Monique Zerner ORGANIZAÇÃO INVENTAR A HERESIA? DISCURSOS POLÊMICOS E PODERES ANTES DA INQUISIÇÃO UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Reitor FERNANDO FERREIRA COSTA Coordenador Geral daUniversidade EDGAR SALVADOR! DE DECCA •. _E;DITOR~ : Conselho Editorial Presidente PAULO FRANCHETTI ALCIR PÉCORA - ARLEY RAMOS MORENO EDUARDO DELGADO ASSAD - JOSÉ A. R. GONTIJO JOSÉ ROBERTO ZAN - MARCELO KNOBEL SEDI HIRANO - YARO BURIAN JUNIOR IEo 1 T o R A '11:1+8.8:1> FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELO SISTEMA DE BIBLIOTECAS DAUNICAMP DIRETORIA DETRATAMENTO DAINFORMAÇÃO In8 Inventaraheresia?:discursospolêmicosepoderesantesdaInquisição/organiza- ção:MoniqueZerner; tradução:NérideBarrosAlmeidaetaI.- Campinas,SP: EditoradaUnicamp, 2009. I.Civilizaçãomedieval- História. z,Igreja- História. ,.Heresia.4.IgrejaOrto- doxa.I.Zerner, Monique.lI.Almeida,NérideBarros.m.Título. SUMÁRIO CDD 909.07 '7° '7, ISBN 978-85-,68-0865-' ,81.9 INTRODUÇÃO Índices paracatálogo sistemático: Monique Zerner . 7 I. Civilizaçãomedieval- História 9°9·°7 L Igreja- História '7° O MÉTODO POLÊMICO DE AGOSTINHO NO CONTRA FAUSTUM ,. Heresia '73 4. Igrejaortodoxa ,81.9 [ean-Pierre Weiss.. 15 2 POLÊMICAS, PODER E EXEGESE: O EXEMPLO DOS GNÓSTICOS ANTIGOS NO MUNDO GREGO Copyright©byCentred'ÉtudesMédiévales,FacultédesLemes, ArtsetSciencesHumaines1Universíré deNiceSophia-Antipolis11998 [ean-Daniel Dubois 39 Copyright ©2009byEditoradaUnicamp EXCURSO SAINT-VICTOR DE MARSELHA NO Nenhuma partedestapublicaçãopodesergravada,armazenada FINAL DO SÉCULO XI: UM ECO DE POLÊMICAS ANTIGAS? emsistema eletrônico, fotocopiada, reproduzida pormeios mecânicos Michel Lauwers.... . . 57 ououtros quaisquer semautorização préviadoeditor. 3 ARRAS, 1025, OU O PROCESSO VERDADEIRO DE UMA FALSA ACUSAÇÃO Guy Lobrichon.. . . 69 4 A ARGUMENTAÇÃO DEFENSIVA: DA POLÊMICA GREGORIANA AO CONTRA PETROBRUSIANOS DE PEDRO, O VENERÁVEL Dominique Iogna-Prat . 89 5 NO TEMPO DO APELO ÀS ARMAS CONTRA OS HEREGES: DO CONTRA HENRICUM DO MONGE GUILHERME AOS EditoradaUnicamp CONTRA HERETICOS RuaCaioGracoPrado,50- CarnpusUnicamp Monique Zerner.... 123 CaixaPostal6074- BarãoGeraldo CEP 1,083-89' - Campinas- SP- Brasil 6 "OS SUFRÁGIOS DOS VIVOS BENEFICIAM OS MORTOS?": Tel./Fax:(19)35>1-7718/77,8 [email protected] HISTÓRIA DE UM TEMA POLÊMICO (SÉCULOS XI-XII) Michel Lauwers.... . . 163 Inventar aheresia? Raimundo Vaocapítulo de Cister, asAtas de Lombers, aChronica Regia eaChronica Sancti Pantaleoni de Colônia. 9 Versua tese que acaba de serpublicada: M. Lauwers, La memoire desancêtres. Le souci desmorts. Morts, rites etsociétésau Moyen Age (diocése deLiege Xl' -XII' .. i .1 P . Beauchesne,1997. ' sue eSJ. ans: J P Wc. "V' d L' " 10 .-. eiss, Incem e erins e"Valéríen de Cirniez" Dictionnaire de Spiritualité XVI, 1993, col. 822-32. ' 11 Cf. Eretici ederesiemedievali nella storiografia contemporanea, aos cuidados de G. G. Medo, Bollettmo della Società di Studi Valdesi, nº 174.Torre Pellice, 1994. 12 Cf. Georges Duby, L'bistoire continue. Paris: Odile Jacob, Points, Seuil, 1991. Capítulo 1 o MÉTODO POLÊMICO DE AGOSTINHO NO CONTRA FAUSTUM* Jean-Pierre Weiss (Université de Nice) Aexpressão "inventar aheresia" não tem necessariamente omesmo sentido segundo se aplique à Antiguidade ou à Idade Média. Seus dois sentidos merecem reflexão. Na Antiguidade, não existe uma heresia, mas heresias. Epifânio de Salamina (c. 315-403) apresenta -nos uma lista delas no seu Panarion, sua Caixa de remédios. Essa multiplicidade de heresias deve-se ao fato de que o cristianismo em formação foi forçado a se definir, isto é, a estabelecer seus limites em relação àsoutras religiões e, em