Contextos Clínicos, 11(1):106-121, janeiro-abril 2018 2018 Unisinos - doi: 10.4013/ctc.2018.111.09 Impasses e alcances da psicanálise: o empreendedorismo do analista contemporâneo Impasses and scope of psychoanalysis: The entrepreneurship of contemporary analysts Silvio Augusto Lopes Iensen Universidade Franciscana. Rua dos Andradas, 1614, Centro, 97010-032, Santa Maria, RS, Brasil. [email protected] Mônica Medeiros Kother Macedo Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Rua Ramiro Barcelos, 2600, Santa Cecília, 90035-003, Porto Alegre, RS, Brasil. [email protected] Resumo. O artigo apresenta uma pesquisa de cunho qualitativo realizada com psicanalistas, com significativa experiência clínica e produção es- crita sobre Psicanálise. Por meio de entrevistas semidirigidas, buscou-se explorar os efeitos das demandas clínicas contemporâneas na forma dos participantes exercerem a clínica e, também, suas concepções a respei- to da atual situação da Psicanálise. Os dados obtidos foram trabalhados com o método de Análise de Conteúdo e resultaram na estruturação de quatro Categorias Finais: Incompletude e abertura da Psicanálise: o valor do legado de Freud; A clínica psicanalítica atual: exigência de trabalho ao psicanalista; O ouro da Psicanálise; e, por último, O enfrentamento do mal-estar próprio da Psicanálise: riscos e potenciais. Os achados deste estudo permitiram definir como empreendedorismo o trabalho criativo do psicanalista diante de impasses clínicos e nomear como analista con- temporâneo o profissional que, compromissado com a essência do legado freudiano, inquieta-se e cria frente aos interrogantes clínicos, produzin- do, assim, conhecimento em Psicanálise. Palavras-chave: clínica psicanalítica, analista contemporâneo; Psicanálise, empreendedorismo. Abstract. This is a qualitative study of psychoanalysts with extensive clinical experience and scientific research articles in the field of Psycho- analysis. It has been intended to explore the effects of contemporary clinic demands in participant’s clinical practice, using semi-structured interviews, and also their conceptions of Psychoanalysis actual situation. The obtained data was studied using the Content Analysis method and resulted in the structure of four Final Categories: Incompleteness and openness of Psychoanalysis: the value of Freud’s legacy; Modern clinical Psychoanalysis: work demands to psychoanalysts; Psychoanalysis’ gold and; the last one, Confronting the discontents of Psychoanalysis: risks and potentials. The findings of this study enabled us to define the creative work of psychoanalysts facing clinical impasses as entrepreneurship and allow to designate as contemporary those professionals who, committed Este é um artigo de acesso aberto, licenciado por Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional (CC BY 4.0), sendo permitidas reprodução, adaptação e distribuição desde que o autor e a fonte originais sejam creditados. Silvio Augusto Lopes Iensen, Mônica Medeiros Kother Macedo to the essence of Freudian legacy, concern and create before clinical ques- tions, producing, therefore, knowledge about Psychoanalysis. Keywords: psychoanalytical clinic, contemporary analyst, Psychoanalysis, entrepreneurship. Introdução dos infindáveis objetos postos à disposição do sujeito” (p. 232), inclusive na relação com As influências da cultura na produção de o outro, na busca incessante de plena satisfa- elementos intrapsíquicos e a relevância do ex- ção libidinal. perimentado no campo intersubjetivo foram O mundo atual, fundado na instabilidade assinaladas por Sigmund Freud ao longo do do passado, do presente e do futuro, mani- desenvolvimento teórico e técnico da Psica- festa no sujeito os efeitos de uma lógica não nálise. Birman (2006) considera que a moral duradoura (Bauman, 2008), fazendo com presente na Modernidade incidia sobre a eco- que a rapidez, a flexibilidade e a inseguran- nomia erótica das individualidades a ponto ça nas relações sociais sejam características de ser capaz de perturbar o funcionamento marcantes das relações intersubjetivas. As psíquico. Entende-se, assim, ser possível con- relações se estabelecem no modelo de con- siderar que a cultura e as vivências do sujei- sumo (Costa e Moreira, 2010), sendo o fator to estão intrinsecamente entrelaçadas, sendo determinante a rapidez inquestionável da impossível considerar uma sem a referência a inserção do sujeito nessa ordem social. Bau- outra. A modernidade não admitia mudanças man (2008) considera que os vínculos hu- em seu projeto (Maia, 2005). Todo o desenho manos da contemporaneidade se alicerçam de funcionamento cultural e social da moder- no modelo de consumo, em que as relações nidade baseava-se nessa ordenação severa e continuam enquanto produzirem satisfação, rígida. Nessa higienização social, o que