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História da Morte no Ocidente PDF

146 Pages·29.729 MB·Portuguese
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, HISTORIA DA MORTE NO OCIDENTE Da Idade Média aos nossos dias Philippe Ariês Apresentação Jacob Pinheiro Goldberg Tradução Priscila Viana de Siqueira • - O.Saraiva debolso © Éditions du Seuil, 1977 Coordenação: Daniel Louzada Conselho editorial: Daniel Louzada, Frederico Indiani, Leila Name, Maria Cristina Antonio Jeronimo Projeto gráfico de capa emiolo: Leandro B.Liporage Ilustração de capa:Cássio Loredano Diagramação: Filigrana Equipe editorial Nova Fronteira: Shahira Mahmud, Adriana Torres, Claudia Ajuz,Tatiana Nascimento Preparação de originais: Gustavo Penha,José Grillo, Bete Muniz CIP-Brasil. Catalogação na fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros,RJ A746h Ariês, Philippe, 1914-1984 História da morte no Ocidente : da Idade Média aos nossos dias / Philippe Ariês ;tradução PriscilaViana de Siqueira. - [Ed. especial]. - Rio de Janeiro : Nova Fronteira, 2012. (Saraivade Bolso) Tradução de:Essaissurl'histoire de Iamort en Occident du Moyen-Age à nosjours ISBN 978.85.209.3095-3 1. Morte. I.Viana de Siqueira, Priscila. lI.Título. lII. Série. CDD:306.9 CDU: 30:2-186 Livros para lodos Esta coleção é uma iniciativa da Livraria Saraiva em parceria com a Editora Nova Fronteira que traz para o leitor brasileiro uma nova opção em livros de bolso. Com apuro editorial egráfico, textos integrais, qualidade nas tra- duções e uma seleção ampla de títulos, a Coleção Saraiva de Bolso reúne o melhor da literatura clássica e moderna ao publicar asobras dos principais autores brasileiros e es- trangeiros que tanto influenciam o nosso jeito de pensar. Ficção, poesia, teatro, ciências humanas, literatura infantojuvenil, entre outros textos, estão contemplados numa espécie de biblioteca básica recomendável a todo leitor, jovem ou experimentado. Livros dos quais ouvi- mos falar o tempo inteiro, que são citados, estudados nas escolas e universidades e recomendados pelos amigos. Com lançamentos mensais, os livros da coleção podem acompanhâ-lo a qualquer lugar: cabem em todos os bol- sos. São portáteis, contemporâneos e, muito importante, têm preços bastante acessíveis. Reafirmando o compromisso da Livraria Saraiva e da Editora Nova Fronteira com a educação e a cultura do Brasil, a Saraiva de Bolso convida você a participar dessa grande e única aventura humana: aleitura. Saraiva de Bolso. Leve com você. Sumário Apresentação 11 Prefácio 17 PRIMEIRA PARTE Asatitudes diante damorte 29 I. Amorte domada 31 II. Amorte de simesmo 49 1. A representação do]uízo Final 51 2. No quarto do moribundo 53 3. O "cadáver decomposto" 57 4. Assepulturas 61 III. A morte do outro 65 IV.Amorte interdita 84 V.Conclusão 98 SEGUNDA PARTE Itinerários 1966-1975 103 VI. Riqueza epobreza diante damorte na Idade Média 105 VII. Huizinga e ostemasmacabros 132 1. A colocação do problema 132 2. Asrepresentações damorte nos séculosXII eXIII 137 3. Eros eTânatos do séculoXVI aoséculo XVIII 140 4. Uma significaçãodo macabro dosséculosXIV eXV 146 5. A origem do medo damorte no século XIX 150 VIII. O tema damorte em Le Chemin deparadis, de Maurras 152 IX. Os milagresdosmortos 162 10 X. Do moderno sentimento de família Apresentação nos testamentos enos túmulos 173 XL Contribuição aoestudo do culto Um romance de vida dosmortos naépoca contemporânea ....187 XII. Avida eamorte paraosfranceses Abordar o tema tabu da morte é um esforço que de- daatualidade 204 manda uma atitude de compreensão íntima ede observa- XIII. Amorte invertida:amudança ção externa.Portanto, no percurso do tempo emocional e dasatitudesdiante damorte espaço geográfico,o historiador Philippe Aries produziu nassociedadesocidentais 212 uma obra que reúne elementos fundamentais de psicolo- 1. Como omoribundo éprivado giaesociologia.O íntimo eo ex-timo, desuamorte 215 Oprefácioquelevaotítulode"História deumlivroque 2. Arecusado luto 227 nãotemfim"carregaemsimesmoodesafiodacontradição. 3. Ainvenção denovosritos O assuntofimdavidaécelebradonaperenidadedaescrita. funerários nosEstadosUnidos 243 A história da morte no Ocidente é para o leigo e para o XIV O doente, afamíliaeo médico 253 cientistado comportamento. XV Timefor dying 266 Recordo aspalavrasde nossoescritor Guimarães Rosa XVI. The dyingpatient 270 em Grande sertão:veredas- "Comigo ascoisasnão têm 1. Fatoshistóricos 275 hoje enem ant'ontem, nem amanhã.