ebook img

Introdução ao mundo do vinho PDF

230 Pages·2016·2.27 MB·Portuguese
Save to my drive
Quick download
Download
Most books are stored in the elastic cloud where traffic is expensive. For this reason, we have a limit on daily download.

Preview Introdução ao mundo do vinho

Ciro Lilla Introdução ao Mundo do Vinho SÃO PAULO 2016 À minha mulher Carmen e aos meus filhos Otavio, Marcelo e Roberto, pelo tempo que era deles e foi para o vinho. Aos meus pais, pela educação e valores que deles recebi. Índice Apresentação Introdução Capítulo 1 O que é vinho Capítulo 2 Noções preliminares Capítulo 3 As uvas mais importantes para a produção de vinhos Capítulo 4 Os vinhos e seus países de origem Capítulo 5 Alguns vinhos famosos Capítulo 6 Vinho e comida Capítulo 7 Cuidados, conselhos e equipamentos Capítulo 8 Perguntas mais freqüentes Capítulo 9 Alguns comentários Apresentação Muita gente me pergunta qual a melhor maneira para aprender sobre vinhos. Primeiramente, é preciso beber com atenção. Quem devora um prato sem prestar atenção nunca será um gourmet, assim como quem engole um vinho não aprenderá sobre vinhos. É importante esclarecer que todo o mundo tem condições de apreciar um vinho. São raríssimos os casos de pessoas com deficiência olfativa ou com um olfato imensamente apurado. Outra bobagem é achar que entender de vinhos é buscar aromas específicos na bebida, associando os aromas presentes num certo vinho com os conhecidos. Hoje em dia é comum ver pessoas cheirando o vinho e desfiando uma infinidade de aromas que dizem ter encontrado na bebida. Isso só afasta as pessoas do vinho. Portanto é preciso deixar claro que entender de vinhos não significa reconhecer aromas específicos em determinado vinho. Além disso, é importante ler sobre o assunto. Atualmente, existe uma vasta literatura à disposição do interessado, também em português. Um ótimo livro brasileiro é o Tintos e brancos, de Saul Galvão. Recomendo também as revistas brasileiras Gula, Prazeres da Mesa e Vinho Magazine, a americana Wine Spectator e a inglesa Decanter, que são de leitura muito agradável. Para vinhos franceses sugiro a Revue du Vin de France e para os portugueses a Revista de Vinhos. Para notas sobre vinhos, não posso deixar de mencionar a Wine Advocate, do influente crítico norte-americano Robert Parker. Porém o mais importante para aprender na prática é participar de degustações às cegas, em que se prova alguns vinhos sem saber quais são. Aí é que realmente se vai descobrindo as diferenças entre eles – como são os vinhos de cada região ou de cada uva –, esclarecem-se certos mitos, aprende-se que às vezes um vinho mais barato é melhor ou lhe dá mais prazer que um muito mais caro, e assim por diante. Há duas maneiras fáceis de participar de degustações às cegas: filiando-se a uma das associações que promovem essas degustações, como a Associação Brasileira de Sommeliers e a Sociedade Brasileira dos Amigos do Vinho, ambas com filiais em diversas cidades. Pode-se também formar o próprio grupo de degustação, reunindo de seis a oito amigos interessados no assunto e organizando os encontros com certa freqüência, uma vez por mês ou a cada quinze dias, por exemplo. Em alguns grupos, um membro por vez organiza tudo, seleciona os vinhos sem que os outros saibam o que foi escolhido, embrulha e numera as garrafas. Em outros, cada um leva um vinho já embrulhado (mas só devem ser provados cerca de cinco ou seis, senão a pessoa se perde), servem-se os vinhos nos copos colocados um ao lado do outro, e o degustador analisa a cor de cada um, comparando os aromas e o sabor. Isso tudo é feito em silêncio, até todos terem terminado de degustar todos os vinhos. Aí começa a troca de idéias, e finalmente as garrafas são desembrulhadas, revelando seus rótulos. Todo o mundo tem todas as condições para entender de vinhos e se tornar um enófilo, que é o “amante do vinho”, o amador que, com o tempo, se torna um conhecedor. Já se a intenção for se tornar um enólogo, o caminho será um pouco mais longo, pois enólogo é o profissional de curso superior responsável pela produção do vinho na vinícola. Ou, como diz meu grande amigo Luiz Groff, enólogo é aquele que, perante o vinho, toma decisões, enquanto o enófilo é aquele que, perante decisões, toma vinho. Introdução B REVE HISTÓRIA Pesquisas recentes descobriram, na região que hoje é o Irã, vestígios de vinho em ânforas que datam de 5000 Muitos acreditam que o vinho tenha começado a ser produzido nessa região, na passagem da Idade da Pedra para a do Bronze, quando as primeiras comunidades deixaram de ser nômades. Foi a época dos primeiros potes e ânforas de barro. Hoje em dia, porém, a teoria mais aceita é a de que a uva teria se originado no Cáucaso, chegando depois ao Oriente Médio. O vinho é muito