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Imagens Apesar de Tudo PDF

251 Pages·2012·94.83 MB·portuguese
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- GEORGES DIDI-HUBERMAN IMAGENS APESAR DE TUDO Tradução de Vanessa Brito eJoão Pedro Cachopo \ KKYM ILisboa, 2012 SUMÁRIO I. IMAGENS APESAR DE TUDO 15 Quatro pedaços de película arrancados ao inferno Para saber épreciso ima inar-se. Auschwitz A ost ~~tr.a..imag-ens..ape.sar detu o,apesar dos riscos, apesar de sermos inca azes de~ln.o .o.lhas-para-elas - hoje.-O Sonderkommando no seu tra a o.Sobrevivência esolicitação aresistir: emi- tir sinais aoque está de fora. Aimagem fotográfica surge na dobra dodesaparecimen- to próximo da testemunha e da irrepresentabilidade do testemunho: arrancar uma imagem aesse real. Organização da captação de imagens clandestinas. Primeira sec quência: da câmara de-gás do crematório v, imagens das fossas de incineração. S-;: de ~mTIr:"mjãrT1Vre, no bosque de Blrkenau, imagem de uma «remessa» mulFiêfes despidas. Drõlo aêpeHcula, esêõiia-ldb-nunrt\Il5õuepãsfãcfe~tífrica, ch~ga ~ãos da~'P~ia-;; pára-ser-€'iW:iaao «maislo-nge». - .-------- 33 Contra todo equalquer inimaginável Asfo sto de 1944dirigem-se ao inima inável erefutam-no. Primeira época do inimaginável: a«So uçao final» como máquina de «desimaginação» gene- ralizada. Fazer desaparecer apsique das vítimas, asua língua, oseu ser, os seus res- tos, os instrumentos do seu desaparecimento emesmo os arquivos, amemória desse desaparecimento. A«razão na história» sempre refutada por excepções singulares: os arquivos da Shoah são feitos destas excepções. Aaptidão particular da fotografia para sereproduzir esetransmitir apesar detudo: ointerdito absoluto de fotografar os campos de concentração coexiste com aactividade de dois laboratórios fotográficos em Auschwitz. Segunda época do inimaginável: Auschwitz impensável? Épreciso re- pensar os fundamentos da nossa antropologia (Hannah Arendt). Auschwitz indizí- vel? Épreciso repensar osfundamentos do testemunho (Primo Levi). Auschwitz in-i- -........ ~ Ptestar à im~g~a-..IDe§l1la atenção .que se p..!!.sta à Ea~~r~~ testemunhas. Oespaço estético do inimaginável desconhece ahistória nas suas singu- ----- ~. Como Rohert Ante~ Maunce Blanchot e Geore:es Bataille nada sacrificaram ao inimaginável: osemelhante eaespécie humana. 49 No próprio olho da história 11. APESAR DA IMAGEM TODA Para recordar épreciso imaginar. Imagem etestemunho em Filip Müller: imediatismo 73 Imagem-facto ou imagem-fetiche da mónada e complexidade da montagem. Aurgência do presente «fotográfico» e a construção das imagens nosRolosdeAuschwitz. Aimagem como «instante deverdade» Acrítica do inimaginável eoseu retorno polémico. Opensamento da imagem como (Arendt) e «rnónada» que surge onde falha opensamento (Benjamin). Duplo regime terreno político. Asfotografias de Agosto de 1944, sintoma histórico eteórico. «Não da imagem: verdade (asquatro fotografias noolho do ciclone) eobscuridade (ofumo, o há imagens da Shoah». Absolutizar todoorealpara lhe opor aimagem toda, ouhistori- fluído, ovalor lacunar do documento). Oespaço históricodo inimaginável desconhece cizar oreal para observar as imagens lacunares? Uma controvérsia sobre as relações este duplo regime da imagem, pede-lhe muito ou muito pouco, entre pura exactidão e entre factos singulares e teses universais, imagens a pensar e imagem já pensada. o puro simulacro. As fotografias de Agosto de 1944 tornadas «apresentáveis» como Oinimaginável como experiência não éoinirnaginável como dogma. Que aimagem ícones do horror (retocadas) ou «informativas» como