Ésempre".Esteleve 2. Fatosprospectivos 277 relacionamento entre avisãodo historiador, osconteúdos XVII. Inconsciente coletivo eideiasclaras 278 daescritaeseuobjeto de pesquisa. Notas 281 O engajamento pessoal do autor demonstra um cari- Sobreo autor 291 nho eautênticamilitância no tratodaquestão.Seminários, conferências,debates,uma carreiraque dialogacom espe- cialistaseopúblico. Um diálogo que também se alterna.Leitor e escritor, vidaemorte.E,curiosamente,emboraaóticafrancesaníti- dacoincidaintegralmente comasnossasexperiências.Atéo resultadodepesquisas,por exemplo,com nossoestudopu- blicadopelojornal OSãoPaulo,editadopelaigrejaCatólica. Philippe Ariês produz uma nítida divisão que facilita o entendimento dos dados obtidos. Na Primeira Parte,a subjetividade,sob o título "As atitudes diante da morte", naSegundaParte,aobjetividade,"Itinerários", 1966-1975. Asdivisõesdaleitura permitem que ositens sedesen- volvamdeforma quasedidática,masnum estiloque guar- dao toque poético. 12 13 v - I - Amorte domada. Na"conclusão da primeira parte". PhilippeAries mostra a morte tornada o indivíduo diante damorte num processoque sepre- inominável e nos prepara para sua tende intercambiar. Uma lida que implica providências intenção de BATIZÁ-LA. paramorrer, com descriçõesextensas,um conceito sinte- tiza,"despoja-se desuasarmas". O descansodo guerreiro. Agora,serãoos"Itinerários". Este caminho deve ser palmilhado pelo leitor, numa 11- Amorte de simesmo. viagem pessoal.Fique entregue a seu destino, na compa- nhia inspiradadePhilippeAriês, suasdescobertas,encantos Asingularidade absolutado fenômeno damorte reme- edesencantos. te o leitor a quatro dimensões.A representação doJuízo A sinalizaçãoé farta.Exemplos,documentos, testemu- Final,o código dabiografiapessoal.No aposento do mo- nhas.Maso raciocínio é opção literária. ribundo, a solenidade do ritual que recorda JamesJoyce, O que posso é ressaltara importância revolucionária em Fínnegans wake, "Fim aqui.Nós, após". O cadáverde- destelivrono maisprofundo Eu psíquico do pensamento composto, aideia da"carniça" que, aliás,povoa o folclore contemporâneo. brasileiro,na figuração do simbólico e do Inconsciente, Reintroduzir aMorte nasnossasvidasé desmascarara comum no interior do país.As sepulturas, que termina mentira da mitificação e mistificação.Humanizar, na dor com ocoroamento personalizado em que"o homem oci- e na serenidade esta realidade irrecusável,é um gesto de dental rico, poderoso ou letrado reconhece a si próprio generosidade do historiador que nos estimula a enfrentar emsuamorte". temores,frustraçõesemedos,nafórmula daesperança. Numa transcriação permissivaé aocupação do espaço O livrotermina onde começa asagade nossasaflições. paraenganaro tempo que expirou. Denuncia quehoje opapeldapessoaédomoribundo que fingeque não vaimorrer. lU - Amorte do outro. Certos filmes recentes mostram que para o grande público, além dos meios acadêmicos e mais do que pie- Depois daconformidade diante da morte, que lembra guice consoladora, existe a honestidade intelectual que Homero, naIlíada,"Sono,irmão daMorte", eapósavalo- estaobra reflete.A morte, enquanto metáfora da vida. O rizaçãodavida,nosversosdeMalherbe "E,rosa,elaviveu Mistério visitado. oque vivemasrosas",oautor levanta,com sutileza,arela- AaventurainiciáticaecientíficadePhilippeAriês pode çãodo erotismo com amorte. ser equacionada com o haicai escrito pelo poeta japonês Bashô quando verificou achegadado fim: IV- Amorte interdita. "Em seisde setembro, parti rumo ao santuário de Ise. Embora afadigadalongajornada aindameacompanhasse, Acultura urbanizada que exilou amorte éapresentada estavaansiosopor conhecer aqueleluminoso templo. No como o enterro do cadáver,num texto veemente epolê- barco,novamente ao alegre sabordascristalinascorrente- mico.No contraponto à Reza dosmarinheiros do Danú- zasescrevi: bio,em naufrágio,"Durmo, logo voltarei aremar". 14 COMO ASVALVASDO MARISCO QUE SE SEPARAM EM MAIO ADEUS, AMIGOS, SIGO ATRAVÉS'" Um adeus do Oriente para nós, ocidentais. Jacob Pinheiro Goldberg' ) À memória demeu irmão Georges. A nossos mortos, relegadosao esquecimento. J • Ph.D. em psicologia, advogado c'assistente social. escritor. amor entre outros livros de (~IrIFC da morte. Prefácio História de um livro que não tem fim Parece,sem dúvida, insólito publicar asconclusões de um livro antesdo próprio livro!