura, linguagem, etc.) parecem ecoar o método ocidentais. de Neuenschwander. Da mesma forma, podemos identificar uma Outro grupo significativo de jovens artistas é formado por afinidade entre a exploração poética da matemática e da geometria pessoas como Gabriel Lima e Pedro Wirz, que estudaram e na obra de Cildo Meireles e na prática de Waltercio Caldas e começaram a carreira no exterior, mas mantêm uma forte ligação Marcius Galan ou mesmo entre a forma intuitiva e fluida em que com o Brasil. Seus vínculos conceituais com o legado artístico do Fernanda Gomes ocupa os espaços expositivos e os procedimentos país são evidentes tanto no interesse de Gabriel em criar pinturas de trabalho espontâneos adotados por Rodrigo Matheus – mesmo ambientais como nos projetos de parceria de Pedro que evocam a que seu trabalho seja estilisticamente diverso. Estes tipos de natureza participativa e sensorial da vanguarda brasileira microgenealogias são ao mesmo tempo muito localizados, mas representada por Clark ou Oiticica. também estão em diálogo direto com as práticas globais. Estes são apenas alguns exemplos de algumas práticas Outro aspecto relevante do “localismo”, entendido como o artísticas que surgiram no Brasil durante a década passada, mas já movimento de observar o que está próximo da própria experiência, mostram grande diversidade de abordagens e estilos. Talvez, se é o interesse renovado da geração mais jovem nos legados culturais esses artistas compartilharem uma característica distinta, seria do próprio país, algo que também está relacionado com o impacto uma disposição maior de examinar suas próprias fontes culturais Jonathas de Andrade perpetrado por Jonathas de Andrade, mutuamente se interpenetram e, nos lapsos de sentido criados nesse encontro, de alguma maneira de esterilizam. A desordenação do mural por meio da emancipação individual de suas formas (triângulos e quadrados 1982, MACEIó, BRASIL monocromáticos que, saídos da imagem que documenta o mural, VIVE E TRABALAHA EM RECIFE, BRASIL adquirem volume e liberdade na instalação) equivale à implosão silenciosa das causas advogadas no texto, na medida em que os A presença de certos tópicos sociopolíticos nos trabalhos de elementos geométricos – em sua relação com a pretensa Jonathas de Andrade e nos contextos a partir dos quais – de modo universalidade moderna – ocupam o lugar das palavras que, em preciso e íntimo – eles se dão pode fazer parecer que o artista tem direção oposta, conferiam-no especificidade e sentido contextual. um “local” ou um “tempo histórico” como tema, enquanto o mais Sendo o arruinamento de um a ruína do outro, a estratégia lacunar j significativo esforço de sua produção se faz em torno do “método”: do artista faz ver o fôlego utópico outrora vinculado à criação de o dos modos de relacionar, organizar e estabelecer sentido e valor um repertório modernista o qual, hoje, descontextualizado e n a que são culturalmente construídos e praticados. Mais instigante vazado, se apresenta como motor de produção/consumo de t do que tematizações, a atenção aos modos que se constituem nas nostalgia como bem de uma economia de classe. h a tramas das relações – subjetivas, culturais, sociais etc – percorre Para além da compreensão de tal modus operandi como s s projetos diversos do artista, elaborando problematizações e ficcionalização – compreendendo, com Ranciere, que é preciso d a e t estratégias singulares. ficcionalizar para pensar2 – outra chave igualmente útil é a a is É nesse sentido que grande parte de sua obra tangencia “ambiguação” que, indo além da instauração de ambiguidades, n rt estruturas de ordenação dos modos de agir/existir em sociedade, interessa ao artista como método: uma espécie de constante d r a como colocado em seu primeiro trabalho – Amor e felicidade no ativação da “dimensão de exterioridade que nos é imanente”3. Já a os casamento (2007), baseado num manual de comportamento – ou referida4 por Jonathas de Andrade através do conceito de de em obras tão diversas quanto Educação para adultos (2010), que duplipensar (Orwell, 1984), que seria “um modo de ser e não ser ao Os Artistas parte do método de alfabetização Paulo Freire; Recenseamento mesmo tempo”, trata-se da ambiguação como esgarçamento das moral da cidade do Recife (2007) – um mapeamento totalidades/unidades não para forçar seu contato com o exterior, comportamental da cidade –; ou o manual ilustrado Dois em um mas, antes, para revelar o que há, nelas, de exterioridade. O que há (2010), um guia para a fusão de duas camas de solteiro que em nós dos outros (portanto, como “nós” e “outros” não se ambiguamente alude ao estatuto social da união entre pessoas de distinguem com clareza), o que há de igual na diferença/de mesmo sexo. Em todos, a forjada aproximação aos modos de diferença na equivalência, o que há de impossível dentro do regulação social dá a ver, inversamente, o descolamento entre a possível, dentre outros. experiência das relações (das classes sociais, das subjetividades e Evitando “o vício metafísico da fundamentação e do terreno dos modos de sociabilidade) e aquilo que se tenta normatizar por comum, até mesmo da visão de conjunto”5 e, portanto, depondo o meio de convenções, manuais, métodos e cartografias. ponto de vista ideal (como emulado nos manuais de Para tanto, o procedimento central do artista não consiste comportamento), ao invés de afirmar um território de estabilização, numa hipotética negação de toda forma de normatização, senão a ambiguação ativa relações (in)constantes de perspectivas na revelação de sua fratura ao, previamente, aceitar o jogo que diferenciantes que não se estacionam em ordens, formas, propõem. Ao, numa primeira instância, entrar em acordo com tais identidades. Trata-se da aposta numa desontologização que faz estruturas, o artista termina por elucidar a fragilidade das tentativas vislumbrar a possibilidade de modos existenciais “cujo (in) de constituir totalidades, fazendo ver as porções de exterioridade fundamento é a relação com os outros, não a coincidência consigo que não apenas invadem – como sobremaneira constituem – mesmas”6, deslocando o complexo modernista da produção para o aquilo que, na intenção de ordenar, almeja representar-se como campo da predação7: “só me interessa o que não é meu”8. Trata-se, “uno”. Esse exercício de contínua aproximação e distanciamento – assim, de um método que, ao não se conformar com os valores e de acordo e desacordo – produz, nos trabalhos de Jonathas, uma sentidos estabelecidos, tem, por sua vez, o desejo como motor: operação lacunar1 que, nos vazios evidenciados, revela o para descoincidir de si é preciso constituir exterioridade, o que desconjuntamento do universalizante projeto moderno da vida em pede desejo pelo outro, pelo estranho, pelo fora, que igualmente sociedade. Tal porção lacunar é salvaguardada, em sua obra, pelos nos constituem. 10 espaços de vazio entre texto e imagem, história e representação, Na obra de Jonathas de Andrade, esse desejo é exercitado 11 ficção e fato. Ao montar narrativas e situações com elementos da subjetiva e socialmente, no esforço de ir além do clássico duopólio cultura (apropriação de imagens e textos, convite à participação indivíduo/sociedade, complexificando perspectivas ao enxergar de pessoas etc), Jonathas trabalha num tom que, com sua precisão, tal relação em chave mais alargada do que aquela das por um lado constitui legitimidade – gerando sentidos factíveis e “contradições”. Diferentemente da leitura passiva da violência da historicamente reconhecíveis, donde a importância de lidar com vida social, nos trabalhos do artista a presença da relação contextos que lhes são próximos, como sua cidade de residência, predatória indivíduo-sociedade está calcada numa economia da o Recife – e, por outro, no seio de sua inteligibilidade, sustenta um devoração que sabe que aquele que devora está, ao mesmo tempo, espaço lacunar que torna ambíguas as narrativas apresentadas. passível de devoração. Assim, num trabalho como Ressaca tropical Evidente em todos os trabalhos do artista, essa operação (2010), o cotidiano de um morador do Recife revela e – pelo modo lacunar se mostra, contudo, num grau maior de literalidade em como deseja a cidade e é por ela desejado – ao mesmo tempo Nostalgia, sentimento de classe (2012), uma instalação composta reinventa seu projeto de modernidade; como também ocorre com pela reprodução tridimensional – em fibra de vidro, respeitando, o Museu do homem do nordeste (2013) ou em O levante (2012), que contudo, a modulação original – de um painel de uma casa respectivamente performam uma espécie de “retomada territorial”, modernista e um texto em torno de urbanismo, arquitetura, enérgica e provocativa, do imaginário simbólico sobre o Nordeste moradia – que, através do procedimento de recorte e colagem e do tecido urbano do Recife por parte de classes sociais e indivíduos tomados de desejo e, portanto, produtores do motor J. Borges Esse conjunto de representações tem como referência comum a esta anacronia é, em si mesma, produzida através de um sistema libidinoso das transformações da vida social. Algo como um vida rural, por vezes abundante e idílica, por vezes precária e hostil. técnico que a faz lidar com a questão do tempo: as imagens método do desejo como proposta de ambiguação da história. No trabalho deste artista, os procedimentos de gravação e impressas são o resultado de uma sucessiva refotografia dos entintagem são específicos e econômicos na execução dos temas. objetos, com tempos de exposição e aberturas diversas, Notas 1982, MACEIó, BRASIL O instrumentário desenvolvido são as ferramentas necessárias posteriormente reunidas numa única imagem que faz confluir 1. Cf. Marilena Chauí em Crítica e ideologia (1977). In: CHAUÍ, Marilena. O discurso VIVE E TRABALAHA EM RECIFE, BRASIL competente e outras falas. São Paulo: Cortez, 2011. p. 32. CONVIDADO POR PAULO NAzARETH para o corte seco e direto das imagens no taco de umburana, temporalidades diversas. A questão do fotográfico, normalmente 2. Cf Jacques Ranciere em Se é preciso concluir que a história é ficção. Dos modos madeira utilizada extensivamente na produção de artesanato por tratada a partir da ideia de momento (tão presente nas obras sobre da ficção. In: A partilha do sensível. São Paulo: ExO experimental.org; Ed. 34, 2005. 1. sua maciez e firmeza. São facas de cozinha, brocas, pregos, hastes fotografia de Walter Benjamin, Krakauer, Susan Sontag, Vilhelm 3. Eduardo Viveiros de Castro em Prólogo. In: CASTRO, Eduardo Viveiros de. A s inconstância da alma selvagem. São Paulo: Cosac Naify, 2011. p. 19. José Francisco Borges, mais conhecido como J. Borges, nasceu de guarda chuva - todo material que fornece um bom aço capaz de Flusser e Roland Barthes), é substituída no trabalho de Sofia Borges ge 420. C10f).. Jonathas de Andrade no texto O gatilho, publicado na revista Tatuí 00 (Recife, em 1935, no município de Bezerros, interior do estado de cortar é utilizado para traduzir a ideia em desenho gravado. A por uma possibilidade de fotografia que é um palimpsesto de r 5. Inês Lacerda Araújo em Do signo ao discurso. São Paulo: Parábola Editorial, 2004. Pernambuco. Para bem dimensionar o valor da obra de J. Borges, matriz é trabalhada com uma inteligência gráfica em que a relação momentos diversos, dilatando o tempo do processo fotográfico o b p6.. E10d8u.ardo Viveiros de Castro em O mármore e a murta: sobre a inconstância da é interessante levar em conta a variedade das origens da cultura equilibrada de cheios e vazios propicia um melhor rendimento das até, num certo sentido, o aproximar da pintura como processo j. alma selvagem (1993). In: CASTRO, Eduardo Viveiros de. A inconstância da alma pernambucana: à cultura indígena autóctone somou-se, em múltiplas impressões. lento de produção imagética. O processo de fazer condensar na / selvagem. São Paulo: Cosac Naify, 2011. p. 195. primeiro lugar, a contribuição europeia; Pernambuco foi uma das O universo mítico, religioso, carnal e telúrico faz parte da vida imagem tempos diversos, transformando a imagem numa ficção é 7. Eduardo Viveiros de Castro em Prólogo. In: CASTRO, Eduardo Viveiros de. A primeiras regiões do país a ser colonizada pelos portugueses, já a do homem sertanejo. Isso fez com que o gravador e poeta J. Borges de uma dilatação temporal, está presente na história da pintura b inconstância da alma selvagem. São Paulo: Cosac Naify, 2011. p. 15. a 8. Oswald de Andrade em Manifesto Antropófago (1928). In: ANDRADE, Oswald de. partir do século xVI. O início da presença negra data desse mesmo transmitisse aos filhos o ofício do ver-fazer/aprender, constituindo desde Manet e, no interior da fotografia, possui um momento s rn A utopia antropofágica. São Paulo: Globo, 2011. p. 67. século, quando africanos foram trazidos para trabalhar, em regime uma história universal e familiar, estruturada em um procedimento fundamental com as imagens da série Theaters, de Sugimoto, of a de escravidão, no cultivo da cana de açúcar, durante muito tempo artístico que não passou por alterações desde sua chegada ao produzidas em simultâneo com as primeiras imagens da série ia b o a principal atividade econômica do estado. A rentabilidade da mundo ocidental. Dyoramas, a partir de 1976. Esta é a paternidade recente da b g produção e exportação do açúcar atraiu o interesse dos holandeses Atualmente, essa operação coletiva de produção e impressão operação temporal do processo usado por Sofia Borges, mas a o r ri que, em 1630, invadiram e conquistaram parte do nordeste do das imagens se dá como uma corporação de ofícios, em que o estranheza conferida pela acumulação de camadas de exposições g ar Arrigo Barnabé brasil, estabelecendo um período de ocupação holandesa desse artista, utilizando uma caneta ou um lápis, desenha na matriz que reunidas digitalmente na produção de imagens atemporais resulta, es território. A presença batava trouxe consigo uma grande leva de será gravada por um dos filhos e posteriormente impressa por mais de facto, numa operação próxima do procedimento da pintura (o imigrantes judeus (a mais antiga sinagoga das Américas está em alguém. A relação de cores justapostas, a impressão carregada de trabalho de sobreposição de camadas, a composição de uma Recife, capital de Pernambuco). Após a reconquista do território tinta e o tipo de papel característicos vivem plenamente sua função imagem a partir de processos cromáticos e de transparência), 1951, LONDRINA, BRASIL por Portugal, em 1654, a maioria dos holandeses e judeus foi própria de reproduzir nas estampas o imaginário do artista. reforçada pelo facto do resultado produzir uma epiderme. Este RESIDE E TRABALHA EM SãO PAULO, BRASIL expulsa, porém alguns se refugiaram no interior do estado, onde se traço distintivo do pictórico (a fotografia não possui marcas estabeleceram. dérmicas, mas uma superfície unitária) é perseguido, no entanto, Arrigo Barnabé é músico e ator. Suas composições aclamadas É nesse contexto de trocas culturais intensas que floresce a pela estranheza das superfícies das suas imagens fotográficas que internacionalmente resultam