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Filosofia da Educação PDF

216 Pages·08.344 MB·Portuguese
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ATICAIJJNIVERSIDAOE PAULO GHIRALDELLI JR. Filosofia da Educação editora átiea Filosofia da educação PAULO GHIRALDELLI JR. Livre-docente em História da Educação Brasileira pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) Doutor e mestre em Filosofia pela Universidade de São Paulo ÍUSP) Doutor e mestre em Filosofia e História da Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Diretor e professor do Centro de Estudos em Filosofia Americana (Cefa) Sumário Apresentação 9 1. Conceitos básicos: filosofia, filosofia da educação e pedagogia O que é filosofia? 11 A metafísica e outras noções importantes 19 Os filósofos na Grécia antiga 23 O que é filosofia da educação? 30 Filosofia da educação e pedagogia 35 Filosofia da educação, pedagogia e ciências da educação 40 Resumo 43 Sugestões de atividades 43 Questões 44 Sugestões de leitura 45 Sugestões de leitura para aprofundamento 45 2. 0 paradigma clássico em filosofia da educação 47 Mudança de paradigma 47 Platão e o nascimento da filosofia da educação 52 Sócrates 52 Política, psicologia e educação 55 Metafísica e filosofia da educação 58 Uma pedagogia contra Protágoras 60 Resumo 64 Sugestões de atividades 65 Questões 68 Sugestões de leitura 68 Sugestões de leitura para aprofundamento 68 3. Iluminismo e Romantismo na filosofia da educação 69 A metafísica da subjetividade 69 Dois tipos de certeza 73 A metafísica da subjetividade e a noção de infância 78 Uma pedagogia efetívamente pedagógica 81 Resumo 84 Sugestões de atividades 85 Questões 86 Sugestões de leitura 86 Sugestões de leitura para aprofundamento 87 4. A crise do Humanismo e a filosofia continental da educação 89 Panorama contemporâneo 89 Do Humanismo ao darwínismo 92 A fenomenologia de Heidegger 98 A Escola de Frankfurt de Horkheimer e Adorno 102 O pós-estruturalismo de Derrida 108 O pós-estruturalismo de Foucault 112 A hermenêutica de Gadamer 115 O existencialismo de Sartre 119 Resumo 122 Sugestões de atividades 122 Questões 125 Sugestões de leitura 125 Sugestões de leitura para aprofundamento 125 5. Virada linguística e filosofia analítica da educação 127 Linguistic turn, ou virada lingüística 127 Wittgenstein contra a hipótese da “linguagem privada” 130 Frege: linguagem e significado 134 O positivismo 137 Quine e a indeterminabilídade do significado 144 Davidson: a linguagem só se faz na comunicação 147 Resumo 156 Sugestões de atividades 156 Questões 157 Sugestões de leitura 15? Sugestões de leitura para aprofundamento 158 6. A filosofia da educação do pragmatismo 159 O pragmatismo na era da experiência 159 O pragmatismo na era da linguagem 167 Ríchard Rorty 172 A teoria do agente: entre Freud, Davidson e Sartre 174 A verdade desinflacionada: discutindo com Jürgen Habermas 181 A filosofia da educação justificacionista é possível? 187 Pedagogia 191 Resumo 198 Sugestões de atividades 199 Sugestões de leitura 200 Sugestões de leitura para aprofundamento 200 Bibliografia comentada 201 Apêndice - Observações sobre como estudar e escrever filosofia 211 índice remissivo 215 Apresentação Este livro de filosofia da educação é diferente dos outros. Ele é dirigido a um leitor especial. Qual? Aquele que está cansado de ser tratado sem o carinho que um leitor interessado em filosofia e em educação merece. Não raro, o bom leitor é desconsiderado. Como isso ocorre? De duas maneiras. Primeira: quando a filosofia da educação é transformada em didática ou pedago­ gia, em livros que dizem que são de filosofia da educação, mas que, na verdade, não possuem nenhuma reflexão filosófica nem pertencem ao campo de conversação da filosofia. Segunda: quando a filosofia da educação é vista a partir de pequenos tre­ chos daquilo que os filósofos disseram a respeito de pedagogia e/ou educação. Nes­ se caso, às vezes a