simples documentos (reenqua- nãoétoda. Imagens dos campos de concentração: mal vistas, mal ditas. «Há demasia- dradas), sem dar atenção à sua fenomenologia. Elementos desta fenomenologia: a das imagens da Shoah». Que repudiar as imagens não écriticá-Ias. Tese da imagem- «massa negra» easobreexposição, onde nada évisível,constituem asmarcas visuaisda -fetiche, experiência da imagem-facto. O«contacto» fotográfico entre imagem ereal. sua condição de existência e do seu próprio gesto. As imagens não dizem averdade, Ofetiche: otodo, asuspensão, oecrã. Um debate filosófico sobre os poderes da ima- mas são ofragmento, ovestígio lacunar. Olimiar do apesardetudo entre oimpossível gem: véu oudilaceramento? Oduplo regime da imagem. Que oimaginário não éredil- por direito eanecessidade de facto. «Era impossível. Sim. Épreciso imaginar». tível ao especular. Entre o primado das imagens-véu e a necessidade das imagens- -dilaceramento. Susan Sontag e a «epifania negativa», Ka-Tzetnik e o «rapto» 61 Semelhante, dissemelhante, sobrevivente fotográfico, Jorge Sernprún eomomento ético doolhar. «Assistir bruscamente ànossa própria ausência». Para uma crítica vi das imagens da história: restri . oponto de vista (fo 1- ~ n- o(a~ologicamente). Asfotografias de Agosto de 1944como drama 119 Imagem-arquivo ou imagem-aparência da imagem humana enquanto tal: o«inseparável» (Bataille) eosemelhante em ques- tão. Quando ocarrasco vota ohumano aodissemelhante (ecrnanequins», «colunas de Il«leg~órica das imagens não escapa aum momento crítico. Daima~- basalto»), avítima resiste conservando aimagem apesar detudo do mundo, de si,do ~ àimagem-p~ma:gem:af~iw:GÍaude Lanzmann ;;;;jeição do arqui- sonho edo humano em geral (Levi: «mantermo-nos direitos»). Conservar mesmo as ~genS ~m imaginação». O cineasta eo«peremptório». O--ar-q=uiv-o-f-alsific-ad-o imagens da arte: inexactidão, e ao mesmo tempo verdade, da figura dantesca do in- <:..onfundid~quivo verificado. Ahipótese do «filme secreto» eapolémica entre ferno (Lasciate ognisperanza...).Orecurso àimagem como necessidade lacunar: défi- Lanzmann e Sernprún. Acerteza hiperbólica eoimpensável da imagem. Repensar o ce de informação ede visibilidade, necessidade do gesto edo aparecimento. Asfoto- arquivo: abrecha na história ue seconcebe, ogrão do ac .mento. Contra ocepti- grafias de Agosto de 1944 como coisassobreviventes: atestemunha não sobreviveu às cismo radical em história. Repensar a pro a com a prova. Repensar o testemunho: imagens que extraiu deAuschwitz. Tempo do clarão etempo da terra, instante esedi- nem diferendo, nem silêncio puro, nem palavra absoluta. Contar apesardetudo oque mentação: necessidade de uma arqueologia visual. Walter Benjamin perante a«ima- éimpossível contar totalmente. Otestemunho dos membros doSonderkommando para gem autêntica do passado». além da sobrevivências das testemunhas. OsRolosdeAuschwitz, adesmultiplicação do testemunho e o «rolo» fotográfico de Agosto de 1944. Repensar a imaginação para ~ além da oposição entre aparência everdade~ma «imagem sem imaginação»? [~ean- artre, ou a imagem como a,c--o.. A quase-observação. Porta ou janela? A«margem de imagem» eaordem das duas sequências: inverter asperspectivas. 155 Imagem-montagem ouimagem-mentira Q~o .i.!!lligws-,.duas.se~IJ~ ~mamintag~~onhecimento~a montagem: um acesso àssingulari ades otempo. Aimagem-n-ã-o-énemnada, nem ,-........ ~ c!:!:..m~a, todJ!.. eLanzman ean-Luc o ar :montagem centnpeta emon- tagemcentrífuga. «Nenhuma imagem» nosdiz oquefoiaShoah,mas «todas asima- gens» nãofalam senão disso.Dapolaridade àpolérnica:osdoissentidos doadjectivo «mosaico». Umaúnica imagemtoda ouumdeboche deimagens parciais?Momentos fundadore~s: mem-ória epresente emAlainResnais, arquivoetestemunho emMarcel Ophuls. «Éprecisomostrar oquenãogodemos ver».Amontagem-narrativa deLanz- -- mann eamontagem-sintoma deGodard. Quando mostrar nãoéfalsificar,masfazer r ----_ - surgiruma «forma quepensa» etornar aimagem dialéctica. «Mesa crítica»: ocine- - - rTIãinóstra ahistória re-montando-a. Dachau montado comGoya,Elisabeth Taylore Giotto.Anjoda ressurreição segundo SãoPaulo ouanjoda história segundo Walter Benjamin?Umadialéctica semacabamento. 191 Imagem parecida ouimagem que quer parecer Doispontosdevistaconfrontados soboolhardeumterceiro.~ar, mas diss~er assemelhan~síveis asassimilações. Oparecido'nãoé nemoquequerparecer, nemoidêntico. Sósiasediferentes: ojudeu eoditador segun- doCharlie Chaplin. Ashipérboles especulativas doirrepresentável edoinimaginá- vel.«Para saberéprecisoimaginar-se». Aimagem nocernedaquestão ética.Hannah Arendt e aimaginação como faculdade política. Emque é que uma imagem pode «salvar ahonra» deuma história? Redenção nãoéressurreição. AEndlõsung eaErlo- sung:deKafkaeRosenzweig aScholemeBenjamin. «Averdadeira imagem dopassa- dopassa pornósnum clarão». Omodelo docinema: imagens fugidias e,noentanto, pregnantes. Aredenção fílmica segundo Siegfried Kracauer.Realismo crítico:aima- gemdesmonta etorna amontar oscontínuos espaciais etemporais. Perseudiante de Medusa:aastúcia doescudo, acoragem deconhecer edeenfrentar apesar detudo. A imagem naépocadaimaginação dilacerada: acrisedacultura. Abrirpelaimagemdo passado opresente dotempo. - - 231 Nota bibliográfica 233 Bibliografia Diz aos teus amigos econhecidos que, senão voltares, éporque oteu sangue parou eseimobilizou aover estas cenasatrozes ebárbaras, aover como pereceram ascrianças inocentes esem protecção domeu povo sóeabandonado. Diz-lhes que, seoteu coração setransformar em • [pedra], oteu cérebro em frio mecanismo de pensamento eoteu olho em simples máquina fotográfica, também não voltarás aoseu encontro. [...]Aperta-me bem amão, não tremas [lacuna] porque deverás ver coisas ainda piores. Z. GRADOWSKI, «Rouleaux d'Auschwitz, I»,p.24-25. I. IMAGENS APESAR DE TUDO [...]mesmo deteriorado um simples rectângulo de trinta ecinco milímetros salva ahonra de todo oreal. J.-L. GODARD, Histoire(s)ducinema, I,p.86. QUATRO PEDAÇOS DE PELíCULA ARRANCADOS AO INFERNO Y-. _Pa!.(t.~a_t:é.e.E:...~fiso LmaginªI~~e. Devemos tentar imagp'~r o 'lu!::..foioinferno de Aus~~ ~e~o .de194~\Não invoquemos oinimaginável. Não nos pro- tejamos dizendo que de qualquer forma não opodemos imaginar - oque éver- dade -,jáque não poderemos imaginá-lo inteiramente. Masdevemos i~iná-Io,~ e~e imagi~ável tão pesado. Como uma resposta que seoferece, como uma dívi- da contraída para com aspalavras easimagens que alguns deportados arranca- ram, para nós, aopavoroso real da sua experiência. Não invoquemos, portanto, , - """-i • oinimaginável. Era tão mais difícil, para os prisioneiros, arrancar aos campos de concentração estes escassos pedaços de que somos agora depositários, com o peso de ossustermos apenas com um olhar. Estes pedaços são-nos mais precio- sos e menos apaziguadores do que todas as obras de arte possíveis, pois foram arrancados aum mundo que os tinha por impossíveis. Imagens apesar de tudõ,'r portanto: apesar do inferno de Auschwitz, apesar dos riscos corridos. Em retri- buição, devemos contemplá-Ias, assumi-Ias, tentar dar conta delas. Imagens apesar de tudo: apesar da nossa própria incapacidade de sabermos olhar para elas como elas mereceriam, apesar donosso próprio mundo repleto, quase