Roberto Acízelo de Souza IISTÓRIA DA ITERATURA RAJETÓRIA, FUNDAMENTOS, PROBLEMAS História da Literatura: Trajetória, Fundamen tos, Problemas, livro do destacado professor e pesquisador Roberto Acízelo de Souza, apre senta à perfeição os objetivos da Biblioteca Humanidades: oferecer um panorama com pleto e ao mesmo tempo acessível de discipli nas, temas e autores fundamentais. Neste livro, discute-se o percurso da dis ciplina dos estudos literários, estabelecendo uma narrativa de longa duração que abarca da Antiguidade Clássica aos tempos atuais. Nas palavras do autor: “A área universitária que chamamos hoje estudos literários remon ta à Grécia pré-clássica. Seus integrantes, por conseguinte, são em certo sentido continua- dores remotos da confraria que, entre gregos e latinos, se dedicava ao ensino das compe tências conexas de ler e escrever”. Não se pense, no entanto, que se trata de uma área infensa ao tempo, sempre idêntica a si mesma. Pelo contrário, o grande mérito deste livro consiste na reconstrução notável das transformações teóricas e metodológicas dos estudos literários. Por fim, o autor destaca o caráter moder no da história da literatura, sem deixar de as sinalar tanto seus impasses contemporâneos quanto as possibilidades de renovar seu exer cício nas condições atuais. História da Literatura: Trajetória, Fundamen tos, Problemas, portanto, é um livro de refe rência, um guia indispensável para o conheci mento dos estudos literários. Impresso no Brasil, dezembro de 2014 Copyright © 2014 by Roberto Acízelo Quelha de Souza Os direitos desta edição pertencem a É Realizações Editora, Livraria e Distribuidora Ltda. Caixa Postal 45321 - Cep 04010-970 - São Paulo - SP Telefax (5511) 5572-5363 [email protected] / www.erealizacoes.com.br Editor Edson Manoel de Oliveira Filho Coordenador da Biblioteca Humanidades João Cezar de Castro Rocha Gerente editorial Sonnini Ruiz Produção editorial Liliana Cruz Preparação Vera Maria de Carvalho Revisão Cecília Madarás Projeto gráfico Maurício Nisi Gonçalves Capa e diagramação André Cavalcante Gimenez Pré-impressão e impressão Gráfica Vida & Consciência Reservados todos os direitos desta obra. Proibida toda e qualquer reprodução desta edição por qualquer meio ou forma, seja ela eletrônica ou mecânica, fotocópia, gravação ou qualquer outro meio de reprodução, sem permissão expressa do editor. SUMÁRIO Nota Preliminar | 7 1. Os TERMOS DA QUESTÃO | 9 2. Panorama dos estudos literários As disciplinas antigas | 17 A crítica literária | 18 A história literária | 23 A literatura comparada | 27 A teoria da literatura | 30 Os estudos culturais | 34 Fundamentos | 37 3. A HISTÓRIA LITERÁRIA Uma disciplina moderna | 51 A moldura historicista | 52 As relações com a crítica | 56 A missão nacionalista | 58 Consolidação: gênero, disciplina, instituição | 60 As crises | 61 As revitalizações | 66 A atualidade | 68 4. A FORMAÇÃO DAS HISTÓRIAS LITERÁRIAS NACIONAIS No mundo | 73 No Brasil | 75 5- A HISTÓRIA LITERÁRIA E OS MÉTODOS DA HISTÓRIA O problema da interdisciplinaridade | 91 Fato | 92 Valor | 93 Narratividade | 95 6. Pertinência da história literária | 97 Glossário | 111 Obras citadas e sugestões de leitura | 129 índice analítico | 139 índice onomástico | 141 NOTA PRELIMINAR Em parte, as seções componentes deste volume foram objeto de publicações parciais anteriores. As passagens que estão neste caso, no entanto, foram re tocadas e devidamente adaptadas para a integração no conjunto que ora se apresenta. Para o indispensável registro, eis as referências dos textos que reaproveitamos: “Brazilian Literary I listoriography: Its Beginnings”/“Primórdios da His toriografia Literária Nacional”;1 “A Ideia de História da Literatura: Constituição e Crises”;2 “História da Literatura”;3 “Nota Preliminar”;4 “Nota Final: Em Defe sa da História Literária”;5 “O Estudo do Passado Hoje; 1 Roberto Acízelo de Souza, Portuguese Literary & Cultural Studies. Darmouth (MA), University of Massachusetts, vol. 4, n. 5, 2001, p. 541-48; João Cezar de Castro Rocha (org.), Nenhum Brasil Existe; Pequena Enciclopédia. Rio de Janeiro, Topbooks, 2003, p. 865-72; Ro berto Acízelo de Souza, Iniciação à Historiografia da Literatura Brasi leira. Rio de Janeiro, Eduerj, 2007, p. 29-40. ' Maria Eunice Moreira (org.), História da Literatura; Teorias, Temas, Autores. Porto Alegre, Mercado Aberto, 2003, p. 141-56. 1 Roberto Acízelo de Souza, Iniciação aos Estudos Literários; Objetos, Disciplinas, Instrumentos. São Paulo, Martins Fontes, 2006, p. 90-109. ' Roberto Acízelo de Souza, Iniciação à Historiografia da Literatura Brasileira. Rio de Janeiro, Eduerj, 2007, p. 9-12. ’ Roberto Acízelo de Souza, Iniciação à Historiografia da Literatura Brasileira. Rio de Janeiro, Eduerj, 2007, p. 149-53. Na Área de Literatura Brasileira”;6 “Os Estudos Literá rios: Fim(ns) e Princípio(s)”;7 “A História da Literatura e a Formação do Especialista em Estudos Literários”.8 6 Alcmeno Bastos et al., Estudos de Literatura Brasileira. Belo Hori zonte, Faculdade de Letras da UFMG, 2008, p. 13-36. Roberto Acízelo de Souza, “Os Estudos Literários: Fim(ns) e Princípio(s)”. Itinerários; Revista de Literatura. Araraquara (SP), Fa culdade de Ciências e Letras da Unesp, n. 33, juL/dez. 2011, p. 15-38. 