não semelhante ao que ocorre com outros objetos correspondia a essas ordenações ficava à mar- de consumo, os quais são rejeitados – substi- gem, pois, segundo Maia (2005), à época, “o tuídos – se não produzirem a satisfação de- moderno toma a ordem como tarefa: é preci- sejada, evitando-se, com todo esforço, qual- so ordenar, classificar, purificar” (p. 31). Tan- quer tipo de protelação. to os conflitos psíquicos dos sujeitos quanto Pode-se pensar que, atualmente, os limi- as questões sociais – divisão privado/público tes da experiência da castração, as questões – da era moderna produziram sujeitos com edípicas e a repressão da sexualidade, não certas especificidades em seus padecimentos cumprem um papel central nas configurações psíquicos, sendo exemplo clássico disso a his- das ditas psicopatologias contemporâneas. teria feminina. Não se afirma que esses temas não façam Na contemporaneidade surgem deman- parte das configurações da dor psíquica da das sociais e identitárias distintas da Moder- atualidade, apenas constata-se não serem eles nidade. O sujeito da atualidade é mais afeta- centrais como os são nas patologias próprias do, conforme Birman (2009), no sentido de à ordem neurótica. Outros elementos, desta demandas decorrentes da centralização do forma, precisam ser abarcados frente à propo- Eu na constituição da subjetividade. Logo, sição de exercer uma reflexão sobre o sujeito os efeitos no sujeito são necessariamente de na contemporaneidade. As mudanças na so- outra ordem. A contemporaneidade se alicer- ciedade atual fazem com que a Psicanálise se ça em relações humanas nas quais imperam, reinvente constantemente, pois sua invenção, segundo Ferreira e Miras (2008), a rapidez, segundo Roudinesco (1988), também ocorreu a volatilidade, o espetáculo daquilo que se em meio a adversidades e diante da tentativa pode ver e a descartabilidade de bens e do ou- freudiana de compreender os males que afli- tro. A partir dessas características dos tempos giam suas pacientes. atuais, entende-se que o sujeito é atravessado As intrincadas e inegáveis relações entre por questões próprias de um meio social mais o sujeito e a cultura contemporânea levam à individualista, em que, segundo Costa e Mo- imperiosa reflexão sobre a incidência de seus reira (2010), há a “crença ilusória na possibi- efeitos no trabalho analítico. Sob essa ótica, em lidade do alcance de plena satisfação a partir relação ao avanço da Psicanálise, Hornstein Contextos Clínicos, vol. 11, n. 1, Janeiro-Abril 2018 107 Impasses e alcances da psicanálise: o empreendedorismo do analista contemporâneo (2008) entende que o que foi herdado deve não Instrumentos para coleta dos somente ser administrado, mas também tra- dados e cuidados éticos balhado pelos herdeiros desse patrimônio, a quem cabe fazê-lo avançar, porque a Psicaná- Para a coleta dos dados, foi realizada uma lise “é contemporânea, então avança. Avança entrevista semiestruturada, gravada em áudio porque, desafiando os limites do analisável, e, posteriormente, transcrita. Esta modalidade faz operar novos territórios” (p. 139). A com- de entrevista demonstra sua grande utilidade plexidade e a diversidade contemporânea de quando assegura ao pesquisador a obtenção processos de subjetivação e de produção de de todas as informações requeridas, ao mes- sofrimento psíquico acarretam inegáveis de- mo tempo em que permite ao entrevistado a mandas e exigências de revisitar e fazer traba- liberdade para atribuir significados ao que lhe lhar conceitos psicanalíticos a fim de aprimo- é importante (Turato, 2003). Na entrevista fo- rar o alcance da escuta analítica. ram contemplados os seguintes eixos temáti- A especificidade da Psicanálise sustenta cos: (i) relação entre teoria, método e técnica; diferenciada condição de atenção à singula- (ii) o sujeito contemporâneo e sua relação com ridade da relação entre o sujeito e a cultura a cultura; (iii) concepção de psiquismo e subje- (Maia, 2005; Birman, 2006; Hornstein, 2013). tividade; (iv) diagnóstico e psicopatologia; (v) Nessa direção, este artigo retrata uma pes- transformações teóricas e técnicas na clínica quisa que buscou explorar relação entre a ex- psicanalítica; (vi) a produção de conhecimen- periência de ser psicanalista na clínica atual, to em Psicanálise. Os participantes assinaram a produção e o avanço do conhecimento em um termo de consentimento livre e esclarecido Psicanálise. Nesse sentido, exploram-se falas e autorizaram a publicação dos dados obtidos de psicanalistas com significativa experiência no estudo. Foi observado o cuidado com o ano- clínica e com produção escrita sobre Psicaná- nimato dos participantes. Solicitou-se, também, lise a respeito dos impasses e, também, das que cada profissional preenchesse uma Ficha possibilidades com que se deparam na clínica de Dados Sociodemográficos (dados profissio- psicanalítica contemporânea. nais e produção científica em Psicanálise). Método Procedimentos para Coleta dos Dados Delineamento Após aprovação pelo Comitê de Ética em No intuito de pesquisar o exercício de escuta Pesquisa da Universidade à qual esta inves- dos psicanalistas foi essencial a realização de um tigação encontra-se vinculada, os participan- estudo qualitativo, no qual “há necessidade do tes foram localizados a partir da técnica da estudo do particular, e em profundidade” (Cas- “Bola de Neve” (Turato, 2003). As datas e ho- sorla, 2003, p. 24). Para Turato (2003), a pesquisa rários das entrevistas foram agendados com qualitativa caracteriza-se por investigar questões razoável antecedência, visto que os partici- em profundidade e por buscar compreender a pantes residiam em três capitais diferentes e singularidade da experiência para cada sujeito. em dois países. Participantes Procedimentos para Análise dos Dados Participaram do estudo seis psicanalistas com experiência clínica de, no mínimo, 23 anos, Após a leitura do material proveniente e que possuíam produção escrita sobre temáticas das transcrições das entrevistas definiu-se as referentes à clínica psicanalítica. Na tentativa de unidades de significado, as quais foram or- explorar elementos relativos às condições e aos ganizadas em Categorias Iniciais, Categorias impasses contemporâneos no exercício da Psica- Intermediárias e Categorias Finais, conforme nálise, buscou-se o relato de analistas que tives- proposto no Método de Análise de Conteúdo sem em seu percorrido profissional significativa (Bardin, 1991). O trabalho metodológico foi produção de artigos, capítulos de livros, livros e/ realizado a partir de cinco etapas previstas: ou tese de doutorado como decorrentes da dis- preparação, unitarização, categorização, des- ponibilidade e da motivação com a produção de crição e interpretação dos achados (Bardin, conhecimento em Psicanálise. 1991; Moraes 1999). Em relação à análise de 108 Contextos Clínicos, vol. 11, n. 1, Janeiro-Abril 2018 Silvio Augusto Lopes Iensen, Mônica Medeiros Kother Macedo conteúdo com categorias criadas a posteriori, os conteúdos manifestos como também sobre Moraes (1999) divide o processo de análise em os latentes. Nesta pesquisa a interpretação dos cinco etapas: a preparação das informações; a dados deu-se com os aportes psicanalíticos. unitarização ou transformação do conteúdo em unidades; a categorização ou classifica- Resultados e Discussão ção do conteúdo em unidades; a descrição e a interpretação. Na preparação das informa- Os dados sociodemográficos que caracte- ções se identificam as diferentes informações rizam os participantes desta pesquisa podem a serem analisadas, a partir da leitura de todo ser observados na Tabela 1. Dentre os seis par- material coletado. Nesse momento, inicia-se ticipantes, três são psicanalistas argentinos, o processo de codificação dos materiais, es- residentes em Buenos Aires, e os outros três tabelecendo um código que permita identifi- residentes em duas capitais brasileiras. car elementos representativos e pertinentes Apresenta-se separadamente cada uma das ao objetivo da análise. Assim, os materiais quatro Categorias Finais que derivaram de são transformados para se constituírem em suas respectivas categorias iniciais e interme- informações possíveis a serem submetidas à diárias. A primeira Categoria Final, intitulada análise de conteúdo. A fase de unitarização “Incompletude e abertura da Psicanálise: o va- é caracterizada pela releitura cuidadosa dos lor do legado de Freud”, consta no Quadro 1. materiais, identificando-se as unidades de Considerando-se herdeiros do pensamento análise (definidas a partir da natureza do pro- complexo freudiano, os psicanalistas entrevis- blema, dos objetivos da pesquisa e do tipo de tados reconhecem o rigor da Psicanálise na es- materiais a ser analisados). pecificidade de sua teoria, seu método e sua téc- A etapa de categorização pressupõe o tra- nica. O distanciamento de dogmas, a incessante balho de identificação e codificação de todas construção do saber psicanalítico e o diálogo as unidades de análise. Os dados considera- permanente com outras disciplinas, surgem nas dos comuns são agrupados por semelhança ou analogia, a partir de critérios válidos e adequa- falas dos entrevistados como elementos decisi- dos, dando origem à sequência de categorias vos para um exercício criativo em Psicanálise. iniciais, categorias intermediárias (novo agru- Referem, assim, a relação da Psicanálise com o pamento) e, por fim as categorias finais. Para modelo de pensamento complexo: cada categoria é realizado um texto síntese, As teorias da complexidade têm se estendido à explicitando o conjunto de significados pre- compreensão das ciências humanas. Se criou em sentes nas unidades de