de uma abordagem experimental, tradição da literatura de cordel: uma literatura feita por poetas frequentemente não podem admitir, nem vidro, nem qualquer utilizando a técnica dodecafônica, também denominada populares, impressa em livretos de baixo custo e comercializada Sofia Borges processo de intermediação da superfície em relação ao espectador. dodecafonismo, e o atonalismo como princípios básicos. em feiras e praças. O folclorista Alceu Maynard Araújo define Uma terceira característica se deve acrescentar às duas Em São Paulo, Arrigo cursou a Faculdade de Arquitetura e assim esse gênero: “Nas feiras nordestinas, é comum encontrar anteriores para a compreensão do seu processo: as imagens Urbanismo (1971–73) e estudou na Faculdade de Música da ECA, ‘bancas’ onde são vendidos pequenos livros (o tamanho típico é de incidem sempre sobre uma falha, um erro, ou um colapso. Essas Universidade de São Paulo (1974–79). Seu primeiro e mais 16 x 11,5 cm), verdadeiras peças da literatura popular e tradicional, 1984, RIBEIRãO PRETO, BRASIL interesse beckettiano pelo fracasso tanto pode resultar em conhecido álbum, Clara Crocodilo (1980) se tornou um marco as quais refletem com espontaneidade os vários assuntos VIVE E TRABALAHA EM SãO PAULO, BRASIL E PARIS, FRANçA imagens que são memento mori (como em Esqueleto, ou La Tète du devido à fusão da música popular urbana com a música clássica desenvolvidos pelos trovadores. Opúsculos encontrados também Cheval, ambas de 2012), como outras vezes são subtis contemporânea. É considerado um dos mais importantes álbuns nas portas das engraxatarias, enfiados em barbantes, encarreirados Anacronia apresentações de uma fissura no tecido quotidiano (o que acontece experimentais lançados no Brasil no século xx e o ponto de partida em cordéis. Literatura do povo para o povo, pendente, suspensa em Ambas, de 2009). do movimento Vanguarda Paulistana, desenvolvido em São Paulo nos cordéis”. A fotografia de Sofia Borges tem incidido sobre dois tópicos Por fim, a metodologia de recombinação de apresentação das entre 1979 e 1985. O nome foi criado por jornalistas e críticos A relação de J. Borges com esse universo peculiar de imagens que são internos ao seu processo de trabalho e relevantes para a imagens em contextos expositivos diversos, ou mesmo produzindo musicais, referindo-se tanto à expressão avant-garde como ao e poesia começa em 1956, quando ele adquire um lote de folhetos compreensão do fotográfico hoje: em primeiro lugar, uma presença corpos de trabalhos diferenciados a partir das mesmas imagens, é Teatro Lira Paulistana (situado na Rua Teodoro Sampaio, no bairro de cordel e começa a trabalhar como vendedor em feiras populares. simultaneamente melancólica e irónica do levemente obsoleto; em revelador da forma como Sofia Borges toma a imagem fotográfica de Pinheiros) com o qual os experimentalistas se associaram. O Insatisfeito com a simples comercialização, em 1964 ele se lança na segundo lugar, a procura de uma sensibilidade da imagem através como a matéria prima para a construção de um universo que movimento posteriormente se tornou uma gravadora e editora, escrita de seus próprios folhetos, ainda deixando a cargo de outros de um enorme cuidado com a sua superfície sensível, que quase a constrói uma ambiência, na qual o tempo parece estar, consolidando produções musicais independentes sem acesso às artistas a imagem ilustrativa da capa. Porém, com pouco dinheiro aproxima da pintura como dispositivo epidérmico. permanentemente, a produzir uma corrosão só enfrentável por 12 principais gravadoras. para pagar gravadores que ilustrassem seus textos, em pouco Comecemos pela primeira questão, a do caráter obsoleto. uma estranha ironia melancólica. 13 Em 1984, Arrigo uniu música e história em quadrinhos com o tempo passa a fazer ele mesmo essas imagens. Durante a década O interesse reiterado (nomeadamente das séries Estudo para Delfim Sardo, Lisboa, 2013 álbum Tubarões Voadores. Com a capa foi ilustrada por Luiz Gê, e de 1970, J. Borges vê crescer a demanda por suas gravuras, fato Paisagem e Caixas-Fantasma, ambas de 2011), por situações que continha um pequeno livro em quadrinhos cujas cenas que ocasiona a autonomia das imagens que faz em relação ao texto pertencem a um léxico de imagens colhidas a outros universos acompanhavam a música. Barnabé também compôs trilhas e ao formato do folheto de cordel. imagéticos deriva de um fascínio por dispositivos que, lúdicos ou sonoras para vários filmes brasileiros e hoje apresenta o programa 2. de conhecimento, são restos de um sistema representacional do Supertônicas na Rádio Cultura em São Paulo. Caetano Veloso o A produção de xilogravura no Nordeste, na qual se insere o mundo extinto, ou que é sintomático de uma ordem que só pode homenageia em sua canção Língua, assim como Rogério Skylab trabalho de J. Borges, encarna a necessidade do artista-artesão de ser melancólica ou ironicamente invocada. em Eu Quero Saber Quem Matou. dialogar com o meio em que vive e de superar obstáculos Repare-se que as imagens destas séries não são só imagens Renate Thorbjørnsen geográficos, como deslocamento, aridez do ambiente e até mesmo recolhidas a situações que são, elas mesmas, pertencentes ao escassez de água e alimentos. São recorrentes os temas da universo da memória, mas são, também, imagens produzidas agricultura, do sol e da seca, assim como as figuras do boi, do bode como glorificações da sua inadequação. Ou seja, no interior do e do cavalo. Outros temas que frequentam as obras de J. Borges processo fotográfico de Sofia Borges há, para além da heterocronia são as festas populares, a família (por vezes representada como própria da fotografia, uma interna anacronia, dupla porque parte grupo de migrantes, deixando sua terra para fugir da seca), a de imagens representacionais existentes em sistemas de política local, a religião, os mitos e os ofícios do homem simples. representação do passado ou de universos perdidos. No entanto, Rodrigo Cass nestas ações?, parece interrogar-nos o artista, mediante a sua Adriano Costa Deyson Gilbert estranha e ao mesmo tempo “desimportante” economia de meios. Uma pista para esta pergunta pode ser encontrada nas obras nas quais o jogo de composição tipo natureza morta (por falta de 1983, SãO PAULO, BRASIL melhor definição para nomear essas liturgias-joguetes sobre a 1975, SãO PAULO, BRASIL 1985, SãO JOSÉ DO EGITO, BRASIL VIVE E TRABALAHA EM SãO PAULO, BRASIL VIVE E TRABALAHA EM SãO PAULO, BRASIL VIVE E TRABALAHA EM SãO PAULO, BRASIL mesa ou contra minicenários), dá lugar a outras obras nas quais a fragmentos do corpo do artista aparecem mais decisivamente, d r I como em Sem título (2009) e Narciso no mijo (2006), em que o Entre desenhos, pinturas, esculturas, colagens e apropriações, Monomania i a Não é obvio o lugar do qual Rodrigo Cass resolveu partir para artista usa o mesmo ferro de passar para apagar sua imagem a obra de Adriano Costa tem como princípio a escolha por materiais n começar sua pesquisa. O início de sua obra é marcado por refletida na urina, evocando o mito grego. e suportes ao seu alcance mais próximo (na casa/ateliê) ou aqueles Os trabalhos assinados por Deyson Gilbert apresentam uma o experimentações solitárias diante de uma câmera parada, tomando II que o interessam ao percorrer as ruas da cidade. Um caderno variedade disparatada de materiais: bandeiras, gadgets e c o o espaço do quadro do vídeo como uma espécie de membrana Comparados com seus trabalhos em vídeo, os experimentos pautado envelhecido; a sacola de supermercado deixada de