M. C. Ramos, C.P. Bertozzi Instituto Biopesca: educação ambiental, monitoramento e pesquisa para a conservação da fauna marinha Maria Carolina Ramos¹; Carolina Pacheco Bertozzi² ¹ Jornalista, Instituto Biopesca ² Bióloga, PhD, Instituto Biopesca / Instituto de Biociências do Câmpus do Litoral Paulista ( UNESP – IB/CLP) Resumo Este trabalho apresenta as atividades do Instituto Biopesca, associação da sociedade sem fins lucrativos, criada em 1998 por um grupo de pesquisadores da área de conservação ambiental marinha em Praia Grande, município do litoral paulista. Nesses 20 anos de existência, a organização ampliou suas atividades que, atualmente, consistem principalmente em Educação Ambiental (EA), monitoramento pesqueiro, realização de pesquisas científicas e apoio a trabalhos acadêmicos. Sua área de atuação abrange, principalmente, os municípios de Praia Grande, Mongaguá, Itanhaém e Peruíbe. Todas as atividades são, em essência, voltadas à conservação da fauna marinha. Palavras-chave: Conservação; Meio Ambiente; Educação; Pesquisa. Instituto Biopesca: environmental education, monitoring and research for the conservation of marine fauna Abstract This paper presents the activities of the Instituto Biopesca, a non - profit association created in 1998 by a group of researchers in Praia Grande, a city on the coast of São Paulo. Since 1998, the organization has expanded its activities, which currently consist mainly of Environmental Education (EA), monitoring beaches and fishing, conducting scientific research and supporting academic jobs. The area of activity covers, mainly, Praia Grande, Mongaguá, Itanhaém and Peruíbe. All activities are, in essence, focused on the conservation of marine fauna. Keywords: Conservation; Environmental; Education; Research. I Seminário Internacional - Oceanos livres de Plásticos p. 9-20 UNISANTA Bioscience Vol. 7 nº 6 – Edição Especial (2018) Página 9 M. C. Ramos, C.P. Bertozzi Introdução de toninhas (Figura 1), uma espécie pequena de golfinho ameaçada de Mudanças climáticas, desmatamento de extinção (Figura 2). Desde então, o áreas naturais, lixo nos oceanos, Biopesca atua junto às comunidades de contaminação das águas. Essas são pesca artesanal do litoral de São Paulo apenas algumas das questões que, hoje, com o objetivo de avaliar a pesca e tomam conta do noticiário e estão capturas acidentais não só de toninhas, presentes na conversa cotidiana e em mas também de tartarugas marinhas trabalhos acadêmicos, só para citar (Figura 3), espécie também impactada alguns exemplos. Esses temas ganham pela captura acidental nas atividades relevância devido a diferentes fatores, pesqueiras, além de sensibilizar esses entre eles a discussão em torno do modo profissionais para a adoção de técnicas de consumo da sociedade responsáveis de pesca. contemporânea ou da forma que as ações humanas estão impactando a O Biopesca tem como missão natureza e resultando em problemas não “promover a conservação de espécies apenas para a nossa espécie, mas marinhas ameaçadas de extinção a partir também para a de outros seres vivos. De de pesquisas e ações de educação fato, não é mais possível ignorar esses ambiental”, estabelecida com a problemas. Temos que agir ampliação das suas atividades no correr imediatamente, motivados pela dos anos. A entidade levou suas esperança de que as próximas gerações atividades para outras comunidades – de nossos filhos, netos, sobrinhos – pesqueiras do litoral de São Paulo, além não sofram com a escassez de recursos de Praia Grande, e passou a incluir mais naturais e de que o planeta onde vivem ações em sua atuação ao abranger o seja também a casa que acolhe os outros apoio a pesquisas acadêmicas seres vivos. relacionadas à conservação da fauna marinha e realização de eventos de Essa é uma preocupação constante do educação ambiental voltadas à Instituto Biopesca, uma associação sem sensibilização do público em geral para fins lucrativos fundada em Praia a importância da conservação dos mares Grande, litoral de São Paulo. Sua e oceanos. história teve início em 1998, quando um grupo de pesquisadores começou a Assim, desenvolve, principalmente, o investigar a captura acidental pela pesca monitoramento de capturas acidentais, I Seminário Internacional - Oceanos livres de Plásticos p. 9-20 UNISANTA Bioscience Vol. 7 nº 6 – Edição Especial (2018) Página 10 M. C. Ramos, C.P. Bertozzi por meio da realização do trabalho públicos e parceiros e apoio ao sistemático junto às comunidades desenvolvimento de pesquisas pesqueiras, ações