GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 29, pp. 131 - 144, 2011 Heartland Sul-americano? Dos discursos geopolíticos à territorialização de um novo triângulo estratégico boliviano Matheus Hoffmann Pfrimer* Resumo: Do ponto de vista da geopolítica crítica as teorias da geopolítica sul-americana se destacam, já que exerceram grande influência na vida política dessa região. Dotada de uma diversidade de recursos naturais e variada fisiografia, a Bolívia chamou a atenção pelas perdas territoriais e de seu acesso ao mar. No pensamento geopolítico coexistem pelo menos três visões sobre a Bolívia. A primeira é a de que a Bolívia era um absurdo geográfico. A segunda visão apresentava a Bolívia como área estratégica de contenção entre Argentina e Brasil, a partir do conceito de triângulo estratégico boliviano. A terceira vertente vem afirmando que a Bolívia é uma área estratégica para a integração sul-americana. O presente estudo visa verificar as transformações da morfologia, função e estrutura territoriais na Bolívia de forma a distinguir quais desses postulados atualmente se aplicam no território boliviano. Palavras-chave: Bolívia, Heartland Sul-americano, triângulo estratégico boliviano, Pensamento Geopolítico. Abstract: From the standpoint of critical geopolitics, the theories of South American geopolitics stand out, once they influenced the political life in this region. Endowed with a great variety of natural resources and a diverse physiography, Bolivia drew the geopoliticians attention for losing a great part of its original territory and its shore. There are at least three different points of view about Bolivia within South American geopolitical thought. The first one characterized Bolivia as a geographical nonsense. The second view presented Bolivia as an important area of containment carried on by Brazil and Argentina. The third, and last one, has argued that Bolivia is a strategic area for South American integration purposes. This study aims to determine the changes in morphology, function and territorial structure in Bolivia in order to distinguish which of these discourses are territorialized today in Bolivia. Key words: Bolivia, South American Heartland, Bolivian strategic triangle, Geopolitical thought. 1. Introdução 2004), Dodds (2000), Kelly (1997) e Child (1988), Vários geógrafos vêm ressaltando a importância partindo de uma perspectiva crítica, advertiram de se retomar uma análise crítica do pensamento sobre a importância de se revisar os postulados geopolítico sul-americano. Geógrafos como Becker do pensamento geopolítico sul-americano. (1980, 1988), Costa (2008), Martin (1992) vêm Razões para isso existem: a) a geopolítica crítica empreendendo uma revisão crítica dos conceitos e tem se centrado em sua maior parte apenas teorias do Pensamento Geopolítico Sul-americano na análise do pensamento geopolítico anglo- há mais de vinte anos, uma vez que a política do saxão; b) a geopolítica teve grande influência subcontinente foi diretamente influenciada pelas sobre a vida política sul-americana, uma vez doutrinas geopolíticas regionais. que sua reputação no continente é positiva; c) Esse intento não se restringiu a geógrafos ‘‘muitas facetas da política externa sul-americana do subcontinente. Há algum tempo, também parecem corresponder (...) ao formato das teorias autores anglo-saxões como Hepple (1986a, Doutor em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo. E-mail: [email protected]. 132 - GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 29, 2011 PFRIMER,M.H. geopolíticas”; d) uma boa parte dos renomados do continente, a Bolívia era vislumbrada como geopolitólogos sul-americanos foi ou ainda são uma região estratégica na região. Naturalmente influentes na política de seus países (KELLY, 1997, boa parte desses discursos buscava justificar uma p. 13-14). geopolítica prática e seus projetos ambiciosos em Atualmente a geopolítica pós-moderna vem território boliviano. Isso pode ser comprovado não empreendendo uma reflexão mais acurada apenas pelos discursos geopolíticos como também da geopolítica clássica, principalmente no que pelas ações expansionistas de diversos atores concerne aos conceitos e discursos geopolíticos. sobre Bolívia. Por esses fatores, o caso boliviano Agnew e Corbridge (1995) afirmam que uma se estabelece como uma boa oportunidade de se ordem geopolítica vem sempre pautada por avaliar os discursos e práticas geopolíticos sul- discursos geopolíticos, que oferecem legitimidade americanos e os graus de territorialização das à materialidade de um arranjo territorial. Outros diretrizes neles intencionadas. autores como Dodds (2007) e Ó’Tuathail (1996) Para tanto, pretendemos retomar os discursos afirmam que deve-se estudar as teorias geopolíticas geopolíticos sobre a Bolívia, por meio do conceito como construtos teóricos para legitimar práticas de triângulo estratégico boliviano e outras teorias, espaciais