GORGIAS DE PLATÃO OBRAS II DANIEL R. N. LOPES TRADUÇÃO, ENSAIO INTRODUTÓRIO E NOTAS TEXTOS 19 No diálogo Górgias de Platão encontra mos, pela primeira vez, a palavra “retórica”. Górgias, sofista e orador, revelará quais são suas vantagens: “a liberdade para os homens e o domínio sobre os outros na própria cida de”. O comediógrafo Aristófanes zomba do “bárbaro” Górgias - na realidade, um grego da Sicília, um estrangeiro em Atenas -, di zendo que pertence à “raça astuta que enche a barriga com a língua”. Comparando essa raça a um animal, refere a prática ateniense de cortar as línguas das vítimas nos sacrifí cios. Xenofonte e Platão mencionam alguns dos discípulos do orador, todos caracteriza dos pela ambição de poder e pelo desejo de riquezas. Comentava-se a riqueza do próprio Górgias e sua excentricidade: dizia-se que aparecia em público vestido de púrpura. A esse “mestre de retórica” e a sua ati vidade, Platão dedica o diálogo, que agora lemos na nova tradução em língua portu guesa de Daniel Lopes, acompanhada de um amplo comentário. “Quem és?”: como em uma cena homérica, Sócrates quer in terrogar Górgias em sua identidade, mas é o filósofo que, aos poucos, por meio de uma constante interrogação, vai traçar a figura duradoura do “artífice de persuasão”. Atra vés da sucessão das personagens do diálogo, Górgias, Polo e Cálicles, percebemos que para entender a arte da palavra é necessário, por um lado, considerar a vida dos homens em comunidade e o exercício do poder; por outro, perscrutar o que cada um possui de mais íntimo, observando cada indivíduo como este seria observado pelos deuses. Paradoxalmente, é por meio das artes da culinária, das vestimentas e da retórica que vamos compreender o homem em sua saú de, em sua nudez e no interior de sua alma. GORGIAS DE PLATAO '-tiiiipra/jiB, Pregão 04/12 12/12/12 R$32,88 Coleção Textos Dirigida por: João Alexandre Barbosa (1937-2006) Roberto Romano Celso Lafer Trajano Vieira João Roberto Faria J. Guinsburg Equipe de realização - Preparação de texto: Jonathan Busato; Revisão: Mareio Honorio de Godoy; Ilustração: Sergio Kon; Projeto de capa: Adriana Garcia; Produção: Ricardo W. Neves, Sergio Kon, Luiz Henrique Soares e Raquel Fernandes Abranches. GÓRGIAS DE PLATÃO CO OBRAS II DANIEL R. N. LOPES TRADUÇÃO, ENSAIO INTRODUTÓRIO E NOTAS Ajapesp PERSPECTIVA 77463 ciP-Brasil. Catalogação na Fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, rj <V77g Platão, 427-347 a.C. Górgias / Platão; Daniel R. N. Lopes tradução, ensaio introdutório e notas. - São Paulo: Perspeciva: Fapesp, 2011. (Textos; 19) Inclui bibliografia e apêndice isbn 978-85-273-0910-3 1. Ética - Obras anteriores a 1800. 2. Ciência política - Obras anteriores a 1800. 1. Lopes, Daniel R. N. 11. Título. 11-1979. cdd: 170 cdu: 17 08.04.11 11.04.11 025655 Direitos reservados à EDITORA PERSPECTIVA S.A. Av. Brigadeiro Luís Antônio, 3025 01401-000 São Paulo SP Brasil z_ Telefax: (11) 3885-8388 www.editoraperspectiva.com.br 2011 SUMÁRIO 9 Apresentação .................................................................................. Fnsaio Introdutório: Tragédia e Comédia no Górgias de Platão Introdução: Platão e o Teatro..........................................19 41 A Comédia no Diálogo: o Caso Polo.............................. A Tragédia no Diálogo: o Caso Cálicles........................81 A Tragicidade do Discurso Socrático..........................117 As Causas da Recalcitrância de Cálicles......................139 Sócrates: Aquiles ou Odisseu?......................................149 Górgias, de Platão........................................................................164 Bibliografia..................................................................................461 Anexo 1: Anônimo Jâmblico...................................................470 Anexo 2: Antifonte Sofista.......................................................472 APRESENTAÇÃO () presente trabalho, que a editora Perspectiva traz agora ao pú blico, é fruto parcial da minha pesquisa de doutorado realizada entre 2003 e 2007, junto ao Programa de Pós-graduação em l inguística (área de Letras Clássicas) do Instituto de Estudos da Linguagem (iel) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com estágio no exterior, junto à Università di Pisa e A Scuola Normale Superiore di Pisa, entre novembro de 2005 e outubro de 2006. Trata-se de um “resultado parcial”, porque este livro não corresponde exatamente à tese final submetida à apreciação da banca de defesa. O Ensaio Introdutório que apre sento neste livro consiste numa adaptação do terceiro capítulo ile minha tese, com acréscimos, correções e supressões de certas parles, a fim de adequá-lo a um público mais amplo. Os outros dois capítulos, bem como a Introdução e a Conclusão, foram suprimidos. Também foram acrescidas a esta edição as notas à li adução, que não fizeram parte de minha tese final. Esse tra balho foi desenvolvido em 2008 e durante o primeiro semestre de 1001;, com o intuito de oferecer ao leitor informações bási- i as sobre o texto, bem como análises filosóficas e literárias que 10 GÓRGIAS DE PLATÃO possam remetê-lo a outros diálogos de Platão e a outros autores da Antiguidade Clássica. O texto grego utilizado na tradução é o da edição de John Burnet (Platonis Opera, Tomus m, Oxford University Press, 1968), reproduzido integralmente nesta edição bilíngue. Aproveito a ocasião para agradecer a professores e amigos que contribuíram, de uma forma ou de outra, para o resultado final deste trabalho: Agradeço, primeiramente, ao meu orientador prof. dr. Tra- jano A. R. Vieira, que desde a graduação incentivou-me aos estudos helénicos, e que durante os oitos anos de mestrado e doutorado sempre se mostrou um interlocutor generoso e aberto ao diálogo; ao prof. dr. Paulo Butti de Lima, da Università di Bari, que pos sibilitou meu estágio de doutorado na Università di Pisa e na Scuola Normale Superiore di Pisa, além de ter acompanhado minha pesquisa e de ter feito sugestões que foram de grande valia para a consecução do meu trabalho; à profa. dra. Maria Michela Sassi e à profa. dra. Alessandra Fussi, que gentilmente me receberam na Università di Pisa e me ofereceram todas as condições necessárias para o bom ren dimento desse estágio na Itália; ao prof. dr. Giuseppe Cambiano, da Scuola Normale Superiore di Pisa, pela gentileza e cordialidade com que me acolheu em seu curso sobre o Sofista de Platão, absolutamente relevante para os objetivos de minha pesquisa; ao prof. dr. Marco Zingano, da fflch-usp, e ao prof. dr. Flá- vio Ribeiro de Oliveira, do IEL-Unicamp, que participaram da banca de qualificação da minha tese, com observações muito valiosas e sugestões decisivas para seu término; à profa. dra. Adriane Duarte, da fflch-usp, à profa. dra. Ma ria Cecília de Miranda Coelho, da fafich-ufmg, ao prof. dr.