sufo- cado, de mercadoria imaginária. -- •.. - -- Entre osprisioneiros deAuschwitz, aqueles aquem osSSquiseram erradicar aqual- quer preço apossibilidade de testemunhar foram, evidentemente, osmembros do Sonderkommando, o«comando especial» de detidos que geriam com assuas pró- .:priasmão~'~-e~t~~ínio em massa. OsSSsabiam de antemão que uma sópalavra deumsobrevivente doSonderkommando tornaria caducas todas asdenegações, to- das as argúcias ulteriores so~ o ~de massacre dqs.judeus da Europa.' «Ter E,comelas, todos ossofismas com osquais, tanto quanto meparece, nãonospodemos extasiar filosofica- mente. Cf J.-F.LVOTARD,LeDifférenâ, p.16-17(queanalisa desta forma oargumento negacionista: «[...] para identificar um local como sendo uma câmara degás, sóaceito como testemunha uma vítima dessa câmara degás;ora, segundo omeu adversário, todas essas vítimas estão mortas, caso contrário esta câ- mara degásnão seria aquilo que elepretende; nãohá,portanto, câmaras degás.»), rl~ GEORGES DIDI-HUBERMAN I. IMAGENS APESAR DE TUDO concebido e organizado as equipas especiais foi o crime mais demoníaco do das tiveram de assistir àexecução)," Reconhecer o~_seusenada dizer. Verentrar nacional-socialismo», escreve Primo Levi. «Fica-se atónito perante este paroxis- homens, mulheres ecrianças na câm,.ff"~a'l'I'r~-a de gás. Ouvir .op«s"gf"r"Ci/it:t(oI:"'is4'<,~~o>I"s'\o""~m. ovimentos mo deperfídia ede ódio:~~'y'iarps.erq~j!lª~U~~~~~~l1~s fornos ?sjudeus, ~evja- bruscos, as agonias. Esperar. Receber de uma assentada o «indescritível empi- ",,·-sedemonstrar que osjudeus [...]severgavam atodas ashumilhações, inclusiva- lhamento humano» - uma «coluna de basalto» feita de carne, da sua carne, da ~_~én;:~~Si-~.2 ,sÓ: ~.. ..-..-~"'~- --... nossa própria carne - que se desmorona à abertura das portas. Tirar os corpos ..i--- O primeiro Sonderkommando de Auschwitz foi criado a4 de Julho de 1942, um aum, despi-Ios (pelo menos antes dos nazis terem imaginado asolução do aquando da «selecção» deuma remessa dejudeus eslovacos destinados àcâma- vestiário). Lavar àmangueira todo o sangue, todos os líquidos, todo opus acu- ra de gás. Doze equipas sucederam-se apartir dessa data: eram suprimidas ao mulado. Extrair os dentes de ouro para oespólio do Reich. Introduzir os corpos fimde alguns meses, «e ainiciação da equipa seguinte consistia em queimar os na fornalha dos crematórios. Manter a inumana cadência. Alimentar o coque. • cadáveres dos seus predecessores»." Para estes homens, uma parte do horror Retirar as cinzas humanas debaixo dessa espécie de «matéria informe, incan- /.,~f consistia no facto de toda asua existência ser mantida, até ao inelutável gasea- descente eesbranquiçada que seescoava em regatos [eque] ao arrefecer ganha- /í~\Yj mento da equipa, em segredo absoluto: os membros do Sonderkommando não vaum tom acinzentado» ...Triturar os ossos, essa última resistência dos pobres 1lJf/í deviam ter qualquer contacto com osoutros detidos, ainda menos com qualquer corpos àsua industrial destruição. Fazer pilhas com tudo isso, deitar esses restos «mundo exterior», enem sequer com osSS«não iniciados», ouseja, com osque aoriomais próximo ouutilizá-los como material para aterraplenagem da estra- ignoravam ofuncionamento exacto das câmaras degás edos crematórios." Do- da em construção perto docampo de concentração. Caminhar sobre cento ecin- entes, estes detidos em segredo não eram admitidos no hospital do campo de quenta metros quadrados de cabeleiras humanas que quinze detidos tentam concentração. Eram mantidos numa subserviência total eno ernbrutecimento - cardar em cima de grandes mesas. Pintar por vezes ovestiário, construir as se- oálcool não lhes era recusado -provocado pelo seu trabalho nos crematórios. bes de vegetação - camuflagem -, escavar fossas de incineração suplementares ~ Oseutrabalho? Énecessário repeti-lo: ~ip~~ a~o.:te?e milhares de s~- para os gaseamentos excepcionais. Limpar, reparar os fornos gigantes dos cre- II1Eelha.