hegemônicas, e, portanto, os discursos e contrapô-los ao arranjo territorial boliviano, de são essenciais para compreendê-las. Porém, forma a elucidar a sua verdadeira concretude. de outra forma, diríamos que os discursos Seriam os discursos geopolíticos sobre a Bolívia procuram legitimar diversas práticas geopolíticas, apenas estratégias discursivas do poder, ou as representadas pelas decisões e ações tomadas diretrizes conceituais desses discursos realmente por diferentes atores em diversas escalas, no se materializaram em território boliviano, por entanto, a recíproca também é verdadeira, pois meio de práticas geopolíticas, deixando assim as práticas também influenciam os discursos. de ser apenas construtos meramente teóricos A partir da constituição dessas práticas vão se para se plasmarem no real concreto? Levando estabelecendo diversos arranjos territoriais1. esse questionamento adiante, em um primeiro Dessa forma, o que ocorre é uma interação entre momento classificamos os diferentes discursos discursos, práticas e arranjos territoriais, não geopolíticos sobre a Bolívia de acordo com o havendo uma preponderância dos discursos sobre contexto histórico. Desta forma, dividimos o as demais categorias, como querem afirmar os horizonte temporal desse estudo em período de autores da geopolítica pós-moderna (KELLY, 2006; contenção (até o final da década de 70) e período TAYLOR, FLINT, 2000, DODDS, 2000). Assim, uma de integração (a partir de 1980 até o período vez que boa parte desses discursos geopolíticos atual). Por meio dessa classificação partimos então parece corresponder aos arranjos territoriais na para uma apreciação das práticas geopolíticas e Bolívia, não faz mais sentido apenas examinar de seus consequentes arranjos territoriais na Bolívia, que forma a geopolítica legitimou essas práticas verificando a sua densidade técnica, sua morfologia sociais (PFRIMER, ROSEIRA; 2009). e seu processo de transformação em um novo É notório que vários conceitos da geopolítica contexto. Em uma terceira fase confrontamos clássica europeia foram arregimentados pelo os discursos geopolíticos aos arranjos territoriais pensamento militar sul-americano, uma vez que bolivianos, apreciando criticamente quais discursos nas escolas militares do continente conformavam geopolíticos acabaram se plasmando em maior ou verdadeiros núcleos de doutrinamento dos menor intensidade no território boliviano. postulados geopolíticos europeus e americanos. Um dos conceitos mais difundidos nesses centros 2. Bolívia: um hiato em meio a discursos se fundamentou na transposição do conceito de geopolíticos heartland, cunhado pelo geógrafo Halford Mackinder (1904), para a situação geográfica boliviana pelos Buscamos nesse tópico avaliar de que forma diferentes autores sul-americanos (VEGA, 1968, se estruturou a visão da geopolítica formal2 a 1982; BAPTISTA GUMUCIO, SAAVEDRA WEISE, respeito da Bolívia, isto é, de que forma as teorias 1978). Por se situar geograficamente no centro e os discursos geopolíticos foram pouco a pouco Heartland Sul - americano? Dos discursos geopolíticos à territorialização de um novo triângulo estratégico boliviano. pppp.. 113311 -- 114444 113333 estruturando uma visão geral sobre a Bolívia territorial (WHITTLESEY, 1944, p. 545). O geógrafo no contexto sul-americano, interagindo com as espanhol afirmou categoricamente que a Bolívia práticas geopolíticas. era um “absurdo geográfico” (BADIA MALAGRIDA, Nos manuais geopolíticos pode-se encontrar 1919 apud QUIROGA, 1978, p. 88) uma vez que pelo menos três posições em relação à Bolívia (ver seu território não coincidia com nenhuma das Quadro 1). A primeira aponta a Bolívia como um regiões físicas sul-americanas. Segundo o autor absurdo geográfico, um país tampão comprimido espanhol, isso era sinal de que não havia uma entre as pretensões de Argentina, Brasil e articulação coerente entre o solo e a sociedade Chile. Para esses geopolitólogos, a presença de boliviana. Esse tipo de posição foi defendida em características fisiográficas tão díspares, como sua maior parte por autores oriundos de escolas a sua orografia variada, impediu a integração geopolíticas externas ao contexto sul-americano. das diferentes regiões do território boliviano, Mesmo após a passagem do período de contenção inviabilizando a sua própria existência enquanto para o de integração, essa posição geopolítica país. Autores clássicos como Derwent Whittlesey exógena tem procurado afirmar a insignificância e Badia Malagrida esquadrinharam a situação boliviana em relação ao contexto sul-americano, boliviana como a de um “pseudo” Estado. Para devido a seu enclausuramento geopolítico e o geógrafo americano a Bolívia era um estado ausência de unidade política (GLASSNER, 1988; “deficiente” (handicaped state) devido à dificuldade LAVAUD, 2000; HEPPLE, 2004). de integração nacional provocada pela orografia diversa de seu território e sua deficiente política Visão dos discursos Período