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Griots - culturas africanas: literatura, cultura, violência, preconceito, racismo, mídias. PDF

761 Pages·2016·5.67 MB·Portuguese
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GRIOTS – CULTURAS AFRICANAS - UFRN griots culturas africanas literatura, cultura, violência, preconceito, racismo, mídias GRIOTS – CULTURAS AFRICANAS - UFRN griots culturas africanas literatura, cultura, violência, preconceito, racismo, mídias Organizadoras Tânia Lima Izabel Nascimento Carmen Alveal 1ª edição EDUFRN Natal – RN 2012 GRIOTS – CULTURAS AFRICANAS - UFRN UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE Reitora: Ângela Maria Paiva Cruz Vice-reitora: Maria de Fátima Freire Melo Ximenes Pró-reitora de pós-graduação: Edna Maria da Silva Pró-reitora de extensão: Cipriano Maia de Vasconcelos CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES Diretor: Herculano Ricardo Campos Vice-diretora: Maria das Graças Soares Rodrigues PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DA LINGUAGEM Coordenador: Luis Álvaro Sgadari Passeggi Vice-coordenador: Andrey Pereira de Oliveira DEPARTAMENTO DE LETRAS Chefe: Maria da Penha Casado Alves Capa, projeto editorial e webmaster: Rosângela Trajano Revisão: Tânia Lima Conselho Editorial Amarino Queiroz Carmen Alveal Conceição Fraga Derivaldo dos Santos Ilza Matias Luis Antônio Valverde Marluce Pereira Roberto Pontes Rosilda Bezerra Tânia Lima Zuleide Duarte GRIOTS – CULTURAS AFRICANAS - UFRN Copyright © 2012 by EDUFRN Natal – RN Todos os direitos reservados aos autores Universidade Federal do Rio Grande do Norte Divisão de Serviços Técnicos Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Central Zila Mamede Colóquio Internacional de Culturas Africanas (2. : 2011 : Natal, RN). GRIOTS : culturas africanas : literatura, cultura, violência, preconceito, racismo, mídias / Organizadores Tânia Lima, Izabel Nascimento, Carmen Alveal. – Natal : EDUFRN, 2012. 759 p. Evento realizado de 25 a 27 de maio de 2011. ISBN 978-85-7273-982-5 1. Literatura africana – História e crítica – Congressos. 2. Cultura africana – Congressos. 3. Racismo – Congressos. I. Lima, Tânia. II. Nascimento, Izabel. III. Alveal, Carmen. IV. Título. CDD 809.896 RN/UF/BCZM 2012/56 CDU 896.09 GRIOTS – CULTURAS AFRICANAS - UFRN PREFÁCIO Sol em vestido de retalhos coloridos brilha no alto. O deserto está habitado por palavras. Conta à vida uns Griots. Baticum de tambor são Griots. Tuuuumm, tuuuumm, tuuuumm... O batuque toca em todos na imensidão do continente africano. Um tambor faz pulsar o sangue da memória nos vasos condutores da sabedoria. É a África nossa que fala neste e-book de artigos científicos, ou melhor, livro-griots produzidos por dezenas de pesquisadores dedicados ao estudo da cultura desse continente que margeia e expõe a história de um povo. Áfricas com seus olhos incandescentes de histórias para contar e cantar por trás das estrelas cadentes. Áfricas com suas religiosidades híbridas que se dedicam aos deuses em espaços intervalares entre as obras e os inventores. Entidades da mãe natureza. Orixás múltiplos no infinito. Evoé, Oxalá! Parece misterioso falar de Áfricas, suas culturas, suas memórias, suas tradições orais, seus feitos construídos ao longo dos séculos e que têm atravessado oceanos à procura de um cais especulador, mas não é. O líquen precisa de troncos de árvores para se associar e viver. Escrevem-se aqui sobre culturas religiosas, rezadeiras, capoeiras, ritos e ritmos, da literatura de Miriam Alves a Ondjaki. Artistas/autores que recuperam as identidades e as subjetividades africanas em seus escritos cheios de poesias e prosas de um povo que nos falares veste a alma com o encanto de um pássaro que voa de volta ao ninho como um guardião da tradição. Os trabalhos são de um toque maravilhoso e espontâneo, porque quando se fala de África deve se ter o cuidado de ouvir o simples na voz de ser um súdito diante da amplidão que é o ouvir. Ouvir é sagrado. Dizer é recriar uma nova história. Não temos simplesmente trabalhos no e-book, mas literaturas que evocam griots, os quais sabem o que cantar e como encantar singelezas quentes. Aqui estão os artigos que melhor representam as temáticas do II Griots – Culturas africanas, abordando literatura, cultura, violência, preconceito, racismo, mídias. A quantidade de trabalhos recebida foi muito maior do que o esperado e aqueles não publicados não significam distância ou desenvoltura fora do abordado no