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GT9 2750 Museu, Patrimônio e Informação O GT 9 aborda Análise das relações entre o Museu PDF

271 Pages·2011·2.52 MB·Portuguese
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GT 9 Museu, Patrimônio e Informação O GT 9 aborda Análise das relações entre o Museu (fenômeno cultural), o Patrimônio (valor simbólico) e a Informação (processo), sob múltiplas perspectivas teóricas e práticas de análise. Museu, patrimônio e informação: interações e representações. Patrimônio mu- sealizado: aspectos informacionais e comuni- cacionais. GT9 2750 SUMÁRIO A TRAJETÓRIA DA FORMAÇÃO DA COLEÇÃO DE OBJETOS DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA DO OBSERVATÓRIO DO VALONGO Maria Alice Ciocca de Oliveira, Marcus Granato ........................................................................2753 INTERATIVIDADE EM MUSEUS: UM ESTUDO CRÍTICO DO CONCEITO DE INTERATIVIDADE DE JORGE WAGENSBERG Luisa Maria Gomes de Mattos Rocha ...........................................................................................2768 PRESERVAÇÃO DE CIANÓTIPOS DO FUNDO OBSERVATÓRIO NACIONAL DEPOSITADOS NO ARQUIVO DE HISTÓRIA DAS CIÊNCIAS DO MAST Ana Paula Corrêa de Carvalho, Marcus Granato, Marcos Luiz Cavalcanti de Miranda ............2785 PATRIMÔNIO, A CIDADE E SUAS CAMADAS: A FORÇA DA ARTE NA CONSTRUÇÃO DOS ESPAÇOS Carlos Eduardo Ribeiro Silveira ..................................................................................................2803 PAJELANÇA MUSEALIZADA: O MUSEU DO MARAJÓ E O IMAGINÁRIO MARAJOARA Luiz Carlos Borges, Karla Cristina Damasceno de Oliveira ........................................................2818 CULTURA MATERIAL, COLEÇÃO E MUSEU: NOTAS INTRODUTÓRIAS A BIOGRAFIA CULTURAL DA COLEÇÃO DE PRANCHAS DE MANOEL PASTANA DO MUSEU DE ARTE CONTEMPORÂNEA CASA DAS ONZE JANELAS EM BELÉM DO PARÁ Rosangela Marques Britto .............................................................................................................2834 A HISTÓRIA DA ANTROPOLOGIA SOCIAL E A POLÍTICA DE PATRIMÔNIO CIENTÍFICO NO BRASIL EM MEADOS DO SÉCULO XX Priscila Faulhaber .........................................................................................................................2852 O JARDIM BOTÂNICO DO RIO DE JANEIRO: INSTITUIÇÃO EMBLEMÁTICA NO PANORAMA DA CIÊNCIA E DA MUSEOLOGIA BRASILEIRAS Lilian Mariela Suescun, Tereza Cristina Scheiner ........................................................................2867 NAVIO-MUSEU BAURU E INFORMAÇÃO: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E MUSEALIZAÇÃO SOB O FOCO DA DOCUMENTAÇÃO MUSEOLÓGICA Roseane Silva Novaes, Diana Farjalla Correia Lima ...................................................................2883 MUSEU: NOVOS ASPECTOS INFORMACIONAIS, COMUNICACIONAIS E GERENCIAIS Rosane Maria Rocha de Carvalho .................................................................................................2901 INFORMAÇÃO ESPECIAL NO MUSEU – ACESSIBILIDADE: A INCLUSÃO SOCIAL DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA VISUAL Ana Fátima Berquó Berquó, Diana Farjalla Correia Lima ..........................................................2917 MUSEUS E MUSEOLOGIA: NOVAS SOCIEDADES, NOVAS TECNOLOGIAS Monique;Tereza Magaldi;Scheiner ................................................................................................2935 GT9 2751 MUSEUS E PESSOAS NO MUSEU DA PESSOA: PENSANDO O VIRTUAL COMO SOCIAL. Monique;Tereza;Bruno Magaldi:Scheiner:Soares ........................................................................2954 O PAPEL ESTRATÉGICO DAS COLEÇÕES CIENTÍFICAS NA CONSTRUÇÃO DA MEMÓRIA NACIONAL Marcio Ferreira Rangel .................................................................................................................2970 A JANGADA DA MEDUSA NAUFRAGA NA COSTA CHILENA: FRONTEIRAS FÍSICAS E CONCEITUAIS NA LEITURA DE UMA OBRA DE ARTE CONTEMPORÂNEA Nilson Alves Moraes ......................................................................................................................2982 CURADORIA E AÇÃO INTERDISCIPLINAR EM MUSEUS: A DIMENSÃO COMUNICACIONAL E INFORMACIONAL DE