de contenção Período de integração geopolíticos a respeito da (até final da década de 70) (início da década de 80 em Bolívia diante) Bolívia como absurdo geopolítico ou com Badia Malagrida (1919), Glassner (1988), nenhuma importância Bowman (1928), Hepple (2004), geopolítica Whitlesey (1944). Lavaud (2000). Cañas Montalva (1959), Meneses Ciuffardi (1981), Carlés (1950), Bolívia como área Couto e Silva (1955), estratégica para a Guglialmelli (1975), contenção sul-americana Pinochet (1977), Rodrigues (1947), Tambs (1965), Travassos (1935), Videla (1980) Bolívia como área Mendoza (1935), Costa (1999), Egler (2006), estratégica para integração Valencia Vega (1968), Marini (1980), Martin (2007), sul-americana Zavaleta Mercado (1967) Quagliotti de Bellis (1990), Valencia Vega (1982), Velilla de Arréllaga (1982) Quadro 1. Principais Teorias Geopolíticas a respeito da Bolívia no período de contenção e integração sul-americana. Fonte – Organizado por Pfrimer (2010). Um segundo grupo de autores geopolíticos aspecto marcante nessa posição era a fobia procurou ver a questão por uma ótica diferente. da ascensão do comunismo na região, ainda Em um período em que argentinos e brasileiros mais após a guerrilha do “Che” em pleno Chaco se confrontavam pela preponderância continental, boliviano (DODDS, 2000, p. 169). Dessa forma, o território boliviano se tornava o “eixo de boa parte dos discursos brasileiros e argentinos vertebração” do poder na América do Sul. Outro durante a contenção caracterizava a Bolívia como 134 - GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 29, 2011 PFRIMER,M.H. uma região estratégica a ser controlada ainda argentinos vislumbraram “o território boliviano que indiretamente3. Uma das teorias geopolíticas como um espaço vazio a ser preenchido” mais significativas que expressa esse discurso (PITMANN 1981 apud DODDS, 2000, p. 161) e é a do triângulo estratégico boliviano formulada também como uma questão chave da política pelo general brasileiro Mário Travassos ainda nos externa argentina (RUSSEL, 1988, p. 72; DODDS, anos 30. 2000; CARLÉS, 1950; GUGLIALMELLI, 1975; Para Travassos os principais contrastes ROMANO apud PEREIRA, 1974, p. 72; MACHICOTE fisiográficos do subcontinente giravam em torno apud MELO, 1997, p. 152). Do lado chileno o dos antagonismos Atlântico-Pacífico e Bacia Platina espectro da posição brasileira e argentina também e Bacia Amazônica. Para o militar brasileiro, se fez refletir nos meios militares. Autores como dentre os dois antagonismos o último era o mais Cañas Montalva (1959) e o general Augusto acentuado e colocava em jogo interesses das duas Ugarte Pinochet (1977) ressaltavam que a Bolívia potências regionais: Brasil e Argentina. No seu era uma área estratégica para a preservação pensamento geopolítico, ambos os antagonismos dos interesses chilenos em relação à Argentina se materializavam em pleno território boliviano e ao Peru (PITMANN, 1988). O exemplo mais conformando um triângulo onde se confrontavam prático da visão chilena sobre a Bolívia pode ser interesses brasileiros (influências amazônicas), contemplado ao se analisar o Plano Alpaca que argentinos (influências platinas) e bolivianos visava a expansão chilena sobre terras bolivianas. (influências andinas). Segundo Travassos, “a Após a passagem para um período caracterizado chave desse problema se encontrava no chamado pela preponderância da integração sob a contenção, triângulo econômico Cochabamba-Santa Cruz essa visão defendida principalmente por autores de La Sierra-Sucre, verdadeiro signo da riqueza argentinos, brasileiros e chilenos foi sendo relegada boliviana” (TRAVASSOS, 1935, p. 41). Ou seja, a último plano. Em contraposição a ela, ainda no nessa nova corrente a Bolívia deixava de ser período de contenção, autores bolivianos exaltaram insignificante para ganhar atenção dos projetos os fatores geográficos do país como símbolos de expansionistas das semipotências sul-americanas. identificação da nação boliviana (MENDOZA, 1935; Boa parte do pensamento geopolítico sul- ZAVALETA MERCADO, 1967) dando origem a uma americano consubstanciou a sua análise sobre terceira visão que caracteriza a Bolívia como uma a geopolítica da região e da Bolívia a partir da área estratégica e rica em recursos uma vez que teoria de Travassos. No pensamento geopolítico nela se encontra o Divortium aquarium (divisor brasileiro outros autores também colocaram a de águas) sul-americano. Posteriormente, outros Bolívia como área de confrontação entre interesses autores bolivianos acrescentaram a essa posição brasileiros e argentinos (KELLY, 1988, p. 114; a ideia de que a integração nacional da Bolívia HEPPLE, 1986b). Lysias Rodrigues ressaltou o era fundamental para o equilíbrio territorial sul- conceito-chave de Travassos a partir da ideia de americano e dotado desse epíteto, tornava-se Puncti Dolentes. Rodrigues buscou a partir desse evidente que o território boliviano era um ponto conceito