intenção era a de produzir uma espécie de história da pedagogia, não propriamente filosofia da educação. No entanto, esse tipo de texto termina também sendo insuficiente como história. O leitor inteligente, aqui, não vai se irritar. Ele vai entrar efetivamente no cam­ po da filosofia da educação. Este livro é, sem dúvida, um manual. E um livro de es­ tudo e para estudo. Mas não é um livro para o estudante que acredita que manual seja dicionário. Nada disso. Aquele estudante que imagina que estudar é colecio­ nar definições e noções, não vai nunca entender filosofia. Filosofia da educação, muito menos. Procurar definições e noções é uma das atividades de estudo. Por­ tanto, ter um dicionário de filosofia à mão, na leitura deste livro e nos estudos em geral, é sempre útil - necessário mesmo. Este livro nao foi feito para substituir o dicio­ nário, foi feito para levar o aluno a se envolver com a filosofia da educação de modo que, ao terminar a leitura, um novo universo lhe tenha sido aberto. Um universo que deve servir para duas coisas, no mínimo: se quiser, o estudante poderá aprofundar os estudos nessa bela área - porém tão maltratada por filósofos “de carteirinha” e por educadores dogmáticos ou simplesmente pouco afeitos às letras; poderá, tam­ bém, utilizar o livro para efetivamente construir sua própria filosofia da educação e sua pedagogia e, assim, melhorar sua condição como professor ou como diretor de escola ou como quem precisa lidar com política educacional e assim por diante. Volto a dizer: este livro não é de história da pedagogia nem mesmo de histó­ ria da filosofia da educação. E um livro de filosofia da educação. Ele lida com filo­ sofia da educação. Ter um conhecimento erudito sobre todas as escolas filosóficas e saber o que elas disseram sobre pedagogia ou educação pode ser interessante, mas, em geral, é inútil. Ter uma reflexão temática, pertencente à filosofia e à filosofia da educação, mas não entender o que é feito no momento atual em filosofia da edu­ cação é outra coisa inútil. Ter uma doutrina em filosofia da educação sem olhar para outras também não ajuda. Nem tema, nem história, nem posição exclusivista, mas filosofia - filosofia da educação. E isso que o livro contém. Este livro mostra como a filosofia da educação nasceu. Quais os paradigmas principais da filosofia da educação. Por qual razão tivemos uma crise em filosofia da educação e, enfim, como as escolas contemporâneas de filosofia deram ou não instrumentos para nós respondermos a tal crise. Sim, “para nós respondermos”, foi o que eu disse. Estou evocando aqui o “nós” propositalmente. Pois, de fato, não há, neste livro, autores que, tendo lido os grandes filósofos, tentaram “aplicar” o que disseram à pedagogia.e à educação. Nada disso - o que há aquí é filosofia da edu­ cação mesmo. Isto é, aqui, cada escola filosófica é mostrada naquilo que apresenta como filosofia da educação. Se o leitor achar que pode tirar outras filosofias da educação das mesmas escolas que apresentei aqui, que escreva seu livro. Se ficar bom, não só lerei, mas recomendarei. Se não ficar bom, se contiver erros, vou continuar indi­ cando este aqui. Este, eu garanto, está correto. Pode ler. Pode estudar. O que aprender aqui vai ser útil. Filosofia é algo útil. Filosofia da educação, também. Paulo Ghiraldelli Jr., filósofo Cidade de São Paulo, em 12 de junho de 2006. Conceitos básicos: filosofia, filosofia da educação e pedagogia Neste capítulo você conhecerá os "conceitos básicos" da filosofia e da filosofia da educação.Tomará contato com o modo correto de relacionar filosofia e filosofia da educação. Ficará sabendo o que é de domínio da filosofia da educação e o que é da respon­ sabilidade da pedagogia. Encontrará as diferenças entre peda­ gogia, didática e educação. Especificamente, aprenderá a distin­ ção essencial entre as filosofias da educação, que é aquela traçada entre a filosofia fundacionista e a filosofia justificacionista. 