BERTRAND BRASIL Religioso, económico ou biológico... Antigo, medieval ou moderno... Vulgar, enfurecido ou pseudocientífico... Há 2.500 anos o anti-semitismo continua ativo, adotando diversas máscaras ao longo dos séculos. Dezenas de obras tão delirantes quanto infundadas foram"’ escritas para promovê-lo. Dezenas de outras, fundamentadas, foram escritas para denun ciá-lo e enfrentá-lo. Mas, no alvorecer do Terceiro Milénio, a questão mais profunda e mais dolorosa da Humanidade continua vívida: por que o anti-semitismo? Só Gerald Messadié, com sua erudição e ampla visão, com sua sensibilidade e seu saber enciclopédico, poderia empreender uma investigação como esta, inigualável, que perscruta as grandes civilizações em sua rejeição secreta e comum de suas origens e da alteridade. Da Grécia e de Roma à Europa dos totalitarismos, passando pela Idade Média, vão-se desvendando os três mais importantes anti-semitismos que obsedam a consciência contemporânea e que são aqui decifrados em suas singularidades. Contra todas as leituras incompletas ou parciais, longe das explicações redutoras e também longe dos simples recenseamen ISBN 978-85-286-1010-9 tos, eis a primeira história sensata do anti-semitismo, repleta de importantes referências, de fácil leitura, e que constitui, por isso mesmo, seu melhor antídoto. Qual a importância de uma história geral do anti-semitismo? Os judeus são perseguidos há mais de dois mil anos, e ninguém, nem mesmo seus perseguidores, sabe por quê. Uma "fatalidade histórica"? Os judeus, eternos es trangeiros, estariam condenados ao eterno ostracismo? A compreensão do anti-semitismo interessa ape nas aos judeus ou aos seus perseguidores? Ou a qualquer ser humano civilizado e preocupado em continuar a sê-lo? O anti-semitismo foi sempre igual ao longo da História? Responder a essas perguntas fundamentais e a muitas outras é a que se propõe Gerald Messadié nesta obra tanto importante quanto fascinante. Messadié - não-judeu perplexo e nauseado diante do desenrolar das atrocidades infligidas aos judeus durante mais de dois milénios com sua erudição de historiador das crenças humanas, examinou minu ciosamente incontáveis obras sobre o tema. Muitas delas tentaram explicar o anti-semitismo por intermé dio de uma causa única: psicanálise, economia, fas cismo, capitalismo ou socialismo. Ele tem a convicção de que a história do anti- semitismo - visceralmente atrelada à história de nosso Mundo Ocidental - pode ser dividida em três períodos intrinsecamente diferentes entre si: greco- romano, cristão e moderno. Para o mundo greco-romano, abarrotado de estátuas, amuletos e fábulas, o magistral e subversivo aporte do judaísmo teria sido, pela primeira vez na História, arran car a divindade do imaginário humano: o poder supremo do Universo não mais podia ser concebido, nem descrito, nem nomeado. E o cristianismo? O conceito de "Filho de Deus", essencial para ele, equivalia a uma blasfémia para os judeus. Mas os judeus não voltaram atrás, e os cristãos, tão logo investidos de poder temporal, os tacharam de impiedosos, sem consideração por sua dívida fundamental com o judaísmo, o conceito do Deus único. E o antijudaísmo se transformaria em anti-semitismo. > Já o anti-semitismo moderno, especificamente nacionalista, teria germinado dentro do conceito de Estado-Nação formulado pela Revolução Francesa. Os Estados-Nação rejeitaram os judeus sob a alegação de não participarem da cultura identitária nacional, de serem cosmopolitas em excesso para serem cidadãos leais. Para Messadié, trata-se de uma contradição histórica, pois significa considerar os judeus culpados de suas próprias expulsões, quando o que eles con seguiram foi justamente viver longe de sua terra natal. Imperialista, religioso ou nacionalista, o anti-semitismo em suas três formas chocou-se sempre contra o mesmo rochedo, o judaísmo. Os judeus, com persistência, honra e coragem, resistiram durante vinte e três séculos às perseguições. E sua religião perdurou. Em sua inteligente análise dos diferentes regimes políticos e suas ideologias, e de seus variados contex tos históricos, o autor observa que as perseguições e os