Farmacognosia Apresentação A experiência adquirida pelos autores, durante vários anos envolvidos no ensino de Farmacognosia, bem como na prestação de serviços à comunidade, cuidando deforma especial da identificação de drogas vegetais, mostrou a necessidade de se editar um compêndio destinado a dar suporte a estas tarefas. A inexistência de livros similares no Brasil, aliada ao enfoque quase que exclusivo de drogas alienígenas dos livros estrangeiros, faz com que esta necessidade seja mais intensamente sentida. No livro que ora colocamos à disposição dos interessados, é dada ênfase à identificação de drogas vegetais por métodos morfológicos. A análise morfológica, compreendendo a macroscopia e a microscopia, corresponde, indubitavelmente, ao método mais rápido, mais fácil e que melhor possibilita a identificação defraudes. Para facilitar esta tarefa, o livro é ilustrado com número relativamente grande de figuras, todas originais, elaboradas pelos professores. Estas figuras constituídas de cópias do natural, executadas a bico de pena, e por desenho de estruturas efetuadas com o auxílio de microprojeção, certamente irão facilitar muito a compreensão do assunto. Os autores. Sumário 1 Farmacognosia, 1 2 Produção de Drogas, 5 3 Análise de Drogas, 23 4 Análise de Drogas — Folhas, 43 5 Análise de Drogas — Flores, 97 6 Análise de Drogas — Frutos, 145 7 Análise de Drogas — Sementes, 193 8 Análise de Drogas — Cascas, 237 9 Análise de Drogas — Lenhos, 313 10 Análise de Drogas — Órgãos Subterrâneos, 343 11 Análise de Drogas — Diversas Partes, 369 1 Farmacognosia INTRODUÇÃO Em 1815, SEYDLER em sua Analecta Pharmacognostica, criou o termo FARMACOGNOSIA para designar a ciência que estudava as matérias de origem natural, usadas no tratamento de enfermidades. Este termo, que atualmente se refere com exclusividade às matérias de origem vegetal e animal, é formado de duas palavras gregas, a saber: PHARMAKON, que significa droga, medicamento, veneno e: GNOSIS, conhecimento. O estudo deste tipo de matéria é muito amplo e pode ser enfocado sob diversos ângulos. Sendo o objetivo da Farmacognosia o estudo ou conhecimento das drogas, é necessário, antes de mais nada, estabelecer-se um conceito preciso a seu respeito. Em Farmacognosia, droga é todo o produto de origem animal ou vegetal que, coletado ou separado da natureza e submetido a processo de preparo e conservação, tem composição e propriedades tais, dentro de sua complexidade, que constitui a forma bruta do medica- mento. Droga é, pois, toda a matéria sem vida que sofreu alguma transformação para a seguir servir de base para medicamento. A história, a produção, o armazenamento, a comercialização, o uso, a identifi- cação, avaliação e o isolamento de princípios ativos de drogas são aspectos tratados na Farmacognosia. A identificação, verificação de pureza e avaliação de drogas são atividades dire- tamente relacionadas com os farmacêuticos. Por outro lado, atividades como as de seleção, cultura ou criação, colheita ou obtenção e tratamento de plantas ou animais, com vistas ao seu aproveitamento no combate às enfermidades, são tarefas executadas por diversos profissionais, geralmente em associação com farmacêuticos. Outros tipos de tarefas importantes igualmente estudadas pela Farmacognosia correspondem à conservação e armazenamento de drogas. 1 A Farmacognosia pode ser encarada tanto sob o ponto de vista utilitário como filosófico. A pesquisa de novas plantas medicinais, buscando o isolamento de princí- pios ativos e sua identificação, a verificação da atividade farmacodinâmica destes princípios ativos bem como a do extrato do vegetal envolvido, constitui atividade relevante. Para o lado das ciências básicas que entram no currículo farmacêutico, a Farmacog- nosia se relaciona intimamente com a Botânica, Zoologia, Genética, Física e Química, lançando mão destas ciências no cumprimento de suas finalidades. A Farmacognosia também se relaciona com as ciências aplicadas exercendo influência na Farmacotécnica, Química Farmacêutica, Farmacodinâmica e na Tecnologia e Controle tanto de medicamentos como de alimentos. CONCEITO FARMACOGNÓSTICO DE DROGA E DE PRINCÍPIO ATIVO Droga A origem da palavra droga não está ainda bem esclarecida. Alguns consideram provável que esteja relacionada com a palavra alemã trocken que significa secar, visto as drogas de origem vegetal ou animal se apresentarem quase que exclusivamente no estado seco. Outros acreditam que a palavra droga derive do holandês droog que significa seco, através do francês drogue. Chama-se droga, em Farmacognosia, a todo vegetal ou animal ou, ainda, a uma parte ou órgão destes seres ou produtos derivados diretamente deles e que, após sofrerem processos de coleta, preparo e conservação, possuam composição e propriedades tais, que possibilitem o seu uso como forma bruta de medicamento ou como necessidade farmacêutica. Droga é, pois, matéria sem vida que sofreu alguma transformação para servir de base para medicamento. O processo de coleta e conservação não modifica as condições genéricas do produto. Exemplifiquemos para melhor entender. As folhas de EUCALIPTO Eucalyptus globulus Labillardiere, utilizadas no tratamento de moléstias do aparelho respiratório, coletadas simplesmente do vegetal não constituem droga. Quando porém são submetidas, subseqüentemente, a processo de conservação como por exemplo secagem, passam a constituir droga. Seja agora o caso de um fruto, UVAS ROSADAS, por exemplo, pertencente à espécie Vitis vinifera L. Se tratarmos agora estes frutos submetendo-os a processo de secagem, transformando-os em uva passa, neste caso não teremos droga, pois este material não apresenta uso medicinal. 