ISBN 85-7013-041-4 # # # # II Simpósio Latino-Americano de I Encontro Brasileiro de Termin Técnico • Científica ANAIS Brasília - Brasil 10 a 14 Setembro /90 001.4:5/6(7/8=4)(042.3) S612 ex.4 UNION LATINA UNION UTINK SCT/PR CNPq IBICT República Federativa do Brasil Ministério da Ciência e Tecnologia Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia II Simpósio Latino'Americano de Terminologia I Encontro Brasileiro de Terminologia Técnico Científica • ANAIS Brasília - Brasil 10 a 14 Setembro/90 0 0 i . q \ 5/C ( l / f c H) (o VA. 3) S C 4 2 J 2 X - H Brasília 1992 IBICT ÊkCNPq UNION LATINA UNION IjVrjNE CONSELHO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO INSTITUTO BRASILEIRO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO DEME ICNIFÊONRCMIAA ÇE ÃTOE CNOLOGIA UNIONE LATINA UNIÃO LATINA BIBLIOÍECA , UNIUNEA LATINÃ, DO jl B I C T © 1992.IBICT É permitida a reprodução total ou parcial desde que citada a fonte. Esta obra foi publicada com recursos provenientes do Programa de Cooperação Técnica IBICT-União Latina. Comissão Organizadora do II Simpósio Latino-americano de Terminologia e I Encontro Brasileiro de Terminologia Técnico-científica. * Presidente Maria Carmen Romcy de Carvalho " Secretário Geral Bianca Amaro de Melo - IBICT * Relator Geral Enilde L. de J. Faulstich - UnB " Comissão Técnica Enilde L. de J. Faulstich - UnB Francisco Gomes de Matos - UFPE Hagar Espanha Gomes - UFF Nelly Medeiros de Carvalho - UFPE * Comissão de Divulgação de Apoio Carlos André A. de Freitas - IBICT Elizabeth Falluh - IBICT José Reis - IBICT Walter Alves Pinto - IBICT * Colaboração Especial Doris Sanches Pinheiro Simpósio Latino-americano de Terminologia (2:1990 : Brasília) Anais do II Simpósio Latino-americano de Terminologia e I Encontro Brasileiro de Terminologia Técnico-científica. Brasília : IBICT; Paris : União Latina, 1992. 436p. l.Terminologia. 2.Tradução técnico-científica I.Encontro Brasileiro de Terminologia Técnico-científica (1:1990 Brasília). II. União Latina. ISBN 85-7013-041-4 CDU 801.316.4 INSTITUTO BRASILEIRO DE INFORMAÇÃO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA (IBICT) SAS Quadra 5, Lote 6, Bloco H 70070-000 Brasília, DF TEL: (061) 217-6161 Fax 226-2677 Telex 2481 CICT BR SUMÁRIO APRESENTAÇÃO.....................................................................................................................................9 CONFERÊNCIA DE ABERTURA - Prof. Antonio Houaiss ..................................................................11 PAINÉIS A TERMINOLOGIA COMO UM FATOR INIBIDOR DA TRANSFERÊNCIA DE TEC-NOLOGIA. Aldo de Albuquerque Barreto ......................................................................................19 TERMINOLOGIA E TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA. Guido Irineu Engel, Bristol BiscarraNeto....................................................................................................................................................22 NOMENCLATURA, TERMINOLOGIA E NORMALIZAÇÃO TÉCNICA. Mario Gilberto Cortopassi .......................................................................................................................................................39 DIFICULDADES DE DIVULGAÇÃO E USO DE TÉCNICAS DE INFORMÁTICA NA MICRO, PEQUENA E MÉDIA INDÚSTRIA DEVIDO AO USO EXCESSIVO DE ESTRANGEIRISMO. José Rousso...........................................................................................................44 A TERMINOLOGIA EA HIERARQUIZAÇÃO DE IDÉIAS. Carlos Casal da Veiga..................47 CREACIÓN DE UN BANCO DE DATOS TERMINOLOGICOS: ALGUNAS PERSPECTIVAS TEÓRICAS. Ana Maria Burdach R., M. Isabel Diéguez M., Rosa Maria Lazo R....................................59 BANCOS DE DADOS TERMINOLÓGICOS: A EXPERIÊNCIA DA FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. Doris Sanches Pinheiro ..................................................................................................................................64 TRADUÇÃO AUTOMÁTICA HOJE: UMA VISÃO PANORÂMICA. Ulf G. Baranow.................67 OS DESAFIOS DA TRADUÇÃO AUTOMATIZADA. Paltonio Daun Fraga....................................78 LA INFORMACIÓN EN LA TRADUCCIÓN TÉCNICO CIENTIFICA. PERSPECTIVAS DE LA T A.C. Y DE LA T.A. Ricardo A. Gietz...................................................................................................81 ALGUMAS NECESSIDADES DE SUPORTE DA TRADUÇÃO TÉCNICO-CIENTÍFICA PROFISSIONAL ASSISTIDA POR COMPUTADOR NO BRASIL. Francis Henrik Aubert. . .. 