particular, em relação ao paganismo politeísta eao monoteísmo radical do judaísmo. O Deus dos cristãos é,aomesmo tempo, uno etrino; devido aisso,foi importante para o cristianismo determinar com precisão, por exemplo, as relações que as \ três pessoas da Trindade mantêm entre sieque constituem uma unidade. Éfácil conceber a rnultiplicidade de soluções que foi possível encontrar para resolver esse tipo de problema. Énatural, pois, ver o pulular de he- resias. Tal não será mais o caso depois do concílio de Calcedônia (451), * Tradução de André Pereira Miatello. 14 15 Inventar aheresia? ométodo polêmico deAgostinho no Contra Faustum porque, desde então, a doutrina estava essencialmente constituída um herege, porque se afasta de uma instituição que é a Verdade. Todo catálogo das heresias maiores, definido. No futuro, será herege não m:i: reforrnador setorna rapidamente suspeito devido ao fato de que seus ad- aquele que rejeita tal doutrina de tal concílio preciso, mas aquele que não versários estimam que, em nome de uma santidade subjetiva, ele põe em reconhece, ou dá aimpressão de não reconhecer, uma doutrina fundada causa asantidade objetiva da Igreja. Ao mesmo tempo, aquele que busca sobre atradição em sua totalidade. Às heresias da Antiguidade sucede, na apureza dos costumes edeseja, então, separar estritamente os bons eos Idade Média, aheresia, isto é,adissidência, real ou aparente, em referência maus, recusando toda mistura, corre orisco dever oadversário lhe atribuir a uma doutrina una, que se tornou venerável pelas raízes que lança num o pensamento que melhor dá conta de seu comportamento: o dualismo passado l~ngínquo. Foi então que se deram o nascimento e os primeiros maniqueu. O acusador que deduz de uma conduta de vida uma doutrina desenvolvImentos de uma religião em que ortodoxia eheresia rivalizavam teórica que atribui ao acusado não pratica sem dúvida amesma mentira em vitalidade. que Consêncio. Nós estamos, nesse caso, no domínio mais sutil de uma No seu Contra Faustum, Agostinho não "inventa a heresia". mentira subjetiva, interiorizada, em que édifícil medir aparte de boa-fé ele não forja nem um discurso de herege nem um discurso sobre a he- ede má-fé. As ideologias contemporâneas nos mostraram quanto éfácil resia. EI~ ~esponde ao maniqueu Fausto de Milevo, de quem reproduz ser tratado como trotskista no mundo comunista ecomo comunista nas os PropOSItOS.Isso não significa que na Antiguidade nunca se inventa a democracias ocidentais. Essamaneira de "inventar aheresia" não era intei- heresia. A descoberta recente de cartas de Agostinho! nos fez conhecer ramente estranha àAntiguidade. Foi assim que ospriscilianistas, rigorosos uma que Consêncio, um leigo das Baleares, endereçou ao bispo de Hi- ascetas, foram tratados por seus adversários como maniqueus de uma pona. Nessa epístola, ele sevangloria de haver feito circular na província maneira sumária epouco convincente'. Os eruditos discutem ainda hoje tarraconense um falso tratado priscilianista forjado por ele. Orgulhoso para saber seopriscilianismo foi realmente uma heresia. Assim, uma das de sua mentira, justificada por uma boa causa, fala dela abertamente a maneiras de "inventar aheresia" éconfundir cisma eheresia, dissidência seu correspondente de quem espera receber felicitações. Foi em resposta edoutrina alterada. a essa carta que Agostinho redigiu seu Contra Mendacium conhecido 2, Agostinho descarta, por princípio, toda forma de invenção da de longa data. Nesse texto, ele se revela de uma intransigência moral heresia. Ele condena amentira no plano teórico, como atesta seu Contra completa. O fim não pode justificar os meios. A