UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO BRASILEIRA MAGNA MARICELLE FERNANDES MORAES JUVENTUDES, AFETOS E LINGUAGEM: O SABER DISCURSIVO E A FORMULAÇÃO DE SENTIDOS SOBRE O AMOR A PARTIR DA FALA DE JOVENS ACADÊMICOS FORTALEZA 2014 1 MAGNA MARICELLE FERNANDES MORAES JUVENTUDES, AFETOS E LINGUAGEM: O SABER DISCURSIVO E A FORMULAÇÃO DE SENTIDOS SOBRE O AMOR A PARTIR DA FALA DE JOVENS ACADÊMICOS Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação Brasileira, da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do Título de Doutora em Educação. Área de Concentração: Movimentos Sociais, Educação Popular e Escola. Orientadora: Profª. Drª. Celecina de Maria Veras Sales. FORTALEZA 2014 2 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Federal do Ceará Biblioteca de Ciências Humanas M822j Moraes, Magna Maricelle Fernandes. Juventude, afetos e linguagem: o saber discursivo e a formulação de sentidos sobre o amor a partir da fala de jovens acadêmicos. / Magna Maricelle Fernandes Moraes. – 2014. 202 f., enc.; 30 cm. Tese (doutorado) – Universidade Federal do Ceará, Centro de Humanidades, Faculdade de Educação, Programa de Pós-Graduação em Educação Brasileira, Fortaleza, 2014. Área de Concentração: Movimentos sociais, Educação popular e Escola. Orientação: Profa. Dra. Celecina de Maria Veras Sales. 1. Linguística – Linguagem e comunicação. 2. Análise do discurso – Jovens. 3. Análise do discurso – Amor. 4. Semiótica. I. Título. CDD 410.14 MAGNA MARICELLE FERNANDES MORAES JUVENTUDES, AFETOS E LINGUAGEM: O SABER DISCURSIVO E A FORMULAÇÃO DE SENTIDOS SOBRE O AMOR A PARTIR DA FALA DE JOVENS ACADÊMICOS Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação Brasileira, da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do Título de Doutora em Educação. Área de Concentração: Movimentos Sociais, Educação Popular e Escola. Orientadora: Profª. Drª. Celecina de Maria Veras Sales. Aprovada em: __/__/____. BANCA EXAMINADORA _____________________________________________________________ Profª. Drª. Celecina de Maria Veras Sales – UFC – Orientadora _____________________________________________________________ Profª. Drª. Maria do Socorro Ferreira Osterne – UECE ______________________________________________________________ Profª. Drª. Lia Machado Fiuza Fialho – UECE ______________________________________________________________ Profª. Drª. Maria Dolores de Brito Mota – UFC _____________________________________________________________ Profº. Dr. Nelson Barros da Costa – UFC ____________________________________________________________ 3 PALINÓDIA Criador de letras tão versadas, Não sejas tu um homem que se inflama com as lágrimas de uma dama De um deus das palavras, espera-se mais que uma farsa mais que um jogo de bilhar É por seres justo e verdadeiro que te amo desde já Embora, em verdade, tenha me arriscado E é por não te conhecer que me calo Magna Moraes 4 Para minha avó, Toda a sua existência era um flagrante da memória encarnada de um povo. No brônzeo da pele resplandecia o lume dos raios de sol. Fios de cabelos tingidos pelo mesmo negrume que brilhava nos olhos. Ela carregava nos seios flácidos a lembrança de milhares de mulheres que foram mortas enquanto amamentavam seus filhos. Já era nascida no tempo em que se falava português, embora não tenha aprendido a ler. Não por falta de inteligência, secretamente resistia àquela língua de branco. Mas a essa resistência, alguns chamavam analfabetismo. Seu nome era praticamente uma sina. De trás pra frente, apenas Ana. Inteiramente Ana. O mais breve dos nomes imprimindo-se na infinitude dos tempos, na mais duradoura das horas: a lembrança amorosamente eterna. 