~. Sertestemunha ~t~!?_d~~.~ltimos ~o~ent~~~~ohrigadQ a~~!1- matórios. Recomeçar todos os dias sob a ameaça dos SS.Sobreviver assim por ii ~31i_ao-fimjum membro do Sonderkommando que quis informar as vítimas um tempo indeterminado, inebriados, trabalhando dia enoite, «correndo como ;acerca doseu destino foiqueimado vivonofogodocrematório eosseus camara- possuídos para terminar omais depressa possível»." «Eles não tinham figura humana. Eram rostos destroçados, enlouquecidos», disseram osdetidos que osconseguiram ver."Elessobreviviam, contudo, duran- P.LEVI,OsqueSucumbem eosqueseSalvam, p.49e51. te otempo que os deixavam sobreviver, na ig~~h;ia dã târefa que êÜrÍ1priãffi. Ibid., p.48. Ommemli'~()-da-é'(í1.lÍparespõndé';d~m~~guintêfõrmaã um'idctid~ qúe lhe.per- 4 F.MÜLLER,Troisansdans unechambre àgaz d'Auschwitz, p.61.Filip Mül!er reconstitui ocaso raríssimo guntou como podia suportar semelhante trabalho: «É claro que me podia atirar deum membro doSonderkommando que escapou acinco liquidações sucessivas. Acerca deste funciona- para cima dos fioseléctricos, como fizeram muitos dos meus camaradas, mas eu mento edoseu secretismo, cf.G.WELLERS,LesChambres àgaz ontexisté. E.KOGON,H.LANGBEINeA. RÜCKERL,LesChambres àgaz secretd'État. l.-C.PRESSAC, Auschwitz: Technique and Operation ofthe GasChambers. l·-C.PRESSAC,OsCrematórios deAuschwitz (quenanota dap.64refere: «[..•]não havia precedentes dematar deuma sóvez,comuma dose degás, num espaço fechado, centenas dehomens, eo H.LANGBEIN,Hommes etfemmes àAuschwitz, p.202. segredo que envolvia aoperação atingia aindamais aimaginação dos não participantes, SSoudetidos, F.MÜLLER,Troisansdans unechambre àgazd'Auschwitz, p.104,136,158-159,169-173e167-180. H.LAN- quetinham recebido aproibição formal deobservarem oseudesenrolar»). U.D.ADAM,«Les chambres à GBEIN,Hommes et[emmesàAuschwitz, p.191-202. gaz», p.236-261.F.PIPER,«GasChambers and Crematoria», p.157-182. H.LANGBEIN,Hommes etfemmes àAuschwitz, p.193. 16 17 GEORGES DIDI-HUBERMAN I. IMAGENS APESAR DE TUDO - quero viver [...]. Neste trabalho, quando não enlouquecemos no primeiro dia, tes, quase ilegíveis, destes escravos da morte.>' Eram uma espécie de Garrafas habituamo-nos aele»." Maneira de falar. Alguns dos qu,e--se--julgavam «habitu.a- deitadas aterra, excepto que eles nem sempre tinham garrafas para preservar as -"d.os»S;atiraram-se simplesmente para aschamas. suas mensagens. Na~me~lh-o-r::d=as=hi~pó~te-s-es-,-.u_m-a-m--.a.-r,.m-..--i.t_.a.._em--f_.e,.r.r._o-e.s-m-a-l-ta-d-o-.v tal sobre\rivêh:cia"ultrap;ssa qualquer Juízo moral (como escreveu Primo Estes escritos sãoatravessados por duas condicionantes complementares. Levi)? e qualquer conflito trágico (como comentou Giorgio Agamben),'? qual Por um lado, pelo inelutável desaparecimento da própria testemunha: «Os SS J poderá ser o significado, nestas circunstâncias, do verbo resistir? Revoltar-se? repetem-nos frequentemente que não deixarão sobreviver uma sótestemunha». Era uma forma digna de se suicidar, de antecipar a eliminação prometida. No Mastambém pelo'reçelo de q•.u•.•'e o,,__ p~róp-rC',"i"'"o.,0.;test•em"funhoi,,', desap.<a.