2 Na América Central, sobre plantas pertencentes à família Cactaceae se desenvolve um inseto denominado COCHONILHA (COCCOS cacti L.). Estes insetos coletados, mortos com emprego de água fervente e submetidos a processo de secagem, constituem o chamado carmim animal, empregado como necessidade farmacêutica no colorimento de certos medicamentos e alimentos. Trata-se, portanto, de um tipo de droga apesar de não apresentar atividade farmacodinâmica. Consideremos agora o caso de frutos verdes, plenamente desenvolvidos de PAPOULA (Papaver somniferum L.). Se fizermos incisões convenientes nestes frutos, deles exsudará um látex que, em contato com o ar se solidificará. Este exsudato raspado das cápsulas, reunido e moldado em forma de pães após processo de secagem vai constituir o pão de ópio. Este pão de ópio é rico em alcalóides apresentando emprego na indústria farmacêutica. Trata-se, portanto, de um tipo especial de droga constituída de mistura de substâncias derivadas diretamente de vegetal, denominada de droga derivada. A droga pode ser considerada como matéria-prima de medicamento de origem vegetal ou animal, devidamente processada e conservada. Segundo sua origem, a droga pode ser classificada em três tipos, a saber: Droga Vegetal, Droga Animal e Droga Derivada Vegetal ou Animal. Drogas Derivadas Drogas derivadas são produtos derivados de animal ou planta, obtidos diretamente, isto é, sem utilização de processo extrativo delicado. Quando executamos incisões no tronco de um pinheiro, por exemplo, notamos, após algum tempo, a exsudação de uma mistura complexa de substâncias que se solidifica em contato com o ar. Este conjunto de substâncias recebe o nome de terebentina e, após o trabalho de coleta e preparo, constitui exemplo de droga derivada. Se, entretanto, retirarmos desta árvore alguns pedaços de caule e os submetermos a destilação, obteremos o óleo essencial do pinheiro. O óleo essencial do pinheiro não é considerado como droga derivada, em virtude do processo de sua obtenção. O pão de ópio como vimos anteriormente constitui outro exemplo de droga derivada. Como exemplo de droga derivada de origem animal temos o bílis de boi e o mel de abelha. Assim, para que uma matéria possa ser considerada como droga, segundo o sentido farmacognóstico, deverá preencher as seguintes condições: 1 - ser de origem vegetal ou animal; 2 - ter sido submetida a processo de coleta e de conservação; 3 - não ser obtida através de processos extrativos delicados (droga derivada); 4 - encerrar propriedades farmacodinâmicas ou ser considerada como necessidade farmacêutica. 3 Fig. 1.1 - Esquema explicativo do conceito de droga. Princípio Ativo A ação farmacodinâmica das drogas é devida à presença de princípios ativos. Estes princípios ativos são constituídos de uma substância ou conjunto de substâncias quimicamente bem definidas. O ESTRAMÔNIO, a BELADONA, MEIMENDRO e a TROMBETEIRA são drogas anti- espasmódicas, em virtude de possuírem alcalóides tais como a atropina e a hiosciamina, que são seus princípios ativos. A droga constituída de cascas de QUINAS é utilizada em função de princípios ativos alcaloídicos que contém, especialmente, quinina e quinidina. As folhas do DIGITAL encerram como princípios ativos glicósidos cardiotônicos (digitoxina, digoxina, etc.). Fazendo parte das drogas, ao lado dos princípios ativos, existe uma série de substâncias que não apresentam atividade farmacodinâmica mas que, freqüentemente, apresentam importância farmacêutica. Estas substâncias químicas são importantes algumas vezes na caracterização química da droga. Assim, o ácido mecônico existente no pão de ópio é importante pela coloração vermelho-vinhosa que dá em presença de solução de cloreto férrico, e esta reação é empregada na identificação do ÓPIO. Outras vezes, estas substâncias não ativas podem agir ocasionando incompati- bilidades medicamentosas que dificultam a obtenção de boas formas farmacêuticas. Genericamente estas substâncias são denominadas de princípios inativos. 4 2 Produção de Drogas GENERALIDADES A produção de drogas vegetais emprega tanto vegetais silvestres ou espontâneos como vegetais cultivados. A grande maioria das drogas brasileiras é provenientes de vegetais silvestres,ou seja, de processos extrativos. Estas drogas acabam, quase sempre, possuindo qualidade não suficientemente boa e padronizada. O cultivo de plantas medicinais vem sofrendo impulso relativamente grande tanto no Brasil como no resto do mundo. Inúmeros campos experimentais de cultivo têm sido destinados, quase que com exclusividade, para o setor de plantas medicinais. Nestes campos experimentais procura-se adaptar plantas exóticas a novas condições de cultivo, bem como produzir, em larga escala, vegetais autóctones. A seleção e cultivo de novas variedades são tarefas bastante freqüentes nestes tipos de instituições. O melhoramento de plantas medicinais relaciona-se tanto com a maior capacidade de produção de princípios ativos, como com a maior resistência a condições climáticas desfavoráveis e a parasitas. O melhoramento pode estar relacionado a condições exteriores, isto é, com o meio ambiente ou com o patrimônio genético do vegetal. No primeiro caso, diz-se estar relacionado com fatores extrínsecos e,no segundo caso, com fatores intrínsecos. PROBLEMAS INERENTES ÀS DROGAS Seleção A seleção visa a obtenção de drogas em condições padronizadas. Para isto, se faz necessário a escolha dos organismos pertencentes a espécies em questão. Temos que escolher os elementos aproveitáveis, pois a natureza não os produz em série. 5
Description: