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História do Brasil para ocupados PDF

449 Pages·2013·1.89 MB·Portuguese
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Ficha Técnica Copyright desta edição © 2013 Casa da Palavra. Copyright © 2013 individual dos autores. Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610, de 19.2.1998. É proibida a reprodução total ou parcial sem a expressa anuência da editora e dos autores. Direção editorial ANA CECILIA IMPELLIZIERI MARTINS MARTHA RIBAS Coordenação de produção editorial e gráfica CRISTIANE DE ANDRADE REIS Assistente de produção JULIANA TEIXEIRA Capa e projeto gráfico ANGELO ALLEVATO BOTTINO e FERNANDA MELLO Revisão técnica Vicente Saul Moreira dos Santos Copidesque MARIANA OLIVEIRA Revisão ARMÊNIO DUTRA PENHA DUTRA ALINE CASTILHO Transcrição dos artigos RENATA BRAVO SALLES FABIANO PARRACHO CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ H578 História do Brasil para ocupados: os mais importantes historiadores apresentam de um jeito original os episódios decisivos e os personagens fascinantes que fizeram o nosso país. / organização Luciano Figueiredo. 1. ed. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2013. Inclui bibliografia ISBN 9788577344345 1. Brasil História. 2. Brasil Civilização História. 3. Brasil Condições sociais. I. Figueiredo, Luciano. II. Título. 13-05111 CDD: 981 CDU: 94(81) CASA DA PALAVRA PRODUÇÃO EDITORIAL Av. Calógeras, 6, sala 1.001, Centro Rio de Janeiro – RJ – 20030-070 21.2222-3167 | 21.2224-7461 [email protected] www.casadapalavra.com.br Apresentação • HÁ TEMPOS, ENQUANTO entrevistava o historiador Evaldo Cabral de Mello para uma revista da qual eu era o editor, escutei uma definição de História que me chamou a atenção: “A História é como a casa do Senhor, ela tem muitas portas e janelas.”A frase soou como uma epifania. Embora eu não tenha feito outra coisa nos últimos trinta anos do que entrar e sair por algumas dessas portas, só muito lentamente foi ficando claro o que ele estava querendo dizer. As primeiras décadas do século XXI têm sido das mais empolgantes para a cultura brasileira graças, justamente, a uma das portas que a História descerrou. Nunca se viu por aqui tamanho entusiasmo com o passado, evidenciado na fartura de exposições, novelas, documentários, sites, programas de televisão e de rádio que tratam de eventos históricos, além, claro, de livros, jornais e revistas. Este fenômeno, para nós surpreendente, tem ocorrido no âmbito global e decorre da alta mobilidade das populações, o que propicia a desconfiguração de antigas referências, levando grupos inteiros a buscar identidades particulares. Por outro lado, diante de um futuro incerto e pouco promissor, parece que a aposta mais segura é a valorização do passado. Ficamos todos de repente “seduzidos pela memória”, nas palavras do professor alemão Andreas Huyssen, que reconhece a “emergência da memória como uma das preocupações culturais e políticas centrais das sociedades ocidentais”. A forma inovadora de abordar o passado adotada neste livro combina com essa vivência contemporânea ao oferecer uma visita à História do Brasil arranjada como um caleidoscópio. Cerca de setenta brilhantes historiadores contam passagens singulares da formação do país, resgatando os grandes acontecimentos e personagens, trazendo à tona dramas coletivos e individuais com enorme conhecimento de causa e muita sensibilidade. Tudo isso em uma leitura prazerosa, em que se esmiúçam detalhes pitorescos e fatos curiosos. Nada daquela empostação professoral, nada de jargões ou trechos indecifráveis. O capítulo “Pátria”, o primeiro de outros seis, nos revela um pouco de nossos pecados de origem, nos põe a par de como se deu o contato inicial dos europeus e dos africanos com o Novo Mundo, fosse esse o litoral ou o sertão das amazonas. Nota-se que quase nada escapou incólume à marca da violência naquele universo de estranhamentos e confrontos entre diferentes comunidades que passavam a coexistir pela primeira vez. Em seguida, o capítulo Fé toca na alma brasileira ao tratar das expressões religiosas, cosmogonias e as crenças que conquistaram a cultura popular. Poder, tema que catalisa os autores do capítulo 3, revela a face bruta da formação da riqueza econômica sempre carimbada na