análise incluídas em Psicanálise a necessidade de atualizar-se em relação cada uma delas. às teorias da complexidade. Estamos olhando o A última etapa é a interpretação, quando aparelho psíquico como um aparelho completo, ab- se atinge uma compreensão mais profunda do erto, heterogêneo, auto-organizador e fundamen- conteúdo das mensagens através de recursos talmente criativo. Muitos psicanalistas contem- como a inferência e a própria interpretação porâneos que fazem uma releitura de Freud, com o dos dados obtidos. Moraes (1999) salienta que que eu me identifico, pensam justamente em Freud a interpretação deve ser realizada tanto sobre como o precursor do pensamento complexo (P2). Tabela 1. Dados sociodemográficos dos participantes. Table 1. Socio-demographic data of the participants. Tempo de Tempo de Participantes Sexo Idade Graduação Prática Nacionalidade Graduação Clínica P1 Feminino 70 anos Medicina 46 anos 45 anos Argentina P2 Feminino 70 anos Psicologia 45 anos 44 anos Argentina P3 Feminino 68 anos Psicologia 38 anos 37 anos Argentina P4 Feminino 59 anos Psicologia 36 anos 35 anos Brasileira P5 Masculino 55 anos Psicologia 32 anos 25 anos Brasileira P6 Feminino 52 anos Psicologia 28 anos 23 anos Brasileira Contextos Clínicos, vol. 11, n. 1, Janeiro-Abril 2018 109 Impasses e alcances da psicanálise: o empreendedorismo do analista contemporâneo Quadro 1. Primeira Categoria Final - Incompletude e abertura da Psicanálise: o valor do legado de Freud. Chart 1. First Final Category - Incompleteness and openness of Psychoanalysis: The value of Freud’s legacy. Categorias Iniciais Intermediárias Finais Freud como pioneiro do pensamento complexo. Compromisso do analista de produzir teoria em seu O compromisso do tempo histórico. psicanalista com a Produção criativa não fica na repetição. complexidade da Psicanálise. Necessidade de estudar os grandes autores. Cada analista tem responsabilidade pela Psicanálise. Trabalho atual com enquadres diversos do enquadre padrão. Avanço da Psicanálise foi sair do enquadre padrão. Condição analítica não é ferida nas variações do enquadre. Análise não é ritual, protocolo mascara o não trabalho analítico. Confunde-se neutralidade com rigidez. Mudança conteúdos do mal-estar cultural, mudança O enquadre e a nas formas do sofrimento humano. Incompletude especificidade da e abertura da Manifestação de sofrimento diferente, não muda a teoria da técnica Psicanálise: o existência do sofrimento. psicanalítica. valor do legado A cultura produz novas formas de subjetivação, na de Freud. clínica surgem novas configurações. O pulsional não está desvinculado da cultura. Problemáticas arcaicas mais presentes na cultura atual. Atualidade patologias do consumo (drogas, álcool). Conflito psíquico externalizado via ação. Enfraquecimento da lei e busca exigente do ideal. Classificação pura de psicopatologia só na teoria. Diagnóstico é série de hipóteses abertas sobre algo. Elementos e Diagnóstico deve ser orientador, presuntivo, nunca diretrizes para definitivo. a condição de Caráter de abertura do psiquismo. abertura do diagnóstico em Singularidade da psicopatologia. Psicanálise. Diagnóstico aberto às modalidades transferenciais nas quais o paciente insere o analista. Freud foi um teórico da complexidade sem haver complexo comporta em seu interior um prin- teorizado sobre ela. [...] Creio que a Psicanálise, cípio de incompletude e de incerteza” (p. 177). novamente em diálogo constante com outras dis- O autor considera que, por sermos seres bio- ciplinas e aberta às configurações epistemológi- lógicos, sociais, culturais e psíquicos, a com- cas atuais, nos dará possibilidades de repensar novas problemáticas que se configuram (P1). plexidade exige que a ciência tente conceber a articulação, a identidade e a diferença de todos Morin (2013), expoente maior da teoria os aspectos; por sua vez, o pensamento simpli- da complexidade, afirma que “o pensamento ficante separa esses diferentes aspectos ou, en- 110 Contextos Clínicos, vol. 11, n. 1, Janeiro-Abril 2018 Silvio Augusto Lopes Iensen, Mônica Medeiros Kother Macedo tão, acaba por unificá-los em uma redução mu- já a produção de subjetividade corresponde a tilante. Segundo Morin (2012), é fundamental modos de ser e estar no mundo produzido pela substituir “um pensamento que isola e separa, cultura e sofre mutações ao longo do tempo. O por um pensamento que distingue e une. É exercício clínico, portanto, precisa considerar a preciso substituir um pensamento disjuntivo e complementaridade entre esses elementos. redutor por um pensamento do complexo, no sentido originário do termo complexus: o que é A psicanálise tem que ser mais inventiva para tecido junto” (p. 89). O exercício de tessituras lidar com essas demandas que decorrem jus- das diferenças leva à complexidade e fomenta tamente da análise