89 PROYECTO DE CREACIÓN DE UNA BASE DE DATOS TERMINOLÓGICOS PARA AMÉRICA LATINA Y LA PENÍNSULA IBÉRICA Y DE ARMONIZACIÓN DE LAS BASES DE DATOS TERMINOLÓGICOS EXISTENTES EN LA REGIÓN. Daniel Prado..........................92 LA RED IBEROAMERICANA DE TERMINOLOGÍA. RETROSPECTIVA Y PERSPECTIVAS. Michèle Boroni de Sánchez-Vegas..................................................................................102 CLADESY LA COOPERAQÓNEN TERMINOLOGÍA. CEPAI7CLADES: Grupo Terminológico. . 106 ACTIVIDADES EN TERMINOLOGIA PARA EL QUINTO CENTENÁRIO. Francisco Marcos Marín, Aurora Martin de Santa Olalla.............................................................................................................112 O GRUPO DE TRABALHO DE LEXICOLOGIA, LEXICOGRAF1A E TERMINOLOGIA DA ANPOLL: TRATAMENTO DO LÉXICO E PRODUÇÃO DE OBRAS LEXICOGRÁFICAS E TERMINOLÓGICAS. Maria Aparecida Barbosa.........................................................................................116 ATIVIDADES TERMINOLÓGICAS DO IBICT: SUBSÍDIOS AO DESENVOLVIMENTO DA ÁREA NO BRASIL. Maria Carmen Romcy de Carvalho.............................................................................125 SESSÕES DE COMUNICAÇÕES COOPERACIÓN TERMINOLOGICA EN ECONOMÍA, ADMINISTRACIÓN Y CON- TABILIDAD: UN CASO PRACTICO - Maria Cristina Ego-Aguirre Lopez-Albujar...........................131 OBSERVATÓRIOS DE NEOLOGISMOS CIENTÍFICOS E TÉCNICOS DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO - leda Maria Alves ..................................................................................................138 iLINGÜÍSTICA COMPUTACIONAL OINGENIERÍA DEL LENGUAJE? - Gladys Dávalos Arze . . 141 INDEXAÇÃO: PONTO DE VISTA DOS AUTORES DE ARTIGOS CIENTÍFICOS VERSUS INDEXADORES - João Luiz Moreira Coutinho Azevedo, Dinah Aguiar Población, Saul Goldenberg . 145 LEXICOLOGLA, LEX3COGRAFIA, TERMINOLOGIA, TERMINOGRAF1A, IDENTIDADE CIENTÍFICA, OBJETO, MÉTODOS, CAMPOS DE ATUAÇÃO. Maria Aparecida Barbosa . . . 152 INDEXAÇÃO AUTOMÁTICA DE DOCUMENTOS COM "PRECIS SOFTWARE" NO SERVIÇO DE BIBLIOTECA E DOCUMENTAÇÃO DA FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE BAURU (USP). Regina Célia Baptista Belluzzo, Mariângela Spotti Lopes Fujita, Eliane Falcão Tuler Xavier, Maria Helena Souza Ronchesel, Valéria Cristina Spina Trindade, José Roberto Brejão..............................159 PROJETO LEXICOGRÁFICO SOBRE A LÍNGUA PORTUGUESA (VARIANTE BRASILEIRA, LÍNGUA ESCRITA). Maria Tereza Camargo Biderman, Guiomar Fanganiello Calçada, Paltonio Daun Fraga ......................................................................................................................165 FUNDAMENTOS DE TERMINOLOGIA: CONCEITOS NECESSÁRIOS NA FORMAÇÃO DE TRADUTORES - AVALIAÇÃO E CRÍTICA. Maria Candida Rocha Bordenave..............................170 ALGUMAS REFLEXÕES A FAVOR DA DIFERENCIAÇÃO ENTRE TERMINOLOGIA E TERMINOGRAFIA. Catherine Carras........................................................................................................174 TERMINOLOGIA E LINGÜÍSTICA: ASPECTOS IDEOLÓGICOS, LEXICOGRÁFTCOS E METODOLÓGICOS. Nelly Medeiros de Carvalho...................................................................................176 TERUSB III: A SYSTEM DESCRIPTION AND SOME OBSERVATIONS CONCERNING THE FUNCTIONS OF TERMINOLOGICAL DATA BANKS (TDB’S). Dolores Raventós de Castro, Iván Centeno Román.........................................................................................................................................181 TESAURO CNI. Confederação Nacional da Indústria.............................................................................187 BTUCI: ESTADO DE AVANCE DEL PROYECTO DE INVESTIGACIÓN SOBRE LA CREACIÓN DE UN BANCO DE DATOS TERMINOLOGICOS DE LA PONTIFÍCIA UNTVERSIDAD CATÓLICA DE CHILE. M. Isabel Diéguez M..............................................................197 TECNOLETO DOS LINGÜISTAS EM BANCO DE DADOS EM FORMAÇÃO. Emmanoel Santos . 