representar pontos de tensão geopolítica fulcral para a integração das diversas regiões do no sub-continente, sendo o principal deles o que continente sul-americano (VALENCIA VEGA, 1968; se cristalizava na região do triângulo estratégico PAREJA, 1978). Somente assim o “cercamento” boliviano (RODRIGUES, 1947, p. 65). Golbery do argentino-brasileiro sobre o território nacional Couto e Silva também deu maior contextualização seria atenuado. Embora essa tese expressasse um ao conceito de Travassos a partir da idéia de “Área nacionalismo boliviano, posteriormente autores de Soldadura continental” (COUTO E SILVA, 1955, paraguaios e uruguaios passaram a defender a tese p. 127-128). de que a Bolívia, assim como o Paraguai e Uruguai, No pensamento geopolítico argentino, a obra deviam se aliar para fazer face aos avanços das de Travassos foi também fortemente acolhida duas semipotencias (VELILLA DE ARRÉLLAGA, principalmente pela Escuela Superior de Guerra 1982; QUAGLIOTI DE BELLIS, 1988; QUAGLIOTI (DODDS, 2000, p. 160). Diferentes geopolitólogos DE BELLIS, 1990), daí a gênese da organização Heartland Sul - americano? Dos discursos geopolíticos à territorialização de um novo triângulo estratégico boliviano. pppp.. 113311 -- 114444 113355 URUPABOL formada em 1981. Anteriormente, (ALCA). outros intentos de cooperação regional já haviam De outro lado, percebe-se que os discursos sidos organizados como a Comunidade Andina geopolíticos dos países ABC4 caracterizavam a de Nações (CAN), Associação Latino-Americana Bolívia como uma área de substancial importância de Livre Comércio (ALALC), porém sem avanços para a defesa de seus interesses nacionais e a substanciais diante de uma contenção acentuada. prepoderância em todo subcontinente. Entretanto, O ponto de passagem da preponderância da o arrefecimento das políticas de contenção contenção para a preponderância da integração se e construção de um novo cenário pautado deu a partir da formulação do Fundo Financeiro majoritariamente na integração fizeram com que para o Desenvolvimento da Bacia do Prata o território boliviano fosse apreciado de forma (FONPLATA). Logo em seguida, outras iniciativas diferente pela nova agenda regional. Foi atribuído de integração ganharam maior espaço como ao país andino uma nova função: a de núcleo de a Associação Latino Americana de Integração integração sul-americana. Naturalmente esses (ALADI) e mais tarde o Mercado Comum do Sul discursos também expressam intencionaldades (MERCOSUL). Evidentemente, a partir desses a partir das quais transparecem não apenas eventos, os discursos dos países ABC tomaram objetivos benignos aos interesses dos países um rumo oposto àquele apresentado durante a menos desenvolvidos da região. Os projetos contenção. No pensamento geopolítico argentino, de integração regional produzem asimetrias Marini (1980) passou a defender a necessidade da ecônomicas e ambientais, principalmente nos integração argentino-brasileira face à presença teritórios dos países menos desenvolvidos, por isso americana na região, e nesse contexto a Bolívia mesmo o conceito de integração, em alguns casos, se tornaria uma área importante para a integração pode significar tudo, menos coligar territórios regional. O mesmo aconteceu com o pensamento nacionais para fins mútuos. geopolítico brasileiro (KELLY, 1988, p. 121; EGLER, Marcando uma terceira visão sobre o 2006). Costa (1999) apresenta a Bolívia como seu próprio território, os discursos bolivianos uma das regiões fundamentais para a articulação procuraram valorizá-lo, observando a sua territorial no subcontinente. Martin (2007) trata reconhecida importância estratégica, porém, não o território boliviano como crucial para integração para a finalidade de contenção, mas sim para a férroviária e a consolidação da integração territorial de integração nacional e regional de forma a fazer sul-americana sob a ótica de uma geoeconomia face a interesses externos aos sul-americanos. meridionalista. Verifica-se ideologicamente que o imaginário De forma geral, nota-se que os discursos geopolítico boliviano procura amalgamar o geopolíticos exógenos ao contexto sul-americano fragmentado território boliviano, com finalidade de procuram caracterizar a Bolívia como uma área solidificar a indentidade nacional a partir de suas inexpressiva, principalmente na escala global. características fisiográficas. Daí por exemplo a tese Porém, deve-se ressaltar que o território boliviano do “macizo boliviano” de Jaime Mendonza (1935), continua sendo uma área estratégica na escala sul- que defendia a ideia de que ao invés de fragmentar americana, principalmente para as finalidades do as regiões bolivianas, a fisiografia do território projetos de integração regional. Evidentemente, nacional era um fator de coesão nacional por meio boa parte desses discursos exógenos também da identificação com a paisagem andina. Dessa procuraram legitimar posições de poder. Assim forma, fica