muito aguda de Freud em relação à cultura, em relação ao sujeito na cultu- um fecundo diálogo entre saberes. ra, em relação ao mal-estar na cultura (P5). Os entrevistados identificam-se com a pro- posta freudiana de seguir pensando a Psica- As subjetividades são sempre de época. [...] Há nálise no permanente diálogo com as demais patologias mais frequentes em uma época que em disciplinas. Ressaltam a constante reflexão a outra. As problemáticas que são mais arcaicas eu respeito da ruptura epistemológica que a cria- não posso deixar de considerar que elas se rela- ção freudiana provocou e, a manutenção à con- cionam com a cultura atual (P3). dição de abertura às transformações a fim de que a Psicanálise siga avançando criativamente. A cultura e a produção sintomática estão absolu- tamente entrelaçadas (P4). Tanto a Física como as Ciências Sociais têm me permitido um olhar diferente para a Psicanálise. A contemporaneidade é identificada com a [...] Se não há uma leitura de alguns textos freud- predominância de vínculos alicerçados no do- ianos à luz dos novos paradigmas, não vamos dar mínio do consumo (Bauman, 2008), da vigência conta de avançar (P1). de uma sociedade do espetáculo (Debord, 1997) e do predomínio da cultura do narcisismo (Las- Os artigos metapsicológicos freudianos são ch, 1991). A partir da afirmação de serem esses exemplos de uma forma de produção desse pen- os modos predominantes de ser do sujeito que samento complexo que não busca a simplifica- habita os tempos atuais, Birman (2012) afirma o ção. O texto freudiano destaca a heterogeneidade predomínio contemporâneo da modalidade in- que compõe o psiquismo, a relevância atribuída dividualista de ser e estar. Para o autor, há um à singularidade e complexidade de uma história evidente autocentramento do sujeito, tornando e seus desdobramentos relativos à cultura. Con- o espaço intersubjetivo desinvestido e esvazia- siderar as contribuições advindas de diferentes do no que diz respeito à qualidade das trocas áreas do saber não significa, portanto, abrir mão inter-humanas. Na história recente da Psicaná- do que é especifico à Psicanálise. lise, a partir da metade do Século XX, tornaram- -se mais presentes estudos sobre o aumento das Não se pode, por exemplo, hoje, analisar uma his- térica da época de Freud, porque estava inserida demandas de “novas psicopatologias”. Refe- num outro contexto social que não era o nosso, rem os participantes que: um contexto cultural absolutamente diverso do nosso. Nosso contexto cultural hoje está ali como Creio que a psicanálise, novamente em diálogo base de um outro tipo de subjetividade que vai constante com outras disciplinas e aberta, diga- surgir, e isso não se pode negar e não se pode mos, às configurações epistemológicas atuais, fechar os olhos. Não podemos olhar para o pul- nos dará possibilidades de repensar novas prob- sional de um sujeito completamente desvinculado lemáticas que se configuram a partir das mudan- da cultura onde está, isso é fato, ainda que não se ças culturais que, por certo, nas últimas décadas possa determinar que um sujeito seja do jeito que são absolutamente vertiginosas (P1). é única e exclusivamente por sua cultura (P6). A clínica deixou de ser neurótica e foi se amplian- Quando mudam os conteúdos do mal-estar cul- do para outras questões, outras patologias, prin- tural, também mudam as subjetividades e, por- cipalmente as questões ligadas ao narcisismo [...] tanto, também mudam as novas formas de ex- Esse tema dos ideais, esse tema do narcisismo, pressão sintomática do sofrimento humano (P2). esse tema da ação, do ato foram questões que se colocaram na clínica que foram ampliando o meu Para Bleichmar (2009), a constituição do psi- estudo (P4). quismo comporta elementos invariantes, refe- rentes ao sujeito psíquico (enigma das origens, A constatação nas demandas contemporâ- angústia da morte, temor da perda de amor); neas do predomínio de fraturas no narcisismo Contextos Clínicos, vol. 11, n. 1, Janeiro-Abril 2018 111 Impasses e alcances da psicanálise: o empreendedorismo do analista contemporâneo e do prejuízo na capacidade representacional nálise, desconhecer o valor da vigência de seus do sujeito têm resultado em questionamentos fundamentos também acarreta inegáveis riscos em relação ao enquadre clínico. Green (2008a) à ética da escuta. Cabe ao psicanalista criar es- afirma ser o enquadre um conjunto das condi- tratégias de transformação no enquadre. Toma- ções de possibilidades requeridas para o exer- -se a noção de estratégia no contraponto à ideia cício da Psicanálise. Segundo o autor, há de se de programa conforme apresentado por Horns- distinguir duas partes no enquadre: tein (2013). Para o autor, “estratégia supõe mo- dificar a ação em função de novos elementos A matriz ativa, composta pela associação livre que vão