mentira jamais élícita; Mendacium. No seu Contra Faustum, ele reproduz o texto exato de seu empre~ad~ em âmbito religioso, ela é sacrilégio, um pecado pior que adversário antes de refutá-Io. Para interpretar o tratado conveniente- a fornlCaçao. O Contra Mendacium é interessante para nós na medida mente, o leitor deve, no entanto, levar em conta vários fatores. Separece em que nos dá uma definição da mentira objetiva. Há mentira quando incontestável que Agostinho nos apresenta opróprio texto de Fausto, não aquele que se exprime diz de maneira cônscia o contrário da ;erdade podemos, todavia, estar certos de que nos pcrmite.Ier oconjunto da obra. perseguindo um interesse preciso. A expressão "inventar aheresia" toma' Por outro lado, o autor do Contra Faustum não critica o maniqueísmo tal então, um sentido claro que não é necessariamente aquele de que ela se qual asdescobertas recentes nos fizeram conhecê-Ío, mas aquele outro que reveste nos nosso.sdebat~s acerca da Idade Média. \ foi exposto, no século V,pelo africano Fausto. Ademais, notemos que o . A doutrina esta doravante definida. Segundo Agostinho, a maniqueísmo éposto em causa por um antigo membro da seita. Esse fato Igreja, que era santa no plano das ideias platônicas, não deixava de ser, nos dá uma garantia: oautor do Contra Faustum conhece bem seu dossiê. ta~bém, uma comunidade de pecadores. Ela pertencia a u a cidade No entanto, também suscita uma desconfiança: nosso "arrependido" é rrnsta que participava, ao mesmo tempo, da Cidade de Deus e~ Cidade susceptível de dar mostra de paixão. De fato, Agostinho passou de uma terrestre. Para o agostinismo mais tardio, aIgreja tenderá aseidentificar admiração ilimitada por Fausto auma grave decepção. Notemos também, completamente com aCidade de Deus. Todo dissidente setorna, então, todavia, que foi progressivamente, enão em seguida auma ruptura brutal, 16 17 o Inventar aheresia? método polêmico deAgostinho no Contra Faustum que ofuturo bispo de Hipona seafastou do maniqueísmo. O leitor deve sa- mo acredita ser o Paráclito anunciado por Jesus Cristo. Mani criou uma ber, enfim, como otítulo Contra Faustum indica, que estamos em presença religião eclética que ele liga não apenas aCristo, mas também aZoroas- de uma obra polêmica, escrita por um professor de retórica que conhece tro e a Buda, e, finalizando, a uma cosmologia iraniana que se assenta todas as minúcias da profissão. Entre Fausto eAgostinho seinstaura um sobre um dualismo: o Mal eo Bem são dois princípios que partilham o tipo de debate judiciário no qual um tenta vencer ooutro. Os adversários, mundo. O Mal se identifica às Trevas; o Bem, à Luz. O corpo e toda ambos excelentes retóricos, tomam suas armas das técnicas da arte orató- matéria criada participam do Mal; o espírito e tudo o que é incriado ria adquirida no tempo de sua formação. Ora, a retórica, antagonista da participam do Bem. As duas substâncias fundamentais são representadas filosofia que é aprocura pela verdade, não recua necessariamente diante por dois deuses rivais. Ormuzd é o deus do Bem; Ahriman é o deus do de certa deformação da verdade. A mentira que o retórico pratica, como Mal. Uma guerra eclode entre os dois. O deus do Mal começa ashostili- acusador ou advogado, não está, todavia, nada conforme àdefinição que dades. O deus do Bem apenas se defende e, para melhor resistir, cria o propõe Agostinho no seu Contra Mendacium; ele também não seidenti- homem primitivo. Porém, este último, vencido pelas Trevas, éencerrado fica com amentira da qual seutilizam os autores que forjam um discurso na matéria. O homem atual foi criado pelo deus do Mal. Ele só pode ser sobre