5 AGRADECIMENTOS Ao fecundo Deus que me criou inteiramente mulher: De dentro da noite que escoa do meu ventre os restos aquosos de um corpo desfeito, amanheço mulher Da boca de um sexo que jorra sangue eu me lanço no mundo e mergulho profunda nos pedaços de mim Do oco de um músculo que o fluxo vasa um cheiro de morte me lambe as pernas e depois me lavo À minha mãe, por ter me dito sabiamente, entre um lavar de louças e um chiar de panela de pressão ao fogão, que “o amor não é masculino nem feminino”. À Celecina de Maria Veras Sales, orientadora de tese e de vivências, afetuosa, sem perder a firmeza necessária aos que ainda são aprendizes nas artes de se inscrever em linhas de teses. Ela me reinventou. Ao Roberto Sampaio, com quem compartilho os desafios e as delícias do amor conjugal. Amar se aprende amando. Somos dois aprendizes dedicados. Ao par amoroso Neville Moraes e Lândia Moraes: ele é a tampa; e ela, a panela. Em carne e osso, feitos um para o outro, sem dúvida, com os quais posso contar na alegria e na tristeza. À Evellyn Moraes, que rompeu o casulo há pouco tempo e já se transformou numa linda borboletinha. Ao Diego Fernandes, que já sabe muitas respostas sobre a vida para a pouca idade. Ele cresceu “sabido” demais, um sinal de tempo escorrendo, envelheço amorosamente na certeza de vê-lo crescer ainda mais. 6 Ao meu estimado pai, pela saúde recuperada, em dias mais alegres ao som do velho radinho de pilha. Ao Vilcimar, meu padrasto camarada, presente em momentos difíceis, quando minha coluna vergava dolorosamente por tantas horas de rigidez maquinal, sentada à frente do computador escrevendo estas páginas. Ao Kelven Moraes, um rapazinho que anda perdidamente apaixonado, quase 25 horas por dia de inesgotável paixão. À Lia Pinheiro e Regina Coele, companheiras de vida e trabalho, histórias compartilhadas pelos sóis e girassóis de Crateús. Aos queridos, Alber Uchoa, Josy e Marcos, Márcio Dianton, Maria Vitória, Michel Viana, Nelson Barros, Raimundo Bezerra, Sahmaroni Rodrigues, Washington Menezes, em (quase) impecável ordem alfabética, por todos os momentos compartilhados e, muitas vezes, inesquecíveis. A ele, Anderson, meu amigo à primeira vista, do zodíaco às nuances de pronúncia dos fonemas em francês, ele sabe tudo, além de dominar as técnicas de cerzir os fios do amor amoroso entre iguais. Aos membros da banca de qualificação desta pesquisa, pelas preciosas sugestões. Aos estudantes do bosque de Letras À turma de Economia Doméstica À Funcap. 7 RESUMO Objetiva entabular uma discussão em torno do saber discursivo (domínio do interdiscurso) e da formulação de sentidos (domínio do intradiscurso) no que diz respeito ao tema do amor, considerado como objeto do discurso, desde a análise da fala de jovens acadêmicos. Nosso propósito, em outras palavras, é buscar compreender como são construídos sentidos acerca do amor a partir de entrevistas com jovens de dois cursos de graduação da Universidade Federal do Ceará-UFC – graduação em Economia Doméstica e em Letras –, além de delinear uma análise acerca de sentidos constitutivos de uma memória discursiva sobre o amor. Por nos comprometermos com os pressupostos teórico-metodológicos da Análise do Discurso de Linha Francesa, o amor aqui é pensado enquanto resultado de processos históricos de significação que se efetivam no e pelo sujeito falante, por conseguinte, é tomado como um objeto discursivo. Com base nesses pressupostos, trabalhamos com as categorias juventudes, amor e discurso (interdiscurso e intradiscurso). A primeira categoria é pensada à luz de estudiosos como Bourdieu (1983), Abramo (1994), Ariès (1981), Pais (2003; 2005; 2012), Groppo (2000), mais voltados para a área da Sociologia e da Educação, além de pensadores ligados ao campo da História, como Leuchtenburg (1976) e Hobsbawm (1995). O tema do amor é delimitado com base na obra de autores como o historiador suíço Rougemont (2003); nas reflexões dos escritores e ensaístas Paz (1994) e Bruckner (2011); em considerações advogadas por Luhmann (1991) e nas ideias propostas pela historiadora brasileira Del Priore (2012) e por Chauí (1991), além de postulados teóricos propostos pelos sociólogos Giddens (1993) e Bauman (2001; 2004). Ainda no que diz respeito ao tema, fazemos uma imersão em textos de autores consagrados na área da Literatura, sejam os de origem européia, americana ou brasileira, como Shakespeare, Jack Kerouac, Nelson Rodrigues, Adélia