evidente que os discursos geopolíticos sendo, esses discursos estariam procurando a respeito do território boliviano procuraram subestimar a posição estratégica da Bolívia, com o legitimar práticas geopolíticas, resta saber qual objetivo de dissuadir ideologicamente os projetos delas prevaleceu no arranjo territorial boliviano. de integração territorial sul-americana, que, afinal, se apresentam como alternativas mais palpáveis 3. A Régua e compasso: a arquitetura dos do que outros projetos de integração regional discursos geopolíticos em território boliviano como a Área de Livre Comércio das Américas Do ponto de vista das práticas geopolíticas e 136 - GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 29, 2011 PFRIMER,M.H. da morfologia territorial existe um descompasso setor agroexportador em Santa Cruz todo o capital entre os períodos aqui analisados. Se no início da arrecadado pela tributação da atividade mineradora contenção os discursos geopolíticos eram apenas no altiplano. Nesse contexto, Santa Cruz deixaria narrativas especializadas do poder, no final do de ser uma cidade média para se tornar uma período de contenção, fica explícito que esses área propícia à economia moderna e voltada para discursos acabaram se materializando no território mercado internacional. Após a revolução de 1952, boliviano embora o arranjo anterior tenha também e a entrada no poder do governo popular do MNR, o interferido nesse processo de reestruturação plano ganharia ainda mais apoio, com a construção territorial. Naturalmente, a fixação de uma rede de infraestrutura de transportes e serviços. de objetos técnicos e a consequente densificação O objetivo principal almejado pelo novo da rede urbana foram fruto da ingerência brasileira planejamento territorial e a geopolítica prática e argentina nas políticas territoriais bolivianas por boliviana era a criação de um eixo de ocupação meio de golpes de Estado e incentivos econômicos em sentido leste-oeste. Esse projeto se baseava (SCHILLING, 1981; MELLO, 1997; ZANATTA, na teoria dos corredores econômicos, do qual La 2006; PFRIMER, ROSEIRA, 2009 ). Assim sendo, Paz, Cochabamba e Santa Cruz de La Sierra seriam buscamos nesse tópico apresentar de que forma polos de desenvolvimento econômico. Ademais, os discursos geopolíticos sobre a Bolívia se aliaram estando cada polo de desenvolvimento localizado às práticas geopolíticas e influenciaram as políticas em um piso ecológico (altiplano, vales e llanos territoriais no país andino, vindo a territorializar respectivamente) facilitaria a integração nacional. várias das ideias presentes nesses postulados Essas medidas promovidas pelas políticas geopolíticos. territoriais bolivianas não tardaram a modificar Nos discursos geopolíticos sul-americanos o arranjo territorial. A abertura de uma série de muitos se fala da Bolívia como área de integração estradas promoveu grande fluxo migratório e entre Bacia do Prata e Amazônica, porém a a criação de uma série de novos municípios. A questão também girava em torno da integração população nacional presente nos llanos passaria de nacional de um país regionalmente dividido por 12%, em 1954 a aproximadamente 30%, em 2001 áreas desconexas entre si. Até 1950, grande parte (INE, 2002). Além disso, Santa Cruz veio a ser no do ecúmeno boliviano se encontrava presente final dos anos 1990 o principal centro econômico apenas no altiplano. O eixo de ocupação tinha um nacional com mais 30 % do PIB (INE, 2001). claro delineamento norte-sul sobre o altiplano. Naturalmente, a inversão de financiamentos Estendendo-se desde a fronteira argentina por em Santa Cruz não foi mera obra do acaso. Além meio de Tarija, passando pelos principais centros do desenvolvimento nacional, o fator geopolítico e mineradores como Potosi, Sucre e Oruro e indo a influência estrangeira foram preponderantes para até La Paz. Mais da metade do território nacional que Santa Cruz se tornasse polo de atração. Após situado nos llanos encontrava-se parcamente a ascensão de Hugo Banzer, em 1971 na Bolívia, povoada. Essa terras orientais que ocupam sob os auspícios do regime militar brasileiro e do aproximadamente 60% do território boliviano governo americano, mais de 70% dos créditos foram durante muito tempo consideradas pelo concedidos pelo Banco Agrícola e a Corporação imaginário popular como tierras baldias, ou seja, de Desenvolvimento Regional foram destinados inúteis uma vez que não tinham tanto minério à Santa Cruz (DUNKERLEY, 1984, p. 221). O como nas terras do altiplano. governo americano, ao conceder empréstimos à Ainda nos anos 40, o Estado boliviano passou Bolívia, condicionou a realização dos empréstimos a se preocupar com a ocupação e valorização do ao requisito de que mais da metade deles fossem território oriental. Visando resolver o desequilíbrio implementados em Santa Cruz de La Sierra territorial nacional e o monopólio da mineração (ANDRADE, 2007, p. 132). Nesse período, os sobre a