surgindo. Isso é pertinente para siste- do paciente, da atenção e da escuta flutuantes, mas complexos e na prática analítica” (p. 166). marcadas pela neutralidade benevolente do ana- Já o programa diz respeito, segundo Hornstein lista, formando um par dialógico onde se enraíza (2013), à repetição de passos rigidamente es- a análise e, parte dois, o estojo, constituído pelo truturados. A abertura ao improviso e a elasti- número e duração das sessões, a periodicidade dos cidade do enquadre aproximam a definição de encontros, as modalidades de pagamento, etc. A estratégia a modalidade de escuta clínica. matriz ativa é a joia que o estojo contém (p. 54). Os impasses clínicos são evidentes. Segun- do Birman (2012), o mal-estar das subjetivida- A Psicanálise, assim como foi em seu nas- des contemporâneas se evidencia como dor, cimento, segue tendo que ultrapassar os limi- inscrita nos registros do corpo, da ação e das tes do instituído para reafirmar o seu caráter intensidades. Esses aspectos aparecem na fala inovador frente aos diversos padecimentos dos entrevistados: humanos. A ênfase à exigência de trabalhar a própria Psicanálise se impõe diante das trans- O sujeito sofre mais por angústia, por busca de formações da clínica. Segundo Macedo et al. uma identidade que não consegue alcançar. A an- (2016) as expressões do mal-estar contempo- gústia também tem a ver com a velocidade (P3). râneo constituem um desafio à Psicanálise e convocam o analista a qualificar sua condição A cultura te demanda performance, enfim, de- de pensar a clínica. Nessa perspectiva, com- manda esse ilimitado, e é nesse sentido que eu preende-se o tema relativo às transformações falo em ideal porque o ideal é justamente aquilo do enquadre enfatizado pelos participantes. que é ilimitado [...] e quando isso está muito de- mandado, é como se a produção psíquica exata- Claro que para mim o enquadre é essencial, o en- mente mostrasse essa super exigência da qual o quadre não é só horários e tal. [...] O enquadre é psiquismo não dá conta (P4). mantido de qualquer jeito, mas as forças às quais ele está sujeito na clínica atual geram modali- É no reconhecimento da singularidade da dades muito diferentes. Exigem do analista for- psicopatologia do sujeito que a Psicanálise mas de atendimento que enriquecem o trabalho abre a possibilidade da escuta ética que orien- analítico (P5). ta o fazer analítico. Recorre-se, então, na clí- nica a hipóteses diagnósticas que orientam a Não se trabalha de uma determinada maneira, elasticidade do enquadre. Os participantes numa quantidade de sessões semanais com o destacam a importância e a especificidade do divã, com isso ou aquilo, previsto de antemão. diagnóstico na e para a Psicanálise: Não é uma boa psicanálise ou, o que é pior, não é psicanálise. [...] A psicanálise contemporânea leva muito em conta um enquadre para cada paciente O diagnóstico serve para balizar o método (P6). de acordo com as manifestações sintomáticas (P2). O diagnóstico tem que ser, sempre, um orienta- Há um eixo que é a tentativa permanente de dor, tem que ser sempre presuntivo e nunca de- harmonizar rigor teórico e flexibilidade clínica. finitivo (P2). [...] Já mostrei flexibilidade, sempre quando não foram impulsos próprios e sempre que eu, antes, O diagnóstico é um balizador da tua compreen- durante ou depois, possa fundamentar teorica- são do que é o sofrimento psíquico do outro (P4). mente o porquê ou, ao menos, tentar fazê-lo. [...] Uma intervenção clínica que não liga, que não O diagnóstico é para o analista se situar, é um se relaciona com uma fundamentação teórica, tipo de mapeamento onde a gente se situa em torna-se curta (P3). relação ao paciente (P5). Se trabalhar na ritualização do enquadre A produção científica contemporânea so- empobrece as possibilidades de vigor da Psica- bre os padecimentos que têm marcado pre- 112 Contextos Clínicos, vol. 11, n. 1, Janeiro-Abril 2018 Silvio Augusto Lopes Iensen, Mônica Medeiros Kother Macedo sença na clínica psicanalítica invariavelmente ia dizer que não eram analisáveis. São pacientes enfatiza a necessidade de labor criativo do que têm um desafio grande para a Psicanálise, que comparecem cada vez mais para análise (P5). analista (Birman, 2012; Green, 2011; Hornstein, 2013). Nessa linha de raciocínio, apresenta-se, A demanda clínica tornou insuficiente alguns no Quadro 2, a Segunda Categoria Final deste modos de intervenção e, como tantos outros estudo, denominada “A clínica psicanalítica psicanalistas, começamos a complexizar a teoria atual: exigência de trabalho ao psicanalista”. apoiados na obra de Freud e de outros psicanalis- No exercício clínico contemporâneo, a per- tas para tentar dar conta (P3). cepção de patologias que não respondem so- mente à dinâmica neurótica tem contribuído, Há um fio condutor coerente com a