lado; bricabraques semifuncionais, materiais (al)químicos, móveis s entre a ação realizada e a narrativa absorvida pelo espectador. São de Rodrigo Cass com o espaço pictórico parecem bem mais o cobertor usado por mendigos; pedaços de uma calçada; restos usados, pedaços de metal, trapos, fotografias e fragmentos visuais t a situações estranhamente banais, mas que ao mesmo tempo ligados à tradição da arte brasileira. Podemos ver a presença de de tecidos. Cada um desses resíduos do mundo, assim como os oriundos dos mass media – restos em geral. Ao mesmo tempo / guardam urgência quando vistas pela primeira vez. artistas como Jorge Macchi, Rivane Neuenschwander, José desenhos feitos de traços contundentes, agressivos mesmo, são insólitos e familiares, esses trabalhos se inscrevem deliberadamente d s as Arma Branca (2011) é extremamente eloquente desta espécie Damasceno e Cildo Meireles, para nomear alguns. O que será que signos de uma obra que surge com um caráter de urgência. Aí no campo sacralizado da arte. A concentração paranoica de ícones ey c de expansão do limite do quadro – tanto física como, ética. A faz, então, o interesse dessas obras. Uma exposição recente no mora a vitalidade do trabalho do artista. Avesso ao método e aos (oriundos indistintamente da história política do século xx, da s o o câmera enquadra uma mão, que introduz facas numa sacola de Centro Cultural São Paulo (2013) parece ter a resposta para esta rigores formais, Adriano Costa finda por fazer do caos, religiosidade dissidente das seitas místicas, da cultura pop) e a n g plástico branca pendurada numa parede, numa mise en scène pergunta. Instaladas em conjunto (e não lidas individualmente) paradoxalmente, o seu método e a fonte que irriga a sua poética. atenção metódica em relação à sua posição no espaço, g o r anódina e anônima, contra um fundo que poderia se passar por essas obras colocam o próprio ser do quadro em questão. Fazem parte deste pensamento referências como o pós-punk, o testemunham sua filiação formal (ou seja, sua calculada legitimação il d uma situação publicitário-institucional de um estúdio de baixo O interesse de Cass pela geometria, e especificamente pelo construtivismo e o neoconcretismo. genealógica) a um simbolismo modernista que é recuperado via be o orçamento. As facas introduzidas são ao mesmo tempo arma e espaço hipercodificado da grade e da página pautada, é de certa A geometria, assim como a grade, são heranças da modernidade Malevich, como depõe abertamente a preferência pelos contrastes r r t ferramenta, que com sua qualidade perfuro-cortante e o peso forma um motivo e um pretexto para essa pretensão ontológica e de uma vertente da arte. Na época moderna foi semeado um simples de preto e branco (ou ainda pelos contrastes gritantes resultado de seu acúmulo, irão romper o continente, explicitamente que suas obras aspiram. Ao percorrer as paredes da exposição, modo de ver o mundo no qual o rigor geométrico buscava entre o tom escuro das cadeiras ou bandeiras e o branco-cinza débil, escolhido para recebê-las. O término da ação coincide com encontramos uma verdadeira Via Crucis do quadro: ele aparece representar um ideal utópico de harmonia que se refletiria na vida cristalino dos blocos de gelo, copos d’água e placas de vidro). É o término do vídeo, numa moral da história de causa e efeito um apoiado sobre uma delicada prateleira, deformado pela força da em sociedade. Findado o sonho moderno, testemunhamos ainda notável que o despojo cromático modernista seja completado tanto brutal. Reproduzido diferentes sequências, na estratégia gravidade; inserido dentro de chassis convencional coberto com operações que desconstroem este ideário em favor de aqui, de modo calculista, pela utilização recorrente de tons mântrica do loop, sua repetição pode se tornar diabólica, passado linho; fragmentado em pedacinhos, libertos de uma alegórica manifestações atravessadas por índices do cotidiano. Ou seja, dourados, num caminho fetichista, com pinceladas “conceituais”, o impacto da primeira visão. espiral e colados pela força de um desejo impossível de unidade; gestos mais próximo da vida. Adriano instaura algo próximo do que de retomada da resplandecência dos ícones ortodoxos elitistas. Numa exposição no Cassino da Pampulha (“Bolsa Pampulha, encarcerado numa caixa de acrílico, qual falsa relíquia a ponto de o artista brasileiro Valdemar Cordeiro chamou de “geometria 2010—2011”, Museu de Arte da Pampulha, Belo Horizonte, Brasil), transbordar seus limites; como pintura-pintura, num par delas em sensível”. O último quadro esses vídeos foram apresentados como pequenas projeções, que a relação entre motivo e espaço é conflitiva por escolha. Os Sua série de “desenhos” com pedaços de papel (anotações ocupando espaços não usuais deste prédio museologicamente materiais elegidos, dos quais o cimento moldado como corpo e suas e de terceiros abandonadas, de tons amarelados pois Ao contrário do vazio do campo visual no Quadrado Preto não usual, passando às vezes desapercebidos e ao mesmo tempo superfície e aplicado como imprimatura e tinta é o mais importante, envelhecidos pelo tempo), na qual realiza uma colagem de tal sobre Fundo Branco, que era carregado de significado simbólico, tornando ativos nichos e detalhes da arquitetura, chegando ao e a inserção aparentemente gratuita da cor (que uma leitura forma a dar àqueles entes completamente dignos do esquecimento aqui a repetição irrestrita dos elementos visuais (cadeira, gelo, ponto de simular ações diretamente sobre os elementos do prédio, apressada poderia tachar como decorativa) são os outros uma forma, um corpo no mundo, formando um desenho à nossa bandeira, água, etc.) atesta seu caráter intercambiável (e circulante) como uma infiltração ilusionista sobre uma cortina (Reserva elementos de uma almejada desconstrução do corpus pictórico. frente, é um exemplo desse viés de seu trabalho. e a saturação simbólica corresponde à exaustão dos significados. Própria, 2011). Em um exame atento, percebemos que o pano de Rodrigo Cass não é apenas mais uma voz no panorama às Coluna laranja é uma obra que evidencia igualmente essa Assim, os signos, objetos e cores recorrentes não portam valor fundo da obra citada anteriormente é também uma espécie de vezes leviano e hiperacelerado dos artistas emergentes brasileiros. tendência, mas de maneira diversa. Nesse trabalho há uma semântico intrínseco. Integrando, por meio da acumulação repetição (reconstrução? manipulação?) do piso de pedra e da Seus pontos de partida, seja para a obra em vídeo, mais subversão da geometria através do uso de materiais banais indistinta, restos simbólicos reconhecíveis e entulho de material parede de madeira laminada usados naquela estranho detalhe desenvolvida, seja para seus incipientes, porém sinceros presentes no cotidiano para formar uma obra que nos recorda um insignificante, gera-se, por saturação e sobreposição, uma espécie arquitetônico que o prédio propicia, aparentemente com o experimentos pictóricos, nada têm de fáceis ou de confortáveis e ícone da arte minimalista. Donald Judd e Carl Andre são referências de aterro dos elementos simbólicos. O diagnóstico é razoavelmente exclusivo intuito de permitir que o artista exiba sua obra. sua concentração e têmpera artística serena parecem em aqui. Mas no lugar da frieza dos materiais usados pelos artistas da claro: o mundo que corresponde à sociedade da circulação (dos Obras anteriores com estratégias semelhante usam uma compasso com o tamanho de sua ambição. Quando penso no minimal, Costa instaura sua “coluna laranja” fazendo uso de signos, dos objetos, dos commodities artísticas) parece vazio de espécie de inversão do gênero da natureza morta, em pequenas cerne do seu trabalho – à medida que ele se torna, lentamente, delicadas flanelas como as que usamos em casa para retirar a sentido. ações envolvendo objetos igualmente animados pelo artista em mais evidente para mim – a imagem de João Gilberto tentando poeira dos objetos. 