201 METODOLOGIA PARA PROJETO TERMINOGRÁFICO. Enilde L. de J. Faulstich.....................206 LA ASIGNACIÓN DE TÉRMINOS EQUIVALENTES EN LOS ENCABEZAMIENTOS DE MATÉRIA: UN PROBLEMA TERMINOLOGICO. Maria Eugenia Franceschi.................................218 TERMINOLOGIA: UNIFORMIZAÇÃO VS. CRIATIVIDADE. Isabel Pettermann Fraústo . . . 228 DICIONÁRIO DE TERMOS ARQUIVÍSTICOS (SUBSÍDIOS PARA UMA TERMINOLOGIA ARQUTVÍSTICA BRASILEIRA). Maria José Rabello de Freitas ........................................................232 LINGUAGEM DOCUMENTÁRIA EM ODONTOLOGIA: UMA APLICAÇÃO DO SISTEMA DE INDEXAÇÃO "PRECIS". Mariângela Spotti Lopes Fujita ..............................................................235 OBSERVAÇÕES SOBRE A TERMINOLOGIA DAS CIÊNCIAS AGRÁRIAS. Alfeu Garcia Junior . 249 CLASSIFICAÇÃO E TERMINOLOGIA. Hagar Espanha Gomes, Maria Luiza de Almeida Campos . 252 A RECUPERAÇÃO TEMÁTICA DA INFORMAÇÃO EM DIREITO DO TRABALHO NO BRASIL: PROPOSTAS PARA UMA LINGUAGEM DE INDEXAÇÃO A PARTIR DE ESTUDO CRÍTICO-COMPARATIVO DAS LINGUAGENS UTILIZADAS EM CENTROS ESPECIALIZADOS NA AREA. José Augusto Chaves Guimarães........................................................259 FROMMC4 TO MC5: AN EVOLUTION IN TERM BANK MANAGEMENT. Jean-Michel Henning . 279 LA FORMACIÓN DE TERMINOLOGOS EN ESPANA. Amelia de Irazazábal, Teresa Abejón, Sofia Alvarez....................................................................................................................................................284 ESTADO ACTUAL DE DESARROLLO DE LA RED EBEROAMERICANA DE TERMINOLOGÍA EN ESPANA. Amelia de Irazazábal, Sofia Alvarez, Teresa Abejón, Antonio Valle Bracero.....................289 PROJETO CONE SUL: PESQUISAS TERMINOLÓGICAS E TRADUÇÃO. Maria da Graça Krieger, Teresinha Fávero, Sonia Gehring, M. Lúcia Lorenci....................................................................294 USO DE FERRAMENTAS AUTOMATIZADAS PARA EXPANDIR PROCEDIMENTOS DE INDEXAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO ATRAVÉS DO USO DE BANCOS DE TERMOS. Roseane R. Velho Lopes .............................................................................................................................................296 COOPERACIÓNIBEROAMERICANA EN TERMINOLOGÍA: UN PUNTO DE VISTA DESDE CATALUNA. Isidor Marí .............................................................................................................299 UM DESAFIO TERMINOLÓGICO AOS LINGÜISTAS: A CONSTRUÇÃO DE GLOSSÁRIOS. Francisco Gomes de Matos...........................................................................................................................306 O CADASTRAMENTO DE FONTES TERMINOLÓGICAS. Bianca Amaro de M elo.....................309 TERMINOLOGIA: TRADUÇÃO E ADAPTAÇÃO. Haruka Nakayama............................................312 TIPOLOGIA DAS OBRAS TERMINOLÓGICAS. Haruka Nakayama ...............................................317 A TERMINOLOGIA E SUA IMPORTÂNCIA NA TRANSFERÊNCIA TECNOLÓGICA. Yeda de Lima Pacheco.............................................................................................................................................319 ADEFIMÇÃODOTERMQASPECTOSSEMÂNnCOSEASPECTÜSPRAGMÁTICOS.LuisAS.Passeggi . . 325 AS TRÊS FASES DO NEOLOGISMO TÉCNICO-CffiNTÍFICO. Éda Heloisa T. Pilla.....................331 OBSERVAÇÕES SOBRE A TERMINOLOGIA DO TURISMO. Rosane Aparecida Rabelo . . . 335 YATIRI: HERRAMIENTA PARA LA INFORMÁTICA LEGISLATIVA Iván Guzmán de Rojas . . 