vocação promissora de nossa terra. Não ficam de fora os mais contundentes movimentos da elite política. Dedicado aos reis e rainhas, príncipes e princesas, o quarto capítulo está longe de ser um conto de fadas. Mesmo frequentando os bastidores dos palácios, os artigos deste capítulo contam um pouco dos costumes populares vividos nas ruas e praças. Subindo a temperatura, os conflitos internos e externos que desmascaram a imagem do brasileiro passivo e cordial são temas do capítulo 5, cujo título, Guerra, não poderia ser outro. O último segmento do livro é uma espécie de síntese de todas as partes, projetada nos percursos individuais de alguns brasileiros e brasileiras. Cada um deles partilhou, a seu modo, aspectos que contribuíram para a História do país, o que os torna também imprescindíveis para o registro de nossa memória. Fugindo das imposições de um enquadramento canônico da História do Brasil, nessa composição de capítulos procurou-se equilibrar temáticas tradicionais e outras de maior originalidade e, dentro de cada um deles, o mesmo critério. Ao evitar propositalmente um ordenamento cronológico e marcadamente evolutivo, que tanto se conhece, favorecemos algo que se perde com tais programas mais lineares: interpretações particulares que cada um dos autores convocados lapidou de maneira inovadora. Abrir o leque de temas, diversificá-los — escapando da sucessão previsível de eventos e figuras — e verticalizar a leitura dos acontecimentos exigia um formato editorial novo. Só assim seria possível propor um olhar diferente para se perceber o passado, menos superficial, com mais profundidade. Se alguns dos eventos e personagens de nossa rica tradição não aparecem objetivamente abordados, isso atendeu à idéia de apostar em conteúdos renovados — como o cotidiano, a cultura popular, as biografias — os quais, optando-se pelo programa tradicional da disciplina, não teriam espaço em obra feita para um volume. É mais uma maneira, desta vez adaptada aos novos tempos, de se oferecer uma abordagem completa da História do Brasil. Afinal, os historiadores brasileiros assumiram, como é tão comum na França, Estados Unidos e Inglaterra, o papel de protagonistas. Aqui eles mostram, em uma linguagem acessível, mas sem perder o tratamento cuidadoso e as reflexões lapidadas em muitos anos de pesquisa, a vitalidade dos conteúdos que vêm sendo gerados em dezenas de universidades e centros de pesquisa. Mas se na academia esses conteúdos se encerram na forma de monografias, teses e artigos em periódicos científicos, ganham nesse livro um novo frescor pelas mãos de autores que arrancam fragmentos de nosso passado da redoma acadêmica. Já era o momento de oferecer em um livro tal composição da História do Brasil que, como todo caleidoscópio, está longe de ser a única, mas é decerto inédita. Grande parte dos artigos aqui reunidos foi publicada em revistas de grande circulação, gentilmente autorizados pelos seus autores ou herdeiros, possibilitando que esta obra ofereça uma visão rara da formação do Brasil. A ideia foi concebida por Renato Pinto Venancio, velho amigo e historiador brilhante. A novidade desses tempos, ao contrário do que as aparências sugerem, não é a presença de jornalistas e escritores publicando biografias, romances e narrativas históricas. O que há de verdadeiramente novo é o enorme e entusiasmado envolvimento de historiadores profissionais na difusão do conhecimento. Logo eles, geralmente figuras habituadas à comodidade acadêmica, aos debates científicos especializados e à linguagem hermética. Figuras que até então entravam e saíam por outra porta. Fica aqui o convite para, na pressa do dia a dia, olhar a paisagem que se descortina por essa janela da História e visitar alguns dos refúgios em que se escondia o passado. Luciano Figueiredo Professor de História da Universidade Federal Fluminense 1 Pátria Descobertas • Entre bárbaros, canibais e corsários O tráfico negreiro • África no Brasil Amazônia e fantasias • UMA TERRA NOVA, aos olhos dos europeus, inaugura um capítulo da História do mundo. Os portugueses sabiam o que estavam fazendo ao navegar e cravar o padrão e a cruz na Bahia. Ilha de Vera Cruz, Terra de Santa Cruz, costa do pau-brasil. Brasil, o nome que fica. Um pedaço de Império disputado pela cobiça dos