ebook img

Guia para leitura das Meditações metafísicas de Descartes PDF

192 Pages·2007·23.531 MB·Portuguese
Save to my drive
Quick download
Download
Most books are stored in the elastic cloud where traffic is expensive. For this reason, we have a limit on daily download.

Preview Guia para leitura das Meditações metafísicas de Descartes

o - .t' . /- Emanuela Scribano Guia para leitura das Meditações metafísicas I I de Descartes I I I Tradução Silvana Cobucci Leite 0 Ec:llções loyo/a o - .t' . /- Emanuela Scribano Guia para leitura das Meditações metafísicas I I de Descartes I I I Tradução Silvana Cobucci Leite 0 Ec:llções loyo/a Título original: Guida alia ltrtura dtllt "Mediuuioni m~tafisiclte" di D~scartts ~ 1997, 2003 Gíus. l..ateru & Fi&li Spa. Roma-Bati Ediçio brasileira inlermcdiada pela Asêncla liiiOriria Eulama. ISBN 88-420-S272-8 Sumário l'Ru.t.AAÇÃO: Maurício B. Leal Dv.oRAMAÇÃO: So Wai Tam Rfv1sl.o: Maria F. Cavallaro Origem da obra ................................................................. . 9 1. Origem das Meditações ..................................................... . 10 2. O tronco .......................................................................... .. 13 3. As raízes ............................................................................ . 1~ 4. o projeto de Descartes .................................................... .. 19 E41çõu Loyo\a Rua 1822 n' 347 - lplranaa 11 Estrutura da obra .................................................... , ........ .. 04216-000 São Paulo, SP Caixa Postal 42.335 - 04Z18-970 - Slo Paulo, SP ($I (ll) 6914-1922 111 Análise da obra ................................................................... 29 ® (li) 6163-4275 1. A dúvida, o indubitável e o verdadeiro ........................... . 29 Home paae e vcnciaa: www.loyoiLC:om.br Editorial: [email protected] 1.1. A dúvtcla como método .......................................... . 29 Vendas: [email protected] 1.2. O obJeto da dúvida ................................................ .. 32 1bdos os dúeiiM rascrvldc>&. Nenhuma paM c1e&1a obn pldc 1.3. Duvidar do lndubitâvel .......................................... . 40 -qw.:r_ m-e.io.sw (c.\e-u6.n.ic.:o. o.u -m.oc-in.i-co~, irnioC\um.\.nd.o -f..~..­ c 2. Exlstenda e natureza do eu ............................................. . 45 gravaçlo) ou ~o;ivada em qll&lquu sis~t:m~ ou bano:o de 2.1. A existência do eu ................................................... . 46 dados sem pcnnissão esc;rila ~ Editora. 2.2. A natureza do eu ..................................................... . 56 ISBN: 978-85-15.{)3270-9 2.3. t mais fácil conhecer o espírito que o corpo ........ .. 64 C EDIÇOES LOYOI..A, Sio Paulo, Brasil, 2007 Título original: Guida alia ltrtura dtllt "Mediuuioni m~tafisiclte" di D~scartts ~ 1997, 2003 Gíus. l..ateru & Fi&li Spa. Roma-Bati Ediçio brasileira inlermcdiada pela Asêncla liiiOriria Eulama. ISBN 88-420-S272-8 Sumário l'Ru.t.AAÇÃO: Maurício B. Leal Dv.oRAMAÇÃO: So Wai Tam Rfv1sl.o: Maria F. Cavallaro Origem da obra ................................................................. . 9 1. Origem das Meditações ..................................................... . 10 2. O tronco .......................................................................... .. 13 3. As raízes ............................................................................ . 1~ 4. o projeto de Descartes .................................................... .. 19 E41çõu Loyo\a Rua 1822 n' 347 - lplranaa 11 Estrutura da obra .................................................... , ........ .. 04216-000 São Paulo, SP Caixa Postal 42.335 - 04Z18-970 - Slo Paulo, SP ($I (ll) 6914-1922 111 Análise da obra ................................................................... 29 ® (li) 6163-4275 1. A dúvida, o indubitável e o verdadeiro ........................... . 29 Home paae e vcnciaa: www.loyoiLC:om.br Editorial: [email protected] 1.1. A dúvtcla como método .......................................... . 29 Vendas: [email protected] 1.2. O obJeto da dúvida ................................................ .. 32 1bdos os dúeiiM rascrvldc>&. Nenhuma paM c1e&1a obn pldc 1.3. Duvidar do lndubitâvel .......................................... . 40 -qw.:r_ m-e.io.sw (c.\e-u6.n.ic.:o. o.u -m.oc-in.i-co~, irnioC\um.\.nd.o -f..~..­ c 2. Exlstenda e natureza do eu ............................................. . 45 gravaçlo) ou ~o;ivada em qll&lquu sis~t:m~ ou bano:o de 2.1. A existência do eu ................................................... . 46 dados sem pcnnissão esc;rila ~ Editora. 2.2. A natureza do eu ..................................................... . 56 ISBN: 978-85-15.{)3270-9 2.3. t mais fácil conhecer o espírito que o corpo ........ .. 64 C EDIÇOES LOYOI..A, Sio Paulo, Brasil, 2007 2.4. O pensamento ......................................................... 72 Sobre as idéias e o pensamento...................................... 191 3. As idéias e a existência de Deus........................................ 75 Sobre as Idéias e as verdades eternas.............................. 192 3.1. A natureza das idéias ............................................... 79 Sobre Deus ........................................ ....... ... ... .. .. .. . .. . .. ... .. 192 3.2. A existência de Deus. A primeira prova a posteriori. 85 Sobre a teoria do juízo e do erro .................................... 193 3.3. A existência de Deus. A segunda prova a posteriori. 93 Sobre a llberdade e a vontade ........................................ 193 3.4. A idéia de Deus........................................................ 103 Sobre a mente e o corpo ..... ,........................................... 194 4. O erro................................................................................ 106 Sobre o drculo vicioso.................................................... 194 4.1. Deus e o erro............................................................ 106 4.2. A teoria do juízo ........ ................................. ............. 109 Índice de nomes.......................................................................... 195 4.3. A liberdade............................................................... 114 4.4. Os fins de Deus........................................................ 118 4.5. Algumas observações de método ............................ 122 S. O inatismo, a essência das coisas materiais e a existência de Deus . .. .. ....... ....... ................ .......... .... ...... 123 S.l. O inatismo ............................................................... 123 5.2. A essência das coisas materiais................................ 130 5.3. A prova a priori da existência de Deus..................... 131 5.4. Existência de Deus e verdade das idéias.................. 137 S.S. O círculo vicioso ...................................................... 139 6. A mente e o corpo............................................................. 145 6.1. A distlnçllo real ........................................................ 146 6.2. A imortalidade da alma ........................................... · 148 6.3. A eXistência das coisas materiais............................. 150 6.4. A unillo substancial ................................................. 154 6.5. Os erros de natureza................................................ 160 IV O sucesso da obra............................................................ 165 1. Deus .................................................................................. 169 2. As idéias ............................................................................ 174 3. A mente e o corpo............................................................. 181 Bibliografia .................................................................................. . 187 Obras de referência ............................................................. .. 187 Ensaios críticos .................................................................... .. 188 Sobre a dúvida ............................................................... . 190 Sobre o cogito ................................................................. . 190 2.4. O pensamento ......................................................... 72 Sobre as idéias e o pensamento...................................... 