Ficha Técnica “Inveja: como ela mudou a história do mundo” © 2015 Alexandre Carvalho Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610, de 19.2.1998. É proibida a reprodução total ou parcial sem a expressa anuência da editora. Este livro foi revisado segundo o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. Preparação de texto: Fernanda Mello Checagem de dados: Simone Costa Revisão: Hed Ferri e Lizandra M. Almeida Projeto gráfico: Fabio Oliveira Capa: Retina 78 Imagens de capa: Shutterstock e Retina 78 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Angélica Ilacqua CRB-8/7057 Carvalho, Alexandre Inveja : como ela mudou a história do mundo / Alexandre Carvalho. –São Paulo : LeYa, 2015. 240 p. [(Os Sete Pecados, v. 2 / organizado por Alexandre Versignassi)] Bibliografia ISBN 9788544102121 1. Inveja 2. Pecados capitais 3. Comportamento humano 4. Cristianismo – História I. Título II. Versignassi, Alexandre III. Série 15-0453 CDD 179.8 Índices para catálogo sistemático: 1. Inveja Todos os direitos reservados à LEYA EDITORA LTDA. Rua Desembargador Paulo Passaláqua, 86 01248-010 – Pacaembu – São Paulo – SP www.leya.com.br DEDICATÓRIA Para Juliana Falcon, minha primeira leitora, chefe de torcida, meu chão e meu céu – e também o motivo que eu tenho para fazer inveja a qualquer um AGRADECIMENTOS A Alexandre Versignassi, o George Martin deste livro, pela edição cuidadosa e por todo incentivo e amizade. A Silvia Regina, Erton, Su, Nan, Rica, Teté e Belinha, meus amores. APRESENTAÇÃO UMA HISTÓRIA DE SETE PECADOS Eles traduzem a natureza humana. Os sete pecados foram concebidos há mais de mil anos pela Igreja, e em um tempo em que não havia nada remotamente parecido com psicologia, mas, mesmo assim, eles retratam a nossa essência. E construíram nossa história, desde o tempo em que ainda nem éramos humanos. A ira, por exemplo, moldou o seu rosto – exato: nossos ossos faciais evoluíram para aguentar pancadas alheias, por isso seu maxilar é mais pronunciado que o de qualquer outro primata. A cobiça, outro pecado capital, nos legou a casa própria. Pois é: graças à gana pelo lucro, existem os bancos. E, sem banco, não há financiamento imobiliário. Outro pecado que faz girar as rodas da economia é a preguiça. Ela mesma, pois da leseira humana surgiram os deliveries de pizza, as escadas rolantes, os controles remotos. A luxúria não fica atrás: da Grécia Antiga ao Tinder, ela nunca conheceu tempos de crise. Outro pecado, tão gostoso quanto a luxúria, é o responsável por algumas das criações mais sublimes da humanidade. Não fosse a gula, não teríamos o confit de pato, o pastel de feira... Nem as grandes navegações. Outros dois delitos, bem menos saborosos, foram responsáveis por realizações ainda mais exuberantes. Sem doses gordas de vaidade e de inveja, afinal, não teríamos as Pirâmides, a Capela Sistina, o iPhone. O mundo está moldado à imagem e semelhança dos pecados capitais, justamente porque eles são um espelho do que temos de mais profundo nas nossas mentes. Esta série veio para contar a história deles. Ou melhor, as sete histórias. São sete volumes, cada um mostrando a saga da humanidade à luz de um dos sete pecados. Aproveite! Alexandre Versignassi, organizador INTRODUÇÃO A GENI DOS PECADOS “A nossa inveja dura sempre mais tempo que a felicidade daqueles que invejamos”, disse François de La Rochefoucauld, um cronista francês do século XVII. E ela também é uma merda, como você sabe. Pudera: fantasiar o sucesso alheio e sofrer com isso é pior do que parece. Um estudo de 2009, feito pelo Instituto Nacional de Ciência Radiológica de Tóquio, identificou por ressonância magnética onde a inveja é processada no nosso cérebro: e é na nobre região do córtex cingulado anterior, uma parte da massa cinzenta logo atrás da testa, também responsável por identificar a dor física1. Ou seja: sentir inveja pode ser tão doloroso quanto levar socos de verdade. Mas a inveja também pode dar alegrias, como bem sabe o torcedor de futebol que seca o time rival. Segundo o mesmo estudo, o estriado ventral, que é a região do cérebro na qual processamos a sensação de prazer, também opera a Schadenfreude. Oi? Esse termo alemão, sem