inimigos. Ali vive um alemão que acaba aprisionado entre os tupinambás, mais tarde corsários franceses conquistam o Rio de Janeiro enquanto paulistas vasculham o sertão em busca de índios. Suor africano é temperado com sangue que escorre pelos navios negreiros, pelos canaviais e rios de minérios. Cinco milhões de negros traficados para fecundar a colônia portuguesa. Era africana a origem de uma das santas que o Brasil criou no século XVIII, ou o candomblé. Era baiano um dos grandes traficantes que se muda para a África. Também misturados eram os golpes da capoeira que rodava nas cidades, nem sempre como brincadeira. Outra porção de terra aparece, a Amazônia profunda que cresce sem tréguas em uma disputa por léguas sem fim com índios, espanhóis, portugueses e quem mais se aventurasse por ali. Até um inglês destemido pensou que encontraria ali uma cidade de tesouros. E por lá ficou, descansando eternamente. “Pátria”, enfim. Pátria, ainda assim. Na definição de Raphael Bluteau, Vocabulario Portuguez & Latino, de 1732, “A terra, Vila, Cidade, ou Reino, em que se nasceu. Ama cada um a sua pátria, como origem do seu ser, e centro do seu descanso”. Descobertas • Quem descobriu o Brasil? A viagem de Pedro Álvares Cabral e as notícias da época mostram que a descoberta da nova terra surpreendeu a todos. JOAQUIM ROMERO DE MAGALHÃES D epois da descoberta por Vasco da Gama, em 1499, do caminho marítimo para as Índias — proeza magnífica dos súditos do rei de Portugal, “que merece os elogios de toda a Cristandade” —, a Coroa portuguesa logo entendeu que devia repetir a expedição à luz das informações recolhidas pelo navegante. Seria uma armada cuidadosamente preparada, e desta vez não poderiam faltar os metais preciosos indispensáveis para as compras de especiarias, cuja falta se sentira na primeira expedição. Para capitão-mor da armada seria indicado o próprio Vasco da Gama, recentemente feito almirante do mar da Índia. Mas não foi o que aconteceu. Acabou sendo nomeado capitão-mor Pedro Álvares de Gouveia, depois conhecido por Pedro Álvares Cabral. Dele, como de tantos outros navegadores, pouco se sabe, mas algumas qualidades decerto já teria mostrado para lhe ser entregue o comando da maior frota que até então zarpara de Portugal, rumo a paragens tão longínquas. Fidalgo beirão, Pedro Álvares era um dos vários filhos do alcaide-mor de Belmonte Fernão Cabral e de Dona Isabel de Gouveia. Nascido entre 1468 e 1469, já em 1484 era moço-fidalgo, primeiro grau de nobreza conferido aos jovens da Corte, da casa de D. João II. Antes de 1495, já fizera por merecer uma tença de 26 mil-réis, em conjunto com o seu irmão João Fernandes Cabral. Tença era um favor real que reconhecia serviços anteriormente prestados, embora estes se desconheçam. Fidalgo da casa real, depois teria Pedro Álvares Cabral chegado a cavaleiro da Ordem de Cristo, a mais importante ordem de cavalaria de Portugal, por volta de 1494, com mais uma tença de 40 mil-réis, e também alguma coisa tivera feito para merecê-la. É tudo o que se sabe da sua biografia. Mesmo se a razão da escolha como capitão-mor tenha resultado da sua ligação a algum grupo cortesão, Pedro Álvares havia de ser considerado com certeza uma pessoa de qualidade para deter o comando que lhe era entregue. Era considerado “homem avisado”, “de bom saber, muito auto para isso”. Nenhum documento se refere a ele como “experimentado em coisas do mar”, como se disse de Vasco da Gama. Mas não devia ser totalmente ignorante da arte de navegar. Algumas provas havia de ter dado no mar para merecer um comando tão importante, pois não é crível que um ignorante em navegação tivesse sido escolhido para comandar a maior e mais dispendiosa expedição naval que até então se armara em Portugal. O capitão-mor não era o piloto da frota, mas também não se limitava a ser uma figura decorativa; tampouco seria apenas um diplomata, enquanto outros se responsabilizariam apenas pela navegação. Uma tão cortante divisão de funções não era um pressuposto em finais do século XV. O capitão-mor comandava os homens da armada em terra e no mar. E sentir- se-ia à vontade nesse comando. Depois de suntuosas cerimônias com que o rei honrou o capitão-mor, a armada saiu do Tejo em 9 de março de 1500. Eram 13 navios, muito provavelmente dez naus e