massacres da História têm sido perpetrados por regimes tirânicos, toda vez que se pretende esmagar o indivíduo em nome do interesse da tribo. Tudo se entrelaça: os dogmatismos contidos nas análises restritas que tentam explicar os fenómenos por uma única causa. O horror criminoso do conceito de nação e de nacionalismo identitário. As contradições e o espírito de conquista territorial inerentes a todo Estado-Nação (e Messadié se refere especificamente ao caso de Israel). Enfim, neste livro de fácil acesso e cheio de impor tantes referências, o leitor comum é apresentado a uma história do anti-semitismo que tem a natureza de uma enquete, mais do que de demonstração de uma tese. A cada um dos leitores são oferecidas as chaves de uma síntese e uma antologia de temas para reflexão. Rejane Janowitzer GERALD MESSADIÉ dedica-se a pesquisas sobre a origem das crenças contemporâneas. Desenvolve há vários anos uma obra imponente e original, que vai dos ensaios aos romances, como Sócrates e Xantipa: Um Crime em Atenas, passando pela série bíblica Moisés, com mais de 20 mil exemplares vendidos. GERALD MESSADIÉ HISTÓRIA GERAL DO ANTI-SEMITISMO 2a edição Tradução Rejane Janowitzer B BERTRAND BRASIL Copyright © 1999, Editions Jean-Claude Lattès Título original: Histoire Générale de 1’Antisémitisme Capa: Victor Burton Editoração: DFL 2010 Impresso no Brasil Prínted in Brazil CIP-Brasil. Catalogação na fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ M547h Messadié, Gcrald, 1931- 2a ed. História geral do anti-semitismo / Gcrald Messadié; tradução Rejane Janowitzcr. -2a ed.-Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2010. 420 p. Tradução de: Histoire générale de Panrisémitismc Inclui bibliografia ISBN 975-85-286-1010-9 1. Anti-semitismo - História. I. Título. CDD-909.04924 03-1041 CDU-94 (569.4) Todos os direitos reservados pela: EDITORA BERTRAND BRASIL LTDA. Rua Argentina, 171 — 2o andar — São Cristóvão 20921-380 — Rio de Janeiro— RJ Tel.: (0xx21) 2585-2070 — Fax: (0xx21) 2585-2087 Seja um leitor preferencial Record. Cadastre-se e receba informações sobre nossos lançamentos e nossas promoções. Atendimento e venda direta ao leitor: [email protected] ou (21) 2585-2002 SUMÁRIO Introdução................................................................................................ 7 I. O ANTI-SEMITISMO PRÉ-CRISTÃO 1. Das origens ao Êxodo: a invenção do Deus único e imanente.... 21 2. De Alexandre ao mal-entendido: os primeiros ódios do mundo. 35 3. O enraizamento do anti-semitismo romano e os efeitos perversos da Septuaginta......................................................... 52 4.0 massacre de agosto de 38 em Alexandria, primeiro pogrom da história................................................................................ 73 5. Os massacres de 66, 70,115 e 132............................................... 86 II. O ANTIJUDAÍSMO E O ANTI-SEMITISMO CRISTÃOS 1. O caso Saulo................................................................................107 2. A Igreja subtraída dos judeus.......................................................127 3. A grande confusão dos primeiros séculos....................................147 4. As trevas da Idade Média, do século IV ao século XIV: I. França, Espanha, Alemanha................................................. 163 5. As trevas da Idade Média, do século IV ao século XIV: II. Itália, Inglaterra, Leste Europeu..........................................189 6. A trégua islâmica........................................................................207 7.0 exemplo asiático....................................................................229 8. A Europa dos guetos.................................................................238 9. A liberdade e os três desafios.....................................................261 10. América, América!.....................................................................282 11. A máquina infernal e as promessas traídas do século XIX.........298 III. O ANTI-SEMITISMO NACIONALISTA 1. A explosão francesa da Belte Époque.............................................319 2. A ilusão alemã e a crise do