ebook img

Francisco, o papa dos humildes PDF

223 Pages·2016·3.66 MB·Portuguese
Save to my drive
Quick download
Download
Most books are stored in the elastic cloud where traffic is expensive. For this reason, we have a limit on daily download.

Preview Francisco, o papa dos humildes

Universo dos Livros Editora Ltda. Rua do Bosque, 1589 - Bloco 2 - Conj. 603/606 Barra Funda - São Paulo/SP - CEP 01136-001 Telefone/Fax: (11) 3392-3336 www.universodoslivros.com.br e-mail: [email protected] Siga-nos no Twitter: @univdoslivros Franziskus – Zeichen der Hoffnung © 2013 by Andreas Englisch (www.andreasenglisch.de), represented by AVA International GmbH, Germany (www.ava- international.de). Originally published 2013 by C. Bertelmann Verlag, Munich Random House GmbH © 2013 by Universo dos Livros Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/1998. Nenhuma parte deste livro, sem autorização prévia por escrito da editora, poderá ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravação ou quaisquer outros. Diretor-Editorial: Luis Matos Editora-Chefe: Marcia Batista Assistente-Editorial: Raíça Augusto e Raquel Nakasone Tradução: Gabriela França Preparação: Marly Netto Peres Revisão: Júlia Yoshino Arte: Francine C. Silva e Valdinei Gomes Capa: Zuleika Iamashita Conversão para epub: Danielle Fortunato Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Englisch, Andreas Francisco : o papa dos humildes / Andreas Englisch; tradução de Gabriela França. – São Paulo : Universo dos Livros, 2013. ISBN 978-85-7930-517-7 Título original: Franziskus – Zeichen der Hoffnung 1. Bento XVI, Papa, 1927-Biografia 2. Papas – Igreja Católica I. Título II. França, E48f Gabriela 13-0574 CDD 922.2 Para minha esposa Kerstin e meu filho Leonardo. E em agradecimento pela ajuda de Sua Excelência bispo Marcelo Sánchez Sorondo, sem o qual este livro não existiria. A sensação Francisco Quarta-feira, 13 de março de 2013. Capela Sistina. Cidade do Vaticano. São 16h30 quando os cardeais, após a pausa para o almoço, adentram a capela para a quarta votação, sob os mundialmente famosos afrescos de Michelangelo Buonarroti. Apesar do silêncio na capela, percebe-se claramente que mais ou menos trinta cardeais são puro medo – como descreveram mais tarde vários deles. Esses cardeais são os cerca de trinta homens que moram em Roma e administram o governo da Igreja, a Cúria. Eles sabem que agora vão precisar evitar algo especial: entrar em pânico. O que eles temem não pode de forma alguma acontecer: que aquele homem, que em 2005 já tinha recebido cerca de quarenta votos, venha a se tornar o novo papa. O que eles devem impedir a todo custo é a escolha de Jorge Mario Bergoglio. Os cardeais da Cúria lembram-se bem de Bergoglio. Bem demais. O argentino nunca gostou de ir a Roma, e sempre que ia até lá era pelo mesmo motivo: porque a Cúria novamente havia tornado sua vida em Buenos Aires impossível. E isso eles fizeram com frequência! Bergoglio tinha a desagradável característica de não se dobrar facilmente àquilo que a Cúria decidia para ele. Quando ela o irritava, ele viajava até Roma, enfrentava o combate e marcava um encontro com o papa. Para infelicidade da Cúria, Bergoglio gozava enormemente do apreço tanto de João Paulo II quanto de Bento XVI. Ou seja, os conflitos já estavam programados para assim que Bergoglio chegasse a Roma, e o cardeal de Buenos Aires resistiria a eles. O conflito decisivo ocorreu havia apenas alguns meses. Monsenhor Ettore Balestrero, o segundo secretário na Secretaria de Estado do Vaticano (departamento responsável pelo relacionamento com as nações), atacou Bergoglio. É importante ressaltar que Balestrero nada mais era do que a extensão do braço do grande chefe, o secretário de Estado do Vaticano, o cardeal Tarcisio Bertone. Portanto, quando Balestrero investia contra um cardeal, era Bertone quem se escondia por trás dele – e todos sabiam perfeitamente disso. Balestrero acusou mais de uma vez Bergoglio de enviar os melhores padres às favelas, em vez de mandá-los para as caras escolas de elite da Igreja católica, destinadas às classes mais abastadas, ou para as paróquias dos bairros elegantes de Buenos Aires, ou mesmo para Roma, onde a falta de padres tornava urgente a necessidade de sangue novo. Esse era o ponto que mais causava aborrecimentos desde a nomeação de Bergoglio para o arcebispado de Buenos Aires, ou seja, desde 1998. Por décadas, o próprio Bergoglio foi com os padres às favelas, mesmo a locais aos quais nem a polícia se atrevia a ir. Bergoglio sempre recusava escoltas, acompanhava seus padres e os apresentava aos pobres. Nunca ninguém o agrediu. Por muitos anos, bebeu chimarrão (infusão típica de chá mate) com os mais