EXPOSIÇÕES Julia Nolasco Moraes ....................................................................................................................2999 A INFORMAÇÃO PATRIMONIAL E A CONSTRUÇÃO DA MEMÓRIA: UMA ANÁLISE DAS ESTRATÉGIAS DE PRESERVAÇÃO DA MEMÓRIA DO IPHAN E IPHAEP Danielle Alves Oliveira, Carlos Xavier Azevedo Netto .................................................................3015 GT9 2752 COMUNICAÇÃO ORAL A TRAJETÓRIA DA FORMAÇÃO DA COLEÇÃO DE OBJETOS DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA DO OBSERVATÓRIO DO VALONGO Maria Alice Ciocca de Oliveira, Marcus Granato Resumo: Este trabalho apresenta a trajetória da formação da Coleção de Objetos de C&T do Observatório do Valongo. Para isso, inicialmente, buscou-se a sua caracterização como patrimônio da C&T do Brasil, situando-a como uma coleção histórica de ensino e pesquisa, no âmbito das coleções universitárias. Em seguida, foi construída a trajetória da formação da coleção, através do levantamento de informações sobre os objetos que foram usados nas aulas práticas das disciplinas relacionadas à Astronomia, Geodésia e Topografia, ministradas no Observatório Astronômico da Escola Politécnica do Rio de Janeiro, nome anterior do Observatório, nas aulas práticas e nas pesquisas realizadas no Curso de Graduação de Astronomia, no Observatório do Valongo, unidade da Universidade Federal do Rio de Janeiro. A pesquisa foi realizada a partir do final do século XIX, tendo como ponto de partida a fundação da Escola Politécnica do Rio de Janeiro em 1874, terminando nos primeiros anos do século XXI, quando a Coleção de Objetos de C&T do OV foi reconhecida como representante da memória institucional. Destacam-se aqueles momentos singulares identificados na trajetória construída: o momento inicial, quando foram adquiridos os primeiros objetos, antes da fundação do próprio Observatório, a partir da criação da Escola Politécnica (1874); a fundação do Observatório da Escola Politécnica (05/07/1881); a transferência do Observatório do Morro de Santo Antonio para a Chácara do Valongo (no Morro da Conceição - 1924 e 1926); o período de pouca utilização Observatório (1936-1957); a criação do Curso de Astronomia (1958); a aquisição do conjunto de instrumentos pelo acordo do MEC com países do leste europeu (1970); a mudança de olhar para os instrumentos, marcada pelo desenvolvimento de projetos de preservação da memória institucional; a formação da coleção, a partir das atividades realizadas em parceria com o Museu de Astronomia e Ciências Afins. Palavras-chave: Museologia; Patrimônio científico. Coleções. Observatório do Valongo. Abstract: This paper presents the process by which a collection of science and technology (S&T) objects was formed at Valongo Observatory. First, the collection was characterized as being part of Brazil’s S&T heritage, and more particularly as a historical educational and research collection, within the broader context of university collections. Next, an understanding of how the collection was formed was built up by gathering information on the objects used in the practical lessons from the Astronomy, Geodesy and Topography disciplines given at Observatório Astronômico da Escola Politécnica do Rio de Janeiro, the former name of Observatório do Valongo, and in the practical lessons and research undertaken as part of the undergraduate course in Astronomy at the same place when it became part of the Federal University of Rio de Janeiro. The time frame for the research starts at the end of the 1800’s with the founding of Escola Politécnica do Rio de Janeiro in 1874, and goes until the first decade of the 21st century, when the collection of S&T objects from Valongo Observatory was recognized as representing its institutional memory. Key moments in the course of GT9 2753 the collection are highlighted: the starting point, when the first objects were acquired even before the observatory was founded after the creation of Escola Politécnica (1874); the founding of the observatory (07/05/1881); its transfer from Santo Antonio hill to Valongo mansion (on Conceição hill -1924/1926); the period during which the observatory was