a heresia. Com efeito, a retórica obedece a um código conhecido libertado das Trevas pelo verdadeiro conhecimento que sechama corren- pelos dois adversários: o leitor de não importa qual época decodificará temente gnose. O maniqueísmo, perseguido na Pérsia, vai invadir o Im- facilmente as deformações da verdade sob a condição de ser iniciado na pério romano, onde conhecerá um grande sucesso, em particular na retórica antiga. Observemos, porém, que no Contra Faustum, o debate é África ena Itália. falseado pelo fato de que o tratado foi publicado após a morte do bispo Nós conhecemos o pensamento de Mani graças aos papiros maniqueu, etecnicamente Agostinho, como veremos, tem aúltima palavra descobertos no século xx, na região de Fayoum, Egito. Redigidos em em cada uma das discussões acontecidas. língua copta, essesmanuscritos reproduzem os escritos de Mani ede seus Depois de termos apresentado essesprolegômenos, vamos estudar discípulos. Como o maniqueísmo queria ser uma religião universal, ele o método polêmico de Agostinho no seu Contra Faustum. Este estudo se expandiu tanto para o Ocidente quanto para o Oriente; dispomos de foi colocado no início de uma obra consagrada à Idade Média porque traduções árabes graças aAn-Nadim (século X) eSharastani (século XII), as técnicas retóricas da polêmica, transmitidas de uma época à outra, bem como afontes chinesas (século X)4.Agostinho, por suavez, constitui permanecem as mesmas. Para facilitar ao leitor acompreensão de nosso para nós uma importante fonte de informações. Seu Contra Faustum pode J. trabalho, faremos preceder ao objeto verdadeiro de nosso estudo uma ser lido em latim na edição de Zycha, publicada no Corpus Scriptorum parte que trata da matéria do debate euma outra que identifica ol~gar de Ecclesiasticorum LatinorumS, e, em breve, estará disponível com o texto latino, tradução francesa e comentário na Bibliothéque Augustinienne onde fala Agostinho. onde já foram publicados oDe duabus animabus, o Contra Fortunatum, o ContraAdimantum, o Contra epistulamfundamenti, o Contra Secundinum eo Contra Felicem Manicbaeunr. A matéria do debate O maniqueísmo éherético devido aseu ecletismo etambém por- que, de acordo com o sentido da palavra grega da qual deriva ovocábulo Fausto foi um bispo maniqueu de Milevo, cidade que ho~ recebe o nome de Mila eque selocaliza na Argélia, a50quilômetros anoroeste heresia, eleopera uma "escolha" entre ostextos da Bíblia. Em particular por causa da incompatibilidade dacosmologia iraniana com aquela do Gênesis, de Constantina. O maniqueísmo foi fundado na Pérsia no século lII por Mani, morto crucificado em 273 pelo rei Bahrâm. Saído da segunda Fausto eseusdiscípulos recusam oAntigo Testamento, bem como aspartes grande potência dessa época na Antiguidade, o fundador do rnaniqueís- do Novo Testamento que sereferem aoAntigo. Não contentes em suprimir 18 19 Inventar aheresia? ométodo polêmico deAgostinho no ContraFaustum elementos do corpus de textos sagrados, osmaniqueus acrescentam outros, Deus criou tudo; então também criou o Mal. Éuma primeira questão à tais como o Evangelho dos Apóstolos e os Atos de Tomé. A eliminação qual omaniqueísmo, aosolhos deAgostinho, dará uma resposta adaptada. do Antigo Testamento terá uma consequência notável que consiste em Por outro lado, ele sesentia pouco àvontade com aBíblia. Do ponto de descartar a exegese tipológica. Apesar de Cristo desempenhar um papel vista estético, ele a considerava mal escrita. Além disso, pensava que as central em seu sistema de pensamento, pode-se dizer que o maniqueísmo histórias nela contidas eram, na verdade, contos para velhas crédulas. O éoenxerto de