Fernando Mattiolli Vieira E o homem que murmura contra o ensinamento secreto da Yahad será expulso e não mais voltará (1QS 7:17). A expulsão na comunidade judaica do mar Morto ASSIS 2014 Fernando Mattiolli Vieira E o homem que murmura contra o ensinamento secreto da Yahad será expulso e não mais voltará (1QS 7:17). A expulsão na comunidade judaica do mar Morto Tese apresentada à Faculdade de Ciências e Letras – UNESP/Assis para a obtenção do título de Doutor em História. (Área de Conhecimento: História e Sociedade) Orientador: Ivan Esperança Rocha ASSIS 2014 FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA ÁREA DE BIBLIOTECA – CAMPUS EXPERIMENTAL DE DRACENA – UNESP. V658a Vieira, Fernando Mattiolli. E o homem que murmura contra o ensinamento secreto da Yahad será expulso e não mais voltará (1QS 7:17): a expulsão na comunidade judaica do mar Morto / Fernando Mattiolli Vieira. – Assis : [s.n.], 2014. 269 f. : il. Tese (Doutorado em História) - Faculdade de Ciências e Letras de Assis - Universidade Estadual Paulista. Bibliografia. 1. Expulsão. 2. Judeus - Civilização. 3. Judeus - Condições sociais. 4. Manuscritos do Mar Morto. I. Título. CDD 22 909.049 24 Fernando Mattiolli Vieira E o homem que murmura contra o ensinamento secreto da Yahad será expulso e não mais voltará (1QS 7:17). A expulsão na comunidade judaica do mar Morto ASSIS 2014 5 Agradecimentos Foram várias as pessoas e instituições que estiveram envolvidas direta e indiretamente na realização desta pesquisa. Não poderei delongar sobre a participação de todas devido às limitações que devem ser respeitadas aqui, mas ao menos brevemente, devo deixar claro o quanto sou devedor tanto a orientadores acadêmicos como a companheiros discentes, a grandes instituições de prestígio como a seus funcionários, a amigos que me trouxeram refrigério nos momentos em que a paciência só restava no léxico. O Dr. Ivan Esperança Rocha foi, mais uma vez, meu orientador acadêmico. Sou extremamente grato por seus conselhos que ajudaram a direcionar meu trabalho para um rumo que acredito ter sido o mais coerente. Em todos os momentos, ele me ajudou a “descomplicar” as coisas, a evitar discussões desnecessárias, a ser mais objetivo com o trabalho. Peço desculpas a ele, pois tenho certeza de que ainda não aprendi a fazer tudo isso com a devida competência. Além de questões acadêmicas, ele me ajudou muito nas de ordem burocrática (onde minha experiência foi desafiada várias vezes) que foram fundamentais para o bom andamento do trabalho. Ao orientador e amigo (este atua também como piadista...), meus mais sinceros agradecimentos. Sou muito grato à Dra. Andrea L. D. O. Carvalho Rossi. Há bastante tempo ela tem me ajudado com apontamentos bastante específicos em meus trabalhos de nível acadêmico. Já me fez desanimar (não vê problemas em “puxar a orelha”), mas sempre apontou o melhor caminho a ser trilhado. Acompanhou meu desenvolvimento desde os tempos de graduação. Deveras, digo: também acompanhei o dela e fico feliz por ver a excelentíssima profissional que se tornou. Agradeço também ao Dr. Áureo Busetto. Ele não teve envolvimento direto com este trabalho. Contudo, foi graças às suas aulas e aos trabalhos que fiz nas disciplinas que ministrou na graduação e na pós-graduação que pude escolher a metodologia que considero mais apropriada para esta pesquisa. Confesso minha admiração pela qualidade de seu profissionalismo. Os pesquisadores que agradeço acima pertencem ao departamento de História da Universidade Estadual Paulista – Unesp/Assis. Também a ele e a todo campus de Assis, com destaque aos funcionários que sempre se dispõem a ajudar os discentes com muito bom grado (reis e rainhas da paciência!), exprimo meus agradecimentos. Tenho um 6 carinho muito especial por esse campus, o que se transformou em motivação para que eu abdicasse de estudar em outras instituições em nível de pós-graduação. Durante a maior parte do tempo em que esta pesquisa esteve em andamento, recebi apoio financeiro da agência CAPES. Pela mesma instituição, pude participar do Programa de Doutorado Sanduíche no Exterior – PDSE. Esta pesquisa definitivamente não teria a mesma profundidade se essa oportunidade não fosse aberta a mim. O estágio foi realizado em Israel, junto à instituição Santuário do Livro, uma ala do Museu Nacional de Israel, onde se encontram alguns dos mais importantes textos do mar Morto, em Jerusalém. Meu orientador acadêmico foi o Dr. Adolfo Daniel Roitman. Dono de um currículo bastante extenso, sua ajuda foi preciosa, com apontamentos bibliográficos importantes que fizeram com que meu trabalho tivesse melhor qualidade. Na chamada “Terra Santa”, tive a oportunidade de aprofundar minha pesquisa visitando acervos de várias instituições, como as do Santuário do Livro, da Universidade Hebraica de Jerusalém, da Biblioteca Nacional de Israel (com um acervo excepcional!), do Museu Arqueológico Rockefeller, da Escola Bíblica de Arqueologia Francesa de Jerusalém (EBAF), do Instituto Ben Zvi, do Instituto Schechter de Estudos Judaicos e do Centro Caspari para estudos Bíblicos e Judaicos. Sou extremamente grato a todas essas instituições e seus funcionários. Não posso me esquecer daqueles que me trouxeram conforto (e muitas vezes consolo) em ares tão distantes: Janet Glenny (’ima’ xely be-Isra’el!), Hector Camacho (el Mexica), Della Meyers e Hanna Goary. A todos vocês, que tenho neste momento apenas no coração, meus agradecimentos por terem me ajudado. 7 VIEIRA, Fernando Mattiolli. E o homem que murmura contra o ensinamento secreto da Yahad será expulso e não mais voltará (1QS 7:17): A expulsão na comunidade judaica do mar Morto. 2014. 269 f. Tese de Doutorado em História – Faculdade de Ciência e Letras, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Assis, 2014. Resumo No ano de 1947, em cavernas do deserto da Judeia, ocorreu uma das maiores descobertas arqueológicas da história, a maior de textos antigos, conhecidos como manuscritos do mar Morto. Foram encontrados centenas de textos, muitos deles atribuídos por pesquisadores a um grupo religioso judaico, que teria vivido não muito distante de Jerusalém entre os sécs. II a.C. e I d.C. As discussões iniciais deste trabalho procurarão abordar os problemas relacionados à origem e ao grupo que os possuiu. Dessas discussões chega-se aqui a um uso: o do nome Yahad para designar o grupo que esteve no entorno destes textos. Com isso, é criada a base necessária para que possa ser trabalhado o objeto desta pesquisa: a expulsão na Yahad. As fontes mostram que esse grupo religioso fez uma inovação marcante na maneira de punir indivíduos naquela sociedade, aplicando a expulsão a transgressores ao invés de utilizar penas conhecidas como as orientadas em seus livros sagrados antigos. Entender o funcionamento da prática da expulsão é de suma importância para que se compreenda os limites do grupo, a relação de sua estrutura social interna com a sociedade em que ela se originou. Depois de elucidados os pontos principais acerca da prática da expulsão na Yahad, será possível dar cabo de uma proposta mais ambiciosa. Ela visa explicar não mais o funcionamento e as características da expulsão, mas sim sua origem e relação com a inteira sociedade judaica do período. Para tanto, são utilizados os princípios teórico-metodológicos do sociólogo alemão Norbert Elias. Com o uso deles, é possível vislumbrar as mudanças sociais ocorridas naquela sociedade com base em uma longa duração, que considera o passado e as transformações sociais ocorridas até o período em que esse grupo criou a expulsão. Para reforçar as conclusões que mostram a relação entre o nascimento da expulsão na Yahad e a sociedade da época, são considerados também os exemplos de outros grupos religiosos contemporâneos, judeus e cristãos, que também utilizaram a expulsão – o que ajuda a confirmar que a estrutura social de todos estes grupos esteve orientada de acordo com moldes presentes na configuração social daquela sociedade. Contudo, o que chama a atenção é que com a Yahad esse processo social já havia criado uma regularidade suficiente para que a expulsão fosse criada no mínimo cem anos antes de comunidades judaicas e cristãs do séc. I d.C. (segundo o que podemos provar pelas fontes), durante um governo bastante peculiar na história dos judeus. Ao final, com a utilização dos princípios elisianos, é possível concluir que a prática da expulsão na Yahad foi muito mais do que uma medida disciplinar e sim um indicador social que apresenta que toda a sociedade judaica do período se encontrava naquele momento em um estágio mais civilizado. Palavras-chave: manuscritos de Qumran, Yahad, expulsão, Judeia, configuração social. 8 VIEIRA, Fernando Mattiolli. And whoever murmurs against the secret teaching of the Yahad shall be expelled and will not return (1QS 1:17): The expulsion in the Jewish community of the Dead Sea. 2014. 