colóquio, mas procuramos dá ênfase aos escritos que mais tinham vozes africanas cantando e ouvindo a história que se repete através dos séculos GRIOTS – CULTURAS AFRICANAS - UFRN e que tão bem pôde ser explorada pelos diversos pesquisadores presentes nesta safra. Vale observar que nosso trabalho é produto não apenas da segunda edição do Colóquio “Griots”, em verdade, traduz em si novos desafios não apenas envolvendo questões voltadas às literaturas africanas, mas visa ampliar debates sobre a importância de se repensar o discurso da descolonização em torno da luta contra todo tipo de violência, preconceito e racismo. Os artigos reunidos aglutinam as mais variadas falas de pesquisadores das mais diversas linhas de pesquisa. Aqui estamos nós: Áfricas dentro. Se a cada época requisitam-se novas teorias, o que este livro se propõe é, talvez, re-descobrir a dimensão humana dos povos africanos enquanto legado literário e cultural. Pensar e viver entre-culturas, este foi uma das colheitas principais que nos ajudaram a compor o leque de autores para os leitores. Falar de África não é tão complexo quanto se pensa, mas também não é tão simples quanto se apresenta; falar de África são diálogos sobre um tempo-espaço onde as vozes das en-cruz-ilhadas reivindica das margens o hibridismo, o sincretismo cultural. O sincretismo negro dá voz ao que foi silenciado pelo legado da suposta unidade cultural do colonizador. Nesse sentido, o Griot é um livro de tradução, de tradição, de reivindicação, que dialoga com os gritos anticoloniais de Zumbi dos Palmares, Patrice Lumumba, Nelson Mandela, Eduardo Mondlane e múltiplas outras vozes efervescentes chegando: “Mesmo que o caminho pareça difícil, ele não deve ser abandonado. Se qualquer um de nós for eliminado, dez outros devem tomar seu lugar. Essa é a marca genuína de nossa luta, e nem a censura nem a simples cumplicidade covarde pode impedir seu êxito.” [Edward W. Said] Sabemos que estamos longe de uma “democracia racial”, o racismo evidencia ainda as consequências da opressão exercida por uma cultura dominante, que atinge as comunidades afrodescendentes, pois embrutece as relações humanas, massacra o ser psíquico. Nesse sentido, o livro Griots se propõe analisar a violência excedente em um mundo que subverte e altera tanto as coletividades quanto os sujeitos em seu devir pessoal. Ao abrigar um evento dessa natureza, estamos falando sobre a desigualdade e a redução do sujeito em objeto, da medíocre substituição do ser GRIOTS – CULTURAS AFRICANAS - UFRN pelo ter, estamos falando sobre o apagamento de línguas marginalizadas, estamos falando sobre as consequências dos discursos coloniais em um mundo desprovido de seu maior luxo: as relações humanas e suas gentilezas. Entregamos flores à Iemanjá! Nessa travessia, o livro Griots também analisa a linguagem que nos intoxica pelo discurso da violência, dos preconceitos, do racismo, de modo que Inocência Mata alerta: “os discursos oficiais são sonhos ritualizados, expressões, estereótipos criminosos com que se pretendiam esconder a realidade e erguer respeitáveis fachadas [das figuras públicas] e terríveis máquinas de guerra, que num espaço de um só dia se desmoronou”. Em diversidade, somos sujeitos de nossa história, quando somos atores de nossa história política. “Falar é existir de modo absoluto para os outros. Falar é usar uma sintaxe, é assumir uma cultura, suportar o peso da civilização” [Frantz Fanon]. Falar é contra, pois, escrever também é contra: “Oh, meu corpo, faça sempre em mim um homem que interroga” [Fanon]. E quando não houver mais dúvida, interroga-nos, vigia-nos para não esquecer que até os “bilros de teia/ bordam solidão/enquanto meigos/sussurros de sombra/ no brilhante/ mutismo do/ espelho/ recitam estrofes de poeira” [Noemia de Sousa]. Este livro-cantador é uma homenagem às culturas africanas. Uma singela homenagem feita de maneira livro. Áfricas por si só já se mantêm poesia seja na oralidade, na memória ou na cultura que brota do barro de Nanã Buruquê. Áfricas com seus passos marcados no chão, caminhar distante de quem busca a vida nas memórias que se manifestam no signo do silêncio. Organizadoras GRIOTS – CULTURAS AFRICANAS - UFRN APRESENTAÇÃO O africanismo é uma forma de humanismo1 Neste texto com um título um pouco provocador, gostaria de reavaliar o africanismo partindo de novos interesses pela África e novos processos de construção de conhecimento sobre as culturas, as línguas, a literatura, o cinema e as artes africanas