HELENA MARIA DE CASTRO CASSIANO O PAR SAÚDE-DOENÇA NO COTIDIANO DA CIDADE MODERNA; GOIÂNIA E AS PRÁTICAS ALTERNATIVAS DE CURA (FINAIS DO SÉCULO XX-PRIMÓRDIOS DO SÉCULO XXI) Brasília-DF 2008 HELENA MARIA DE CASTRO CASSIANO O PAR SAÚDE–DOENÇA NO COTIDIANO DA CIDADE MODERNA: GOIÂNIA E AS PRÁTICAS ALTERNATIVAS DE CURA (FINAIS DO SÉCULO XX– PRIMÓRDIOS DO SÉCULO XXI) Tese apresentada ao Programa de Pós- Graduação em História da Universidade de Brasília, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Doutora em História. Orientadora: Profa. Dra. Maria T. F. Negrão de Mello Brasília-DF 2008 HELENA MARIA DE CASTRO CASSIANO O PAR SAÚDE–DOENÇA NO COTIDIANO DA CIDADE MODERNA: GOIÂNIA E AS PRÁTICAS ALTERNATIVAS DE CURA(FINAIS DO SÉCULO XX– PRIMÓRDIOS DO SÉCULO XXI) Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade de Brasília, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Doutora em História. Brasília, 19de agostode 2008 BANCA EXAMINADORA _______________________________________ Profa. Dra. Maria T. F. Negrão de Mello – UnB Presidente _______________________________________ Profa. Dra. Eleonora Zicari Costa de Brito- UnB Membro efetivo _______________________________________ Profa. Dra. Márcia de Melo Martins Kuyumjian – UnB Membro efetivo _______________________________________ Profa. Dra. Olga Rosa Cabrera Garcia – UFG Membro efetivo _______________________________________ Profa. Dra. Izabel Ibarra Cabrera – UFG Membroefetivo _______________________________________ Profa. Dra. Nancy Alessio Magalhães – UnB Membrosuplente AGRADECIMENTOS Agradeço Primeiramente, a Deus, pela força e coragem que me propiciou ao trilhar os caminhos que construíram este trabalho. Foram muitas as dificuldades e, sem a ajuda Dele, jamais teria sido concluído. À Profa. Dra. Maria T. F. Negrão de Mello que, com paciência e afeição, soube me orientar nas horas deincertezas e aflições. À Izabel e ao Rickley, que sempre torceram para que este trabalho chegasse ao final e nunca deixaramde me atender quando deles precisei. Ao Marcelo, que nos momentos difíceis sempre apareceu trazendo sugestões e material para a continuidade deste trabalho. À Glória pela atenção dada quando tanto precisei. Ao Weber Borges que, mesmo com tantos problemas e estando sempre muito ocupado, soube me ouvir e contribuir com materiais, fitas e livros para que eu pudesse dar continuidade a esta pesquisa. À minha família, mãe e irmãos que, mesmo estando tão longe, torceram por mim e esperaram ansiosamente este dia chegar e, em especial, à minha querida irmã Ana Lúcia, que me forneceu valiosos materiais. À Profa. Dra. Eleonora Zicari Costa de Brito pelas preciosas dicas dadas e pela torcida. À Profa. Dra. Olga Rosa Cabrera Garcia, que com suas visitas, embora rápidas, sempre deixou dicas importantes para que este trabalho pudesse ser realizado. Ao Wilton e à Maria José que, em meio a tantos transtornos que permearam este trabalho, estiveram sempre presentes me ajudando, conversando, me acalmando e dando força para que eu pudesse continuar. Ao Cassiano, companheiro de todas as horas, que sempre me faz ver que vale a pena continuar. A todos os meus amigos que acompanharam de perto as alegrias e as tristezas vividas nesta trajetória. À Suzana Oellers pela amizade, leitura atenta de todo o trabalho, cuidadosa revisão e valiosas sugestões ao texto. SEM SAÚDE Pelo amor de Deus alguém me ajude! Eu já paguei o meu plano de saúde mas agora ninguém quer me aceitar E eu tô com dô, dotô, num sei no que vai dá! Emergência! Eu tô passando mal Vô morrer aqui na porta do hospital Era mais fácil eu ter ido direto pro Instituto Médico Legal Porque isso aqui tá deprimente, doutor Essa fila tá um caso sério Já tem doente desistindo de ser atendido e pedindo carona pro cemitério E aí, doutor? Vê se dá um jeito! Se é pra nós morrê nós qué morrê direito Me arranja aí um leito que eu num peço mais nada Mas eu num sou cachorro pra morrer na calçada Eu tô cansado de bancar o otário Eu exijo pelo menos um veterinário Me cansei de lero-lero Dá licença, mas eu vou sair do sério Quero mais saúde Me cansei de escutar... "Doutor, por favor, olha o meu neném! Olha doutor, ele num tá passandobem! Fala, doutor! O que é que ele tem!?" −A consulta custa cem. "Ai, meu Deus, eu tô sem dinheiro" −Eu também! Eu estudei a vida inteira pra ser doutor Mas ganho menos que um camelô Na minha mesa é só arroz e feijão