Z I M E R M A N L í F U N D A M E N T O S B Á S I C O S D A S 27 lf Zimerman, David Epelbaum Fundamentos Básicos das Grupoterapias / David Epelbaum Zimerman. Porto Alegre — Artes Médicas Sul. 1993 1 .Terapia de Grupo I.Titulo CDU 364.044.2 Bibliotecária responsável: Mônica Ballejo Canto — CRB provisório 10/91 David Epelbaum Zimerman Psicanalista FUNDAMENTOS BÁSICOS DAS GRUPOTERAPIAS arTes (VE DICAS PORTO ALEGRE / 1993 © de EDITORA ARTES MÉDICAS SUL LTDA. Capa: Mário Rõhnelt Supervisão editorial Delmar Paulsen Editoração: GRAFLINE — Assessoria Gráfica e Editorial Ltda. Fone: (051)341-1100 Reservados todos os direitos de publicação em língua portuguesa à EDITORA ARTES MÉDICAS SUL LTDA. 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Já que ninguém poderá falar com mais autoridade sobre sua obra do que seu criador, os leitores certamente me relevarão a intenção de neste prefácio falar antes do autor do que de seu livro. Disse alguém que o amigo é o irmão que se escolhe. Entre tantos desses amigos-irmãos que a vida foi pródiga em me proporcionar, David é hoje aquele com quem há mais tempo convivo. Conheci-o ainda estudante de Medicina, quan do fui estagiar na Clínica Pinei e lá o tive como meu primeiro supervisor, travando logo contato com aquelas qualidades suas que depois soube reconhecer não só como raras, mas também preciosas. Ele era cima de tudo o continente adequado para com nossas falhas e paciente com nossas inquietações. Coerente com suas preferências, fundadas na etimologia, por educar em lugar de ensinar, sabia dei xar espaço para que aflorasse o conhecimento nascente do supervisionado, nào impondo aprioristicamente seus pontos de vista, e — talvez sua característica mais marcadamente pessoal — sempre extraindo algo de positivo do mais caótico e inadequado de nossos procedimentos. Anos mais tarde, acompanhando-o na condução de um grupo F no Labora tório de Relações Humanas a que faz referência na introdução deste livro, pude constatar “ao vivo” suas qualidades para a tarefa de lidar com grupos, os quais conduz invariavelmente de um modo suave, tranqüilo e afável, mas ao mesmo v vi / David E. Zimerman tempo firme e objetivo, sabendo como poucos fazer a síntese dos movimentos do grupo para integrar seus componentes no desempenho da tarefa proposta. Desde então tenho acompanhado David em inúmeras outras atividades em grupos e não cesso de com ele apreender a como exercer com discrição e sereni dade a coordenação dos mesmos. É ele o que se poderia cognominar um “grupo- terapeuta nato”! Além de seu invulgar talento como coordenador de grupos, David tem sido um incansável batalhador pela grupoterapia em nosso meio, quer na direção de entidades associativas como principalmente no treinamento de novos profissio nais. E, como corolário deste seu renovado interesse em revitalizar a grupoterapia entre nós e de sua profícua e continuada atividade de professor e supervisor de grupoterapeutas, vem a lume agora este seu “Fundamentos Básicos das Grupo- terapias", que não só preenche uma importante lacuna em nossa escassa biblio grafia nacional sobre a matéria como assegura desde já uma posição ímpar como livro texto na formação de futuros grupoterapeutas no pais e como obra de refe rência obrigatória para os trabalhos que vierem a ser publicados doravante sobre este ramo das psicoterapias. Para que não se diga que este prefácio limitou-se aos encómios ao autor, façamos agora algumas breves considerações sobre sua obra. O autor é psicanalista e como tal é deste ponto de vista teórico que aborda os temas grupais; não obstante, eclético e aberto ao diálogo, mostra-se ele natu ralmente receptivo às demais correntes teóricas que influenciam o campo das grupoterapias. Como seria de esperar, contudo, por sua maior familiaridade com o referencial analítico é ao utilizá-lo na abordagem dos fenômenos do campo grupai que nos traz suas mais fecundas contribuições à matéria. Esses fenôme nos são aqui abordados com uma riqueza conceituai e uma simplicidade didática raramente encontradas, mesmo nos textos dos mais renomados especialistas. O estudo desses fenômenos são indubitavelmente o ponto alto do livro. Nos capítulos que tratam mais especificamente de aspectos técnicos pode mos acompanhar as transformações por que passaram no pensamento do autor certas formulações que identificaram a grupoterapia analítica em suas origens. Assim, por exemplo, questiona ele a atitude outrora preconizada de dirigir inter pretações sistematicamente ao grupo como um todo no pressuposto de que só assim se estaria conduzindo analiticamente um grupo. Da mesma forma rediscu- te, à luz dos novos aportes à teoria da técnica analítica e sustentando-se em sua experiência clínica de vários lustros com a grupoterapia analítica, outras questões tidas como polêmicas e controvertidas, tais como a valorização da contratransfe- rência como instrumento