191 3. As idéias e a existência de Deus........................................ 75 Sobre as Idéias e as verdades eternas.............................. 192 3.1. A natureza das idéias ............................................... 79 Sobre Deus ........................................ ....... ... ... .. .. .. . .. . .. ... .. 192 3.2. A existência de Deus. A primeira prova a posteriori. 85 Sobre a teoria do juízo e do erro .................................... 193 3.3. A existência de Deus. A segunda prova a posteriori. 93 Sobre a llberdade e a vontade ........................................ 193 3.4. A idéia de Deus........................................................ 103 Sobre a mente e o corpo ..... ,........................................... 194 4. O erro................................................................................ 106 Sobre o drculo vicioso.................................................... 194 4.1. Deus e o erro............................................................ 106 4.2. A teoria do juízo ........ ................................. ............. 109 Índice de nomes.......................................................................... 195 4.3. A liberdade............................................................... 114 4.4. Os fins de Deus........................................................ 118 4.5. Algumas observações de método ............................ 122 S. O inatismo, a essência das coisas materiais e a existência de Deus . .. .. ....... ....... ................ .......... .... ...... 123 S.l. O inatismo ............................................................... 123 5.2. A essência das coisas materiais................................ 130 5.3. A prova a priori da existência de Deus..................... 131 5.4. Existência de Deus e verdade das idéias.................. 137 S.S. O círculo vicioso ...................................................... 139 6. A mente e o corpo............................................................. 145 6.1. A distlnçllo real ........................................................ 146 6.2. A imortalidade da alma ........................................... · 148 6.3. A eXistência das coisas materiais............................. 150 6.4. A unillo substancial ................................................. 154 6.5. Os erros de natureza................................................ 160 IV O sucesso da obra............................................................ 165 1. Deus .................................................................................. 169 2. As idéias ............................................................................ 174 3. A mente e o corpo............................................................. 181 Bibliografia .................................................................................. . 187 Obras de referência ............................................................. .. 187 Ensaios críticos .................................................................... .. 188 Sobre a dúvida ............................................................... . 190 Sobre o cogito ................................................................. . 190 Origem da obra o • ú . As Meditações são uma obra de metafísica. Segundo Aristóteles, a ''ciência primeira", ou seja, a ciência que depois receberá o nome é~ metafísica, ocupa-se das coisas que eXistem separadas dos corpos e qu ~ são imóveis 1 A metafísica ocupa-se das substâncias separadas da matt _ • ria, repetirá a escolástica e, em ':"?nformidade com esta tradição, as Mf ditações metafísicas se ocupam de Deus e da alma, como eVidenc:a :> subtítulo: Nas quais a existência de Deus e a distinção real entre a alma e J corpo são demonstradas. No texto original, latino, Descartes havia pr<!ff ADVERT~NCIA rido utilizar a denominação aristotélica, filosofia primeira: Meditaticm!s Todos os textos de Descartes slo citados a partir da ediçao organizada por E. GARIN, de prima philosophia, um título que na tradução francesa será modific< Opere filosofiche (Roma/Bari, 1986, 4 vols.), abreviada com a sigla OF, seguida do do para Méditatíons metaphysiques touchant la premiere philosophie. Es~re­ número romano do vo1ume e da paginação em arábico; pela freqü~ncia com que aparecem aqui, constituem exceção as Meditazioni metafisiche e as Obiezíoni e vendo ao seu correspondente predileto, Marin Mersenne, Desca(tes \u~­ resposte, que formam seu segundo volume, do qual será citado apenas o número tificará a preferência pelo título Filosofia primeira deste modo: "en·ric. de pãgtna. Os textos não contidos na edição Italiana são citados a partir da edição lhe enfim o meu escrito de metafísica, ao qual não dei um titulo [., .: . organizada por C. AoAM e P. TANNtRY, Oeuvres (Paris, 1964-1974, 12vols.), indicada com a sigla AT. acompanhada analogamente do número romano do volume e da L Cf. ARISTOTE.LES, Metaffsica, E, 1, 1026a: "a 'ciência primeira' se ocupa de cc·ísn paginação em arãbtco. que existem separadamente e que são imóveis". Origem da obra o • ú . As Meditações são uma obra de metafísica. Segundo Aristóteles, a ''ciência primeira", ou seja, a ciência que depois receberá o nome é~ metafísica, ocupa-se das coisas que eXistem separadas dos corpos e qu ~ são imóveis 1 A metafísica ocupa-se das substâncias separadas da matt _ • ria, repetirá a escolástica e, em ':"?nformidade com esta tradição, as Mf ditações metafísicas se ocupam de Deus e da alma, como eVidenc:a :> subtítulo: Nas quais a existência de Deus e a distinção real entre a alma e J corpo são demonstradas. No texto original, latino, Descartes havia pr<!ff ADVERT~NCIA rido utilizar a denominação aristotélica, filosofia primeira: Meditaticm!s Todos os textos de Descartes slo citados a partir da ediçao organizada por E. GARIN, de prima philosophia, um título que na tradução francesa será modific< Opere filosofiche (Roma/Bari, 1986, 4 vols.), abreviada com a sigla OF, seguida do do para Méditatíons metaphysiques touchant la premiere philosophie. Es~re­ número romano do vo1ume e da paginação em arábico; pela freqü~ncia com que aparecem aqui, constituem exceção as Meditazioni metafisiche e as Obiezíoni e vendo ao seu correspondente predileto, Marin Mersenne, Desca(tes \u~­ resposte, que formam seu segundo volume, do qual será citado apenas o número tificará a preferência pelo título Filosofia primeira deste modo: "en·ric. de pãgtna. Os textos não contidos na edição Italiana são citados a partir da edição lhe enfim o meu escrito de metafísica, ao qual não dei um titulo [., .: . organizada por C. AoAM e P. TANNtRY, Oeuvres (Paris, 1964-1974, 12vols.), indicada com a sigla AT. acompanhada analogamente do número romano do volume e da L Cf. ARISTOTE.LES, Metaffsica, E, 1, 1026a: "a 'ciência primeira' se ocupa de cc·ísn paginação em arãbtco. que existem separadamente e que são imóveis". Creio que poderá ser chamado [. ..] Meditaçôes sobre a filosofia primeira rar um tratado orgânico de metafísica: "Não digo que mais cedo ou mais 1 tarde não termine um pequeno Tratado de metafísica, que comecei na porque nele eu não trato apen~s de Deus e da alma mas, em geral, de Frisia e cujos pontos principais são provar a existência de Deus e a das todas as primeiras coisas que podem ser conhecidas filosofando com nossas almas, quando são separadas do corpo, de onde se segue a sua ordem"2• O tema das Meditações é, portanto, mais amplo que o estudo das substâncias separadas da matéria -Deus e a alma. De fato, a pri Imortalidade"•. Nesse meio-tempo, havia anunciado, sempre a Mersenne, meira certeza que será obtida "filosofando com ordem", e à qual se que na sua física teria abordado "muitas questões metafísicas", eviden confiará a tarefa de fundamentar todo o sistema, será a existência do temente convencido de que não era possível separar uma das outras. eu. Evidentemente, Descartes temia que o caráter privilegiado da certe· A condenação de Galileu dissuadiu Descartes de publicar O mundo: za da própria existência se perdesse no título posteriormente adotado a sua física parece-lhe inviável sem a tese heliocêntrica que levou à con na tradução francesa: Meditações metafísicas. dena~o do cientista italiano. Seja como for, a metafísica de Descartes vem a público no Discours de la méthode, que aparece em 1637, como premissa a ''três ensaios deste método", a Dióptrica, os Meteoros e a Geo 1. Origem das Meditações metria. A quarta parte do Discurso do método contém a primeira exposi O interesse pela metafísica é antigo e nasce nos mesmos anos em ção sistemática da metafísica cartesiana. No entanto, Descartes está insa que, depois de um longo estudo das matemáticas, Descartes começa a tisfeito com o estudo da metafísica a que a destinação ampla do Discurso se ocupar sistematicamente de física. Entre 1628 e 1629, Descartes trans· o obrigou-não quis insistir, numa obra dirigida ao grande público, na fere-se definitivamente para a Holanda e se dedica à redação de um incerte.za de todos os nossos conhecimentos das coisas materiais, incer breve ensaio de metaffsica, que não chegou até nós; em 1629, dá início teza da qual é necessário estar convencidos, contudo, se se deseja que a ao estudo dos meteoros, e em 1630 trabalha na Di6ptrica, uma obra que existência de Deus se imponha com evidências - e se dispõe a expor o leva a interromper a redação do tratado de metafísica. novamente, e com mais liberdade, a sua metafísica. Em 1638, começa a Em 1630, Descartes comep a compor o breve texto que encerra sua redigir as MeditaçDes, escritas em latim, e destinadas portanto aos erudi física, O mundo, concluindo sua redação em 1633. Durante esse traba tos, ao contrário do Discurso do método, mals popular. As Meditações se lho, confessa a Mersenne que o conhecimento de Deus e de si mesmo rão concluídas em 1640. Em 11 de novembro de 1640, Descartes envia o constituiu o iníc.io de seus estudos, "e eu lhe diria que não teria conse guido encontrar os fundamentos da física se não os tivesse buscado por 4. Carta a Mersenne, 25 de novembro de 1630, AT I, p. 182. esse meio. Mas é a matéria que estudei mais que todas as outras, e na S. Carta ao padre Vatlei, 22 de fevereiro de 1638, AT I, p. 558·565; p. 560: ~t qual, graças a Deus, encontrei plena satisfação"1• Posteriormente ele es verdade que fui demasiado obscuro naquilo que escreVI sobie a existência de Deus creve a Mersenne dizendo que não renundou de todo à idéia de elabo- naquele tratado do Método (. ..] . A principal causa da sua obscuridade deriva do fato de que nllo ousei me estender sobre as raz.Oes dos céticos, nem dizer todas as coisas que silo necessárias para separar a mente dos sentidos; porque não é possível conhecer 2. Carta a Mersenne, 11 de novembro de 1640, AT 111, 239, p. 2-7. Mas cf. também bem a certeza e a evidência das razoes que, no meu procedimento, provam a existên a cana a Mersenne, 11 de novembro de 1640, AT lll, p. 235: "Nao dei a ela nenhum cia de Deus, a n:lo ser lembrando distintamente as que nos fazem notar a incerteza titulo, mas parece-me que o mais adequado seria Rena ti Descarres Mtdltatlones de prima que se encontra em todos os conhecimentos que temos das coisas materiais; e esses philosophia; porque nao trato de Deus e da alma em particular, mas em geral de todas pensame.ntos nao me pareceram aproprtados para lmeiir num livro no qual quis que as primeiras coiSas que se podem conhecer ao fazer filosofia•. até as mulheres pudessem entender alguma coisa, e, nao obstante lsso, que até as 3, Carta a Mersenne, 15 de abril de 1630, ATI, p. 144. mentes mais aguçadas encontrassem suficiente matéria para ocupar a sua atenção". 10 • Guta para a lettura das Mrditaçõts meta(fslcas de Descartes Origem da obra • 11 Creio que poderá ser chamado [. ..] Meditaçôes sobre a filosofia primeira rar um tratado orgânico de metafísica: "Não digo que mais cedo ou mais 1 tarde não termine um pequeno Tratado de metafísica, que comecei na porque nele eu não trato apen~s de Deus e da alma mas, em geral, de Frisia e cujos pontos principais são provar a existência de Deus e a das todas as primeiras coisas que podem ser conhecidas filosofando com nossas almas, quando são separadas do corpo, de onde se segue a sua ordem"2• O tema das Meditações é, portanto, mais amplo que o estudo das substâncias separadas da matéria -Deus e a alma. De fato, a pri Imortalidade"•. Nesse meio-tempo, havia anunciado, sempre a Mersenne, meira certeza que será obtida "filosofando com ordem", e à qual se que na sua física teria abordado "muitas questões metafísicas", eviden confiará a tarefa de fundamentar todo o sistema, será a existência do temente convencido de que não era possível separar uma das outras. eu. Evidentemente, Descartes temia que o caráter privilegiado da certe· A condenação de Galileu dissuadiu Descartes de publicar O mundo: za da própria existência se perdesse no título posteriormente adotado a sua física parece-lhe inviável sem a tese heliocêntrica que levou à con na tradução francesa: Meditações metafísicas. dena~o do cientista italiano. Seja como for, a metafísica de Descartes vem a público no Discours de la méthode, que aparece em 1637, como premissa a ''três ensaios deste método", a Dióptrica, os Meteoros e a Geo 1. Origem das Meditações metria. A quarta parte do Discurso do método contém a primeira exposi O interesse pela metafísica é antigo e nasce nos mesmos anos em ção sistemática da metafísica cartesiana. No entanto, Descartes está insa que, depois de um longo estudo das matemáticas, Descartes começa a tisfeito com o estudo da metafísica a que a destinação ampla do Discurso se ocupar sistematicamente de física. Entre 1628 e 1629, Descartes trans· o obrigou-não quis insistir, numa obra dirigida ao grande público, na fere-se definitivamente para a Holanda e se dedica à redação de um incerte.za de todos os nossos conhecimentos das coisas materiais, incer breve ensaio de metaffsica, que não chegou até nós; em 1629, dá início teza da qual é necessário estar convencidos, contudo, se se deseja que a ao estudo dos meteoros, e em 1630 trabalha na Di6ptrica, uma obra que existência de Deus se imponha com evidências - e se dispõe a expor o leva a interromper a redação do tratado de metafísica. novamente, e com mais liberdade, a sua metafísica. Em 1638, começa a Em 1630, Descartes comep a compor o breve texto que encerra sua redigir as MeditaçDes, escritas em latim, e destinadas portanto aos erudi física, O mundo, concluindo sua redação em 1633. Durante esse traba tos, ao contrário do Discurso do método, mals popular. As Meditações se lho, confessa a Mersenne que o conhecimento de Deus e de si mesmo rão concluídas em 1640. Em 11 de novembro de 1640, Descartes envia o constituiu o iníc.io de seus estudos, "e eu lhe diria que não teria conse guido encontrar os fundamentos da física se não os tivesse buscado por 4. Carta a Mersenne, 25 de novembro de 1630, AT I, p. 182. esse meio. Mas é a matéria que estudei mais que todas as outras, e na S. Carta ao padre Vatlei, 22 de fevereiro de 1638, AT I, p. 558·565; p. 560: ~t qual, graças a Deus, encontrei plena satisfação"1• Posteriormente ele es verdade que fui demasiado obscuro naquilo que escreVI sobie a existência de Deus creve a Mersenne dizendo que não renundou de todo à idéia de elabo- naquele tratado do Método (. ..] . A principal causa da sua obscuridade deriva do fato de que nllo ousei me estender sobre as raz.Oes dos céticos, nem dizer todas as coisas que silo necessárias para separar a mente dos sentidos; porque não é possível conhecer 2. Carta a Mersenne, 11 de novembro de 1640, AT 111, 239, p. 2-7. Mas cf. também bem a certeza e a evidência das razoes que, no meu procedimento, provam a existên a cana a Mersenne, 11 de novembro de 1640, AT lll, p. 235: "Nao dei a ela nenhum cia de Deus, a n:lo ser lembrando distintamente as que nos fazem notar a incerteza titulo, mas parece-me que o mais adequado seria Rena ti Descarres Mtdltatlones de prima que se encontra em todos os conhecimentos que temos das coisas materiais; e esses philosophia; porque nao trato de Deus e da alma em particular, mas em geral de todas pensame.ntos nao me pareceram aproprtados para lmeiir num livro no qual quis que as primeiras coiSas que se podem conhecer ao fazer filosofia•. até as mulheres pudessem entender alguma coisa, e, nao obstante lsso, que até as 3, Carta a Mersenne, 15 de abril de 1630, ATI, p. 144. mentes mais aguçadas encontrassem suficiente matéria para ocupar a sua atenção". 10 • Guta para a lettura das Mrditaçõts meta(fslcas de Descartes Origem da obra • 11

See more

The list of books you might like

Most books are stored in the elastic cloud where traffic is expensive. For this reason, we have a limit on daily download.