de educação científicas. ambiental em parceria com órgãos Figura 1 – Captura acidental de toninha (Pontoporia blainvillei) Foto: Acervo/Instituto Biopesca I Seminário Internacional - Oceanos livres de Plásticos p. 9-20 UNISANTA Bioscience Vol. 7 nº 6 – Edição Especial (2018) Página 11 M. C. Ramos, C.P. Bertozzi Figura 2 - Toninha (Pontoporia blainvillei) / Foto: Divulgação / Yaqu Pacha Figura 3 – Captura acidental de tartaruga marinha por técnica de pesca artesanal Foto: Acervo/Instituto Biopesca I Seminário Internacional - Oceanos livres de Plásticos p. 9-20 UNISANTA Bioscience Vol. 7 nº 6 – Edição Especial (2018) Página 12 M. C. Ramos, C.P. Bertozzi No ano de 2011, o Biopesca foi Ainda em 2012, o Biopesca e declarado como de Utilidade Pública comunidades pesqueiras artesanais pelo município da Praia Grande, por parceiras receberam o Prêmio Yaqu meio da Lei N. 1.603, de 19 de Pacha de Conservação 2012, concedido dezembro de 2011, e, em 2012, recebeu devido as suas atividades e também pela a cessão de uso de uma sala dentro da realização do projeto “Experimento com comunidade pesqueira Boutique de redes de pesca alternativas para redução Peixes, em Praia Grande (SP) por de capturas acidentais de tartarugas intermédio do Decreto N. 5141, de 21 marinhas e golfinhos na Praia Grande, de agosto de 2012 (Figura 4). Esse SP”. Essa iniciativa foi realizada espaço vem sendo utilizado para o conjuntamente com o Laboratório de desenvolvimento de atividades de Tartarugas e Mamíferos Marinhos da Educação Ambiental e, entre 2014 e Universidade Federal do Rio Grande – 2017, recebeu 11.426 visitantes FURG, com patrocínio do Consortium (Gráfico 1), na maior parte crianças, for Wildlife Bycatch Reduction, New conforme amostrado em 2017 (Gráfico England Aquarium, Estados Unidos. 2). Figura 4 – Sala de Educação Ambiental do Instituto Biopesca – Foto: Maria Carolina Ramos I Seminário Internacional - Oceanos livres de Plásticos p. 9-20 UNISANTA Bioscience Vol. 7 nº 6 – Edição Especial (2018) Página 13 M. C. Ramos, C.P. Bertozzi Gráfico 1 – Número de visitantes do projeto Biopesca Gráfico 2 – Faixa etária de visitantes do projeto Biopesca Mais recentemente, com o Decreto N. Grande (SP), onde atualmente estão sua 5938, de 17 de novembro de 2015, o sede administrativa, sala de necropsia, Instituto Biopesca recebeu a concessão laboratório e, a partir do presente ano, o de uso de um espaço público, localizado Centro de Reabilitação de Fauna para no bairro do Canto do Forte, em Praia atendimento de animais marinhos I Seminário Internacional - Oceanos livres de Plásticos p. 9-20 UNISANTA Bioscience Vol. 7 nº 6 – Edição Especial (2018) Página 14 M. C. Ramos, C.P. Bertozzi provenientes de encalhes e de capturas Grande, que atuam no resgate e acidentais. recolhimento de animais marinhos e selvagens. Vale destacar a parceria com Ao longo dos seus 20 anos de trabalho, a Universidade Estadual Paulista “Júlio o Biopesca vem atuando em parceria de Mesquita Filho” (Unesp), câmpus do com diversas instituições de pesquisa, Litoral Paulista, principalmente nos gerando informações importantes e apoios ao desenvolvimento de pesquisas participando ativamente dos fóruns de científicas realizadas no âmbito dos discussão sobre a área ambiental cursos de graduação e pós-graduação marinha. O Biopesca é membro strictu sensu, e ao “Cursinho Caiçara”, fundador da Rede de Encalhes de uma atividade de extensão realizada Mamíferos Aquáticos do Brasil pelos universitários que oferecem à (REMAB) e do Sudeste (REMASE, comunidade carente local a ICMBio); membro do Sistema de Apoio oportunidade para o ingresso em ao Monitoramento de Mamíferos Universidades. Aquáticos (SIMMAM -UNIVALI, CMA/ICMBio) e do Consórcio O Biopesca é, também, interlocutor de Internacional Franciscana oito ações do “Plano de Ação Nacional (www.pontoporia.org). O Biopesca para Conservação do Pequeno Cetáceo, também faz parte do Conselho Gestor Toninha, Pontoporia blainvillei da Área de Proteção Marinha do Litoral (ICMBio, 2010)”. Entre elas, destacam- Central do Estado de São Paulo se: efetuar levantamento das (APMLC), área de grande importância comunidades pesqueiras e para o desenvolvimento econômico e caracterização da frota de emalhe, industrial do país e de grande definir a parcela da frota de emalhe a biodiversidade marinha, e dos ser monitorada para obtenção de Conselhos Municipais de Defesa do estimativas de mortalidade na Área de Meio Ambiente – CONDEMA dos Manejo II (São Paulo, Paraná e Santa municípios de Praia Grande e Peruíbe. Catarina), testar alternativas A instituição mantém ainda parcerias tecnológicas ou operacionais para com entidades que atuam na área de redução da captura acidental e conservação ambiental, entre elas os elaboração de um programa de Grupamentos Costeiro e Ambiental da Educação Ambiental para comunidades Guarda Civil Municipal de Praia pesqueiras e costeiras. I Seminário Internacional - Oceanos livres de Plásticos p. 9-20 UNISANTA Bioscience Vol. 7 nº 6 – Edição Especial (2018) Página 15 M. C. Ramos, C.P. Bertozzi Projeto Pescador Amigo / Peruíbe). No total, o monitoramento Monitoramento Pesqueiro abrangeu 41 localidades de pesca, aproximadamente 300 embarcações e O Biopesca já foi apoiado pela 653 pescadores. Petrobras por meio do Programa O monitoramento de captura acidental Petrobras Socioambiental ao realizar o consistiu em visitas diárias às Projeto Pescador Amigo. Executado localidades de pesca, levantando dados, entre 2013 e 2015, esse Projeto teve por meio de questionários, sobre a como principal objetivo monitorar e atividade e a captura acidental (Tabela ampliar o conhecimento do impacto das 1). Na eventualidade de algum animal capturas acidentais de golfinhos e marinho ficar preso em uma rede de tartarugas marinhas no litoral do Estado pesca, o pescador era orientado a trazer de São Paulo, bem como sensibilizar e o animal para terra e encaminhá-lo para capacitar pescadores, comunidades os procedimentos de necropsia e costeiras e turistas com ações de pesquisa, realizados pelo Biopesca. Os educação ambiental, com foco para animais vivos que também eram práticas de pesca responsável, consumo trazidos tinham sua biometria consciente de pescado e importância da registrada, o estado clínico avaliado e o preservação do ambiente marinho. anilhamento (Figura 5) e consequente Durante o período de execução do soltura realizados. Já os animais Projeto, foi realizado o monitoramento recolhidos em óbito eram encaminhados de capturas acidentais com os para necropsia e coleta de amostras pescadores artesanais de nove biológicas, como análise municípios (São Sebastião, Bertioga, histopatológica, parasitos Guarujá, Santos, São Vicente, Praia gastrointestinais e análise do conteúdo Grande, Mongaguá, Itanhaém e estomacal, entre outros. Tabela 1 – Captura acidental de espécies marinhas / 2013-2015 Espécies Liberados com vida Óbitos Total Tartarugas marinhas 428 150 578 Golfinhos (Toninhas) 0 52 52 Total 428 202 630 I Seminário Internacional - Oceanos livres de Plásticos p. 9-20 UNISANTA Bioscience Vol. 7 nº 6 – Edição Especial (2018) Página 16 M. C. Ramos, C.P. Bertozzi Figura 5 – Anilhamento de tartaruga marinha – Foto: Gabriel Buson/Acervo Biopesca Também foram realizados cursos para promoveu exposições e palestras em os pescadores por intermédio da espaços públicos e escolas e resultou na Caravana do Pescador Amigo (Figura presença de 13.136 participantes. 6), com o objetivo de apresentar No momento, o Instituto Biopesca práticas de pesca responsável. Um total prossegue com o monitoramento de de 601 pescadores participou dessas capturas acidentais a fim de ampliar o atividades. Já as atividades de educação conhecimento sobre a interação das ambiental contemplaram o Programa de atividades pesqueiras com golfinhos e Educação Ambiental Continuada tartarugas marinhas por meio de (PEAC), realizado em escolas públicas acompanhamento e registro periódico com a participação de 856 pessoas, e o das atividades dos pescadores em Programa de Ação e Sensibilização municípios do litoral paulista. Ambiental (PASA). Esse último I Seminário Internacional - Oceanos livres de Plásticos p. 9-20 UNISANTA Bioscience Vol. 7 nº 6 – Edição Especial (2018) Página 17 M. C. Ramos, C.P. Bertozzi Figura 6 – Caravana do Pescador Amigo – Foto: Gabriel Buson/Acervo Biopesca Pesquisas científicas e acadêmicas biologia e ecologia das espécies Além das atividades de monitoramento marinhas ameaçadas de extinção. Sua das atividades pesqueiras e de encalhe produção científica já ultrapassa 65 de animais marinhos, o Biopesca documentos, entre artigos científicos, desenvolve e apoia diversas pesquisas monografias, dissertações, teses, (Figura 7) e trabalhos acadêmicos, resumos para congressos e capítulos de ampliando o conhecimento sobre a livros (Gráfico3). Figura 7 – Pesquisadores do Instituto Biopesca realizam estudos para a conservação de espécies marinhas I Seminário Internacional – Oceanos livres de Plásticos p. 9-20 UNISANTA Bioscience Vol. 7 nº 6 – Edição Especial (2018) Página 18