pobres. Eles sabiam que Bergoglio era seu bispo, por isso protegiam seus padres e os acolhiam. Mesmo nos locais onde traficantes trocavam tiros, com muito dinheiro em jogo, Bergoglio e seus padres podiam ir e vir à vontade. Eles eram homens de Deus, e até os piores criminosos sempre aceitaram isso. Mas a leitura da Cúria é bem diferente. Como Bergoglio cuida dos pobres, é considerado um malogro, um homem que não tem noção de como se conduz uma diocese. Balestrero dá a entender que os dias de Bergoglio estão contados. É por causa de seu comportamento, que sua iminente renúncia do arcebispado de Buenos Aires será aceita. Jorge Mario Bergoglio nasceu em 17 de dezembro de 1936 e, ao completar 75 anos, em dezembro de 2011, ele deveria apresentar sua renúncia, como qualquer outro cardeal ou bispo. Via de regra, isso acontece após alguns meses de prorrogação do cargo. Contudo, Balestrero fez saber que o exercício do cargo de Bergoglio não seria de forma alguma estendido, como frequentemente acontece com outros bispos. Por exemplo, o arcebispo de Colônia, cardeal Joachim Meisner, três anos mais velho que Bergoglio, ainda exerce sua função. Mas no caso específico de Bergoglio, aquele teria que ser o ponto final, imperiosamente – ainda antes do início do verão de 2013, em meados do ano. Ele teria apenas alguns meses no cargo, garantiu Balestrero em nome de Bertone. Obviamente, o ódio contra Bergoglio não se deve exclusivamente à sua luta pelos pobres. Há um segundo motivo ainda, mais forte, embora pareça ridículo. Jorge Mario Bergoglio é uma acusação viva contra a Cúria e contra quase todos os cardeais e 5 mil bispos do mundo. No Vaticano, todos sabem o que Bergoglio pensa acerca do fato de quase todos os cardeais e bispos mundo afora – em especial os cardeais da Cúria – serem servidos por religiosas, somando um exército de mais de 10 mil serviçais, quase todas freiras. Até mesmo o papa Bento XVI gozava dos serviços de quatro religiosas da Congregação de Schönstatt. Bergoglio não tem sequer uma única governanta. Isoladamente, esse fato não seria tão ruim, se ao menos mantivesse a boca fechada, coisa que não faz. Ele diz abertamente, em encontros no Vaticano, que nas residências dos cardeais as religiosas cozinham, lavam e secam a louça, fazem a cama, fazem café para o motorista do bispo... enquanto deveriam estar fazendo aquilo para o que na verdade se tornaram freiras: pregar o Evangelho, amparar as crianças, assistir os idosos, mostrar o amor de Deus. Apesar da aparente simplicidade dessa crítica, ela consegue causar puro horror no Estado do papa. Nenhum cardeal precisa se aborrecer de verdade quando liquida seus negócios financeiros no IOR (o Banco do Vaticano), difamado por causa da suposta lavagem de dinheiro, mas argumentar sobre a extinção dos serviços domésticos grátis das religiosas é pecado mortal imperdoável – pecado que Bergoglio comete sempre. Balestrero é categórico: a carreira de Bergoglio na Igreja está acabada. A Cúria está a um passo de finalmente se livrar dele – e agora isso: na terceira votação, ele consegue mais de cinquenta votos. Justamente esse homem proscrito não pode de forma alguma se tornar o próximo papa! “Ridículo”, despreza o secretário de Estado, cardeal Tarcisio Bertone. A eleição de Bergoglio está fora de cogitação. Nos anos anteriores, Bertone e seu amigo cardeal Giuliano Amato, chefe da Congregação para as Causas dos Santos, fizeram de tudo para deter Bergoglio. Bertone e Amato, dois padres salesianos, se conheceram na Congregação para a Doutrina da Fé. Com leve pressão sobre o papa, os dois formaram um colégio de cardeais que faria da eleição de Bergoglio algo completamente impossível. Eles trabalharam muito bem e incisivamente. Ao menos é nisso que os dois acreditam. Afinal, todos eles não tinham se tornado adversários declarados do cardeal Bergoglio, como o cardeal canadense Marc Ouellet, chefe da Congregação para os bispos e respeitado especialista da revista fundada por Joseph Ratzinger, a Communio? Não fora Ouellet que, segundo a visão de Bergoglio, combatera de modo feroz a implementação ativa de algumas ideias da Teologia da Libertação? Afinal, o objetivo principal de Joseph Ratzinger não era combater os protagonistas da Teologia da Libertação, como o franciscano Leonardo Boff ? Em 1985, Ratzinger impôs ao teólogo Boff um ano de silêncio por causa de seu livro Igreja – carisma e poder. O motivo da dor de cabeça da Cúria é o fato de Ratzinger lutar sim contra a Teologia da Libertação, mas ser ao mesmo tempo um admirador de Bergoglio. Ele nunca perdeu a oportunidade de dizer que considerava Bergoglio um santo. Mas Joseph Ratzinger não está no conclave. E lá não está apenas