little used (1936-1957); the creation of the astronomy course (1958); the acquisition of the set of instruments by an agreement between the Ministry of Education and Culture and Eastern European countries (1970’s); the shift in the way the instruments are viewed, with the development of projects to preserve institutional memory (1996); and the formation of the collection through activities undertaken in partnership with MAST. Key-words: Museology, scientific heritage, collections, Observatório do Valongo. INTRODUÇÃO A Coleção de Objetos de Ciência e Tecnologia (C&T) do Observatório do Valongo (OV) é uma coleção histórica de ensino e pesquisa, constituída por instrumentos, aparatos e acessórios científicos fabricados nos séculos XIX e XX. Foram utilizados nas aulas práticas no ensino da astronomia, geodésia e topografia no Observatório do Valongo, Instituto da Universidade Federal do Rio de Janeiro que, até a década de 1950, era denominado Observatório Astronômico da Escola Politécnica. Este observatório foi fundado em 1881, com a principal missão de ser utilizado para o ensino da Astronomia e da Geodésia dos alunos da Escola. Ficava inicialmente localizado no Morro de Santo Antonio, até ser transferido, na década de 1920, para a Chácara do Valongo, no Morro da Conceição, ambos localizados no centro da cidade do Rio de Janeiro, Brasil. A Coleção é composta por cerca de 300 objetos e abrange as áreas de Astronomia, Geodésia, Topografia, Química e Fotografia. Entre os seus objetos encontram-se lunetas, pêndulas, comparador e medidor de placas siderais, cronógrafos e muitos acessórios como objetivas, oculares e filtros. Forma um conjunto que se divide em dois grupos, de acordo com a sua atuação na história da instituição. Um grupo é formado por objetos fabricados no final do século XIX e início do século XX. Foram, em sua maioria, importados da Europa, com poucas, porém importantes, exceções de objetos fabricados no Brasil, como a luneta equatorial fabricada pela Oficina José Hermida Pazos. O outro grupo é formado por objetos fabricados após a década de 1950. São, na sua maioria, objetos fabricados pela firma Carl Zeiss, adquiridos por um convênio entre o Brasil e as Repúblicas Democrática Alemã e Popular da Hungria (BRASIL, 1969), que ficou conhecido como Acordo MEC/ Leste Europeu.1 Esses objetos estão expostos em diferentes locais dentro do Observatório, como o hall de entrada, onde estão, entre outros, a luneta meridiana Julius Wanschaff e uma pêndula astronômica Peyer Favarger e na cúpula do telescópio T. Cooke & Sons. Outros objetos da coleção estão expostos no térreo do prédio da luneta Pazos, em uma vitrine 1 BRASIL. Decreto-lei nº 861 de 11 de setembro de 1969. Autoriza a contratação de empréstimos externos, no valor global equivalente a U$$30.000.000,00 em moeda-convênio, para aquisição de equipamentos e materiais de ensino na República Democrática Alemã e República Popular da Hungria, e dá outras providências. Senado Federal. Portal Legislação. Disponível em: http://www6. senado.gov.br/legislacao/ListaTextoIntegral.action?id=94452. Acesso em: 30 de mai. 2010. GT9 2754 ao redor do pilar que sustenta a luneta, em sua maioria objetos que pertenceram ao Observatório Astronômico da Escola Politécnica. A apresentação dos objetos em vitrines, ou fora delas, segue os procedimentos museológicos relacionados à exposição de acervos. No entanto, em função da instituição não estar aberta ao público para visitação de forma continuada não se enquadra ainda como instituição museológica, apesar de contar com uma coleção que está organizada segundo os preceitos da Museologia. A busca das informações apontadas pelas marcas dos objetos da Coleção de C&T do OV foi orientada pela biografia cultural das coisas (KOPYTOFF, 2008; ALBERTI, 2005) e pela proposta, apresentada por Jim Bennett, de uso da abordagem prosopográfica no estudo sobre coleções, em que o objetivo é estudá-la como um conjunto, construindo uma biografia coletiva e não dos objetos individualmente. O estudo teve por base a trajetória do percurso pelos quais os objetos passaram, levantado através de um conjunto de questões padronizadas, sobre a origem, o uso, a produção e o destino dos objetos da coleção. As respostas foram dadas através das informações obtidas nas produções bibliográficas, para a fundamentação teórica conceitual e nos documentos arquivísticos, para o levantamento dos fundamentos contextuais sobre a aquisição e uso dos objetos no ensino da Astronomia no Rio de Janeiro. Procurou-se utilizar os princípios da documentação museológica para alcançar o resultado pretendido de traçar a trajetória desse conjunto de artefatos. Esse processo constituiu a base para determinação de características formais e contextuais dos objetos Os documentos consultados foram os de caráter administrativo, institucional e didático, entre eles, atas, relatórios, ofícios, regulamentos, artigos científicos, fotos, programas e currículo das disciplinas, relativos à criação e à administração da Escola Politécnica, da Faculdade Nacional de Filosofia, da Escola Nacional de Engenharia e do Observatório do Valongo. Foram pesquisados no Arquivo Nacional, no Museu da Escola Politécnica; na Biblioteca do Observatório do Valongo; no Protocolo Histórico da Escola Politécnica, no Arquivo Geral da Cidade, na Divisão Patrimonial da UFRJ e em arquivos eletrônicos, onde foram localizados cerca de mil documentos com informações relevantes para a pesquisa, de um conjunto inicial de milhares de documentos ligados à Escola Politécnica e ao Observatório. As informações encontradas nesses documentos foram muito importantes para o conhecimento sobre como os objetos foram adquiridos ou para que foram usados, inclusive daqueles que não se tinha nenhum dado. A semelhança dos tipos de objetos citados nos documentos com os que são parte da coleção contribuiu para o conhecimento sobre seu possível uso, como os acessórios ou objetos que eram partes de um conjunto. A análise das notas de compra, relatórios de pesquisa, artigos e trabalhos científicos, ofícios administrativos, currículos, processos de compra, entre outros, esclareceu o uso desses objetos, como as máquinas fotográficas, as vidrarias de laboratório, os chassis de placas fotográficas, objetos fotográficos e outras peças importantes no desenvolvimento das atividades de ensino e pesquisa no Observatório, GT9 2755 como os instrumentos citados nas planilhas usadas nas aulas práticas do Observatório, no Morro de Santo Antonio, na década de 1920, teodolito, cronômetro, barômetro e termômetro. O conhecimento dos projetos desenvolvidos nas décadas de 1960 e 1970, sobre ocultações de estrelas e manchas solares, esclareceu o uso dos acessórios presentes na coleção como oculares e filtros, usados em fotos lunares e solares. A citação de tipos de objetos nos temas apresentados nos currículos e os tópicos dos trabalhos desenvolvidos nas aulas também foram fundamentais para o conhecimento do uso desses objetos, os inventários e listas de grupos dos objetos de alguns períodos contribuíram para a compreensão das presenças e perdas na coleção. Outros dados interessantes foram conhecidos através dos documentos que revelaram a dinâmica das atividades da instituição. Informações sobre aquisições, transferência, abandono, desgaste, modernizações e sucateamentos. Aos poucos, durante o processo de pesquisa, cada objeto recebia uma explicação e se incorporava como elemento real da Coleção. Outra fonte importante de dados foram as marcas encontradas nos próprios objetos, algumas vezes determinantes para a continuidade da pesquisa devido a dificuldade de identificação dos objetos, uma característica nesse tipo de coleção. Dessa forma, datas, nomes de fabricantes, carimbos e placas gravadas foram essenciais para a identificação e esclarecimento da importância dos objetos na coleção, como a data de 1910, gravada na equatorial T. Cooke, a de 1880 gravada na equatorial Pazos ou o carimbo da Comissão Científica de Exploração, realizada no Ceará, entre 1859 e 18612, em um calibrador de nível de bolha. Os dados coletados formaram um quadro que apresentou os aspectos inerentes ao próprio objeto e ao seu uso no ensino e na pesquisa no Observatório, assim como, informações sobre as fontes de referência dos dados apresentados. Após analisados e inter-relacionados, esse dados demonstraram os percursos e os traços comuns aos elementos do grupo, estabelecendo características que contribuíram para um conhecimento mais completo da coleção que permitiu a construção da trajetória da formação desse conjunto de artefatos. Neste trabalho, serão apresentados somente alguns desses fatos que traduzem parte dessa trajetória. 2 A TRAJETÓRIA DA FORMAÇÃO DA COLEÇÃO NO MORRO DE SANTO ANTONIO A seguir serão apresentadas informações referentes à trajetória do conjunto de objetos do Observatório no período em que esteve situado no Morro de Santo Antonio, no centro da cidade do Rio de Janeiro. Essa fase constitui o momento inicial de criação dessa instituição e, aqui nesse trabalho, foi dividida por temática com informações sobre a aquisição dos objetos e sobre o uso dos mesmos nas aulas práticas que aconteceram naquele local. 2 A “Commissão Scientífica de Exploração”, também conhecida como Comissão Científica do Império ou Comissão das Borboletas, foi uma expedição científica organizada pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro em 1856 e realizada entre os anos de 1859 e 1861, com o objetivo de reunir informações sobre recursos naturais e sobre as populações indígenas no interior do país, cujo pesquisador responsável, nas áreas de Astronomia e Geografia, foi Giacomo Raja Gabaglia, matemático e professor da Academia de Marinha. (BRAGA, 2004) GT9 2756 2.1 Sobre a Aquisição de Instrumentos A formação do conjunto instrumental que daria origem à coleção de Objetos de C&T do Observatório remonta a um período anterior à sua fundação. Isso pode ser constatado através de documento encaminhado ao Ministério do Império pelo diretor interino da Escola Politécnica, Ignacio da Cunha Galvão, contendo um pedido para a compra de uma luneta e um orçamento3 de 1880. Nessa documentação vinha a indicação para a aquisição de uma luneta que fora examinada pelo Dr. Manuel Pereira dos Reis, correspondendo a um valor de 750$000 (setecentos e cinqüenta mil réis) para a sua compra. É interessante citar que um recibo simples de 24 de julho de 1880 acusa a compra de uma luneta astronômica no valor de 760$000 (setecentos e sessenta mil réis)4. A coincidência da data dessa compra com a data gravada na luneta fabricada por José Hermida Pazos permitiu a suspeita de que a luneta seja a luneta Pazos, uma das principais peças da coleção, por sua originalidade e uso no Observatório. Em 1906,5 uma nota de fornecimento de Carlos Raynsford atestou a compra de um prisma e o conserto de um nível para a luneta meridiana acotovelada, o que trouxe luz ao processo de aquisição da luneta acotovelada Julius Wanschaff . Da mesma forma, um ofício e uma nota fiscal de 1907 elucidaram o processo de aquisição do teodolito astronômico de Paul Gautier6 e de um cronógrafo Peyer Farvager.7 Parte da trajetória de outro instrumento da coleção, a luneta equatorial T. Cooke & Sons, também foi esclarecida pela proximidade da data presente em alguns documentos com a data (1910) gravada no próprio objeto, elucidando o seu processo de solicitação, compra, recebimento e instalação. Um documento de 1907, com a solicitação de informações ao fabricante T. Cooke & Sons foi o registro que deu início à trajetória desse objeto no Observatório. Posteriormente, no Diário Oficial e nos Relatórios da Diretoria da Escola Politécnica do Rio de Janeiro, em 1908, foram encontrados dados sobre a liberação de verba para a compra de um telescópio do mesmo tipo, entre 1908 e 1910, dados sobre a construção de uma torre para a instalação de um telescópio e, ainda em 1910, dados sobre a chegada e instalação de uma equatorial T. Cooke & Sons no Observatório. Outros documentos, como esquemas de instalações, por exemplo, para a transmissão da hora servindo o receptor do apparelho Morse do Chronographo, trouxeram informações sobre os tipos de instrumentos e o seu uso, como pêndulas, cronômetros, cronógrafo, relé, barógrafo, trazendo grande contribuição para o entendimento da formação de parte da coleção.8 3 Orçamento datado de 2 de julho de 1880, encaminhado ao Ministério do Império através do oficio n.59, de 3 de julho de 1880, da Diretoria da Escola Politécnica. AN IE3 82 (1880). 4 Recibo manuscrito de 24 de julho de 1880 que acusa a compra de uma luneta astronômica no valor de 760$000 (setecentos e sessenta mil réis) (AN - IE3 82). 5 Nota fiscal da Casa Raynsford. Rio de Janeiro, 18 de dezembro de 1906, no valor: R$185$000 (cento e oitenta e cinco Réis), referente ao conserto de um nível e compra de um prisma (AN- IJ2 187). 6 Solicitação manuscrita pedindo $5:600$000 contos de Réis, para a compra de uma luneta de passagem e um teodolito P. Gautier; e um Oficio de 26 de janeiro de 1907 da Escola Politécnica autorizando a compra. 7 Nota fiscal da Casa Raynsford, datada de 20 de dezembro de 1907 no valor de $457:000 (quatrocentos e cinqüenta e sete Réis) (AN- IJ2 183). 8 Schema de Installação para a transmissão da hora servindo o receptor do apparelho Morse do Chronographo” (UFRJ/OV/ Biblioteca). GT9 2757 2.2 Sobre o uso dos Instrumentos nas Aulas Práticas A freqüência dos alunos e o conteúdo aplicado nas aulas práticas no Observatório, entre os anos de 1896 e 1934, foram conhecidos através das informações contidas em cinco livros de registro, que cobrem o período entre 1896 a 1934, onde eram anotados: o dia da aula e o conteúdo aplicado, assinado pelo preparador e pelo “Lente da Cadeira”. A análise das informações trouxe esclarecimento sobre os instrumentos da coleção e, também, sobre o uso de instrumentos similares, conforme pode se perceber nas citações dos livros a seguir referentes aos períodos entre 1914-19169 e 1917-1918 10. “Examinou- se a medir uma distância zenithal e a determinar a hora no Chronometro.” Assinado pelo Lente da Cadeira Amoroso Costa em 20 de agosto de 1914. “Fizerão-se leitura nos micrômetros do theodolito de Gauthier e medirão ângulos.” Assinado pelo preparador da cadeira Orozimbo Lincoln Nascimento, em 26 de agosto de 1914. “Ensinou-se a manusear mappas do céu e descreveu-se a equatorial.” Assinado pelo preparador da cadeira Orozimbo Lincoln Nascimento, em 23 de maio de 1917. “Observou-se numa luneta meridiana, no theodolito e na equatorial (satélites e crateras)”. Assinado pelo Lente da Cadeira Francisco Bhering, em 02 de fevereiro de 1917. Outros detalhes sobre o uso de instrumentos como teodolito, cronômetro, barômetro e termômetro foram conhecidos através de algumas planilhas referentes a exercícios práticos de determinação da hora11 e de determinação da latitude12, realizados pelos alunos no Observatório, em 1923, existentes no Fundo Amoroso Costa13 do Arquivo de História da Ciência do MAST. Neste período, as notas fiscais trouxeram conhecimentos sobre a aquisição de vários instrumentos. No entanto, muitos não puderam ser localizados na coleção, uma vez que as informações encontradas apresentavam somente o nome dos instrumentos sem dados dos fabricantes. Por outro lado, de alguns poucos, como o teodolito de Paul Gautier, a equatorial T. Cooke & Sons, a luneta acotovelada Julius Wanschaff, o cronógrafo e a pêndula Peyer Farvager, foi possível conseguir informações que confirmassem serem os objetos existentes hoje na coleção. No entanto, o conhecimento dos tipos de instrumentos e do seu uso nas aulas práticas, através dos relatórios de atividades e dos livros de freqüência, compuseram dados interessantes sobre a rotina das aulas, os conteúdos aplicados e a dinâmica dos alunos. Além disso, através das informações sobre instrumentos semelhantes, encontrados nesses documentos, foi possível correlacionar com o uso daqueles que se encontram na coleção, enriquecendo o conhecimento sobre os mesmos. 9 Livro de freqüência dos alunos nas aulas prática de Astronomia no Observatório Astronômico da Escola Politécnica no Morro de Santo Antonio. Rio de Janeiro, 1914-1916. (UFRJ/OV/Biblioteca) 10 Livro de freqüência dos alunos nas aulas prática de Astronomia no Observatório Astronômico da Escola Politécnica no Morro de Santo Antonio. Rio de Janeiro, 1917-1918 (UFRJ/OV/Biblioteca). 11 Planilha de determinação da hora pelo método Zinger. Observações realizadas no Observatório Astronômico da Escola Politécnica do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 1923 (MAST/Arquivo - AC.T.3.015 ). 