•re(_ç/',~a;, ai'_nda,... que -;;0) final de 1942,um primeiro projecto de rebelião falhou. Mais tarde, não sobrevi- transmi,tãô;;-;x';;ior: nãó CQrrí..ele õ'risco de ser incompreensível,,ia~ . veu nenhum dos quatrocentos ecinquenta homens envolvidos nogrande motim insen.~sato.,~ i~n~im•agi_náve.hl?,.c<,«O q,ue .s-.-.-e,c..,..p>Ja' ss-oia:>,va ••;,e-xrr..ac'.t..amenie~: - c_onfidenciava Za. l- ,..,. ""-',- de Outubro de 1944 - pelo menos ocrematório IV foi incendiado e destruído -, men Lewental aopedaço de papel prestes aserenterrado -, nenhum serhumano dos quais «apenas» trezentos iam ser em breve gaseados.'- écapaz de orepresentars.>" Neste desespero fundamental, o «ímpeto para resistir» provavelmente apartou-se dos próprios seres, votados ao desaparecimento, para se fixar em si- nais aemitir para lá das fronteiras do campo de concentração: «Como informar Foina dobra destas duas impossibilidades - desaparecimento próximo da teste- omundo acerca das atrocidades que aqui secometiam era anossa maior preocu- munha, irrepresentabilidade garantida dotestemunho -que surgiu aimagem fo- paçâo»,"? Assim, em Abril de 1944, Filipe Müller reuniu pacientemente alguns tográfica. Um dia, noVerãode 1944, osmembros doSonderkommando sentira~ documentos - um plano dos crematórios IV eV, uma nota sobre oseu funciona- a imperiosa~~,"n,"'~e'~'cessidade, que'i!I<t""ã""'o" '.~per_,i.-g,.:.os.a...--'"er~a p•••a;-"r'"'a~, ele""f:sY-, d••A•eI$lIóliloa-.:;"r'<ranc,",!a:,,"rem_,. ao seu mento, uma lista dos nazis em funções, bem como uma etiqueta de Z-yklon B- e trabalho infernal algumas fotografias susceptíveis de testemunharem aespecifi- entregou-os adois prisioneiros que tentavam evadir-se.P T.e.n.-ta-~iv.ê...9uetodos os cidade do horror eda amplitude do massacre. Arrancar algumas imagens aquele/ I ~r~~do.Son4e.~~?"'?!~n:~~n~o ~~~ia~,~~r.si~~~~io~~~ real.Mas também -uma vez que uma imagem éfeita para servista por outrem - lS§.s? que, por vezes.eles _confiavamOS seus testemunhos ao segredo da terra: as para arrancar ao pensamento humano em geral, o pensamento do «fora», um t r , esca-;ações-efé~tuadas nos arr,e,dore,sdos,cre".-m-'atóriostle--Auschwi,tZ"tFouxeram imaginável para aquilo de que ninguém, até então (mas issojáédizer muito, pois I~ -....... luz do dia - fre.quentemente 'i'.rniito aep....ãis d~Libert~a"~ç~"ã'"o - o;escr-it-as- é- õmoven':- tudo foiprojectado antes de ser posto em prática), entrevia apossibilidade. ~ Não deixa de ser perturbante que um tal desejo de arrancar uma imagem se tenha concretizado no momento mais indescritível - como o qualificamos fre- quentemente - do massacre dos judeus: omomento em que já não havia lugar - 8 Ibid.,p.194-195. naqueles que assistiram, estupefactos, a esse massacre - para o pensamento e 9 P.LEVI,OsqueSucumbem eosqueseSalvam, p.56.(«[...]creioqueninguém está autorizado ajulgá-Ios,não quem tenha conhecido aexperiência doLager, emuito menos quem não aconheceu»). 10 G.AGAMBEN,Cequi rested'Auschwitz, P.125. 11 F.MÜLLER,Troisansdans unechambre àgazd'Auschwitz, p.2°9-222. Adocumentação sobre osefeitos da 14 Cf. L.POLIAKOV,Auschwitz, p.51-55ep. 132-141.B.MARK,Desvoix dans Ianuit. La résistance juive à revolta foireunida por I.-C. PRESSAC,OsCrematórios deAuschwitz, p.172.Sobre aexecução pública dos Auschwitz-Birkenau. N.COHEN,«Diaries ofthe Sonderhommando», p.522-534. últimos motins, cf.P.LEVI,Seistoéumhomem, p.164-166. 15 Acerca dadescrição física dosRolosdeAuschwitz corroídos pela humidade e,portanto, parcialmente ile- 12 F.MÜLLER,Troisansdans unechambre àgazd'Auschwitz, p.118. gíveis, Cf.B.MARK,Desvoixdans Ianuit, p.179-19°. 13 Ibid., p.163-166. 16 Citado por H.LANGBEIN,Hommes etfemmes àAuschwitz, p.3. 18 19

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