Ocidente...........................................340 3.1933-1945: o erro e o horror.......................................................360 4. À guisa de memorial....................................................................400 INTRODUÇÃO Há mais de dois mil anos os judeus são perseguidos e ninguém, nem mesmo seus perseguidores, sabe por quê. Nem os cristãos, que ao final de 17 séculos de exações renunciaram ao pretexto de “povo deicida” e que, ao inocentar os judeus de um assassinato, terminam acusando a si próprios, retrospectivamente, de centenas de milhares de assassinatos gratuitos, pretendendo estar desculpados com uns poucos parágrafos. Nem os nazistas e seus detestáveis herdeiros, cujos discursos racistas invocavam e ainda invocam como motivo do ódio aojudcu apenas o con ceito, cientificamente inepto, de “pureza da raça”, pois não existe raça alemã — a Alemanha sofreu, como todos os países do mundo, invasões sucessivas ao longo dos séculos. A ciência, aliás, demonstrou que uma raça “pura” teria lamentavelmente degenerado, em decorrência do empobrecimento de seupool genético. Existe somente uma raça humana, una e indivisível. Uma “raça pura” seria uma raça de cretinos, e os parti dários do conceito em questão talvez até tivessem razão em sustentar que eram de “raça pura”... Ninguém conseguiu apresentar o começo de uma explicação para o ódio fundamental, visceral, ao judeu. Os textos anti-semitas do século XX, espantosamente numerosos mas felizmente expostos ao opróbrio, apresentam-se à primeira leitura como um desafio à verdade histórica e em seguida como um implacável dossiê de peças de acusação do caráter patológico de seus autores. Todo leitor possuidor de rudimentos de psicologia neles detecta imediata 8 HISTÓRIA GERAL DO ANTI-SEMITISMO mente os traços determinantes do delírio lógico que é pretender negar a evidência pelo raciocínio, fazendo uso da reinterpretação histórica. A retórica, no caso, nada mais é do que um disfarce da paranóia. Os fatos e documentos sobre a perseguição dos judeus são supera bundantes. Jamais será achado um único que permita negar a realidade mais de duas vezes milenar do anti-semitismo. Por muito que se tenha denunciado o negacionismo ou o revisionismo, sua extraordinária leviandade não terá sido suficientemente ressaltada. O anti-semitismo existe há cerca de dois mil anos, foi a causa de milhões de mortes, e ain da se quer fazer crer que seus representantes mais virulentos, os nazistas, foram justamente os que não fizeram nenhum mal aos judeus! A vacui dade da tese justifica por si só um dar de ombros. O fenómeno anti-semita sendo, pois, propriamente patológico, poderia parecer interessar apenas a quem diz respeito — os judeus —, depois aos historiadores e a todos aqueles para quem o combate incessan te contra o absurdo é uma exigência vital. Tal não é minha convicção: mesmo à sua revelia, diz respeito também a todo ser humano civilizado e preocupado em continuar a sê-lo. O que está em jogo é, com efeito, sua própria natureza, a imagem que faz de si próprio, a confiança que atribui a si mesmo e ao próximo, e a fé na possibilidade de viver uma existência diferente da existência de uma bactéria ou de um animal selvagem. Pensar que se pode guardar dentro de si um Hitler adormecido é uma idéia que chega a levar ao desespero. Hitler, Himmler e muitos outros foram, no começo, insignificantes burgueses apáticos que não se distin guiriam de outros passageiros dentro de um vagão de metrô. Foram, pas sivamente, sendo acometidos de um nacionalismo identitário furioso, agravado por uma ideologia confusa, específica da época, o niilismo ale mão. Pois em minha opinião não tem sido suficientemente destacada a assustadora passividade dos nazistas: eles têm sido freqiientemente tomados por protagonistas loucos, quando na verdade foram apenas fan toches acometidos por fantasias, além da própria negação do intelecto. Pensar que o passageiro a nosso lado no metrô pode ser um novo Hitler ou um novo Himmler é o bastante para tirar-nos o sono. O anti-semitismo, greco-romano, cristão ou moderno, é um dos
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