Menos de dez anos depois de finalmente se ter expulso os franceses invasores da costa brasileira, eis que vieram os holandeses para atacar, ocupar e saquear a vila de Salvador, na Bahia. Foi esse um ensaio geral, seguido de outro em 1627, do que fariam em 1630 na capitania de Pernambuco, quando uma numerosa frota amparada no poder da Companhia das índias Ocidentais chegou para dominar Olinda e Recife. Assim foi por 24 anos, período que conheceu sua “idade de ouro” na administração de Maurício de Nassau. Mas, na maior parte, marcado pela guerra de resistência sustentada por luso-brasileiros, índios e negros, tendo por pano de fundo o comércio de açúcar e o tráfico de escravos, além das divergências religiosas. Este novo título da trilogia de Adriana Lopez sobre os estrangeiros no país, inaugurada por Franceses e tupinambás na Terra do Brasil e a completar-se com o tema da influência dos ingleses, é uma contribuição a mais do SENAC de São Paulo ao conhecimento da nossa história. Segundo Paul Ricouer em Temps et récit, não pode haver história sem um elo, ténue que seja, com a narrativa. Adriana Lopez, à semelhança neste livro com seu Franceses e tupinambás na Terra do Brasil, vale-se do melhor estilo da chamada narrativa histórica - nunca à maneira “historicizante” ou puramente factual - para, embora com o foco concentrado na ação dos indivíduos e na sucessão dos eventos, ter sempre em vista questões mais amplas. A autora alia a ordenação cronológica dos fatos ao relato coerente, imprimindo ao texto um fascínio que faz com que possa ser lido “quase” como um romance. A história da ocupação flamenga em Per nambuco, num período de 24 anos dos quais 16 foram de guerra e 8 de paz sempre sujeita a arbítrio e violações, não se resume a um episódio regional mas pertence a um quadro de relações internacionais em que Estados europeus, a Espanha e os Países Baixos (ou Holanda) em destaque, lutavam pelo controle do açúcar e do tráfico de escravos, tendo por agravante de hostilidades o antagonismo de Portugal e Espanha estabelecido desde os primeiros descobrimentos. Exercida também a pretexto de “acudir com a justiça do céu” na falta de uma “justiça da terra”, a ação invasora teve o efeito de unir na resistência colonos luso-brasileiros, índios e negros - assim engendrando um primeiro esboço de nativismo. Esse período da História brasileira foi pródigo em personagens notáveis - o padre António Vieira, testemunha ocular dos conflitos na Bahia; o herói Filipe Camarão; o traidor Calabar mas protagonista entre eles é João Maurício de Nassau*Siegen, “arquiteto do império atlântico da Companhia das índias Ocidentais”, que chegou ao país com o nome de Johann Mauritius, ficou poucos anos e é visto como um invasor benfazejo. Discute*se aqui o glamour da administração flamenga, favorecedora da “Pax nassoviana”, ávida de confiscar engenhos e estimular o tráfico de escravos: “A brandura do conde [Nassau] devia-se, em grande parte, ao fato de que os holandeses não sabiam fazer açúcar”, observa Adriana Lopez. Pela mesma razão “de Estado”, a tolerância religiosa teve sua conveniência. Ao pôr em xeque o humanismo ou o despotismo esclarecido dos criadores da Nova Holanda, a autora ajuda a desmistificar a idéia segundo a qual o Brasil seria melhor se os holandeses aqui se tivessem fixado para sempre. ADRIANA LOPEZ, historiadora pós*graduada pela Universidade de São Paulo, é autora de Franceses e tupinambás na Terra do Brasil, da Editora SENAC São Paulo, e co-autora de Brasil revisitado (Editora Rios) e História & civilização (Editora Ática). GUERRA, AÇÚCAR E RELIGIÃO NO BRASIL DOS HOLANDESES Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Lopez, Adriana Guerra, açúcar e religião no Brasil dos holandeses / Adriana Lopez. - São Paulo : Editora SENAC São Paulo, 2002. Bibliografia. ISBN 85-7359-262-1 1. Brasil - História - Domínio holandês, 1624-1654 I. Título. II. Série. 02-2576_________________________CDD-981.03121 índices para catálogo sistemático: 1. Domínio holandês, 1624-1654 : Brasil : História 981.03121 2. Ocupação holandesa, 1624-1654 : Brasil : História 981.03121 GUERRA, AÇÚCAR E RELIGIÃO NO BRASIL DOS HOLANDESES Adriana Lopez ADMINISTRAÇÃO REGIONAL DO SENAC NO ESTADO DE SÃO PAULO Presidente do Conselho Regional: Abram Szajman Diretor do Departamento Regional: Luiz Francisco de Assis Salgado Superintendente de Operações: Darcio Sayad Maia EDITORA SENAC SÃO PAULO Conselho Editorial: Luiz Francisco de Assis Salgado Clairton Martins Luiz Carlos Dourado Darcio Sayad Maia Marcus Vinicius Barili Alves Editor Interino: Marcus Vinicius Barili Alves ([email protected]) Coordenação de Prospecção Editorial: Isabel M. M. 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De Olinda a “Olanda”, 71 4. A “idade de ouro” do Brasil holandês, 121 5. Maurício de Nassau, pró ou contra?, 157 6. A guerra da “divina liberdade”, 197 Bibliografia comentada, 235 Créditos das ilustrações, 241 NOTA DO EDITOR Depois de Franceses e tupinambás na Terra do Brasil, publica- se este trabalho referente à presença holandesa no país, um capítulo de destaque em nossa história colonial. Tem-se assim, com Guerra, açúcar e religião no Brasil dos holandeses, o segundo momento da trilogia de Adriana Lopez sobre os estrangeiros que atuaram de forma decisiva no vasto território ainda vulnerável - a concluir-se com o tema dos ingleses. Escrito com o mesmo propósito de valorização da história por meio de relatos que suscitem interesse e emoção sem perder de vista sua consequência no longo prazo, este livro apresenta também o apu ro iconográfico que caracterizou o primeiro da série.
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