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Hegemonia Burguesa na Educação Pública PDF

328 Pages·2018·3.168 MB·Portuguese
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Hegemonia Burguesa na Educação Pública: problematizações no curso TEMS (EPSJV/PRONERA) FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ Presidente Nísia Trindade Lima ESCOLA POLITÉCNICA DE SAÚDE JOAQUIM VENÃNCIO diretora Anakeila de Barros Stauffer Vice-diretor de ensino e informação Carlos Maurício Guimarães Barreto Vice-diretor de Gestão e desenVolVimento institucional José Orbilio de Souza Abreu Vice-diretor de Pesquisa e desenVolVimento tecnolóGico Sérgio Ricardo de Oliveira Rio de Janeiro, 2018 Hegemonia Burguesa na Educação Pública: problematizações no curso TEMS (EPSJV/PRONERA) orGanizadoras Anakeila de Barros Stauffer Caroline Bahniuk Maria Cristina Vargas Virgínia Fontes Copyright © 2018 das organizadoras Todos os direitos desta edição reservados à Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio/Fundação Oswaldo Cruz caPa Maycon Gomes editoração Marcelo Paixão reVisão Gloria Regina Carvalho conselho de Política editorial André Dantas (EPSJV) - Coordenador Executivo Anamaria D’andrea Corbo (EPSJV) Bianca Côrtes (EPSJV) Carla Martins (EPSJV) Elizabeth Leher (EPSJV) Helena Leal David (UERJ) Luiz Maurício Baldacci (EPSJV) Márcia Teixeira (EPSJV) Ramon Peña Castro (EPSJV) Teresa Cavalvanti (UERJ) Catalogação na fonte Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio Biblioteca Emília Bustamante S798h Stauffer, Anakeila de Barros (Org.) Hegemonia burguesa na educação pública: problematizações no curso TEMS (EPSJV/PRONERA) / Organização de Anakeila de Barros Stauffer, Caroline Bahniuk, Maria Cristina Vargas e Virgínia Fontes. - Rio de Janeiro: EPSJV, 2018. 328 p. : il. : tab. ISBN: 978-85-5457-003-3 1. Educação. 2. Educação Pública. 3. Trabalho. 4. Movimentos Sociais. 5. MST. I. Título. II. Bahniuk, Caroline. III. Vargas, Maria Cristina. IV. Fontes, Virgínia. CDD 370 P refácio Está no DNA da classe dominante brasileira, que historicamente derruba, pelas armas se for preciso, toda ameaça ao seu domínio, seja qual for sua sigla. Luiz Fernando Verissimo1 O livro Hegemonia burguesa na educação pública tem uma es- pecificidade por três aspectos básicos: pela sua origem imediata e mediata e pelo processo de elaboração dos textos que o com- põem, pelo enfoque teórico e político que expressa e pelo con- texto em que vem a público. Contexto que deriva do DNA da burguesia brasileira de marca colonizadora, escravocrata, antina- cional, antipovo e golpista. Com efeito, como indica a epígrafe, toda vez que há avan- ços na conquista de direitos pela classe trabalhadora, por meno- res que sejam, a classe dominante brasileira, com a violência das armas e pelo arbítrio e violência das leis, promove ditaduras ou desfere golpes de Estado. Em 31 de agosto de 2016, mediante um linchamento parlamentar, midiático e jurídico do governo eleito pelo voto popular, com pretextos técnicos e jurídicos cíni- cos, mais um golpe de Estado interrompeu a frágil ordem demo- crática e o estado de direito. Um contexto que, sob o mando do rito legalista, instaurou um estado de exceção de traços policiais. 1 Verissimo, Luiz Fernando. Ódio. Jornal O Globo. Caderno Opinião. Rio de Janeiro, 25/6/2015. Disponível em: <http://oglobo.globo.com/opiniao/odio-16546533#ixzz 3eAZnOCwa/>. Acesso em: 10 abr. 2017. Por isso, neste breve prefácio, busco enfatizar estes três aspectos que podem nos ajudar a entender, ao mesmo tempo, a disputa dos projetos de sociedade e de educação pública em curso; o aguçamento dos embates sobre as concepções ontoló- gicas, epistemológicas e políticas que subjazem a estes projetos; e a profunda regressão política e social que engendra o golpe de Estado, consumado juridicamente em agosto de 2016, com o ata- que frontal aos direitos básicos de produção e reprodução da vida, aos direitos sociais e aos direitos subjetivos. O primeiro traço de especificidade da coletânea, em sua origem imediata, situa-se