8 Marilene Weinhardt et al. (org.), Ética e Estética nos Estudos Literá rios. Curitiba, Ed. UFPR, 2013, p. 265-73. 18) HISTÓRIA DA LITERATURA | TRAJETÓ RIA, FUNDAMENTOS, PROBLEMAS CAPITULO OS TERMOS DA QUESTÃO A história da literatura é cronologicamente a pri meira das realizações modernas no campo mais de duas vezes milenar dos estudos literários. Seus mar cos inaugurais se situam no começo do século XIX, e logo ela se tornaria a referência básica no ensino das letras, mais ou menos de meados daquele século até a atualidade. Assim, se inicialmente se tratava de empreendimento intelectual arrojado e de ponta, em pouco tempo passou a integrar o sistema de educação nacional de diversos países, inserida que foi nos cur rículos como matéria escolar. Desse acelerado percurso temos um bom exemplo brasileiro: em 1888 Sílvio Romero publica a sua Histó ria da Literatura Brasileira, obra situada nas fronteiras do conhecimento da época; poucos anos depois, em 1906, aparece sua redução didática, o Compêndio de História da Literatura Brasileira, manual destinado a subsidiar o ensino da disciplina nos colégios do País. Hoje, por força da notoriedade que obteve como instituição pedagógica, o senso comum a conhece sob nomes de conjuntos sistemáticos de obras e au tores referenciados a tradições linguístico-literárias nacionais, e por isso falamos com tanta naturalidade em literatura brasileira, literatura portuguesa, litera tura francesa, etc., etc. Todos esses conceitos, assim, são produtos da história literária, cuja razão de ser originária foi justamente inventariar esses conjuntos, sistematizar seus elementos, analisá-los, avaliá-los e disponibilizá-los em grandes narrativas, materia lizadas em obras que em geral ostentam no título a expressão História da literatura, especificada por um adjetivo pátrio: brasileira, portuguesa, francesa, etc. Um dos traços típicos da disciplina é certa inape- tência por teorias, o que certamente está relacionado à sua feição muito mais narrativa do que dissertativa. Desse modo, com frequência as histórias literárias entram direto no assunto - o desenvolvimento histó rico de certa tradição linguístico-literária nacional -, sem se preocupar por autojustificar-se como proje to disciplinar ou científico, nem tampouco em dar satisfações sobre sua metodologia e fundamentação conceituai. Às vezes, contudo, fazem preceder à par te essencial da exposição uma síntese dos princípios teóricos adotados, à maneira de preâmbulo, mas sem pre de reduzidas proporções, se comparada com os capítulos propriamente nucleares que se lhe seguem. Se tomarmos como exemplo três das principais histórias literárias nacionais oitocentistas, podemos verificar essa diferença de procedimentos. De Sanctis, na sua Storia delia Letteratura Italiana (1871), reflete bem o típico pouco caso da disciplina por questões teóricas, e assim prefere iniciar diretamente pelos fatos que se propõe expor, dispensando quaisquer preliminares: “Acredita-se comumente que o mais antigo documento da nossa literatura é a cantinela ou canção de Ciullo [...] de Alcamo, e uma canção [ 10] HISTÓRIA DA LITERATURA | TRAJETÓRIA, FUNDAMENTOS, PROBLEMAS de Polcacchiero da Siena”.1 Taine, contudo, dotou de mna introdução teórica a sua Histoire de la Littéra- lure Anglaise (1863), do mesmo modo que, mais (arde, o fez Lanson, no prefácio de sua Histoire de la Liltérature Française (1894). Entre nós, Antonio Cân dido, na sua Formação da Literatura Brasileira (1959), < ontornou o dilema com uma solução engenhosa: faz preceder a parte principal da obra de uma introdu ção de natureza teórica, mas, numa nota de abertu ra, procura satisfazer aos gregos afeitos à teoria e aos troianos infensos a ela: “A leitura desta ‘Introdução’ é dispensável a quem não se interesse por questões de orientação crítica, podendo o livro ser abordado diretamente pelo Capítulo I”.2 Ora, essa natureza refratária à problematização de suas próprias bases, essa resistência à reflexão, constitui um dos fatores que cremos justificar o pre sente ensaio, cujo propósito é justamente apresentar a ideia da disciplina, suas origens e percurso, bem como discutir-lhe os fundamentos conceituais e a metodologia. Com esse objetivo, estrutura-se o ensaio em cinco capítulos. O primeiro se dedica a delinear um panora ma dos estudos literários, assinalando, no horizonte dessa paisagem, o detalhe que corresponde à história da literatura. O segundo se propõe a ampliar esse de talhe, subtraindo-o ao cenário em que inicialmente o inscrevemos, a fim de que possamos reexaminá- -lo em profundidade, numa perspectiva vertical. 1 Francesco de Sanctis, Storia delia Letteratura Italiana. Ed. Francesco Flora. [ 1871] Milano, Antonio Vallardi, 1950, p. 29. Antonio Cândido, Formação da Literatura Brasileira; Momentos De cisivos. [1959] São Paulo, Martins, 1971, vol. 1, p. 23. Mi ] 1. OS TERMOS DA QUESTÃO