12 Planilha de determinação da latitude pelo método Sterneck Observações realizadas no Observatório Astronômico da Escola Politécnica do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 1923 (MAST/ Arquivo - AC.T.3.016.). 13 Lente Catedrático da Cadeira de Astronomia e Geodésia, entre os anos de 1924 a 1930, no Observatório Astronômico da Escola Politécnica. GT9 2758 3 A TRAJETÓRIA DE FORMAÇÃO DA COLEÇÃO NA CHACARA DO VALONGO SEÇÃO A seguir serão apresentadas informações sobre a trajetória do conjunto de objetos do Observatório no período a partir de sua transferência para o Morro da Conceição, situado próximo ao Morro de Santo Antonio, ambos no centro da cidade do Rio de Janeiro. Essa fase foi dividida em duas temáticas principais: o processo de transferência do Observatório em si e os fatos relacionados ao curso de Astronomia, ministrado nesse local até os dias de hoje, onde também se inserem as pesquisas ali realizadas. 3.1 A Transferência do Observatório para a Chácara do Valongo Entre os anos de 1924 e 1926, o Observatório foi transferido para a Chácara do Valongo, em função da realização de melhoramentos no Morro de Santo Antonio, local onde estava anteriormente situado. Para isso, os instrumentos foram desmontados e encaixotados, sendo transportados por veículo ou à cabeça, de um morro ao outro, através de uma distância de aproximadamente 1km. Entre esses objetos, destacam-se as grandes lunetas equatoriais Hermida Pazos e T. Cooke & Sons.14 O primeiro instrumento a ser montado foi a luneta Hermida Pazos, instalada em um prédio, onde se encontra até hoje, que guarda grande semelhança com o pavilhão original no Morro Santo Antonio. Para a luneta equatorial T. Cooke & Sons foi construído um pavilhão de forma circular com 5,50m de diâmetro, em dois pavimentos, onde ela está montada até hoje. Os outros instrumentos ficaram guardados nas caixas até a ocasião de serem instalados. A partir de 1926, o Observatório Astronômico da Escola Politécnica passou a funcionar na Chácara do Valongo. As aulas práticas foram ministradas até 1936, pelo assistente da Cadeira de Astronomia, Orozimbo Nascimento, ano em que faleceu. Sendo posteriormente ministrada, de forma esporádica, pelo lente da Cadeira Dr. Allyrio H. Mattos, Professor Catedrático da Disciplina até 1954, quando se aposentou. Poucos registros e informações foram encontrados entre 1936 e 1957. Contudo, ao se comparar o inventário15 de 1920 com uma lista de instrumentos de 1957, foi constatada uma grande redução no conjunto de instrumentos. Apesar de não terem sido encontradas provas documentais sobre os motivos dessa perda, o abandono do Observatório, entre as décadas de 1940 e 1950, após a morte do Assistente, parece ser o provável motivo. Outra lista, de 1967, onde foram relacionados instrumentos enviados para a Escola de Engenharia, na já Universidade Federal do Rio de Janeiro16, trouxe esclarecimentos sobre a ausência de sete teodolitos e dois sextantes. 14 Demonstração dos serviços executados no Morro de Santo Antonio para mudanças e instalação provisória do Observatório da Escola Politécnica e das respectivas verbas obtidas para este fim, entre 1924-1926 (UFRJ/OV/Biblioteca). p.24 15 Documento considerado uma peça preciosa do acervo histórico, é um manuscrito onde estão relacionados os bens móveis e imóveis, separados por categoria de materiais. Está dividido em três partes: a primeira com os bens adquiridos até 1920, a segunda relaciona os itens adquiridos no ano de 1921 e a terceira apresenta fotografias relacionadas a alguns desses bens (UFRJ/OV/Biblioteca). 16 Com a transformação da Universidade do Brasil em Universidade Federal do Rio de Janeiro, pelo decreto nº 60.455-A de 13 de Março de 1967 foi extinta a Faculdade Nacional de Filosofia e o Curso de Astronomia foi incorporado ao Instituto de Geociências. O Observatório do Morro do Valongo foi transformado em Órgão Suplementar do Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza. GT9 2759

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Cadeira Amoroso Costa em 20 de agosto de 1914. “Fizerão-se leitura nos Fundo Amoroso Costa13 do Arquivo de História da Ciência do MAST.
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