do lado do Atlântico Negro, mais particularmente no Brasil de hoje. Não quero refazer aqui a revisão metacrítica completa dos africanismos coloniais ou europeus, mas sim, postular outras formas de africanismo que vêm eclodindo ao longo da história recente. Parto do pressuposto que todo africanismo participa de um campo de conhecimentos e de pensamentos construídos diversamente a respeito de um mesmo objeto: a África2. Se fizermos uma pequena arqueologia seletiva dos discursos científicos e prosaicos produzidos historicamente sobre a África, nós nos depararemos não só com diferentes definições da África, mas também com interesses divergentes quanto aos motivos de estudar ou conhecer as culturas africanas. Por outro lado, o africanismo sendo uma narrativa (científica ou não), carrega consigo um horizonte de expectativa que pode corresponder ou não com a realidade. Deste processo cognitivo e narrativo participaram os próprios africanos. Paralelamente ao africanismo colonial e eurocêntrico, pensadores africanos contribuíram para a configuração daquilo que se pode chamar hoje de africanismo africano. Para mim, Cheikh Anta Diop e Amadou Hampatê BA representam as duas figuras emblemáticas deste africanismo local. Suas respectivas definições do homem africano e suas culturas seguem perspectivas diferentes, mas elas são complementares em muitos aspectos. Enquanto Anta Diop se interessa pela busca e comprovação das raízes africanas do Egito, Hampaté BA examina nas culturas peul (fulani) e bambara os modos de funcionamento do que ele chama de 1Mahomed Bamba - professor adjunto I na Faculdade de Comunicação e no Programa de pós- graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas-PósCom da UFBA (Universidade Federal da Bahia). [email protected] 2Aqui faço um paralelo entre o africanismo e o orientalismo tal como definido por E. Said. Cf Orientalismo: o oriente como invenção do Ocidente. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. E “Orientalismo reconsiderado” in E. Said, Reflexões sobre o exílio e outros ensaios. São Paulo: Companhia das Letras, 2001, pp.61-78 GRIOTS – CULTURAS AFRICANAS - UFRN “aspectos da civilização africana”. O livro Nations nègres e culture (1979) é, até hoje, a única e principal referência do africanismo que se afirma e se sustenta na egiptologia. Aspects de La Civilisation africaine (1972) de Amadou Hampaté Bâ também se tornou um clássico do africanismo. Neste pequeno livro dividido em quatro capítulos, Amadou Hampaté Bâ começa por apontamentos de cunho quase ontológico sobre a noção de pessoa nas tradições fulani e bambara. Em seguida, ele descreve minuciosamente a cultura e a sabedoria africanas; descrição que ele completa com considerações lingüísticas nas sociedades da África negra. Nas terceira e quarta partes ele consagra uma longa reflexão à religião islâmica e às relações tradicionais do homem africano com Deus. Não existe um “homem africano” que seria representativo de um tipo válido para todo o continente, do norte ao sul, de leste a oeste, diz Hampate Bâ. Apesar do título genérico da obra, Hampaté Bâ explica que seu livro concerne à explicação de costumes e tradições bambara, área cultural que ele conhece melhor. Mas, podemos ver nesses primeiros esforços sistemáticos de pensar o homem africano pelos próprios africanos um caminho trilhado para outras gerações de africanistas do Continente. De lá para cá, o africanismo africano evoluiu consideravelmente pela participação de uma legião de antropólogos e etnólogos e historiadores de origem africana na tarefa de explicar a África. A afirmação deste africanismo endógena passou também pela crítica do africanismo eurocêntrico e do francês, em particular. Além de ser escrito a partir do ponto de vista do Ocidente e da França, Didier Gôndola critica a ambição que o africanismo francês teve de explicar a África para os próprios africanos3. Sendo assim, a “África dos africanistas se tornou algo estranho, até caricatural para os africanos que não se reconhecem nos seus discursos fantasiosos, nos seus clichês cômodos produzidos por uma sociedade de cientistas4”. A primeira tarefa dos africanistas africanos foi opor outro processo de compreensão e explicação da África, no lugar deste africanismo estrangeiro. 3 Para uma revisão histórica crítica do africanismo francês, ver o livro de Didier Gôndola, Africanisme: La crise d´une illusion, Paris: l´Harmattan, 2007, p.39 4 Ibid, p.39

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