14 movimentos ritmados, de acordo com uma lógica obstinada. Em inventar a batida da bossa nova num refúgio no Norte de Minas Esta delicadeza surge constantemente em meio a materiais de L’enfance de l’art 15 Ferro, Leite e Garrafa (2006), um ferro de passar roupa é colocado Gerais aparece quase concreta. Para um domingo à tarde, isso aspecto precário, efêmero, quando não sujos mesmo. Este sobre uma garrafa plástica cheia de leite e destampada. O calor pode ser muita coisa. Para uma vida inteira nas artes, apenas um vocabulário “marginal” do artista `vem sendo assimilado Acompanhando ainda, em chave nostálgica – ou publicitária –, deforma o objeto e faz o líquido evaporar, enquanto a mão do começo. rapidamente por um circuito de galerias e instituições. Esta o mito da vanguarda perdida, a missão política que o artista se artista concorre para a ação, acelerando o processo entrópico Rodrigo Moura contaminação do cubo branco com a vida que corre lá fora, no impõe, com ingenuidade encenada, parece ser a de preencher o entre os três elementos – ademais carregados por simbolismos caso uma vida perpassada por caos e violência por vezes, é um dos vazio simbólico intuído. Do ponto de vista do resultado, ou do acirrados por suas características, assim como a água na cortina e gestos que a sua produção instaura. produto final, a solução é simples e engenhosa (quer dizer, as facas na sacola. Em Acende-se (2011), assiste-se ao contato Adriano Costa opera um resgate de entes do cotidiano em seu ambígua): não se tratam de objetos (já que não possuem corpo agonístico entre duas lâmpadas incandescentes seguradas pelo aspecto mais rude doando para mesma uma delicadeza de cunho semântico nem valor de uso), mas de construções (uma lição artista, em cada uma das mãos. Nenhuma delas está inteiramente afetivo, ao mesmo tempo em que se referencia a capítulos da aprendida com as vanguardas modernas). Mas “construção” é uma atarrachada, portanto o contato termina por causar a interrupção história da arte doando aos mesmos vários níveis de subversão. palavra por demais perene para descrever o que se passa. (Não se da luz, num jogo sem lógica aparente, mas extremamente aflitivo. Como denominador como encontra-se a busca permanente por pode esquecer que a matéria histórica condensada esteticamente Em todas essas obras, observa-se o aspecto espartano do trazer a arte para mais perto da vida, visando dar uma segunda nesses trabalhos é oriunda da periferia do capitalismo). cenário e a precisão do enquadramento da câmera fixa, a serviço pele para a vida, antes opaca, e, no mesmo lance, dessacralizar a Contrarelevos figurativos: uma cadeira quebrada fica de pé, exclusivamente do conjunto de ações repetitivas encetadas pelo arte. apoiada num mastro (sem bandeira); outra se sustenta inclinada artista com seus objetos de eleição. Há mesmo uma transcendência Luisa Duarte por uma corda ou um fio roto. Do ponto de vista do procedimento, que é metódico, não se trata, portanto, de “construir” algo, e sim de De um lado, fica a demonstração, crítica, realizada por meio da portanto, uma ou outra exceção não altera o conjunto. A consideração Marcellvs L. estabelecer uma relação entre dois (ou mais) elementos. E a relação radicalidade formal do discurso (e seu parentesco ideológico, que várias das obras passaram anos no conforto da casa-ateliê da será sempre de tensões e suspensões. Instabilidade e insegurança militante – mas fetichista – com a “vanguarda” moderna), de que a artista antes de ser expostas, e nessa ocasião, frequentemente, (choque em potência) são as lições aprendidas com a favela lei não é apenas vazia de conteúdo social vivo, mas concretamente reconfiguradas em função das especificidades do espaço expositivo, brasileira. (É duvidoso que o ganho crítico se sobreponha à esvaziada, por meio da violenta abstração da política pelos faz com que a questão da passagem do tempo, evidente nos materiais, 1980, BELO HORIzONTE, BRASIL VIVE E TRABALHA EM BERLIM, ALEMANHA, E SEyðISFJöRðUR, ISLâNDIA adequação oportunista). mecanismos “neutros” de origem jurídico-normativa. De outro, por com suas histórias de uso e abandono, e na longa gestação de cada intermédio da indexação e da categorização (que são seus próprios trabalho, tenha sido considerada central na poética da artista. E de Luta de Morte meios formais), o conteúdo crítico articulado queda enredado, por fato, poder-se-ia afirmar que esse período em que os trabalhos foram ALEXANDER KLUGE: The cosmos is cold / O cosmo é frio meio de um desvio já previsto, entre cláusulas e dispositivos legais sendo pouco a pouco modificados, crescendo e amadurecendo, é o HEINER MÜLLER: Dreamless / Sem sonho O sentido é um só: estamos diante de um mundo na iminência (nas quais o discurso se faz norma). A consciência desse fato, entre que faz com que eles adquiram de maneira tão clara, e ao mesmo ALEXANDER KLUGE: Dreamlessly cold / Frio sem sonho de ruir. A proposição de uma relação fenomênica entre objeto e cínica e desesperada, explicita a tautologia de sua enunciação: tempo tão consciente de si, seus traços característicos. Mas também espectador é tensa – e perversa –, pois o equilíbrio frágil entre os mais uma vez, o espectador se encontra diante de um contrato parece lícito, e talvez até mais pertinente, considerando que os A obra de Marcellvs L. se desenvolve ao longo da linha que objetos sempre ameaça fisicamente o observador. A estruturação visual que é selado no momento da observação. Contratante e materiais novos confluem com a mesma naturalidade para o corpus separa a presença da ausência, a consistência da realidade de sua s formal (que é também formalista) não só exclui a ação por parte do contratado: seria esta a versão pós-moderna – quer dizer, de trabalhos de Fernanda Gomes, afirmar que essa noção do tempo inconsistência. Indica o espaço de indecisão entre 0 e 1 ou, em e m observador, como ameaça suprimi-lo – ou, ao menos, marcá-lo econômico-cultural – do “pacto estético”? que passa é acessória, se não ausente, da obra, porque ela, termos filosóficos, entre o nada e a realidade. O cálculo infinitesimal o fisicamente. A violência da operação (num braço de ferro que é ao Gustavo Motta simplesmente, acontece sempre no presente. Como a nave dos estuda intervalos minúsculos nos vários campos da matemática. A m g mesmo tempo sinal de luta e de camaradagem de classe) satura os argonautas, ela pode ser modificada, de maneira radical ou quase obra de Marcellvs faz o mesmo, mas por meio da arte. Podemos a da objetos de conteúdo semântico, de modo mais ou menos artificial. imperceptível, um ano ou um momento antes de ser exposta, ou até distinguir entre dois registros: o da finitude (que é a realidade rc n As relações fenomênicas entre os objetos são concretizadas ao durante a exposição, mas isso não muda o que ela é: seu nome, sua constituída, o mundo dos números reais) e o do infinito (que e l a custo da anulação dos objetos concretos… O mesmo vale para as natureza permanecem. Poder-se-ia argumentar que esse raciocínio descreve a irrealidade do zero ou do nada). Traduzindo em l n v r cédulas de dinheiro que são pintadas de preto, ou os contratos (em se aplica a outras obras, e a outras exposições, mas quem já vivenciou categorias lacanianas, esta seria a diferença entre realidade e o s e papel preto) que enunciam regras tautológicas. Fernanda Gomes uma instalação de Fernanda Gomes sabe que a disposição real. Tudo é decidido pela diferenciação entre essas duas ordens, l f extremamente cuidadosa, e contudo despojada, dos trabalhos, das quais a primeira marca a consistência e a segunda, a . Vanguardismo vintage (ou a lógica cultural do capitalismo tardio) transmite uma sensação aguda do momento presente, faz com que o inconsistência. espaço vibre, ressoe como se todos aqueles fragmentos de mundo ali Marcellvs, em última análise, insiste na indecisão do registro 1960, RIO DE JANEIRO, BRASIL A semantização por meio do estabelecimento de tensões reunidos estivessem vivos, a cantar, silenciosamente, em um só tom. entre consistência e inconsistência. Repetidas vezes, seus filmes VIVE E TRABALAHA NO RIO DE JANEIRO, BRASIL equivale a uma simbolização (e daí a referência constante a signos CONVIDADA POR RODRIGO MATHEUS A sensação de um presente infinito, sem solução de continuidade, apontam para a linha divisória espectral que une esses registros religiosos e rituais sacros). Mas há também um dado pernicioso: o é coerente, inclusive, com uma leitura da obra de Fernanda Gomes na tanto quanto os separa entre si. Daí vem o traço fantasmagórico mesmo ato que dota o objeto de sentido (e, portanto, de existência Presente Continuo contraluz de dois momentos fundamentais da história da arte do país. em sua obra. O chão e a falta de chão do abismo coincidem. histórica), dota-o também de valor monetário (como obra de arte). Na maioria dos trabalhos, mesmo os realizados com elementos Realidade e irrealidade se cruzam e, enquanto cruzam, engendram De John Wayne à arte conceitual; de Malevich a Uri Geller: o Uma imagem frequente: a da nave Argos (luminosa e branca), cujas encontrados e já gastos, a artista consegue fazer ressaltar uma matriz uma zona intersticial fantasmagórica que faz nossas certezas campo da arte se imbrica diretamente ao campo da indústria peças os Argonautas substituíam pouco a pouco, de modo que acabaram geométrica, uma ordem que, se é de certa maneira diluída pela falhar. Podemos, então, falar da ontologia implícita na obra de cultural. O amplo espectro cultural abarcado por essas por ter uma nave inteiramente nova, sem precisar mudar-lhe o nome própria materialidade dos trabalhos e pela programática falta de Marcellvs. A ontologia se ocupa do ser e da presença. Faz isso – “construções” atestam as liaisons dangereuses entre economia e nem a forma. (...) Argos é um objeto sem outra causa a não ser seu acabamento, permanece evidente, ontológica. Analogamente, o jeito desde Parmênides, por exemplo, – ao distinguir entre a esfera do cultura (na qual, de acordo com a fórmula sintetizada por Fredric nome, sem outra identidade a não ser sua forma. como ela dispõe os elementos no espaço em suas exposições ser e do nada. O ser e o nada, presença e ausência são categorias Jameson nos anos 1980, “a cultura se cristaliza como fato Outro Argos: tenho dois espaços de trabalho, um em Paris e outro obedece evidentemente a uma lógica que, se não é guiada pela fundamentais da ontologia. A filosofia do século xx, seguindo o econômico e a economia como fato cultural”), vigentes desde os no campo. Entre eles não há nenhum objeto em comum, pois nada é simetria convencional, consegue organizar o todo de uma maneira caminho de Nietzsche, se articulou como crítica da metafísica ao anos 1970. Nixon shock, thatcherismo, neoliberalismo: a atenção levado de um lugar para outro. Entretanto, os dois lugares são idênticos. que demonstra um perfeito conhecimento do peso específico de colocar a ontologia em questão. A desconstrução da metafísica dada a práticas de indexação e anulação monetária situam Por que? Porque a disposição do material (papel, penas, mesas, relógios, cada forma, cada material, cada cor. À luz disso tudo, seria lícito logocêntrica realizada por Derrida é uma desconstrução da historicamente o turning point, no qual o campo da arte abandona calendários) é a mesma. É a estrutura do espaço que constitui sua afirmar tratar-se de uma obra que explicita uma filiação bastante ontologia da substância e do assunto correlato. Procede ao seu posto na retaguarda de lutas antisistêmicas (globalmente identidade. Este fenômeno particular bastaria para esclarecer o direta com a grande tradição da arte construtiva e concreta no Brasil, interligar a categoria da presença com a da ausência. A presença derrotadas) e assume novamente a posição de vanguarda – agora estruturalismo: o sistema prevalece sobre o ser dos objetos. por exemplo com a “geometria empírica” de Sergio Camargo, entre também é sempre ausência. Há presença apenas como presença dos investimentos e negócios. Roland Barthes outros. Ao mesmo tempo, contudo, é difícil pensar em outra obra, na ausente. A categoria do desaparecimento se torna central. história recente da arte brasileira, em que a fusão de arte e vida se Deleuze, por sua vez, fala do devir. Derrida e Deleuze invocam O Pacto de Mefistófeles Fernanda Gomes utiliza, na construção da sua obra (assim: no faça mais clara, natural e despretensiosa. Trata-se de uma fusão a tal Maurice Blanchot, cuja literatura (como vários textos e filmes singular), um vocabulário relativamente restrito de materiais e uma ponto direta e autêntica, que torna impossível separar, na casa da importantes de Marguerite Duras) abre um espaço espectral que é 16 Daí que a dupla exigência a que responde o artista seja paleta bastante limitada de cores, recorrendo, na grande maioria dos artista, o que é obra do que é mobília, e até do que é teto, chão, o espaço da indecisão entre o ser e o nada. É a zona fantasmagórica 17 formulada em termos literais: selar um novo pacto (na economia casos, a objetos de uso comum ou então a fragmentos deles. Com parede; e em suas exposições, o que é dela do o que não é, como de uma instabilidade ontológica geral. das trocas simbólicas) com seu público (que é agora o frequentador certa frequência, os elementos que confluem em suas instalações quando “pinta” uma tela apenas com a sombra que uma parede A realidade comprova ser uma promessa de consistência que é de galerias, consumidor de alta classe em um mercado de luxo provêm diretamente do universo doméstico, onde tiveram um uso projeta sobre um quadro branco. Até que ponto podemos realmente quebrada. A realidade é uma ficção, uma narrativa. É uma espécie altamente seletivo), e responder ao vazio simbólico que se verifica prático até pouco antes de confluir para as instalações da artista. Em acreditar, como fazemos num primeiro instante, que aquela luz é, sem de tecido cheio de buracos, continuamente translúcido perante nas operações econômicas globais que enredam todas as outros casos, os objetos são adquiridos em lojas de materiais de arte mais, de Fernanda Gomes? Essa dúvida, consequência da simbiose sua própria impermanência. Deleuze chamou este tecido de nível atividades. Os procedimentos são variados (indexação, anulação e imediatamente incorporados ao trabalho, “novos e frescos”, nas total da obra com o mundo, faz com que ela seja, também, herdeira de imanência; em Wittgenstein, chama-se forma de vida ou jogo de valores monetários, proposições de interação, ameaças diretas palavras dela. Independentemente da proveniência e do uso, esses da tradição neoconcreta, em sua versão mais livre e experimental. As de linguagem. Lacan fala da ordem simbólica. Tudo são arquiteturas ou indiretas, suspensão da fruição, etc.), mas são todos regidos objetos são, em sua maioria, feitos de madeira, papel ou tecido, e instalações silenciosas e calmas de Fernanda Gomes dialogam, flutuantes amarradas como redes frágeis sobre o abismo da pela lógica legalista e normativa do contrato (que é o resultado pintados de branco ou mantidos na cor originária. Existem exceções, evidentemente, com os Parangolés de Hélio Oiticica, com as Tteias inconsistência, que Deleuze, como Nietzsche, chama de caos. As direto da negociação da qual o produto artístico é objeto). A naturalmente, mas isso talvez não seja relevante, porque, como se de Lygia Pape e, mais ainda, com a célebre instalação A Casa é o obras de Marcellvs apontam para o caos. E fazem isso com grande paródia é dupla, irônica e cínica: 1) abertamente formulado, dizia antes, a obra de Fernanda Gomes é singular: os trabalhos Corpo (1968) de Lygia Clark. Concreto e neoconcreto, geometria e precisão. evidencia-se o aspecto burocrático e puramente formal do discurso existem individualmente, cada um com suas características e caos, tudo convive e se complementa nessa obra tão singular, e que Marcus Steinweg da lei expresso no contrato, 2) mas a negociação se realiza ao fim, peculiaridades, mas antes disso eles constituem um corpo único, um consegue ser, ao mesmo tempo, tantas coisas, tantos lugares, tantos justamente, às expensas do valor crítico-simbólico declarado (e conjunto coeso e que, apesar da atividade intensa da artista, mundos distintos, e contudo idênticos. enxertado), do qual a fruição tautológica do trabalho se apropria. permanece substancialmente idêntico ao longo dos anos, e no qual, Jacopo Crivelli Visconti Milton Machado ridicularizada pela imprensa sensacionalista em ocasiões possibilidades de expansão. mecanismos de vigilância e recalque em exercícios aparentemente tais como Oak Tree (1973), de Michael Craig Martin, que Na camada espessa de subsolo representado em Estudo de livres de fruição. consistia de um copo d’água apresentado na galeria em uma Percepção Sensorial (1969), entre uma “área ocre” mais profunda e simples prateleira. Craig Martin fora certamente o tutor mais a “área verde” que toma a superfície da vida comum, uma “Caixa O Regente de Madrigais Nunca Cantados 1947, RIO DE JANEIRO, BRASIL amplamente associado com os yBAs e professor no Goldsmiths de Skinner” se apresenta como morada criativa de Montez. VIVE E TRABALHA NO RIO DE JANEIRO, BRASIL College. Assim, ao se referir tanto ao formaldeído como a Ortogonal e protegida, apesar de aberta em uma de suas faces, a “O lance de dados não abolirá o acaso”. O verso de Mallarmé CONVIDADO POR MAyANA REDIN Damien Hirst posteriormente em seu texto, Machado cria assim caixa refuta o behaviorismo filosófico de Burrhus F. Skinner ao se foi adotado por Montez como título (de uma fotografia homônima, uma relação entre o tutor e seu aluno mais famoso, o enfant prolongar em cinco postos avançados, os silos de “1 – percepção”, de 1973) e máxima de trabalho. Seja realizando seus objetos, Milton Machado realizou Prize Nominations (1996) pela terrible da arte britânica. É razoável presumir, portanto, que “2 – introspecção”, “3 – intuição”, “4 – sensação”, “5 – emoção”. maquetes, desenhos e pinturas ou escrevendo seus poemas, o primeira vez enquanto estudava para seu PhD no Goldsmiths em Prize Nominations, embora demonstre alguma reverência Rodeado por faculdades do sensível, alimentadas por um “tubo artista parece medir o exato ponto entre a intenção e o College, em Londres. A obra consistiu de dois potes de geleia de a cada artista, Machado sutilmente mira a própria relação condutor de energia orgônica1”, o lugar de ação do artista ganha imponderável, o projeto e o curso da vida. pêssego, um cheio, o outro com água pela metade, quase vazio, em aluno-tutor. Com ar de troça, zomba da forma pela qual aquele especificidade em relação aos lugares do cientista ou mesmo do No que concerne à busca de um sentido construtivo na arte uma prateleira acima da qual foram penduradas nove fotografias estabelecimento de educação artística em particular foi industrial, cujas atividades contêm um fundo pragmático e brasileira, o raciocínio ambivalente de Montez se mantém como o coloridas de potes semelhantes. rotulado, embalado e comercializado. racional. A noção de projeto que cabe ao artista se torna um problema para a crítica e para a historiografia, que d Um pote de geleia teria expressado melhor a especificidade É comum que o estrangeiro se sinta infantil, experimentando complementar à que toca ao arquiteto, na medida em que agrega permaneceram por muito tempo alheias à sua obra, talvez pelo m a h cultural desta obra em particular. Para aqueles que conheceram tudo como se fosse pela primeira vez e, embora não tenha sido a essa prática valores como a não-aplicabilidade e, desafio de catalogá-la em sua especificidade ou simplesmente o n ac Machado durante os anos em que viveu em Londres, Prize bem o caso com Machado, ele efetivamente se queixava de ser consequentemente, uma maior autonomia de pensamento e pelo fato de o artista ter passado a maior parte da sua carreira na t m Nominations é claramente autobiográfica e, quiçá, em sua ligeira sempre lembrado de seu status de aluno enquanto realizava trabalho. Desde a arte, Montez afirma uma arquitetura experimental periferia do país, com temporadas curtas na Espanha, na Itália e na ez n autodepreciação, até mesmo tipicamente britânica. Em um texto o doutorado em Londres. A falsa modéstia de meios de Prize e libertária. Com a arquitetura, procura implicações públicas e Grécia. Nem totalmente racional, nem entregue aos caminhos da m o curto que costuma acompanhar a obra, o artista afirma: Nominations é, neste sentido, uma resposta cínica à sua construtivas para a arte, acredita que sua intimidade pode experiência e da “desmaterialização” a ponto de desvencilhar-se a lt caracterização como tal. É fácil imaginar, por exemplo, como repercutir em outros e que a utopia pode ganhar forma. dos problemas da matéria, Montez se dedica a plantar enigmas gn mi Aprendi este método bastante eficiente de me livrar de vespas essa obra teria sido considerada pelos pares acadêmicos de O sentido construtivo - diferente do imperativo de construção, epistemológicos, a partir do espelhamento e do confronto de o perturbando hóspedes em um churrasco em um dia de verão, Machado (sejam alunos ou membros do staff) uma provocação que haveria deflagrado uma pesquisa escultórica ou instalativa - diferentes sistemas de saber. com uma garotinha de nove anos que era também especialista atrevida de um “aluno problemático” que, embora falasse com chega à obra do artista a partir de estudos das vanguardas Com sua série de Madrigais (2009), dá prosseguimento à em jogos de computador. Ela deixou um pouco de geleia em sotaque estrangeiro, expressava o próprio vernáculo da escola. modernas europeias (principalmente a natureza-morta de Morandi lógica da composição concretista, em que uma cadência de formas um pote que esvaziou e depois encheu com água. Se por um lado Prize Nominations encapsula o estado de e o gride neoplasticista de Mondrian) e do acompanhamento do geométricas e cores sólidas é distribuída em um campo pictórico e As vespas eram atraídas pelo açúcar, mas se afogavam na água. espírito do artista durante a maior parte do tempo em Londres, debate concretista e neoconcretista (na arte, no design e na poesia, desperta a percepção através do recurso da visualidade. No Estas nove fotografias, selecionadas a partir de uma série de também retrata uma opinião particularmente mordaz sobre a com correspondências na arquitetura) que prevalecia nos centros entanto, conforme o próprio nome que os batiza, os madrigais são trinta e seis, documentam meus próprios experimentos com o relação entre artistas, prêmios e o mercado. E se o pote de geleia econômicos do Brasil, Rio de Janeiro e São Paulo, enquanto concebidos como poemas para serem cantados. Sua forma, método. de pêssego trai o britanismo implícito dessa obra, ele permitiu Montez iniciava sua carreira. Nascido em 1934 em Timbaúba, do originada na Itália do século xIV, pressupõe uma vocalização. a Machado expressar uma resposta adequada à inadequação interior de Pernambuco, e desde 1957 fixado em Olinda, antiga Portanto, mais do que forma em si (visual), é partitura para uma Em outros casos, um tipo especial de solução (formaldeído, por que os britânicos esperavam dele, ao mesmo tempo dando-lhe capital do estado e local onde se concentravam os ateliês e os forma oral. Em um sentido oposto ao da própria poesia concreta, exemplo) poderia substituir a água para garantir a conservação. a oportunidade de refletir sobre um de seus tópicos preferidos: eventos culturais naquela época, o artista mostrou em sua primeira que postulou a visualidade das palavras e de sua diagramação na O artista agraciado com o Turner Prize em 1995 foi Damien Hirst. a arte após a morte da arte. Machado continuou a produzir individual um conjunto de pinturas abstratas. página, os Madrigais de Montez atribuem uma discursividade para A maneira simples com que o artista apresenta a obra através ambiciosas instalações em prestigiadas galerias londrinas e, Na contramão da tendência regionalista que caracterizava a as imagens. Desta maneira, guardam as informações de um código desta lembrança é enganosa, pois seus significados e fontes são no final, conseguiu escapar da armadilha que Londres passou obra de muitos dos seus contemporâneos naquela cidade e na originário, mas também possibilidades inúmeras, talvez mais profundos. A figura da menininha ensinando novos truques a representar para ele. Prize Nominations permanece, porém, vizinha Recife, Montez seguia pautado por questões indiferentes, imprevisíveis, de interpretação. ao artista maduro lembra várias conversas que mantive com a lembrança de um momento, um tipo de cápsula do tempo, ou soberanas, ao lugar geográfico a partir de onde eram Montez nunca arregimentou o canto público dos seus Machado durante os churrascos que ele improvisava no quintal de tanto íntimo como histórico-artístico, ao mesmo tempo sério e formuladas, para não dizer de cunho universal. Estava interessado Madrigais. Até hoje os mantém como um exemplo do que chama sua casa nos subúrbios do sudeste de Londres. Juntos, a criança, no despreocupado, referencial e altamente irreverente. nas possibilidades de “invenção” de linguagem e de estruturas de de “arte prospectiva”, que “pode ou não ser concretizada tratando- papel de criador da obra, e o título do trabalho, Prize Nominations, Michael Asbury apreensão e estímulo das subjetividades criadoras, algo que nas se mais de visualizações plásticas imaterializadas, cuja transmissão evocam o frenesi de indignação que tomava conta dos tabloides décadas seguintes resultaria em um caminho pelos realística pode ser puramente oral”2. A prospecção é a vocação do britânicos por ocasião do anúncio anual das indicações para o experimentalismos. artista, por isso a linguagem dos planos (projetos e partituras), por Turner Prize. A acusação de que até mesmo uma criança poderia Apropriando-se de materiais cotidianos, como papelaria isso a interseção com a arquitetura e a literatura, por isso o desejo ter criado a obra exibida parecia canonizar a radicalidade da arte – escolar e utensílios domésticos, e articulando-os em objetos de interlocução que irrompe o isolamento. Montez Magno como se precisasse ser popularmente desprezada para asseverar dotados de ironia e metáforas sobre aquilo que comentam, o Ana Maria Maia 18 sua legitimidade cultural. Machado chegou a Londres durante um artista somou ao seu trabalho incessante em pintura e desenho 19 período de autocongratulação da cultura britânica, muito antes de algumas perspectivas acerca da quebra do formato de obra de arte Notas 1. Segundo o artista, em troca de email com a autora em 28 de junho de 2013, “a inspirar manchetes tais como “Todos querem um brasileiro”. Era tradicional: única, aurática, encerrada naquilo que pôde concretizar energia orgônica foi criada ou descoberta por Wilhelm Reich. Ele achava que o 1934, TIMBAúBA, BRASIL uma época em que cada manifestação cultural parecia incluir o VIVE E TRABALHA EM RECIFE, BRASIL o seu autor. Em lugar disso, articulou propostas de cunho cosmos, o universo, estava carregado de orgônio, daí a energia orgônica. Se ela existe ou não, eu não sei, e isto não tem muita importância. O que vale é a presunção prefixo “Brit” e prêmios artísticos como o Turner invariavelmente CONVIDADO POR DEySON GILBERT conceitual, que permaneciam abertas às possibilidades de de que ela existe.” incluiriam pelo menos um artista associado ao chamado grupo reprodução e troca, seja dentro da lógica dos multimeios (correio, 2. Entrevista do artista a Celso Marconi, Montez pensa no ovo como arte ambiental. yBA. Nas festas e churrascos que promovia em sua casa, Machado Montez Magno: um Skinner, entre o Verde e o Ocre, xerox etc.) ou a partir da ativação pelo manuseio do público. Cf. MARCONI in DINIz, 2009, p. 102. discorria longamente sobre tais eventos e respectiva cobertura Alimentado por Energia Orgônica A participação e toda sorte de reflexão sobre o que concerne pela imprensa. Sua posição foi sempre complexa, até perplexa, e/ou resta ao sujeito ante um sistema que lhe é dado (jogos como misturando admiração pela arte e audácia de alguns artistas Poeta desde a adolescência e artista plástico de formação os de Cidades Imaginárias, 1972, por exemplo) se convertem em com espanto derrisório diante do burburinho produzido em autodidata, Montez Magno recorreu à arquitetura para definir o comentários sobre o encurtamento das liberdades individuais torno do circuito artístico local e o papel que a imprensa popular espaço do indivíduo, talvez o seu próprio espaço, no universo naqueles anos de ditadura militar (1964-85). Entre o neoconcretismo desempenhava em todo o espetáculo. Machado amava Londres ao da arte e na sociedade. Em desenhos e maquetes de projetos de nomes como Ivan Serpa, Décio Vieira, Lygia Clark e Lygia Pape mesmo tempo em que desprezava a arrogância que essa comoção despojados de premissas concretas de construção, embora e seus desdobramentos na geração de Cildo Meireles, Artur Barrio, tão britânica geralmente costumava reservar para os forasteiros. nem sempre utópicos, o artista concebeu lugares para a sua Waltércio Caldas, Montez cria um corpo de obra capaz de driblar Prize Nominations parece remeter a uma obra frequentemente mais íntima solidão e, a partir deles, vislumbrou inúmeras a censura pelo modo como infiltra a política na poética, críticas aos

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artistas. Jonathas Andrade. Arrigo Barnabé. J. Borges. Sofia Borges. Rodrigo Cass. Adriano Costa. Deyson Gilbert. Fernanda Gomes. Marcellvs L. Milton Machado . optaram por artistas visuais, mas pelos músicos Arrigo Barnabé e de Manga, em Brasília, o Ateliê Ana Ruas em Campo Grande é o.
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