338 FORMAÇÃO PROFISSIONAL: TECNOLOGIA, TERMINOLOGIA E DOCUMENTAÇÃO. João Gomes dos Santos ..............................................................................................................................345 CADENA INFORMATIZADA PARA LA CONFECCIÓN AUTOMATICA DE TESAUROS VERSIÓN MICROORDENADOR. Emilio Laguna Serrano, Amelia de Irazazábal Nerpell, Antonio Valle Bracero, Adolfo Valle Bracero ..........................................................................................................349 VOCABULÁRIO TÉCNICO-CIENTÍFICO DE ENFERMAGEM. Ir. Cleamaria Simões ... 355 GERAÇÃO DE GLOSSÁRIOS TÉCNICOS: PROPOSTA METODOLÓGICA. Zaudirene Ramos de Sousa .........................................................................................................................................................360 INSTRUMENTOS DE CONTROLE TERMINOLÓGICO: LIMITES E FUNÇÕES. Maria de Fátima Moreira Tálamo, Marilda Lopes Ginez de Lara, Nair Yumiko Kobashi, Vânia Mara A Lima ..................364 A GUERRA VAI COMEÇAR... A TERMINOLOGIA TÉCNICO-CIENTÍFICA NA AGRONOMIA: PARECERES DE QUATRO FILÓLOGOS. Lígia Abramides Testa . . . . . . . 371 UMA EXPERIÊNCIA EM NORMALIZAÇÃO TERMINOLÓGICA EM TECNOLOGIAS DE PONTA. Romero Tori, Doris Sanches Pinheiro, Leland McCleary ........................................................387 LÉXICO TERMINOLÓGICO DA PRODUÇÃO CIVIL. Isar Trajano, Carl Vicente Limmer, Orlando Celso Longo ....................................................................................................................................391 ASPECTOS LOGICO-LINGÜÍSTICOS DE LAS RELACIONES EN LA RECUPERACIÓN DE INFORMACIÓN. Lucila Obando Velasquez ...........................................................................................394 MANUAL TEÓRICO-METODOLÓGICO PARA LA CONSTRUCCIÓN DE TESAUROS HIS- TORICOS (MEMÓRIA URBANA). Oscar de J. Saldarriaga Velez, Olga Lucia Zuluaga de Echeverri . . 401 MECANISMOS DE TRADUÇÃO DO VOCABULÁRIO CIENTÍFICO PARA O DISCURSO COTIDIANO. Lilian M. Simões Zamboni .................................................................................................412 A NORMALIZAÇÃO TERMINOLÓGICA E O DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO. Anne Marie Zemgulis, Márcia Carnaval Valporto de A. Maltoni ...........................................................419 RELATÓRIO FINAL . . . ......................................................................................................................425 IIASAMBLEA DE LA RED IBEROAMERICANA DE TERMINOLOGÍA...................................433 ÍNDICE DE AUTORES...............................................................................................................................436 APRESENTAÇÃO O II Simpósio Latino-americano de Terminologia e o I Encontro Brasileiro de Ter minologia Técnico-científica teve como tema central a terminologia técnico-científica e como temas específicos a padronização terminológica, princípios técnicos, metodologia da pesquisa terminológica, formação profissional, documentação e terminologia e a termi nologia e sua relação com outras disciplinas. Os 67 trabalhos estão apresentados segundo a estrutura do Simpósio em Painéis e Sessões de Comunicações. A programação do I Encontro constou da composição de 3 Grupos de Trabalho nos temas Normalização Terminológica, Tesauro em Ciência e Tecnologia e Produção de Instrumentos Terminográficos, cujos resultados encontram-se também neste volume. Por fim consideramos de grande importância o registro nesta obra do Relatório Final dos eventos, cujas recomendações servem como propostas para o desenvolvimento de projetos de pesquisa e diretrizes de planos de trabalho para órgãos governamentais e privados que atuam no campo da palavra, da informação e da transferência do conhecimento. O IBICT agradece à União Latina, ao SENAI/Departamento Nacional e ao Programa Geral de Informação da Unesco, pelo apoio prestado à realização dos eventos. Comissão Organizadora CONFERÊNCIA