no fato de que os textos que a com- põem resultam dos trabalhos finais de alguns participantes de dois cursos de especialização sobre Trabalho, Educação e Movi- mentos Sociais, demandados pelos movimentos sociais popula- res do campo, particularmente o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). A escolha destes trabalhos não deriva de uma hierarquia de relevância maior ou menor em relação aos demais e sim, como explicam as organizadoras da coletânea na apresenta- ção, dos temas que incidem no avassalador processo de penetra- ção de institutos e organizações da sociedade civil dos grandes grupos empresariais, especialmente do agronegócio, mas, tam- bém, da indústria e de serviços, na disputa por instaurar a ideolo- gia do mercado na gestão, no currículo e nos métodos de ensino na escola pública. Todavia, sua origem mediata, e que explica o conteúdo, mé- todo e forma dos cursos, definição dos eixos estruturantes, biblio- grafia estudada e temas dos trabalhos de pesquisa, é o enredo de sofrimento, experiência de organização e luta coletiva e formação humana, em particular do MST, nas quatro últimas décadas. Enredo que tem avançado na compreensão de que a luta pelo direito à terra como meio de produção e reprodução da existência de milhões de camponeses, indígenas e quilombolas e, em con- sequência, da reforma agrária, se localiza no campo, mas é do inte- resse da classe trabalhadora tanto do campo quanto da cidade. Os temas dos seis congressos que até o presente o MST realizou explicitam este processo de adensamento, sendo que o último (6o Congresso), realizado no período de 10 a 14 de feve- reiro de 2014, teve como lema: Lutar! Construir Reforma Agrá- ria Popular! A questão de fundo que o Congresso trouxe é qual o tipo de alimento que o mundo quer comer. Um alimento tur- binado por venenos cada vez mais poderosos, que contaminam e liquidam com a água potável e o solo; e carnes com rações com ingredientes danosos à saúde, cuja lógica é maximizar o lucro, ou alimentos para uma vida saudável? Foi neste processo de organização e de luta no confronto com os grandes grupos econômicos, nacionais e internacionais (estes, nas últimas quatro décadas implantaram e consolidaram políticas de produção para o mercado mundial e não para satis- fazer a necessidade básica e imperativa da reprodução material da vida), que o MST, ao lado de outros movimentos sociais do campo, entendeu a importância fundamental da disputa no âm- bito da educação, da ciência e da cultura. Destaco dois trabalhos que traduzem o avanço nesta dispu- ta demonstrando o vínculo orgânico entre projeto de sociedade, concepção e práticas educativas e produção do conhecimento, além do entendimento de que os movimentos sociais do campo necessitam ampliar o acesso à formação científica e cultural para os seus quadros e militantes, com o apoio de grupos de intelectuais vinculados às suas lutas e que atuam em universidades e institui- ções públicas. Roseli Salete Caldart, em seu livro Pedagogia do Movimento Sem Terra,2 sublinha que a pedagogia do MST não nasce na escola e não fica nela. Nasce na luta social e retorna a ela, mas a escola constitui-se numa mediação necessária e fundamental. Do mesmo modo, traduz de forma lapidar o entendimento do que seja um processo educativo e de conhecimento, dentro da concepção dialética materialista histórica, que atende aos interesses dos mo- vimentos sociais do campo. Ao indicar que não se trata de educação no campo nem para o campo, mas do campo, contrapõe-se às formas histori- camente dominantes de colonização e dominação dos povos do campo, e afirma que o ponto de partida da formação humana e dos processos de conhecimento são, necessariamente, os sujeitos campesinos concretos portadores de saberes, cultura e experiên- cia. Como tal, ao mesmo tempo em que buscam apropriar-se do conhecimento científico e cultural produzido pela humanidade, do qual são também produtores, lutam por ampliá-los desde o local onde vivem. Ou seja, trata-se de não serem colonizados nem colonizadores. É dentro desta compreensão que o MST busca inserir-se, de forma cada vez mais ampla, nos espaços das universidades e das instituições públicas, mediante convênios ou iniciativas de professores/pesquisadores vinculados às suas lutas. Nestas ini- ciativas é que se inserem os cursos de graduação em educação do campo, em direito, agronomia etc., além dos cursos de espe- cialização e da inserção de quadros do movimento em cursos de 2 Caldart, Roseli Salete. Pedagogia do Movimento Sem Terra. Petrópolis/RJ: Vozes, 2000. mestrado e de doutorado. Por certo, trata-se de espaços marca- dos por tensões, conflitos e contradições, pois, mesmo as uni- versidades públicas condensam, dominantemente, as concepções e práticas formativas e métodos de produção do conhecimento que interessam à classe dominante, aos detentores do capital. A coletânea MST, pesquisa e universidade3 traduz como o MST, nessa inserção com as universidades e instituições públicas, de- marca sua compreensão da produção do conhecimento que atende aos interesses dos trabalhadores da cidade e do campo. O pressuposto é que nas sociedades cindidas em classes sociais os processos educativos e de produção de conhecimento estão, também, cindidos. São alvos de uma disputa e, consequentemen- te, não são neutros. Ao capital e seus intelectuais não interessa desvelar o que está subjacente à sua maneira de ser, de explorar os trabalhado- res, nem suas formas predatórias da natureza em nome do lucro maximizado. Modos de conhecimento e de ação que conduzem a crises cada vez mais agudas e destrutivas. Um conhecimento, como assinalava Marx em relação aos economistas burgueses, que lhes permite ver os efeitos das crises; mas são incapazes de entender o que as produzem. Em sentido antagônico, ainda que produzido nos espaços marcados por contradições, o conhecimento que interessa à clas- se trabalhadora é aquele que mostra o que está subjacente à do- minação do capital e à formação das massas, para uma ação polí- tica que conduza à superação do capitalismo e à instauração de relações sociais de produção e de formação humana socialistas. 3 Caldart, Roseli Salete; Alentejano, Paulo. MST, pesquisa e universidade. São Paulo: Ex- pressão Popular, 2014. Uma sociedade sem exploradores e explorados e com outra re- lação entre os seres humanos e a natureza da qual somos parte. O que assinalei até aqui nos fornece o segundo aspecto de especificidade desta coletânea. De fato, o processo da construção dos dois cursos sobre Trabalho, Educação e Movimentos So- ciais, os quais foram a base teórica dos trabalhos finais de todos os participantes, resultou da demanda destes movimentos sociais por um conteúdo e um método que aprofundassem as concep- ções de educação e de conhecimento acima sinalizadas. Por isso, a demanda de que a base bibliográfica dos cursos fosse o pensa- mento e a obra de Karl Marx e as produções daqueles intelectuais que, com base nele, desenvolveram as diferentes perspectivas contemporâneas do marxismo no plano mundial e no Brasil e do marxismo e da educação. Esta escolha, noutros termos, se traduz pela necessidade de aprofundamento da concepção ontológica, epistemológica e polí- tica do materialismo histórico e do método dialético materialista na análise das relações entre sociedade, Estado, trabalho, educação e cultura. A segunda coletânea, em elaboração, tem como objeto a exposição de todo o processo e conteúdo dos cursos e a dinâ- mica das aulas e seminários, as linhas de pesquisa definidas cole- tivamente e a orientação dos trabalhos de pesquisa. Os cursos se pautaram dentro de uma concepção ontoló- gica do ser humano como ser histórico social que produz sua existência no conjunto das relações sociais de um determinado tempo histórico. Concepção, portanto, antagônica à visão bur- guesa que concebe o ser humano como uma abstração, um ser a-histórico e que, por natureza, é portador do egoísmo que o im- pulsiona à busca do bem próprio e à competição. Concepção que

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