anterior à escrita, e é citado desde os primeiros textos sumérios de que se tem notícia. Esses textos foram gravados em tábuas de argila e contam uma história semelhante à do dilúvio narrado na Bíblia. O Noé sumério, Gilgamesh, teria pago também com cerveja e vinho os trabalhadores que construíram a arca. Segundo a Bíblia, a primeira coisa que Noé fez ao sair da sua arca depois daquela chuva toda foi plantar uvas e produzir vinho, embriagando- se. O vinho também é muito importante na mitologia grega e em lendas persas. Depois, como sabemos, Jesus fez seu primeiro milagre transformando água em vinho nas bodas de Canaã, e na Santa Ceia o escolheu para simbolizar seu sangue. É provável que os fenícios, povo comerciante originário do que hoje é o Líbano, tenham levado a bebida até a Grécia, onde ela ganhou enorme importância – o deus grego do vinho, Dioniso, era filho do próprio Zeus. Em Roma, o deus do vinho era conhecido como Baco, donde a palavra bacanal. O vinho era a bebida do dia-a-dia de gregos e romanos, mas nessa época era diluído em água. A ele também se adicionava mel ou resina para que durasse mais, já que nas ânforas de barro a sua vida era muito curta. Até hoje se encontra na Grécia um vinho com resina, chamado de Retsina. Eu particularmente não gosto, mas há quem aprecie. Os gregos espalharam as videiras pela região do Mediterrâneo, até a Espanha. Na “Magna Grécia”, o sul da Itália, a produção prosperou muito, a ponto de a região ter sido chamada de Enótria, “terra do vinho”. Quando os romanos conquistaram a Magna Grécia, depois a própria Grécia e todos os países do Mediterrâneo, ao ocuparem a Europa mais setentrional levaram o vinho e plantaram videiras. Incentivavam também os povos bárbaros a plantar videiras e a produzir vinhos, de modo que deixassem a vida nômade e aceitassem o estilo de vida romano. Foi na época do Império Romano que começou o estudo sério de tudo o que se relacionasse ao vinho: as uvas, a maneira de plantar, os métodos de produção. Mas a Idade Média foi um período de grandes dificuldades, com desgraças que assolaram toda a Europa. O vinho também foi muito prejudicado. A principal exceção eram os mosteiros, já que a Igreja assumiu o papel antes desempenhado pelas legiões romanas na produção e difusão dessa bebida. Os mosteiros tornaram-se centros de cultivo da vinha e da produção do vinho. Toda pesquisa relacionada à bebida era feita pelos monges. Com o tempo, a Igreja tornou-se proprietária dos maiores e mais importantes vinhedos europeus. Na Renascença, período fértil no desenvolvimento das artes e da ciência, a qualidade do vinho evoluiu muito. Tiveram início então as grandes viagens marítimas e a descoberta do Novo Mundo. Como os padres missionários precisavam do vinho para a celebração das missas, o jeito foi levar mudas de uvas e começar a produção nas terras descobertas – as uvas que existiam nas Américas não eram adequadas à produção de vinhos de qualidade. Finalmente, com a Revolução Industrial iniciou-se a fabricação em série de garrafas de vidro e de rolhas de cortiça, e o vinho foi se tornando o que hoje conhecemos. Isso ocorreu nos séculos XVIII e XIX. A evolução do vinho nos séculos XVIII, XIX e XX deveu-se à ciência e a alguns cientistas em particular, como Lavoisier, que estudou a fermentação, e Chaptal, ministro de Napoleão, que criou o processo de adicionar açúcar ao mosto para elevar o grau alcoólico, melhorando sua conservação (esse processo é chamado de chaptalização). O cientista mais importante para o vinho foi Pasteur, que explicou cientificamente o processo de fermentação, o qual só era conhecido na prática, mas ninguém sabia por que ocorria. Para atrapalhar todo esse desenvolvimento surgiu uma praga, o inseto filoxera, que arrasou os vinhedos da Europa no fim do século XIX. Foi uma catástrofe que quase destruiu de vez a produção de vinhos no continente. Após a Segunda Guerra Mundial, os enólogos começaram a surgir por toda parte e deram à produção de vinhos um caráter mais científico. Um dos mais famosos foi o professor Émile Peynaud (francês como Lavoisier, Chaptal e Pasteur), que levou também para o vinhedo inovações e estudos científicos antes restritos ao interior das vinícolas. Depois se popularizou o controle artificial da temperatura de fermentação, que tornou possível a produção de grandes vinhos em lugares mais quentes. Diante de todas essas viagens e descobertas, acabou-se por produzir vinhos nas mais diferentes regiões do mundo, e com as mais diversas características. Quando me dizem que o vinho está na moda, costumo dizer que está sim, há pelo menos nove mil anos!

See more

The list of books you might like

Most books are stored in the elastic cloud where traffic is expensive. For this reason, we have a limit on daily download.