comunicacional, o emprego das interpretações extra- transferenciais, a discriminação das individualidades no contexto grupai, o uso da matriz interativa do grupo como agente terapêutico (através da função inter- pretativa dos próprios componentes do grupo) e assim por diante. Destaque-se, ainda, o mérito do autor de expor-se e revelar sua maneira de trabalhar nas várias ilustrações clínicas que dão sustentação às digressões teóri- Grupoterapias I vii cas. Esta é uma qualidade que só é evidenciada por quem tem sua práxis bem sintonizada com seu posicionamento teórico. Contudo, o mérito essencial da obra talvez escape aos leitores que não conheçam ou convivam com o autor: é a extraordinária coerência entre os conteú dos do texto e a personalidade de quem o redigiu. Ai encontramos o David com seu espírito conciliador e democrático, procurando valorizar em cada detalhe os aspectos humanísticos e éticos do métier profissional a que se dedica, conduzindo seu raciocínio com a mesma e invejável dose de bom senso com que conduz seus grupos. Como disse de início, é extremamente difícil não se deixar levar pelo apreço que se tem ao amigo a quem se prefacia, mas ainda assim creio que os leitores concordarão, após transitarem pelo texto,que estamos diante de uma obra que chega no “timing" preciso e com qualidades suficientes para tomá-la um "livro de cabeceira” para todos nós que nos dedicamos às diversas modalidades de grupo- terapia em nosso meio. De parabéns, portanto, o autor, a editora que acolheu sua obra e nós outros, leitores, que a usufruímos e com ela incrementamos nosso cabedal de conheci mentos sobre a matéria. Luiz Carbs Osório SUMARIO PREFÁCIO — Luis Carlos Osório, PRÓLOGO, 1 PRIMEIRA PARTE Princípios Gerais de Psicodinâmica Capítulo 1 — Uma revisão sobre o desenvolvimento da personalidade, 9 Capítulo 2 — 0 Grupo familiar, 24 Capítulo 3 — Breve revisão sobre as principais síndromes clínicas, 30 SEGUNDA PARTE Princípios Gerais das Grupoterapias Capítulo 4 — Uma revisão histórico-evolutiva das grupoterapias Principais referenciais teórico-técnicos, 45 Capítulo 5 — Importância e conceituação de grupo, 51 Capítulo 6 — Modalidades grupais, 55 Capítulo 7 — Formação de um grupo terapêutico de base analítica, 64 Capítulo 8 — Início de uma grupoterapia analítica. Uma primeira sessão, 70 TERCEIRA PARTE Fenômenos do Campo Grupai Capítulo 9 — Campo grupai. Ansiedades. Defesas. Identificações, 79 Capítulo 10 — Papéis. Lideranças, 86 Capítulo 11 — Enquadre (setting) grupai, 93 Capítulo 12 — Resistência, 101 Capítulo 13 — Contra-Resistência, 106 Capítulo 14 — Transferência, 109 Capítulo 15 — Contratransferência, 114 Capítulo 16 — Comunicação, 119 Capítulo 17 — Interpretação, 125 Capítulo 18 — Actíngs, 133 Capítulo 19 — Insight Elaboração. Cura, 139 Capítulo 20 — Perfil e função do grupoterapeuta, 148 QUARTA PARTE Outras Grupoterapias Capítulo 21 — Grupos com crianças, púberes, adolescentes, casais, famílias, psicossomáticos, psicóticos, depressivos, 155 Capítulo 22 — Grupos Operativos. Grupo de Reflexão aplicado ao ensino médico, 168 Capítulo 23 — Estado atual das grupoterapias, 173 ÍNDICE BIBLIOGRÁFICO GERAL, 177 ÍNDICE REMISSIVO, 179 PRÓLOGO A motivação para escrever este livro sobre os fenômenos do campo grupai provém de três fontes. A primeira decorre da constatação de que no Brasil há uma inequívoca necessidade de expansão das atividades grupoterápicas e de formação de técnicos especializados na área. De fato, há no Brasil um profundo abismo entre o número de pessoas que necessita — e certamente poderia beneficiar-se de uma psicoterapia sistemática — e a capacidade assistencial em atender a essa demanda, sendo de lamentar que não esteja ocorrendo melhor aproveitamento de um recurso que tem um significativo potencial terapêutico, como é, sem dúvida, o das grupoterapias. A segunda razão é a evidência da necessidade de um livro de leitura básica, e isso pode ser medido pelo expressivo número de grupoterapeutas em formação, assim como pelo reclamo de um grande volume de interessados em grupoterapia que se tem manifestado neste sentido. Junto aos demais professores desta área, posso testemunhar a nossa dificuldade quanto a indicação de bibliografia relativa aos conceitos básicos, sem cair no inconveniente de ter que pinçar textos de autores diversos em diferentes obras. O meu terceiro motivo para escrever este manual é o de que me pareceu adequado partilhar com colegas mais jovens uma experiência intensiva e diversi ficada no trabalho com distintas modalidades grupais que venho acumulando há mais de 30 anos. Esta experiência teve início na Clinica Pinei de Porto Alegre — RS, onde desenvolvíamos, de forma sistemática, três tipos de atividades em grupos: as de ordem administrativo-reflexiva (intra e interequipes técnicas), as comunitárias (com a totalidade dos técnicos de todos níveis hierárquicos, alguns funcionários, 1