269 f. Doctoral dissertation in History – Faculdade de Ciência e Letras, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Assis, 2014. Abstract In 1947, in the caves of the Judean desert, one of the greatest archaeological discoveries of the history was made, the greatest of ancient texts, known as Dead Sea Scrolls. Hundreds of texts were found, many of them assigned by researchers to a Jewish religious group who has lived not far from Jerusalem between 2 B.C. and 1 A.D. The initial discussions of this work will seek to address the problems related to their origin and the group that owned them. These discussions resulted in the use of the name Yahad to designate the group around these texts. In this manner, the necessary base is created so the object of this research can be worked: the expulsion in the Yahad. The sources show that this religious group made a striking innovation in the way of punishing individuals in that society, applying the expulsion to the transgressors instead of using known penalties such as those suggested in their sacred old books. To understand the operation of the practice of expulsion is of paramount importance to understand the limits of the group, the relationship of its internal social structure with the society in which it originated. After the key points about the practice of expulsion in the Yahad are elucidated, it will be possible to take a more ambitious proposal. It aims to explain no more the operation and the characteristics of the expulsion, but their origin and relationship with the entire Jewish society of the period. To do so, it uses the theoretical and methodological principles of the German sociologist Norbert Elias. By using them, it is possible to glimpse the social changes that have occurred in that society based on a long duration, which considers the past and the social transformations that have taken place until the period in which this group created the expulsion. To reinforce the conclusions that show the relationship between the birth of the expulsion in the Yahad and the society of that time, it is also considered examples of other contemporary religious groups, Jewish and Christians, who also made use of expulsion – which helps to confirm that the social structure of all of these groups were targeted in accordance with molds present in the social setting of that society. However, what draws attention is that with the Yahad this social process had already created a sufficient regularity so that the expulsion was created at least a hundred years before Jewish and Christian communities 1 B.C. century (according to what we can prove by the sources), during a quite peculiar government in the history of the Jews. At the end, with the use of the Elisian principles, it can be concluded that the practice of expulsion in the Yahad was much more than a disciplinary measure, but rather a social indicator that shows that the whole Jewish society of that moment was in a more civilized stage. Key-words: Dead Sea Scrolls, Yahad, expulsion, Judea, social setting. 9 Siglas utilizadas no texto: AJ - Antiguidades Judaicas AT - Antigo Testamento Aut - Autobiografia CDSSE - The Complete Dead Sea Scrolls in English DJD - Discoveries in the Judaean Desert DSSNT - The Dead Sea Scrolls: A New Translation DSSR - Dead Sea Scrolls Reader EDRL - Encyclopedic Dictionary of Roman Law EDSS - Encyclopedia of the Dead Sea Scrolls EJ - Encyclopaedia Judaica GJ - Guerra Judaica Hypo - Hypothetica JE - Jewish Encyclopedia MQ - Manuscritos de Qumran NT - Novo Testamento ODJR - Oxford Dictionary of the Jewish Religion Quod - Quod Omnis Probus Liber Sit SE - Study Edition TQ - Textos de Qumran Vida - Vida Contemplativa Revistas: AJCL - American Journal of Comparative Law BA - Biblical Archaeologist DSD - Dead Sea Discoveries FO - Folia Orientalia HTR - Harvard Theological Review JJS - Journal of Jewish Studies JSJ - Journal for the Study of Judaism RAES - Revista Acadêmica Espaço da Sophia RB - Revue Biblique RBL - Review of Biblical Literature RIBLA - Revista de Interpretação Bíblica Latino-Americana RQ - Revue de Qumrân VT - Vetus Testamentum 10 Abreviatura dos livros bíblicos de acordo com a Bíblia de Jerusalém: Gn - Gênesis Am - Amós Ex - Êxodo Ab - Abdias Lv - Levítico Jn - Jonas Nm - Números Mq - Miquéias Dt - Deuteronômio Na - Naum Js - Josué Hab - Habacuc Jz - Juízes Sf - Sofonias Rt - Rute Ag - Ageu 1Sm, 2Sm - Samuel Zc - Zacarias 1Rs, 2Rs - Reis Ml - Malaquias 1Cr, 2Cr - Crônicas Mt - Mateus Esd - Esdras Mc - Marcos Ne - Neemias Lc - Lucas Tb - Tobias Jo - João Jt - Judite At - Atos Est - Ester Rm - Romanos 1Mc, 2Mc - Macabeus 1Cor, 2Cor - Coríntios Jó - Jó Gl - Gálatas Sl - Salmos Ef - Efésios Pr - Provérbios Fl - Filipenses Ecl - Eclesiastes Cl - Colossenses Ct - Cântico dos Cânticos 1Ts, 2Ts - Tessalonicenses Sb - Sabedoria 1Tm, 2Tm - Timóteo Eclo - Eclesiástico Tt - Tito Is - Isaias Fm - Filêmon Jr - Jeremias Hb - Hebreus Lm - Lamentações Tg - Tiago Br - Baruc 1Pd, 2Pd - Pedro Ez - Ezequiel 1Jo, 2Jo, 3Jo - João Dn - Daniel Jd - Judas Os - Oséias Ap - Apocalipse Jl - Joel Versões da Bíblia usadas em citações: ACF - Almeida Corrigida e Revisada Fiel ASV - American Standard Version BJ - Bíblia de Jerusalém BLH - Bíblia na Linguagem de Hoje KJV - King James Version NASB - New American Standard Bible NVI - Nova Versão Internacional SBTB - Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil
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