correspondente em qualquer outra língua, descreve a emoção prazerosa que o invejoso sente diante de um tropeço da pessoa invejada. Quem fizer questão de traduzir a palavra pode pensar em “bem feito!” ou coisa que o valha. Mas por que a seleção natural daria passagem a um sentimento tão mesquinho? A princípio, não deveria fazer sentido: a evolução das espécies é particularmente hábil em descartar características inúteis para a preservação dos genes. Por exemplo: sentir prazer com o sexo é útil para a perpetuação da nossa espécie, já que a expectativa pelo prazer nos deixa propensos a gastar tempo e energia promovendo o encontro entre óvulos e espermatozoides dentro dos nossos corpos. Não existe nada mais útil para a propagação de genes, claro. Por isso, sentir prazer com o sexo está enraizado no sistema nervoso de todas as formas de vida – à exceção das que se reproduzem por brotamento. Em suma: o pecado da luxúria tem uma boa desculpa científica. O da gula também: quem não sente prazer nenhum com comida corre o risco de morrer de subnutrição – e aí, adeus, genes. Nada mais natural, então, que esse prazer às vezes escape ao controle. Mesmo os pecados capitais mais perversos têm uma utilidade evolutiva razoavelmente nítida. A ira é boa para autodefesa. A avareza (ou cobiça por bens materiais) serve para estocar recursos para os dias de vacas magras. A preguiça, para guardar energia – e tê-la disponível em um momento em que a força for realmente necessária. Já a vaidade... Sempre é bom para os negócios da vida ter uma autoimagem positiva. Tudo isso você verá nos próximos livros desta coleção. Mas, ei: e a inveja, a protagonista deste volume? A danada é basicamente um sentimento ruim provocado pela quebra da imagem positiva que cada um tende a fazer de si mesmo. Essa ruptura acontece quando você detecta que está em uma situação aparentemente menos favorável que a de outra pessoa. A única função da inveja, então, é fazer com que a gente se sinta pior do que estava antes de senti-la. Nada mais inútil, certo? Mas como é que a inveja fincou residência no nosso cérebro, se ela não serve para nada de bom? A resposta é que não devemos jogar pedra na inveja. Ela tem uma função, sim. E preciosa. É que esse sentimento nem sempre faz você andar para trás. Às vezes, é justamente o contrário. Segundo os psicólogos evolucionistas David M. Buss e Sarah E. Hill, quando nossos antepassados se comparavam desfavoravelmente a seus semelhantes, isso os ajudava a criar uma avaliação sobre o próprio desempenho na busca de recursos para a sobrevivência2. Se um Homo sapiens primitivo voltava da caça com um bisão, e outro com dois passarinhos, esse segundo podia até quebrar o tacape de inveja. Mas, com a cabeça mais fria, devia ser capaz de raciocinar o óbvio: opa, também posso ir além dos dois passarinhos. Esse tipo de pensamento, associado à dor emocional, pesada, pode ter sido essencial para a preservação de seus genes ao longo dos milênios. E, certamente, para a longevidade da inveja, que garantiu seu cantinho na bagagem da evolução – e nas nossas vidas. Esse sentimento é universal, atemporal e parte importante da história do mundo. Como você verá neste livro, a inveja desgraçou, baniu ou matou, sem limites geográficos, heróis, artistas, cientistas, povos inteiros. Mas ela também ajudou a desenvolver essa máquina bípede movida a oxigênio que é você. Em parte, somos um aprimoramento do que foram nossos antepassados porque a inveja nos ensinou a caçar melhor do que nossos rivais, a plantar melhor, a desenvolver uma ciência superior, a criar músicas mais sofisticadas... A pensar melhor. E a caprichar em nossas selfies no Facebook. Porque é melhor matar do que morrer de inveja. Boa leitura. 1 Hideko Takahasi et al. “When Your Gain Is My Pain and Your Pain Is My Gain: Neural Correlates of Envy and Schadenfreude”. In: Science. Instituto Nacional de Ciência Radiológica de Tóquio, 2009. 2 David M. Buss e Sarah E. Hill. “Evolutionary Psychology of Envy”. In R. Smith (Ed.) Envy: Theory and research. Oxford University Press: Nova York, 2008. pp. 60-70. OSTRACISMO: A INVEJA COMO POLÍTICA DE ESTADO
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