É,ao que me condenam, entretanto, asarmadilhasde uma vidadupla em que ohis- toriador devepactuar com outras obrigações. As quatro conferências na Johns Hopkins University, admiravelmente traduzidaspor PatríciaRanurn, eram des- tinadas ao público americano. Quando foram publicadas em inglêsem 1974,eu acreditavateratingido oobjetivo e chegado aofinaldaobra,hámuito preparada,sobre asati- tudes diante damorte, cujaredaçãojá estavabem avançada eoplano geralterminado. Ledo engano.Erafazercastelos no ar,esquecendo ascoerções de uma carreira que subi- tamente tornou-se mais absorvente.É preciso convir que estaobra aindanão chegou aoponto final. 18 19 Entretanto, o assunto que eu abordara há 15anos,em Meu primeiro projeto eramodesto e restrito.Vinha de meio à indiferença geral,agitaapartir de então aopinião um longo estudo sobre o sentimento defamília,onde me pública,invadelivroseperiódicos, programas de rádio ou deiconta deque estesentimento, que diziammuito antigo de televisão.Assim,não resistià tentação de participar do emesmo ameaçadopelamodernidade, eranarealidadere- debate sem esperarmais.Por isso,apresento aopúblico as cente eligadoauma etapadecisivadamesma.Perguntei- tesesque logo defenderei com maisargumentos, masque -me, então, se não seria conveniente generalizar, se não não serãomodificadas. tínhamos mantido ainda,no séculoXIX eno começo do Aorigem destapequena obra éfortuita. Orest Ranum, século XX, o hábito de atribuir origens longínquas afe- professor daJohns Hopkins University,muito conhecido nômenos coletivosementaisna realidademuito novos- dos estudiosos franceses especializados no século XVII, o que equivaleria a reconhecer nestaépoca de progresso por seusestudossobreRichelieu esobreParis,haviapedi- científico acapacidadede criarmitos. do aoautor de Temps del'histoire [Tempodahistória] uma Tive, então,a ideia de estudar os costumes funerários dissertaçãosobre história econsciência nacional,tema fa- contemporâneos, para ver sesuahistória confirmava mi- vorito de suas pesquisasatuais.Respondi-lhe propondo, nha hipótese. em vezdisso,o único assunto de que poderia tratar,tal a Já me haviainteressado pelasatitudes diante da morte intensidade com que me estavaabsorvendo. Ele aceitou. em minha obra Histoire des populations françaises [Histó- Foi ao mesmo tempo a origem de um livro e de uma ria daspopulações francesas];além disso,ficavaespantado amizade.Masapreparação dessasconferênciasnão foi um com a importância, para a sensibilidade contemporânea episódio à margem do meu trabalho. Obrigou-me a um dosanos 1950-1960,davisitaaocemitério,dadevoçãoaos esforçode síntese,adepreender aslinhasmestras,osgran- mortos e da veneração aos túmulos, impressionava-me, a des volumes de uma estrutura cuja edificação lenta mas cadamês de novembro, com ascorrentes migratórias que impaciente encobria-me, no decorrer dosanos,aunidade levavamaoscemitérios, tanto na cidade como no campo, e acoerência. Foi aofinaldessasquatro conferências que multidões deperegrinos. Perguntei-me deonde vinha essa tive,pela primeira vez,uma visãode conjunto do que eu devoção.Viria dasprofundezas daseras?Seria asequência sentiaequeria dizer', ininterrupta dasreligiões funeráriasdaAntiguidade pagã? Poderáparecer espantosoter sidonecessáriotanto tem- Qualquer coisano estilosugeria-me que essacontinuida- po para chegar a este ponto - 15 anos de pesquisas e de não eraexata,e que valeriaapena certificar-me deste meditações sobre asatitudes diante da morte em nossas fato.Estefoioponto departida deumaaventura de cujos culturas cristãsocidentais! É preciso não atribuir alenti- riscos não suspeitava;não imaginava até onde poderia dãodo meu avançoapenasaosobstáculosmateriais,à falta conduzir-me. de tempo, à prostração face a imensidão da tarefa.Existe Assimcolocado o problema, orientei minhas pesqui- uma outra razão,maisprofunda, que provém da natureza saspara a história dos grandes cemitérios urbanos - a metafisicadamorte: o campo de minha pesquisarecuava destruição do cemitério dosInocentes,acriação do Pére- quando acreditava tocar-lhe os limites; era repelido cada -Lachaise,ascontrovérsias sobre o deslocamento dos ce- vez para maislonge, avançando ou recuando em relação mitérios no fim do século XVIII, ete.Para compreender no meu ponto de partida. Eis algo que merece algumas o sentido dessascontrovérsias e dos sentimentos que ex- explicações. primiam, erapreciso situá-Iasem uma série.Dispunha de

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