his- significativamente, para a atividade de revisão tória inicial da Psicanálise à medida que, ao intrateórica e a ampliação dos alcances da téc- constatarem os desafios oriundos da escuta de nica psicanalítica. Desde os interrogantes clíni- patologias com uma configuração singular, os cos ampliam-se a teoria e a técnica: participantes problematizam as novas deman- das de modo a não criar uma ritualização dog- Vejo na clínica um comparecimento do que a gen- mática da Psicanálise e tampouco recorrem ao te chama de casos difíceis, [...] pacientes barul- rótulo “paciente não analisável” para tampo- hentos, pacientes que nos moldes antigos a gente nar um desafio clínico. Colocam-se no lugar Quadro 2. Segunda Categoria Final - A clínica psicanalítica atual: exigência de trabalho ao psicanalista. Chart 2. Second Final Category - Modern clinical psychoanalysis: Work demands to psychoanalysts. Categorias Iniciais Intermediárias Finais Escuta diferencia se é preciso interpretar ou construir o tecido representacional. Buscar eficácia da Psicanálise nas problemáticas não neuróticas, revisão ampla teoria e técnica. Patologias do A intervenção é ajudar a ligar intensidades. narcisismo: O analista é quem tem a capacidade simbólica. desafios ao Elasticidade do enquadre e falhas representacionais. enquadre. Intervenções distintas das que Freud fazia/ enquadre. Flexibilidade no enquadre com presença organizadora, não reproduzir situações da história do sujeito. A clínica Revisitar a teoria para ampliar e propor teorias de psicanalítica acordo com a clínica. atual: exigência Novas formas de manifestação de dor levam a de trabalho ao Psicanálise a se ampliar e dar conta das várias psicanalista. patologias. A Psicanálise tem que ser inventiva para lidar com o A necessária mal-estar na cultura. atividade do A clínica é soberana. analista diante dos desafios Na prática há rigor teórico e flexibilidade clínica. da experiência Complexizar a teoria de Freud e de outros clínica. psicanalistas para a eficácia da Psicanálise. Até nas neuroses se deve revisar a teoria e a técnica. Auxílio dos fracassos e êxitos a repensar a teoria e o método. A Psicanálise da atualidade sempre é do seu tempo. Contextos Clínicos, vol. 11, n. 1, Janeiro-Abril 2018 113 Impasses e alcances da psicanálise: o empreendedorismo do analista contemporâneo daquele que cria estratégias – teóricas e técnicas cas é a angústia relativa a marcas da história – para abordar a complexidade por meio da que remetem às dificuldades experienciadas qual se apresenta a dor psíquica. no encontro com o outro. Portanto, diante dos estados limites ou das patologias fronteiriças, Tem que estar atento às demandas do paciente. demarcar limites entre o Eu e o outro significa Por um lado, ter uma flexibilidade adequada e, ao instaurar condições de cuidado em relação ao mesmo tempo, uma presença organizadora (P1). si mesmo e à promoção de acesso ao campo da alteridade. Tais considerações manifestam-se Com pacientes fronteiriços é preciso ser um pouco na seguinte fala: mais elástico no enquadre. [...] O que significa? Que há uma falha na representação. Então, quan- São pessoas que às vezes produzem sensação de do o paciente fala, não é uma simbologia, não é profundo desencanto, porque têm tanto medo um simbolismo que remete a outros elementos in- de ficarem fusionadas com o objeto, às vezes a conscientes, não é isso que está em questão (P6). necessidade de um é tão profunda que pode ser excessivamente demandante ou ter uma atitude Faz-se necessário um trabalho mais ati- de desprezo, de maltrato. Temos que fazer um tra- vo do psicanalista na cena analítica diante balho muito bom com a contratransferência, para de fraturas nas possibilidades de expressão não nos sentirmos desencantados e desestimula- simbólica do analisando. Logo, a elasticida- dos muito rapidamente (P1). de do enquadre torna-se fundamental diante de padecimentos que têm sua configuração O analista é ainda mais requisitado em rela- alicerçada nas fraturas da capacidade repre- ção à ética da escuta quando se inquieta dian- sentacional. Green (2011) nomeia que, nessas te dos desafios oriundos da clínica. Segundo situações, além das alterações no enquadre, Green (2008a), o analista não deve encorajar surge a necessidade de um trabalho suple- o paciente a enfrentar seus obstáculos e, tam- mentar do analista. Segundo o autor, a noção bém, não deve ter uma atitude glacial frente de enquadre interno do analista é a criação ne- aos esforços do paciente durante o tratamento, cessária, nestas situações, de um espaço inter- mas manter, sim, uma atitude de neutralida- no no analista no qual se sustenta a qualidade de benevolente. Para o autor, neutralidade e analítica da comunicação. Cabe ressaltar que benevolência não são contraditórias, pois esta o enquadre interno é resultante da própria