economia, um novo planejamento americanos já tinham se decidido pelo Brasil territorial, orientado pelo economista americano como aliado regional, e, portanto, fazia parte Marvin Bohan, passou a ser implementado. do interesse americano que o Brasil mantivesse Tratava-se de utilizar para financiamentos do sua influência em território boliviano por meio da Heartland Sul - americano? Dos discursos geopolíticos à territorialização de um novo triângulo estratégico boliviano. pppp.. 113311 -- 114444 113377 atração de Santa Cruz à esfera política brasileira. não foi por acaso que a malha ferroviária oriental Nesse sentido outras escalas maiores, além da boliviana se integra, ainda hoje, à ocidental apenas regional e nacional, acabaram interferindo nas em território argentino. políticas territoriais bolivianas. Não é por acaso que Ainda em relação ao país andino, a empreitada boa parte dos problemas da integração nacional pela sua satelitização por parte do Brasil foi mais boliviana advém da sua própria política externa adiante. De forma a impedir a implantação dos pendular entre Brasil e Argentina, assegurando planos sociais durante o avanço da revolução assim certo equilíbrio geopolítico entre Brasil e de 1952, o governo brasileiro apoiou logística e Argentina (KELLY, 1997). Trata-se de uma forma militarmente o golpe militar cruceño de 1970, de sobreviver incrustada entre as influências das liderado pelo General Hugo Banzer. Poucos dias duas potências regionais. Naturalmente, o preço após a tomada do poder pelo militar, Brasil e de tal empreitada é pago pela falta de integração Bolívia assinaram os “Convênios de Cochabamba”, e risco de balcanização. no qual o país andino se comprometia a fornecer A disputa pela hegemonia regional em território ao “país-hermano” 240 milhões de pés cúbicos boliviano fez com que Brasil e Argentina aplicassem diários de gás natural, por um prazo de 20 anos, boa parte dos postulados de sua geopolítica formal. totalizando 1,7 trilhões de metros cúbicos. Em Em relação à geopolítica prática brasileira, não contrapartida, o Brasil se comprometia a construir apenas a ligação viária bioceânica seria o ponto o futuro gasoduto Brasil-Bolívia (GASBOL), uma chave da sua política para o subcontinente, mas usina petroquímica, uma usina siderúrgica para principalmente a satelitização dos prisioneiros a jazida de Mutum5, e a conexão ferroviária entre geopolíticos (Bolívia e Paraguai). A finalidade Santa Cruz e Cochabamba. Por último, concedia principal era alcançar o Pacífico atraindo boa quatro zonas francas6 à Bolívia (MELLO, 1997, p. parte do cerne continental sul-americano e 158-159; SCHILLING, 1981). transformando-o na hinterlandia do porto de Por outro lado, a geopolítica prática Santos. argentina procurava estabelecer seus interesses A atuação brasileira em território boliviano foi principalmente na área de hidrocarbonetos e de ferrenha. O governo brasileiro construiu a ligação transportes. Sua estratégia principal era impedir rodoviária conectando a Plataforma Central de a conexão Santos-Arica, ou na pior das hipóteses, Reserva brasileira a Corumbá no Mato Grosso do criar alternativas melhores de forma a concorrer Sul, permitindo assim a ligação até Santa Cruz de com este eixo. Além das conexões viárias que já La Sierra. Posteriormente o governo revolucionário vinham desde o passado colonial ligando os dois boliviano construiu a autoestrada ligando Santa países, os argentinos empreenderam uma forte Cruz à Cochabamba, o que dava acesso do Porto política ferroviária de forma a evitar o acesso de Santos até os portos chilenos do Pacifico. Em brasileiro aos portos do Pacífico. Assim, além relação à conexão ferroviária, o governo brasileiro do ramal que ligava a capital argentina à capital em 1957, terminou a obra da Ferrovia Noroeste boliviana, o país platino ainda construiu mais um ligando Bauru a Corumbá na divisa da Bolívia. ramal ligando o norte argentino até Santa Cruz de Além disso, com os recursos previstos no Tratado La Sierra de forma a diminuir a influência brasileira de Petrópolis, os governos brasileiro e boliviano em um dos vértices do triângulo estratégico decidiram investir na construção da ferrovia ligando boliviano. Outras medidas importantes foram os Corumbá a Santa Cruz de La Sierra. Naturalmente, acordos sobre a exportação de hidrocarbonetos por pressão argentina e pelas dificuldades de se na monta de 1,1 trilhões de metros cúbicos, sendo romper os contrafortes andinos entre Cochabamba 150 milhões de pés cúbicos em 20 anos, além da e Santa Cruz, construiu-se um ramal ligando construção do gasoduto YABOG integrando Rio Santa Cruz até Yacuíba (Departamento de Tarija) Grande, na Bolívia, à rede de gasodutos em Salta, e daí até o norte argentino. Uma razão para a não no norte argentino (MELLO, 1997, p. 158; MARES, concretização da ligação ferroviária Santos-Arica 2006). Um segundo escopo da estratégia argentina foi o temor das políticas