DE ABERTURA Prof. Antonio Houaiss Não acompanhando, como profissional, os trabalhos terminológicos técnico- científicos que vêm sendo desenvolvidos no mundo contemporâneo, sigo-os apaixonada mente como estudioso de lingüística e filologia desde que tenho consciência de mim. Mas desculpo-me antecipadamente se lhes disser algo que lhes soará como óbvio, na certeza de que, compensatoriamente, lhes direi algo que não lhes soará óbvio, algo que deriva do convívio interessado com esse monstro celeste e diabólico, de mil faces mais uma, que é a palavra. Permitam-me que lhes proponha a recapitulação de algumas premissas relativas à palavra: a sua história, a sua amplitude, o seu uso instrumental. Primeiro, já hoje, começamos a suspeitar - creio que com muito fundamento - que só somos seres humanos a partir de três traços inovadores e fundadores, a saber: um, somos manipuladores da natureza por uma ação transformadora a que damos o nome de trabalho, se se quiser, de ação, que não se contenta de repetir-se sempre igualmente, mas busca, desde as origens, ser cada vez mais eficiente ou eficaz, isto é, obter não resultados iguais, mas cada vez quantitativa e qualitativamente maiores e melhores; dois, somos, por isso, insaciavelmente insatisfeitos, deslocando-nos nos espaços e nos tempos continuamente, fazendo-nos ubíquos e sonhando com a eternidade; três, somos isso porque somos o resultado de se haver em nós investido a palavra. Foi ela que nos deu - num processo basicamente igual geneticamente falando mas extremamente diferenciado de grupo humano a grupo humano fenotipicamente falando - a capacidade universalmente igual de estabelecer nexos intrínsecos entre certos conjuntos de sons ou fonemas, relativamente estabilizados, e certas idéias por sua vez ligadas ou provindas de certas coisas reais ou relações ou processos analogamente reais, isto é, virtuais ou potenciais. Nisso que é aí dito, somos, creio, todos iguais, de há um milhão e oitocentos mil anos (com o genus Homo) ou de 120-80 mil anos (com o Homo sapiens) para cá. É impres sionante como, se de uma escala cronológica longa ou se de uma curta, já hoje abandonamos a ingênua escala ainda dezenovesca de um mítico tempo bíblico literal que recuava, se tanto, a seis mil anos atrás. Há um segundo dado que considero relevante aqui dar como premissa das palavras que adiante considerarei. A amplitude da palavra confunde-se no conhecimento humano com a amplitude das Línguas. Há razões muito boas para crer que, há um milhão e oitocentos mil anos, quando seriamos menos de dez ou cem seres apenas, tínhamos uma língua só. Mas ao cabo de pouco tempo depois, seriamos um milhão de seres, com alguns milhares de línguas que, há apenas dez mil anos, seriam - sem as extintas - algo em torno de 20 mil línguas sobreviventes. Todas teriam características comuns: usariam de entre pouco mais de 20 a pouco menos de 55 fonemas - num animal capaz de emitir diferenciadamente digamos 20 mil sons - em cada língua, que se estruturavam com mil a mil e quinhentas regras sistemáticas e usavam em tomo de três mil palavras - tudo intemalizadamente, isto é, com mnemônica natural, isto é, numa aquisição e retenção mental tão aparentemente espontâneas que dispensavam escolas, professores, alunos e aprendizado: aos 10 a 13 anos de idade, esse ser sabia tudo que todos os seres de sua grei ou clã ou grupo ou tribo ou gente sabia. Mas já então, em certos grupos humanos, o concurso das virtualidades humanas - fazer e conhecer produtivos e inovadores - haveria acumulado fórmulas em demasia para a memória. Talvez desde então uma das lutas permanentes de nossa condição tenha sido vencer a barreira dos limites de nossa memória natural. 