Só vejo carne na mesa de operação Então eu fico 24 horas de plantão pra aumentar o ganha pão. Me cansei de lero-lero Dá licença, mas eu vou sair do sério Quero mais saúde Me cansei de escutar... Tá muito sinistro! Alô, prefeito, governador, presidente, ministro,traficante, Jesus Cristo, sei lá... Alguma autoridade tem que se manifestar! Assim num dá! Onde é que eu vou parar? Numa clínica pra idosos? Ou debaixo do chão? E se eu ficar doente? Quem vem me buscar? A ambulância ou o rabecão? Eu tô sem segurança, sem transporte, sem trabalho, sem lazer Eu num tenho educação,mas saúde eu quero ter Já paguei minha promessa,não sei o que fazer! Já paguei os meus impostos, não sei pra quê? Eles sempre dão a mesma desculpa esfarrapada: "A saúde pública está sem verba". Gabriel o Pensador,Memê e Fábio Fonseca (1997) RESUMO Ao abrigo da História Cultural como campo historiográfico, esta tese – estruturada em quatro capítulos – tem como objeto o par saúde–doença, modalização do cotidiano, cujas movências e reconfigurações são observadas no cenário goianiense, temporalmente inscrito entre os anos 80 do século XX e o tempo presente. Objetivou-se rastrear um processo pontuado de rupturas, permanências, reelaborações e inovações gestadas nas condições sociohistóricas e culturais da cena urbana, que ostenta nesta conjuntura importantes elementos de reconfiguração. A partir desse pressuposto, o argumento norteador da pesquisa buscou o representacional do par saúde–doença em vetores consubstanciados em antigas práticas de benzeduras, reelaboradas ou não, nas academias de ginástica, tomadas como lugares de moderno culto ao corpo e na pluralidade das igrejas evangélicas que se multiplicam, sempre na convicção de que da análise de tal conjunto resultaria no perfil da cidade e nas práticas adotadas pelos atores que a animam em torno do par saúde–doença. Como contraponto, o episódio do césio 137, que a um só tempo peculiariza esta história e a desterritorializa, vez que a articula às questões ambientais e também à precariedade das ações públicas quanto à saúde, situação crônica do Estado brasileiro e que Goiânia reproduz. O suporte empírico foi buscado em fontes orais, no material obtido em jornais e revistas, além das informações encontradas em sítios eletrônicos. Esse corpus, integrando discursos, ensejou as análises das representações, cujos resultados corroboram as argumentações calcadas no par saúde–doença, modalização do cotidiano que motivou esta investigação. Palavras-chave:Cotidiano. Goiânia. Representações. Saúde–doença. ABSTRACT HEALTH–SICKNESSPAIR IN EVERYDAY LIFE OF A MODERN CITY: GOIÂNIA AND THE ALTERNATIVEHEALING PRACTICES (LATE 20TH CENTURY–EARLY 21ST CENTURY) Based on Cultural History as the historiographic field, the present thesis– structured in four chapters – has as its study object the health–sickness pair, modalization of everyday life, whose movance and reconfigurations are observed in the scenery of Goiânia, a capital city in the Midwestern Region of Brazil, temporally inscribed in the period from the 80s of the twentieth century up to the present time. This research aimed at tracing a process presenting ruptures, permanences, reelaborations, and innovations conceived under the social, historic, and cultural conditions of the urban scene, which shows important elements of reconfiguration in this conjuncture. Having this presupposition as a starting point, the leading argumentation of this study searched for the health–sickness pair representation in vectors consubstantiated in the ancient practice of faith-healing, reelaborated or not, in the gyms, interpreted as places dedicated to the modern cult of the body, and the plurality of the protestant churches that are multiplying in the city, always convinced that the analysis of this complex whole would result in the city profile and the practices adopted by the actors that animate it around the health–sickness pair. As a counterpoint, the cesium-137 accident, which peculiarizes and deterritorializes this story, since it articulates that with environmental issues and the precarious health public policies, a chronical situation in Brazil that Goiânia reproduces. The empirical support for this study was taken from oral sources, material obtained in newspapers and magazines, and information collected in electronic sites. This corpus, integrating discourses, offered the opportunity to analyze the representations, whose results corroborate them as argumentations based on the health–sickness pair, modalization of everyday life that motivated this investigation. Key words: Everyday life. Goiânia. Health–sickness.Representations. SUMÁRIO INTRODUÇÃO .............................................................................................. 9 CAPÍTULO 1 – SAÚDE E DESENVOLVIMENTO URBANO NA CIDADE DE GOIÂNIA ................................................................................................. 14 1.1 Desenvolvimento urbano e social: faces de uma mesma moeda .... 15 1.2 O cenário goiano ................................................................................... 21 1.3 Sociedade moderna e saúde ............................................................... 30 1.4 Goiânia: entre a medicina de ponta e a precariedade da saúde pública ......................................................................................................... 46 CAPÍTULO 2 – O CORPO: MODOS DE CUIDAR E OPÇÕES NA CIDADE MODERNA ..................................................................................... 57 2.1 Em busca da saúde e da perfeição do corpo ..................................... 58 2.2 Representação e espetacularização do corpo “sarado”: o discurso hedonista dos anos 80 ............................................................... 67 2.3 Entre promessas de saúde e obrigações estéticas: a freqüência às academias de ginástica na cidade de Goiânia .................................... 73 CAPÍTULO 3 – SAÚDE–DOENÇA E CURA–RELIGIOSIDADE ................. 83 3.1 O par saúde–doença e sua inserção na dimensão religiosa............ 84 3.2 O catolicismo no Brasil, suas práticas tradicionais, fundamentos e proposições .............................................................................................. 103 3.3 Retórica evangélica e espaço midiático: a inserção do miraculoso no cotidiano radiofônico e televisivo ........................................................ 111 3.4 A umbanda e suas representações: o terreiro como “lugar praticado” das articulações entre as “coisas do corpo” e as “coisas da alma” ....................................................................................................... 116 3.5 A prática popular da benzedura e sua sobrevivência nas cidades modernas ..................................................................................................... 125 CAPÍTULO 4 – SAÚDE–DOENÇA: IDENTIDADES E DESTERRITORIALIZAÇÃO ......................................................................... 132 4.1 O desejo de cura como invariante referencial ................................... 133 4.2 Sentidos e identidades no discurso religioso................................... 146 4.3 Modos de crer: rupturas e permanências .......................................... 153 4.4 Mudança de religião: a certeza da incerteza ...................................... 154 4.5 O encontro das velhas e novas formas de crer................................. 157 CONCLUSÃO ............................................................................................... 161 CORPUS DOCUMENTAL ............................................................................ 165 1 Fontes orais .............................................................................................. 165 2 Fontes escritas ......................................................................................... 166 2.1 Jornais impressos ................................................................................ 166 2.2 Revistas impressas .............................................................................. 167 3 Fontes eletrônicas ................................................................................... 167 4 Obras de subsídio para consulta ........................................................... 167 BIBLIOGRAFIA REFERENCIADA .............................................................. 168 9 INTRODUÇÃO Vivemos sem possibilidade de refletir sobre as aventuras de nosso próprio corpo. Sua evidência familiar e enganadora determina-lhe uma topografia positiva (diz-se natural), que, por sua vez, nos substitui o pensável. No entanto, a primeira pergunta abala essas certezas: Que sabemos dizer sobreadoença?(PETER;REVEL,1976,p. 152).
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