imperialistas brasileiras era ter acesso ao minério de ferro de Mutún, porém por parte dos bolivianos (GLASSNER, 1988). Assim os Acordos de Cochabamba, firmados entre Brasil 138 - GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 29, 2011 PFRIMER,M.H. e Bolívia, frustraram o intento argentino. Brasil-Bolívia (GASBOL), inconcluso desde os Ainda em 1980, o governo argentino apoiou Acordos de Cochabamba. Na área hidroviária, o massivamente a ditadura do general Garcia Mesa canal Tamengo foi construído, permitindo o acesso na Bolívia. A “questão boliviana” era vista pelo boliviano à hidrovia Paraguai-Paraná-Prata. regime militar como um assunto central da sua Outro projeto importante para o fortalecimento política exterior, uma vez que se a Argentina da integração foi a Iniciativa para a Integração da quisesse ocupar uma posição de destaque na Infraestrutura Regional Sul-americana (IIRSA). América do Sul deveria preencher os vácuos de Trata-se de um projeto visando a integração poder no subcontinente. Prevendo uma redução territorial sul-americana por meio de diferentes relativa do poder americano na Bolívia, deviam modais. Nesse novo planejamento, o território então os argentinos aproveitar a oportunidade para boliviano se torna um ponto central na interconexão fortalecer o seu poder de influência sobre o regime de diferentes corredores, recebendo nada menos militar boliviano (RUSSEL, 1988). Em entrevista ao que 5 eixos de integração dos 9 já em execução. cientista político Roberto Russel, o general Videla Nesse projeto tanto a infraestrutura de transporte, afirmou categoricamente em 1980 que: como também a de informação têm recebido substanciais aportes financeiros para a construção “Nós favorecemos a última opção porque de infovias e transmissão de energia elétrica. Esses nós não queríamos ter na América do Sul um novos projetos vêm aproveitando a densidade governo que seria capaz de agir como Cuba o territorial pré-existente, dessa forma, grande parte faz na América Central [...] Nós não estamos desses objetos técnicos são implantados em zonas simplesmente ajudando os militares bolivianos, densas de maior ocupação populacional e técnica, nós estamos ajudando o povo boliviano para havendo, portanto, uma seletividade do território que eles não se tornem algo no qual nós quase que se fundamenta principalmente nos arranjos nos tornamos” (RUSSEL, 1988, p. 72, tradução territoriais anteriores. nossa).7 Portanto, a confluência entre os discursos e as práticas geopolíticas de diferentes atores foi Evidentemente, boa parte da infraestrutura conformando uma área sobremaneira articulada física fixada para motivos de contenção e no território boliviano ao longo de 60 anos de exploração dos recursos naturais bolivianos confrontação e integração. Nota-se na morfologia representaram posteriormente um novo desafio às territorial a presença de um centro nevrálgico iniciativas de integração, devido à desarticulação constituído justamente entre as cidades de Santa proposital dessas redes logísticas pelo confronto Cruz, Cochabamba e Tarija. Essa área densa com o geopolítico entre Brasil e Argentina. Exemplos disso formato triangular é constituída por eixos técnicos são a desarticulação da malha ferroviária boliviana que integram a rede urbana de origem colonial, e a escassez de infraestrutura viária comunicando ainda vigente no altiplano (Oruro-Potosí-Tarija), a porção oriental boliviana à ocidental. e a rede urbana tributária do corredor econômico A partir do arrefecimento da contenção entre boliviano (La Paz-Cochabamba-Santa Cruz) à nova as semipotencias sul-americanas nos anos 1980, rede urbana que se origina das relações entre deu-se início uma série de iniciativas de integração Santa Cruz e Tarija. Envoltos e bem articulados aos visando superar esses obstáculos territoriais polos urbanos principais (Santa Cruz, Cochabamba, criados pela contenção em solo boliviano. Esse novo Tarija) há ainda centros secundários importantes movimento de integração se deu principalmente na como Potosí, Oruro, Sucre e Yacuiba – ver Mapa 1. área de hidrocarbonetos, hidroviária e rodoviária. A partir de uma apreciação da morfologia, Um projeto importante visando a integração foi percebe-se então que as redes e corredores a construção da estrada Victor Paz Estenssoro, interligando os três centros principais possuem conectando Santa Cruz até Tarija e daí até Salta densidades técnicas diversas. Em relação ao na Argentina. Posteriormente, a partir de um eixo ligando Santa Cruz a Tarija, há a presença acordo entre o governo boliviano e brasileiro e de ramais de gasoduto e oleoduto construídos a participação privada, construiu-se o gasoduto nos anos 1990. Uma vantagem essencial a esse Heartland Sul - americano? Dos discursos geopolíticos à territorialização de um novo triângulo estratégico boliviano. pppp.. 113311 -- 114444 113399 corredor é situar-se sobre as áreas onde se acrescenta-se ainda a implantação de uma rede encontram os principais campos de gás e petróleo de cabos de fibra ótica da empresa AES. Esse em território boliviano. Ademais, ainda durante os corredor se caracteriza principalmente pelas anos 50 foi construído um ramal rodoferroviário atividades de extração e refino de hidrocarbonetos ligando Santa Cruz até Yacuíba. Nos últimos anos e agropecuária extensiva. Mapa 1. Principais redes técnicas na Bolívia e a estruturação do Triângulo Estratégico Boliviano (Cochabamba-Santa Cruz-Tarija). Fonte - Organizado por Pfrimer (2010) com base em Pfrimer e Roseira (2009). 