11 É fácil recapitular as grandes fases disso: tivemos uma primeira em que cada povo começou a ter arquivos vivos, isto é, humanos mesmos, isto é, seres humanos cuja função social terá sido armazenar o saber coletivo, tornado cimento e crença e esperança da perduração coletiva: que seus nomes fossem aedos, rapsodos, vares, profetas, cantores, poetas, pajés, xamãs é coisa irrelevante; relevante é que acumulavam e retinham toda a tradição-transmissão-inovação, inventando apoios mnemotécnicos, como estrofes, ritmos, aliterações, cognatismos, repetições, rimas, anáforas, homeoteleutos, em suma, uma panóplia de isotopias e isossemias que lhes facilitava a preservação fidedigna do saber e crer acumulados. Depois, demos o primeiro grande passo físico, há 8-6 mil anos apenas, após havermos tentado o mimetismo icônico da pintura e da escultura, que já vinha de vários milhares de anos antes. Demos o salto gráfico, o ideográfico, o quipográfico, para, ato contínuo, nos lançarmos ao fonográfico, das escrituras ainda hoje perdurantes sem solução de con tinuidade. Essa fase deixa-nos as literaturas ditas genericamente clássicas, a egípcia, a chinesa, a sânscrita, a hebraica, a grega, a latina, a árabe, como principais - para citarmos apenas algumas -, prosseguidas pelas modernas oriundas dos ramos românico, germânico, anglo-saxônico, eslavo, do tronco indo-europeu, e as do semítico, do uralo-altaico, do mongólico, do chino-tai - e fiquemos nisso. Foi uma floração de palavras, já não de palavras que voavam, mas de palavras escritas, que permaneciam. Novamente a memória humana natural foi desafiada. Como usar dessa imensa floração escrita mas caoticamente acumulada, quanto ao léxico, à temática, aos fins? Como dar-lhe a possibilidade de uma ordenação? Três séculos antes de nossa era, pela primeira vez os elementos de um código escrito - o grego - foram usados como alfa-beta-gama-delta etc. para designar ou indicar os dezoito sucessivos episódios dallíada. Essa fixação de seqüência teve resultados práticos só dezoito séculos depois, quando no Renascimento a erudição notou que, grupando as palavras iniciadas por a, podia propor-se a distribuição em vinte e cinco ou seis caixilhas de universo verbal, tomando luminoso o achamento de cada palavra, em cada seqüência da letra de base, dessa letra mais a de novo, ou mais b, ou mais ç, e assim até a última letra de cada palavra, já agora verbete de um dicionário alfabético. Foi uma invenção espantosa, graças à qual a floração de dicionários e enciclopédias, em todas as línguas de cultura, pode fazer-se com crescente riqueza, por crescente facilidade de organização e sobretudo de achamento do encerrado neles, dicionários ou enciclopédias. Se tomarmos como termo de referência dois traços apenas da aventura humana, o de fazer, pelas profissões, e o de conhecer, pela escrita, veremos uma correlação constante: quanto mais o léxico se enriquece de unidades, mais a língua de cultura a que ele pertence passa a ser geradora de bens materiais e imateriais. Assim, durante um período imenso - quase um milhão e setecentos e noventa mil anos ou quase 110-90 mil anos, segundo a cronologia longa ou a curta a que me referi antes - o dia-a-dia humano terá transitado de uma ou duas profissões apenas, originais, para, pela divisão do trabalho, umas duas dezenas. Há dez mil anos, teremos chegado a isso ou pouco mais ou menos. Sabemos que pelos fins do mundo clássico ocidental, aí pelo século VI depois de Cristo, o léxico grego e o latino nos autorizam a discriminar cerca de 55 profissões, entre ciências, técnicas, artes, artesanias, artesanatos e serviços e afins. Nosso padre Rafael Bluteau, pelos inícios do século XVm, discrimina já para mais de noventa profissões, que Comte, pelos meados do século XDC, elevava a pouco mais de quatrocentas. Em 1963, a UNESCO, para ajudar os trabalhos da IUNCTAD, elaborou um catálogo das profissões humanas, com cerca de 24 mil entradas, que nesta altura já devem ser 30 mil; e nada autoriza a supor que sua floração esteja estancada. De outro lado, tudo leva a crer que durante o imenso lapso de tempo em que o ser humano foi literalmente ágrafo, nenhuma dos milhares de línguas de seu uso tenha tido 12
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