0 que é filosofia? O que é filosofia? Quino1, o cartunista argentino criador da Mafalda, nos dá um bom ponto de partida. Mafalda prepara o ambiente para fazer a pergunta “o que é filosofia?” e ouvir a resposta. O modo como ela monta a cena mostra que espera uma 1 1. Quino (nascido em 1932) tornou-se um bom leitor do filósofo espanhol José Ortega y Gasset (1883- 1955). Suas tiras possuem um grande fundo filosófico e histórico, e muitos de seus personagens estão in­ timamente ligados à história da Argentina, sna pátria. Para mais informações veja a homepage oficial em: <www.ciubcultura.com/cIubhumor/quinoweb/>. Acesso em: 9 maio 2006. boa preleção do paí. Mesmo que ele opte por um longo estudo antes da pre­ leção tão esperada, ainda assim Mafalda não vê nenhum motivo para dizer- lhe “deixe pra lá”. Ela aguarda a resposta — aguarda mesmo! Há duas situa­ ções que devemos observar nas tiras: 1) Mafalda espera uma resposta longa e complexa; por isso, já de início, vem com cadeira e água; 2) ao mesmo tempo, acredita que a resposta é simples e talvez nem muito longa; espera que uma criança - e Mafalda sabe que é criança — possa entender “o que é filosofia”; mesmo vendo o pai estudar para dar a resposta, ela não desiste. Mais cedo ou mais tarde o pai deverá dizer algo que uma criança possa en­ tender. Observe as duas tiras. Percebeu o que eu quis dizer? Olhe novamente. Se você compreender essa atitude da Mafalda, então deu um bom passo na direção da filosofia. O que é a filosofia? Uma atividade do filósofo — certamente. Afinal, de quem seria? E é uma atividade complexa e simples ao mesmo tempo. Estou me contradizendo? Cuidado: o que quero dizer é que é preciso ser perspicaz para entrar na filosofia, ser capaz de um bom tirocínio para suportar inves­ tigações não muito fáceis; mas ao mesmo tempo é necessário guardar uma boa dose de ingenuidade na alma, pois parte das perguntas da filosofia não é para os “sabidões”, é para aqueles que se deslumbram com o mundo — são coisas simples. A filosofia é simples na medida em que fala sobre situações, pessoas, acon­ tecimentos, conversas, romances, músicas, desenhos, filmes, novelas, fute­ bol, negócios etc., notando nisso tudo o que em geral não só não é notado, mas o que quase todos não encontram motivos para notar. A filosofia fala sobre o banal. A filosofia é também complexa, pois falar sobre o banal leva à desbanalizaçao do banal. Desbanalizar o banal? Sim! Eis aí a atividade da filosofia; uma atividade que termina na produção de um discurso que tem lá suas sofisticações e seus requintes — seus vários pontos de vista. Daí a exis­ tência de uma variedade de métodos de abordagem de tópicos filosóficos e o surgimento de muitas “escolas filosóficas”. Mas o que é o banal? O banal é tudo que é corriqueiro. Todavia, o banal nao nos remete ex­ clusivamente a situações e coisas corriqueiras, e sim ao que não damos impor­ tância em nossa vida cotidiana. O banal é aquilo que a maioria das pessoas está acostumada a aceitar como o que está aí, o estabelecido, aquilo sobre o qual é descabido ter curiosidade ou o que parece loucura querer mudar. Muitos dizem: o trivial. Note a figura a seguir. Notou? Viu Mafalda agindo como filósofa? Eia adora fazer perguntas so­ bre coisas banais, isto é, coisas e situações que sao vistas como aquilo a res­ peito do que não devemos nos preocupar, pois, como muitas pessoas comen­ tam, “desde que o mundo é mundo é assim mesmo”. Todavia, o filósofo é aquele que não se deixa levar facilmente pelo convite à passividade, por um enunciado do tipo “é assim mesmo”. O filósofo é aquele que ouve o “é assim mesmo” e, em seguida, já começa a pensar que talvez seja o caso de perguntar “deve ser assim mesmo?” Na conversa entre Mafalda e a mãe, a pobreza surge como tema. Por çue existem os pobres? — é o que Mafalda quer saber. A mãe engasga. Talvez e_.a.

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