deve ser pautada em uma atitude de receptivi- análise do analista. Os impasses clínicos e o dade compreensiva, sem que se torne cumpli- decorrente labor analítico são nomeados pe- cidade. A entrevistada P3 aborda a abstinência los entrevistados: na relação analista/analisando: O trabalho hoje é, muitas vezes, criar condições A abstinência, que é imprescindível, significa não de mediações ou de ligações psíquicas que deem fazer uma utilização perversa da situação de um conta da condição, inclusive, de poder fazer que paciente para a própria satisfação pulsional ou um sintoma psíquico não apareça no físico, que narcisista. Então, é poder ter um distanciamento possa aparecer no psíquico [...] A intervenção é em que o objetivo sempre é o processo analítico exatamente essa, de poder criar redes, criar li- do paciente [...] Não significa não estar envolvido gações, criar mediações psíquicas que possam ser afetivamente, não significa silêncio, não significa capazes de transformar isso que é transbordante rigidez, não significa fazer cara de psicanalista em algo ligado, simbólico (P4). clássico (P3). Alguém que não funciona de uma maneira tão A escuta permite que a clínica seja o campo simbólica, expulsa os conflitos através do ato e de confrontação da teoria com a prática, fo- se pode pressupor que houve traumas severos mentando a expansão de um saber que nunca na infância e que essa pessoa possui um déficit se propôs a ser uma “cosmovisão”. Nessa li- representacional. [...] Se lhe peço para deitar-se nha de raciocino, apresenta-se a Terceira Cate- num divã e associar se dará um silêncio, porque goria Final deste estudo, denominada “O ouro há uma espécie de vazio impossível de preencher. da Psicanálise”, conforme Quadro 3. Então trato de ir escutando se há possibilidade de uma interpretação ou se o material convida Percebe-se o quanto é complexo o tensio- a uma construção ou a ajudar a tecer um tecido namento entre demandas clínicas e recursos representacional (P3). teóricos e técnicos. A capacidade de escrita é referida como um recurso encontrado pelos Segundo Garcia e Cardoso (2011), o aspec- participantes para estimular o exercício de re- to fundamental nessas configurações psíqui- flexão e o sistemático aprimoramento técnico: 114 Contextos Clínicos, vol. 11, n. 1, Janeiro-Abril 2018 Silvio Augusto Lopes Iensen, Mônica Medeiros Kother Macedo Quadro 3. Terceira Categoria Final - O ouro da Psicanálise. Chart 3. Third Final Category - Psychoanalysis’ gold. Categorias Iniciais Intermediárias Finais Produção escrita a partir da clínica, da teoria e da experiência de vida. Escrita é fundamental, permite pensar. Após escrita ocorrem apropriações novas que permitem transformações na prática clínica. Ler instala debate sobre questões fundamentais. Importância da transmissão da experiência clínica. Escrita da clínica: Inquietações da clínica geram a escrita. a contínua construção da Produzir escrita é como falar um idioma, para além Psicanálise no de só entender, é se apropriar. trabalho do A Psicanálise tem o poder de interferir no sofrimento, analista. dizer alguma coisa e ser transformador, isso é estimulante para escrever. Escrever tira da zona do conforto, é uma porta que abre outros caminhos. A escrita é como aula (fala), amplia a associação livre, amplia a linguagem; a escuta, por sua vez, amplia-se com a escrita. O ouro da Participar de debates (sociais e clínicos) ajudam os Psicanálise psicanalistas e a Psicanálise como teoria e técnica. As ciências (disciplinas) não devem ser contrapostas, pois há mudanças de paradigmas para todas. A Física e as Ciências Sociais têm permitido um olhar diferente à Psicanálise. Freud dialogou com outras disciplinas. A teoria da complexidade chegou às Ciências Diálogos com Humanas. disciplinas e o cuidado com A relação da Psicanálise com a teoria da o lugar da complexidade. Psicanálise. A subjetividade não está só na Psicanálise, está em todo o processo cultural. Não se pode ceder em determinados conceitos da teoria psicanalítica: sexualidade, pulsão, transferência e narcisismo. O Ouro puro da Psicanálise passa por todos os instrumentos postos na cena particular entre paciente e analista. Sempre que escrevo, escrevo como tentativa de o que já conhece e tentar articular questões a domínio de uma inquietação clínica. A escrita respeito do que a gente ainda não tem formu- em Psicanálise é sempre a partir da necessidade lado (P6). de teorizar, escrever parte de uma inquietação clínica. Como as inquietações clínicas são mui- Sem dúvida, toda a formação teórica reverte sobre tas, eu escrevo muito. Por quê? Porque a es- a clínica. E eu te diria que quando escrevo, inevi- crita é a forma que a gente tem de sistematizar tavelmente, reverte sobre a clínica (P2). Contextos Clínicos, vol. 11, n. 1, Janeiro-Abril 2018 115
Description: