augusto de campos IRMÃOS GERMANOS EDITORA NOA NOA ) POEMAS DE lIA L FLEMING - ANGELUS SILESIUS- 11 L ERLIN - ARNO HOLZ - HUGO VON II I.'FMANSTAHL - RAINER MARIA RIL- I' IG, HRISTIAN MORGENSTERN - AU- (:l f-lT STRAMM - KURT SCHWITTERS TRADUÇAO E INTRODUÇÃO DE AUGUSTO DE CAMPOS o o I~ I T R A N O A N O A l l ho d e Santa Catarina I 9 Dírettos da tradução! Augusto de Campos Capa: Augusto de Campos, Fisches Nachi qesan q (Canção Noturna do Peixe) Christian Morgenstern - 1905 INTRODUÇÃO 1'11I1tJl:zada cultura e do idioma merece muito mais do que II 1111I'lIdt dur até aqui, Não sei explicar porque traduzi tão pouco a 1"1 1111111111I, Afora o ciclo do Pierrô Lunar (a partir do texto-tradução 11 IIIII1 1IIII'Ikbcn), derivado do meu interesse pela música de Schoen- I 1111lon poema "Barocke Marine", de Amo Holz (tradução I I I 111 11'ti rum lIaroldo ), não me aconteceu mais do que o pequeno 111/11 II Ijll' oru r úno neste livro. I) '(Iltl.ntc, por linha materna, de irlandeses de Galway - os 11,I /I, /lII'IIl' - e, antes, de provençais de Lusignan, na província Ildll I (11unli a Peitieu) - os Lebrun ou Le Brun, progênie dos • (JU '111 abe se uma intimação atávico-genética não me 1II1111II1 1011.m nte para a língua inglesa, a francesa, e por fim a li, t'ur: "1\1) l'alcn tir vas me l'aire / qu'ieu sen venir de Proensa" I1 111II 1111/110 uspir o ar / que eu sinto vir de Provença), como 1/11111'1 11 Idol. IIIIIIIH'III 11110me perguntem a razão da escolha de textos tão 111I 1111 III1I i' rn o são as digressões conceitistas sobre o Tempo, I /11111II 11111111,'1I1in , e o "poemas da loucura", de Hõlderlin, as 11 Itil!' 11 rem ridade, ele Hofrnannsthal, e os "zoomeses" das I '/11'''IIII'fl ti M r cnstern. O telegráfico Stramm e o sintético 1111I I1I () viu nt S que não precisam de justificativa. Editora Noa Noa: Caixa Postal 287 ~ Fpolís cep 88000 o leitor atento encontrará em todos a concisão e a precisão que eu admiro na poesia, eo mais avisado há de perceber que o meu Rilke INDICE é o dos Dinggedichte, o dos poemas-coisa, não menos metafísicos, ) porém mais substantivos emais voltados à concretude da linguagem - um Rilke para oqual aprópria morte se concreta. Introdução 9 Quem conhece o que eu penso da arte de traduzir relevará, eu Paul Fleming (1609-16.:10) espero, a escassez de textos ede autores, sabendo que a raridade, nesse Gcdanken uber der Zeit 12 tipo de empreendimento, é até certo ponto previsível, e preferível à Meditação sobre o Tempo 13 abundância facilitária. Pois a minha aspiração (e a de mais alguns Angelus Silesius (1624-1677) poucos, minoritários emarginais) - contra a ideologia dominante das Ohne Warum / Dein Kerker bist du selbst / Beschluss 14 traduções-ônibus, quantitativas esem qualidade - é ade criar, apartir Sem Porquê / Tu és tua Prisão / Fim 15 da provocação do original, verdadeiros poemas. Textosesteticamente Holderlin (1770-1843) apreciáveis em português, e não o mais ou menos dos aleijões em pés- Vormals richtete Cott 16 quebrados, indefectível e incurável hábito entre nós. A meta - em Outrora Deus julgava 17 suma - é a tradução-arte. Essa modalidade de tradução só pode ser l'om Abgrund / Do Abismo 18 rara, porque mais exigente e rigorosa. E se é mais exigente e rigorosa Das Schicksal / O Destino 19 é porque sabe que a poesia é rara. Como disse Borges: "Es muy raro, Arno Ho]z (1863-1929) en verdad, escribir un poema.". É preciso respeitar mais a poesia. E os poetas. Irmãos germanos. Draussen die Diine / Lá Fora as Dunas 20 /ch bin ein Stern / Sou uma Estrela 21 Ilugo von Hoffmanstahl (1874-1929) Ballade des Ausseren Lebens 22 Augusto de Campos Balada da Vida Exterior 23 1992 Terzinen iiber das Vergiinglichkeit / Tercetos sobre a Efemeridade 24 Rainer Maria Rilke (1875-1926) Schluss-stiick / Conclusão 25 Der Panther / A Pantera 26 Der Dichter / O Poeta 27 Der Tod des Dichters 28 1\Morte do Poeta 29 G burt der Venus 30, 32 No cimento de Vênus 31, 33 V 11 Sonette an Orpheus De Sonetos 'a Orfeu 1,3 (Ein Gott vermags. Wie aber, sag mir, soll) 34 (Um deus pode. Mas como erguer do solo) 35 1,22 (Wir sind die Treibender} / (A nós, nos cabe andar) 36 II, 1 (Atmen, du unsichtbares Gedicht!) (Respirar, invisível dom - poesial) 37 lI, 15 (OBrunnen-Munâ, du gebender, du Mund) (6 doadora, boca-chafariz) 38 Die Frucht / O Fruto 39 Christian Morgenstern (1871-1914) Die Lattenzaun / A Cerca de Paus 40 POEMAS Wie sich das Galgenkind die Monatsnamen markt Como as Crianças da Forca memorizam os Meses 41 Die Trichter / Os Funis 42 August Stramm (1874-1915) Verzweiielt / Desesperado 43 Kurt Schwitters (1887-1948) Beingrenzen / Expassos 44 NOTA INFORMATIVA SOBRE AS TRADUÇÕES 45 MEDITAÇÃO SOBRE O TEMPO PAUL FLEMING (1609 - 1640) ° 'I'empo sem saber que é o.Tempo ; \'1' 110 11111111' ~Hde onde vens e no.que te detens. up nas que num Tempo. foste feito. GEDANKEN üBER DER ZEIT 111111 I',11"' num outro Tempo. ainda serás desfeito. 11' n qU foi o.Tempo.que te trouxe incluso? lhr lebet in der Zeit und kennt doch keine Zeit; I, 11 11II(' I de ser aquele que te faz sem uso? á So wisst ihr Menschen nicht, von und in was ihr seid. Dies wisst ihr, dass ihr seid in einer Zeit geboren sim e não, o.homem se multiplica, Und dass íhrwerdet auch in einer Zeit verloren. II '1111I11P , I, qu é este Sim-e-Não ninguém explica. Was aber war die Zeit, die euch in sich gebracht ? li 1'li, ItlpO morre em si e a si mesmo. renasce. Und was wird diese sein, die euch zu nichts mehr macht? ti, tu e eu viemos, de nós mesmos nasce. II 1111(1 stá no Tempo e o.Tempo está no homem, Die Zeit ist was und nichts.ider Mensch in gleichem Falle, II 1III1I1IIIn ~I 'I':mpo resiste enquanto. o.homem some. Doch was dasselbe Was-und-Nichts sei, zwifeln alle. li Die Zeit, die stirbt in sich und zeutgt sich auch aus sich. o que és e és o.que é o.Tempo, Dies kõmmt aus mir und dir, von dem du bist und ich. 1I'I"lIllpO \ Der Mensch is in der Zeit; sie ist in ihm ingleichen, I 11111111' t t nhas menos do.que o.Tempo tem. Doch abert muss der Mensch, wenn sie noch bleibet, weichen, li, I iHI-! outro Tempo, sem Tempo, chegasse I 1 110 d nosso Tempo, esse Tempo arrancasse, Die Zeit ist, was ihr seid, und ihr seid, was die Zeit, I dI III1H m mos, nós, para sermos também T mpo, que nenhum Tempo contém. Nur dass ihr wen'ger noch, als was die Zeit ist, seid. I "11111 I'IH( Ach dass doch jene Zeit, die ohne Zeit ist, kâme Und uns aus dieser Zeit in ihre Zeiten nahme, Und aus uns selbsten uns, dass wir gleich kônnten sein Wie der itzt jener Zeit, die keine Zeit geht ein! I j I 'j SEM PORQUÊ ANGELUS SILESIUS (1624.1677) porque é, e sem porquê, I i' OHNE WARUM " 11)(1 11 rm de si nem quem a vê. Die Ros' ist ohn' Warum, sie blühet, weil sie blühet, TU ÉS TUA PRISÃO Sie ach't nicht ihrer selbst, fragt nicht, ob man sie siehet. não te prende, és tu o Universo IlIillll) 11 I, r::t, prisioneiro, em ti mesmo submerso. DE1N KE.RKER BIST DU SELBST FIM Die y./elt die halt dich nicht, du selber bist die .Welt, III iI. i\O fim. Se queres mais ciência, Die dich in dir mit dir so stark gefangen halt, I. 111 Iorma-te a ti mesmo em Livro e Essência. BESCHLUSS Freund, es ist auch genug. Im Fall du mehr willst lesen, So geh und werde selbst die Schrift und selbst das Wesen. I' I J HÚLDERLIN (1770- 1843) OUTRORA DEUS JULGAVA ra Deus julgava. Reis. Sábios. VORMALS RICHTETE GOTT ()\I " 1 lH a 'ora quem julga? comunidade santa? O povo Vormals richtete Gott. Konige. Weise. Illlid ? l.Ner ríchtet denn jetzt? /I () I hnão! Mas quem agora julga? Volk? die heilge Gemeinde? tirpe de víboras! falsa e vil! 111111t Nein! o nein! Wer richtet denn jetzt? palavra nobre não mais Ein Natterngeschlecht! feig und falsch ! lábio.) 11111' (Das edlere Wort, nicht mehr 'I. I teu nome )lOI' íiber die Lippe.) d, IIOV O, im Namen 1I 0('0, rufich dich herab, ,lho d mônio! alter Damon, wieder! iVI 11111H-nos 111II 11('1"6i Oder sende f111 i einen Helden 111 IOria, HI( oder die Weisheit. 16 VOMABGRUND I) CHICKSAL I I): H chicksal, Vom Abgrund namlich haben 1I:t H will heissen : wir angefangen und gegangen sind wir onne Peitsch und Zügel. dem Leuen gleich dt'l' > in dem Brand der \Vüste. ,) I)(IHtino i to: I' () DO ABISMO açoite do Sol. II't\j) Do abismo fomos vindo e temos ido como o leão que jaz no fogo do deserto. IN I) I()I1 BtN EIN STERN ARNO HOLZ (1863-1929) DRAUSSEN DIE DüNE 11,11 hin in stern. Ich glanze, Draussen die Düne. Traurig, Einsam das Haus, I'l ih nd, tranenbleich, eintonig, 11/l11f\ d 1 zu mir dein Gesicht. an Fenster Deine hande der Regen. wemen. Hinter mir, tictac, "Traste mich!" eine Uhr, meine Stirn Ich glânze, gegen die Scheibe. Nichts. A 11 meine Strahlen zittern Alles vorbei. in deine Herz! Grau der Himmel, grau die See und grau das Herz. ,() UMA ESTRELA LÁ FORA AS DUNAS estrela. Eu brilho. Lá fora as dunas. I 1111 11111' A casa só, Triste, monótona, 11'I) Ii. ,lacrima pálida, chuva 111 I'VI1(\H I ara mim teu rosto. na janela. r'J1uasmãos Atrás de mim, horam, tictac, uma hora, "C n ola-me !" minha face contra o vidro. li" ~ brilho. Nada. ,1'0(/ OH A m us raios Tudo passa. Y' m m Cinza o céu, li!) eu ra ão! cinza o mar, cinza u. , J