três caravelas, com mais de 1.500 homens embarcados. A época do ano era a mais adequada para a travessia do Atlântico Sul. Depois de uma navegação direta até o arquipélago de Cabo Verde, passando embora à vista da ilha de São Nicolau, rumou para o sul e descreveu uma larga volta pelo sudoeste, esta muito mais pronunciada que a efetuada pela armada de Vasco da Gama, sem aproximar-se da costa africana. Era a rota certa para aquela época do ano. Fugia-se, assim, das calmarias equatoriais, e essa boa escolha parecia indicar que a esquadra sulcava rotas anteriormente conhecidas. A 21 de abril de 1500 avistam-se da frota, nas palavras do escrivão Pero Vaz de Caminha, “alguns sinais de terra”. No dia seguinte, “topamos aves, a que chamam fura-buchos. E neste dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra, isto é primeiramente d’um grande monte, mui alto e redondo, e d’outras serras mais baixas ao sul dele e de terra chã com grandes arvoredos, ao qual monte o capitão pôs nome o Monte Pascoal e à terra a Terra de Vera Cruz”. E há um deslumbramento perante a “terra nova que se ora nesta navegação achou”. Terra até então desconhecida, de belos arvoredos, povoada de indígenas nus, gente mansa e pacífica, pouco espantadiça, cuja linguagem ninguém consegue entender. “Esta terra, Senhor, me parece que da ponta que mais contra o sul vimos até outra ponta que contra o norte vem (...) será tamanha, que haverá nela bem vinte ou vinte e cinco léguas de costa. Traz ao longo do mar, em algumas partes, grandes barreiras, delas vermelhas e delas brancas, e a terra, por cima, toda chã e muito cheia de grandes arvoredos. De ponta a ponta é toda praia parma, muito chã e muito formosa (...). A terra porém em si é de muito bons ares, assim frios e temperados (...). Águas são muitas, infindas. E em tal maneira é graciosa que, querendo-se aproveitar, dar-se-á nela tudo por bem das águas que tem.” Assim o escrivão descreve a terra ao rei. A 22 de abril de 1500, a armada comandada por Pedro Álvares Cabral, que pelo oceano Atlântico ia a caminho da Índia, deparou com terra a ocidente. Tudo – exceto a vontade persistente de alguns historiadores, sem documentos ou resquício de prova – leva a concluir que esse “achamento” não foi propositado. Para alguns deles, nem se trata de suspeita, mas de uma certeza cuja ausência de provas funciona como evidência afirmativa. O descobrimento ocasional da costa ocidental banhada pelo Atlântico decorre, com certeza, de uma excessiva inflexão para sudoeste da rota da armada de Cabral. Ainda no século XVI um cronista escreveu: “E porque os pilotos já melhor entendiam que encurtavam caminho não indo costeando a costa de São Tomé, foram navegando direitos ao cabo da Boa Esperança e por acerto viram terra de sua mão direita.” Podia a terra já antes ter sido entrevista? Talvez apenas suspeitada. No relato da viagem de Vasco da Gama, em 1497, lê-se que da sua armada se viram “pássaros que voavam como se fossem para terra”. Era, evidentemente, uma suposição. Só agora, com Cabral, essa terra era observada e de sua existência se passava a ter certeza. Nenhum documento permite afirmar que Pedro Álvares Cabral partira de Lisboa com o propósito de descobrir novas terras. A intencionalidade da descoberta não encontra fundamento em nenhuma das testemunhas, seja Pero Vaz de Caminha, Mestre João ou o piloto anônimo. A armada partiu com destino à Índia, e foi só isso. Nem os fragmentos das instruções de Vasco da Gama para a viagem permitem suspeitar de uma missão adicional. É arriscado demais supor que tivessem sido redigidas outras instruções secretas – quando as que se conhecem também não eram públicas. E nada, depois do achamento, indicia qualquer segredo anterior bem guardado: não seguiam a bordo quaisquer padrões de pedra para assinalar descobertas, como acontecia nas viagens de exploração de terras desconhecidas; Cabral

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Quem conta essa história são 66 dos mais renomados historiadores do país: mais de 500 anos de caminhos e descaminhos; episódios marcantes; personagens fascinantes. Eis o Brasil. História do Brasil para ocupados (ou seja, para os que vivem o tempo atual, veloz) apresenta a história do país de
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