uma forma de cristianismo sobre uma cosmologia iraniana. maniqueísmo, por eliminar o Antigo Testamento que está precisamente Os maniqueus entendem ser possível tornar-se "cristão" sem passar pelo na origem desse mal-estar, fornece aAgostinho uma resposta provisoria- judaísmo, quer seja diretamente, pelo pertencimento ao povo judeu, ou mente satisfatória. indiretamente, isto é, por meio do Antigo Testamento. Segundo eles, o Por volta de 373,Agostinho seconverte ao maniqueísmo. Deter- paganismo, em particular se ele é representado por Orfeu ou Hermes, minante para essa conversão foi a aparência séria de uma gnose que lhe pode conduzir igualmente aCristo? permite, pensa ele, ter uma reflexão científica sobre os dados religiosos. A moral pregada pelo maniqueísmo é tão rigorosa que precisa Para darmos uma ideia das pretensões científicas totalizantes do ma- dividir os fiéisem duas categorias: os eleitos, que devem respeitar todas as niqueísmo, citemos, segundo Agostinho, o seguinte testemunho do regras, eosouvintes, que sepodem privar da observância de algumas delas. maniqueu Félix: As regras alimentares que distinguem osalimentos luminosos, que podem ser consumidos, dos alimentos tenebrosos, dos quais é preciso abster-se, Eporque Mani veioe,pelasuapregação, nos ensinou ocomeço, omeio eofim; complicam avida cotidiana. A condenação da vida sexual ésusceptível de ensinou-nos acercadacriaçãodomundo, seuporquê, suaorigem eseusautores; consequências damais alta importância. Tanto quanto oGênesis representa nosensinoupor queexisteodiaepor queanoite; nosfezconhecer ocursodosol uma cultura devida resumida pela expressão: "Crescei emultiplicai-vos'", o edalua; epor que nós nãovemosnada dissonem emPaulo, nem nasEscrituras maniqueísmo éuma cultura de morte. Os eleitos devem seabster de todo dosoutros Apóstolos, cremos queMani éopróprio Paráclito'". ato sexual; osouvintes, setêm uma vida sexual, devem ao menos evitar por todos osmeios produzir filhos. Com efeito, épela procriação que amatéria, Esse gênero de mensagem corresponde precisamente àspreocu- que émá, continua asereproduzir no mundo. pações do jovem Agostinho. Ele procura um modo de conciliar Cristo e Essa doutrina vinda do Oriente irá seduzir certos intelectuais do ciência; assim, dispõe de uma cosmologia científica que elecompleta pelo Ocidente e,em particular, Agostinho". ensino do Novo Testamento. O maniqueísmo lhe dá várias outras satis- fações. Todos osproblemas que oAntigo Testamento lhe impunha estão resolvidos, já que este não émais levado em consideração. Com relação ao o lugar de onde Agostinho fala Mal, Deus éinocente, pois foi seu rival, o deus das Trevas, que introduziu o Mal no mundo. Agostinho sabia também como conduzir sua vida daí em diante, uma vez que a seita lhe propunha uma moral rigorosa a ser Agostinho, nascido em 13 de novembro de 354 em Ta~aste, a colocada aserviço da Verdade edo Bem. atual Soukh Ahras, foi educado na fé católica por sua mãe, Mônica. Fre- quentou aescola primária em Tagaste, recebeu aeducação secundária em Agostinho, que aderiu ao maniqueísmo na idade de 19anos, irá Madaura, antes de cursar o ensino superior em Cartago. Em seguida.ele afastar-se dele definitivamente aos 28anos. Porém, distanciou-se aospou- lecionou em Madaura e Cartago, sucessivamente. No início de sua vida cos, como alguns comunistas fizeram em relação ao comunismo no século intelectual adulta, preocupou-se antes de tudo com aquestão do Mal. Ele xx. Essa éaprova de um profundo compromisso com um sistema do qual procurava uma resposta ao problema colocado pelo seguinte raciocínio: seacaba por dizer que não era o que sepensava dele. 20 21