140 - GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 29, 2011 PFRIMER,M.H. 4. Heartland sul-americano? Do triângulo na Bolívia, uma vez que o conceito de Mackinder estratégico boliviano e outros discursos ao ficava restrito ao seu próprio contexto geográfico hub de integração sul-americano e temporal (PFRIMER E ROSEIRA, 2009). Porém, não descartamos a importância geopolítica do Ao verificarmos a densidade territorial território boliviano tanto para a finalidade de boliviana e chegarmos à conclusão de que há uma contenção, quanto para a de integração. Dessa morfologia triangular, devemos agora indagar qual forma, rejeitamos os discursos geopolíticos que a lógica dessa forma espacial. Estaríamos então caracterizaram a Bolívia como absurdo geográfico. caracterizando a existência do triângulo estratégico Ademais, quando aqui se fala de triângulo boliviano assim como os discursos geopolíticos estratégico devemos ressaltar que não se trata o fizeram, ou, o caracterizaríamos como um mais de uma área estritamente de confrontação construto fruto da interação entre discursos, geopolítica. Embora inicialmente essa área tenha práticas geopolíticas e estrutura territorial? sido conformada por influência dos discursos Embora a geopolítica formal tenha geopolíticos colocados em prática durante o período desempenhado um papel importante na de contenção, o novo período de integração a estruturação do triângulo estratégico, por meio coloca como um grande centro articulador de da participação direta de geopolitólogos em fluxos, não apenas regionais, mas principalmente instituições dos regimes militares sul-americanos8, nacionais e que no contexto sul-americano passa verificamos que os discursos, por si só, não foram a ter grande importância. Prova disso, são os responsáveis pela materialização desse arranjo diversos corredores de integração da IIRSA triangular. Nota-se, por exemplo, que um dos planejados para o território boliviano. fatores para o surgimento dessa nova estrutura Finalmente cabe ressaltar que tanto os territorial se deu a partir da descoberta de mais discursos como as políticas territoriais bolivianos de 90% das reservas bolivianas de gás e petróleo atualmente procuram caracterizar o seu país em Tarija. Portanto, o próprio território e seus como uma área de contato, voltada à finalidade arranjos também incitaram intencionalidades de integração sul-americana. Substancial amostra nas práticas e discursos geopolíticos. Outro fator disso foram os discursos do presidente Evo Morales diz respeito à geopolítica prática implícita na e do Ministro das Relações Exteriores da Bolívia, perda de importância econômica e política da Juan Ignácio Siles del Valle, caracterizando o país capital constitucional boliviana, Sucre, quando da andino como área de contatos entre os países sul- transferência da sede administrativa para La Paz. americanos (MORALES, 2006; DEL VALLE, 2004). Dessa forma, o translado de um dos vértices do Acrescenta-se a isso o tratado de cooperação triângulo estratégico de Sucre para Tarija, aponta assinado entre os presidentes Lula, Michelle na direção de que houve uma interação entre Bachelet e Evo Morales para a construção do discursos, práticas e estrutura territorial. corredor bioceânico Santos-Arica. Chega-se aqui Ao aceitarmos a concretude dessa morfologia ao consenso de que o território boliviano tem se territorial, não quer dizer que aceitemos estruturado atualmente em torno de um projeto categoricamente os postulados geopolíticos que de estado que o qualifica como um centro de cunharam o epíteto de Heartland Sul-americano coesão e dispersão de fluxos em escala continental, para uma “suposta” estrutura territorial triangular constituindo-se como um dos principais hubs de integração sulamericano. Notas 1. Para o presente estudo práticas geopolíticas, conjunto de recursos retóricos com a finalidade de são aquelas que envolvem a produção de um legitimar (a priori) ou justificar (a posteriori) essas território por diferentes atores, com a finalidade práticas geopolíticas (DODDS, 2007). de territorializar relações de poder através da estruturação de um arranjo territorial. Já os 2. Ao contrário da geopolítica prática, que é aquela discursos geopolíticos se caracterizam por um oriunda das práticas de produção dos territórios,
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