Prado, entre outros, além de referências à Música Popular Brasileira e à arte cinematográfica. A última categoria – o discurso (interdiscurso e intradiscurso) – configura-se como um postulado da AD, que aqui é vista a partir do viés teórico-metodológico proposto por Orlandi (2002). Como resultados, concluímos que os discursos dos jovens acadêmicos ora tendem a pôr em evidência aspectos negativos que singularizariam as transformações ocorridas no contexto das relações amorosas; ora, ao contrário, ressaltam aspectos positivos dessas mudanças. Os primeiros seriam, na perspectiva discursiva dos/das jovens, a instabilidade, o descompromisso com o outro, o desapego, a ausência de amor “verdadeiro”; enquanto os positivos estão diretamente relacionados com os avanços no tocante à liberdade de expressão da mulher e das minorias sexuais marginalizadas, por eles/elas considerados. Palavras-chave: Juventude; Amor; Discurso. 8 ABSTRACT This thesis has the objective of establishing a discussion about the discursive knowledge (mastery of the interdiscourse) and the formulation of meanings (mastery of the intradiscourse) concerning the love theme, considered to be the object of the discourse, starting from the speech of young undergraduation students. Our purpose, in other words, is to try to understand how the meanings about love are built starting from interviews made with two young students from the two undergraduation courses of the Federal University of Ceara- UFC - Home Economics graduation course and Letters Graduation Course – besides delineating an analysis about the constituent meanings of a discursive memory about love. As we are committed with the theoretical methodological assumptions of the French norms in Discourse Analysis, the love here is thought of as the result of historical processes of signification that are made permanent to and by the subject speaker, consequently is taken as a discursive object. Based on these presuppositions, we work with the categories youth, love and discourse (interdiscourse and intradiscourse). The first category is thought of in light of scholars like Bordieu (1983), Abramo (1994), Ariès (1981), Muchow (1968), Matza (1968), Pais (2003), Groppo (2000), more concerned with the areas of Sociology and Education, besides thinkers concerned with the field of History, like Leuchtenburg (1976) and Hobsbawm (1995). The love theme is marked out with basis on the work of authors like the Swiss historian Rougemont (2003); in the reflections of the writers and essayists Paz (1994) and Bruckner (2011); in considerations advocated by Luhmann (1991) and the ideas proposed by the Brazilian historian Del Priore (2012) and by Chauí (1991), besides the theoretical view of the sociologists Giddens (1993) and Bauman (2004). Still in what the theme is concerned, we immerse ourselves in texts of consecrated authors in the field of Literature being them of European, American or Brazilian origin like Shakespeare, Jack Kerouac, Nelson Rodrigues, Adélia Prado, among others, besides references to the Popular Brazilian Music and the cinematographic art. The last category – the discourse (interdiscourse and intradiscourse) – configures itself as a postulate of the AD, that is seen here from the theorethical- metodological bias proposed by Orlandi (2002). As results, we have concluded that the discourses of the young undergraduation students sometimes tend to bring into evidence negative aspects which would singularize the transformations occurred in the context of the love relationships; sometimes, on the contrary, highlight positive asoects of these changes. The first ones would be, in the discursive perspective of the female/male young students, the instability, the non-commitment with the other, the detachment, the ebsence of “true” love; whereas the positive are directly related with the advances concerning women’s freedom of speech and the marginalized sex minorities considered by them. Key words: Youth; Love; Discourse. 9
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