Ouellet, que pode ajudar a erigir uma muralha contra Bergoglio: lá estão cerca de 28 cardeais italianos. Essa foi a obra-prima de Bertone: transformar em cardeais homens que, se comparados a um gênio, como o professor de filosofia Bergoglio, mal conseguem contar até três. Homens que só se tornaram cardeais porque, estando o Vaticano na Itália, a Cúria tem o poder de impor inúmeros italianos. É do interesse deles que o papa não seja um latino-americano, mas sim um homem da Cúria, para que tudo permaneça igual. Na Secretaria de Estado, são os italianos, em especial, que querem o poder. Os cardeais da Cúria esperam que a ajuda contra os latino-americanos venha também do dedicado discípulo de Ratzinger, o norte-americano William Levada, que Ratzinger queria como sucessor na chefia da Congregação para a Doutrina da Fé. É função de Levada colocar o grupo de onze cardeais norte-americanos contra Bergoglio. Pouco antes da quarta votação na Capela Sistina, Tarcisio Bertone a percorre com os olhos, com a intenção de encarar os cardeais de modo bem persuasivo e lembrá-los de um fato simples: metade deles só está lá porque ele, Bertone, assim o quis. Agora era chegado o momento de apresentar a conta. A obrigação de cada um deles é simplesmente apoiá-lo e deter Bergoglio. Desde o início, quando assumiu o cargo, há sete anos, Tarcisio Bertone decidiu terminantemente quem poderia e quem não poderia tornar-se cardeal. O que ele quer é um colégio de cardeais que funcione como uma fortaleza, impedindo o avanço de Jorge Mario Bergoglio. Na Cúria, todos conhecem o apelido de Bergoglio: “velho jesuíta”. Isso porque, diferentemente dos novos jesuítas, ele não gasta seu tempo com as ciências. Ele é um jesuíta da velha escola – a velha escola que ajudou a construir a América Latina e não se esqueceu do que o fundador de sua ordem, Inácio de Loyola, era: um soldado de Deus, essencialmente. E é exatamente assim que Bergoglio se comporta. Apesar de toda simpatia e humildade, apesar de sua impressionante modéstia e simplicidade, ele é um guerreiro, um guerreiro que consegue engolir insultos quando é obrigado, mas que também consegue criticar firmemente, se julgar necessário. Com o passar do tempo, a querela dos cardeais da Cúria com Bergoglio ficou tão intensa que eles finalmente tomaram a decisão drástica que sempre é tomada quando toda boa vontade para com um cardeal não funciona: ofereceram a ele uma posição na Cúria, um bom cargo, e assim Bergoglio se tornaria um deles. Ele se tornaria o chefe da Congregação para o clero e poderia então lidar com padres rebeldes do mundo todo, como ele próprio era, na opinião da Cúria. Contudo, aconteceu o impossível: Bergoglio recusou. A Cúria não conseguia entender. Normalmente, cardeais de regiões mais distantes, como a Argentina, não conseguem um posto em Roma tão rapidamente. Mas isso não era algo que Bergoglio quisesse, de forma alguma. Ele percebeu o jogo da Cúria de sempre tentar confinar em Roma os candidatos indesejáveis. Exatamente como aconteceu com o outrora brilhante bispo Emmanuel Milingo, o arcebispo de Lusaka, transferido para Roma para um posto no Pontifício Conselho para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes – e nele aniquilado. Bergoglio não se deixou seduzir, ele queria simplesmente continuar na Argentina, e os cardeais da Cúria se perguntavam o tempo todo por que ele fazia isso consigo mesmo. Ao invés de aguardar a aposentadoria confortavelmente, no centro do poder eclesiástico, em Buenos Aires ele tinha que enfrentar uma batalha após a outra contra sua própria gente, sobretudo contra os irmãos de sua própria ordem, além do governo e um exército de críticos. Se há um pesadelo para os cardeais da Cúria, o nome dele é Bergoglio. Antes da quarta votação, Bertone declara a linha de abordagem. O cardeal Angelo Scola deve ser o novo papa – essa parece ser a melhor solução. Os cardeais sabem que, ao eleger o bispo de Milão ou o patriarca de Veneza, eles poderão continuar a agir como sempre, pura e simplesmente. Assim tem sido por muitos séculos e sempre funcionou bem. Quis o acaso que o atual arcebispo milanês, Angelo Scola, tivesse também sido patriarca de Veneza. Na primeira votação, ele recebeu

Description:
Andreas Englisch busca revelar fatos de dentro da Cúria Romana e conta o que realmente levou Bento XVI à renúncia, como os favoritos da lista dos 'papabili' perderam fôlego ao longo do conclave e o que terminou por ser decisivo na escolha do novo papa. Englisch ainda apresenta ao leitor detalhes
See more

The list of books you might like

Most books are stored in the elastic cloud where traffic is expensive. For this reason, we have a limit on daily download.