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Família e escola: trajetórias de escolarização em camadas médias e populares PDF

169 Pages·2000·49.565 MB·Portuguese
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\ - Geraldo Roll\�éllt - �adir Zago . - •• • (organízadores]" I• J ti. . .1 .. - -· ... " , . ' J: .11 0300006984 t • 1 11111111 1 e · . . :oo lfraj@tórias escoiarizaçâo em camadas m � ias e .,populares. l9 .. · - ... .. ' . ' ! . 1 • . .. ( • /J� F.DITORA vozes V COLEÇÃO CitNCIAS SOCIAIS DA EDUCAÇÃO Coordenadores: Maria Alice Nogueira e Léa Pinheiro Paixão O SUJEITO DA EDUCAÇÃO Tomaz Tadeu da Silva (org.) 1 SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO: DEZ ANOS DE PESQUISA Jean-Claude Forquin (org.) NEOLIBERALISMO, QUALIDADE TOTAL E EDUCAÇÃO Tomaz Tadeu da Silva e Pablo Gentili (orgs.) ! TEORIA CRITICA E EDUCAÇÃO Bruno Pucci (org.) CURRICULO: TEORIA E HISTÓRIA Ivor F. Goodson ETNOMETODOLOGIA E EDUCAÇÃO A/ain Coulon A ESTRUTURAÇÃO DO DISCURSO PEDAGÓGICO Basil Bernstein CONHECIMENTO OFICIAL Michael W. Apple ESCRITOS DE EDUCAÇÃO Maria Alice Nogueira e Afrânio Catani (orgs.) FAMÍLIA E ESCOLA-TRAJETÓRIAS DE ESCOLARIZAÇÃO EM CAMADAS MÊDIAS E POPULARES Maria Alice Nogueira, Geraldo Romanelli e Nadir Zago (orgs.) Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do livro, SP, Brasil) Família e escola : trajetórias de escolarização em camadas médias e populares / Maria Alice Nogueira, Geraldo Romanelli, Nadir Zaga (orgs.). Petrópolis, RJ : Vozes, 2000. Vários autores. ISBN 85.326.23.85-9 1. Educação - Finalidades e objetivos 2. Família e escola 3. Sociologia educacional 1. Nogueira, Maria Alice. II. Romanelli, Geraldo. Ili. Zago, Nadir. 00-2513 CDD-371.192 lodices para catálogo sistemático: 1. Escola e família: Educação 371J.92 2. Famllia e escola: Educação 371.192 MARIA ALICE NOGUEIRA GERALDO ROMANEW NADIRZAGO (orgs.) / , FAMILIA E ESCOIA Trajetórias de escolarização em camadas médias e populares 050516 03000()8114 11111111111 • EDITORA Y VOZES . Petrópolis 2000 SuMAR10 Apresentação (Léa Pinheiro Paixão), 7 Introdução (Geraldo Romanelli, Maria Alice Nogueira e Nadir Zago), 9 /Processos de escolarização nos meios populares - As contradições da obrigatoriedade escolar (Nadir Zago), 17 2. Longevidade escolar em famílias de camadas populares - Algumas condições de possibilidade (Maria José Braga Viana), 45 3. O trabalho escolar das famílias populares (Êcio Antônio Portes), 61 4. Ultrapassando o pai - Herança cultural restrita e competência escolar (Ana Almeida), 81 /Famílias de camadas médias e escolarização superior dos filhos - O ; estudante-trabalhador (Geraldo Romanelli), 99 / A construção da excelência escolar - Um estudo de trajetórias feito com estudantes universitários provenientes das camadas médias intelectualizadas (Maria Alice Nogueira), 125 7. Em busca do primeiro mundo - Intercâmbios culturais como estratégias educativas familiares (Ceres Leite Prado), 155 8. Entre questionários e entrevistas (Zaia Brandão), 171 APRESENTAÇÃO Q conjunto de textos reunidos neste livro foi produzido por pesquisadores que traba- lham em diferentes universidades: Êcio Antônio Portes e Maria José Braga Viana são da FUNREI, Maria Alice Nogueira e Ceres Leite Prado são da UFMG, Zaia Brandão é da PUC-RJ, Ana Almeida é da UNICAMP, Geraldo Romanelli é da USP-Ribeirão Preto e Nadir Zago é da UFSC. A complementaridade, a afinidade, em termos de temática e abordagem dos textos que dão unidade ao livro, foram alimentadas, ao longo dos últimos anos, nas reuniões do GT Sociologia da Educação da ANPEd, onde os autores, com cer- ta regularidade, vêm expondo sua produção intelectual e discutindo os trabalhos de cole- gas. Ê possível dizer que esse GT, de curta existência, vem contribuindo para a constru- ção da identidade da Sociologia da Educação enquanto disciplina acadêmica, nos últimos anos. Em suas reuniões, as relações entre escola, família e classes sociais têm se constituí- do em um dos eixos mais fecundos de reflexão. Resultados de pesquisa como os aqui apresentados vêm ampliando o horizonte das análises sobre o funcionamento do sistema escolar, ao dar visibilidade às estratégias de escolarização de diferentes grupos sociais. A produção dos autores aqui reunidos tem chegado a salas de aula de cursos de pós-graduação e graduação em Educação, colocando em pauta dimensões até então pouco exploradas. Reuni-la em um livro propicia uma socialização mais ampla de análi- ses instigantes e originais sobre a escola, que privilegiam o ponto de vista das famílias. Nos corredores dos hotéis em Caxambu, onde têm se realizado, nos últimos anos, as reuniões anuais da ANPEd, e em intervalos de intensa programação, o livro foi ganhando realidade e a contribuição de cada um dos autores ao projeto começou a ser definida. O livro dá testemunho desses e de outros diálogos sobre temas de interesse da Sociologia da Educação que vêm acontecendo no GT Sociologia da Educação. Léa Pinheiro Paixão Coord. do GT Sociologia da Educ. da ANPEd no biênio 1997-1999 Niterói, abril de 2000 7 INTRODUÇÃO No Brasil, ainda não logramos desenvolver uma tradição de estudos sobre o tema das relações que as famílias mantêm com a escolaridade dos filhos. Ao longo das déca- das de 1980 e 1990, em quatro números temáticos de periódicos científicos de circula- ção nacional da área de Educação ou de áreas afins, dedicados ao assunto 1, encontra- mos apenas três artigos (sobre um total de 37) abordando a família em suas relações com a vida escolar dos filhos. Na apresentação de um desses números temáticos, Marília Spósito2 reconhecia que" a pesquisa educacional brasileira airida não havia concedido a devida atenção aos estu- dos sobre a família, dirigindo suas preocupações para- os processos mais globais das ações educativas e para as políticas estatais. Ela observa também que, apesar de estar pressuposta nas análises, a categoria família teria sido "absorvida" pelo conceito de co- munidade. E conclui ainda pela necessidade de envidarmos esforços no intuito de desen- volver todo um campo de investigação que não se limite apenas aos meios populares, mas que se abra a outros grupos sociais que compõem a população brasileira. Ê para tal programa de pesquisas que o presente livro pretende contribuir. Ou, em outros termos, para a compreensão dos processos de escolarização em diferentes grupos sociais que compõem nossa sociedade. Ao chamar a atenção para a falta de tradição em estudos que tratem das interações en- tre família e escola, não podemos nos furtar de fazer algumas considerações. Em primeiro lugar, é oportuno. lembrar que a família não esteve ausente dos estudos educacionais, do mesmo modo que não o esteve das ações escolares. Não desconhecemos as teses ambien- talistas e deterministas do "handícap" sociocultural, que produziram uma verdadeira "des- qualificação das famílias "3, especialmente daquelas socialmente mais desfavorecidas; teses essas já bastante denunciadas por seu caráter discriminatório e excludente Recente nos 4. parece, todavia, a tendência dos pesquisadores a situar a família como sujeito central da 1. São eles: 1) 1981: Cadernos de Pesquisa (A familia em questão); 2) 1992: Psicologia USP(Famllia e educação); 3) 1994: Cadernos de Pesquisa (A familia em destaque); 4) 1997: Cadernos Cedes (Familia, escola e sociedade). 2. Spósito, M. Familia e educação: uma questão em aberto. Psicologia USP. S. Paulo, 1992, v. 3, n. 1/2, p. 9·12. 3. Cf.Cunha, M.V. da. A desqualificação dafamUia para educar. Cadernos de Pesquisa. S. Paulo, 1997, n. 102, nov., p. 46-64. 4. Entre outros autores, ver Patto, M.H.S. A produção do fracasso escolar. S. Paulo, T.A. Queiroz, 1991. 9 , pesquisa em educação, com interesse em conhecer seu uni�erso s?ciocultural, suas di�. micas internas e suas interações com o mundo escolar, nao mais se contentando e conclusões deduzidas unicamente a partir de sua condição de classe. ºIli Em segundo lugar, a ausência, no Brasil, de uma sistematização da produção do e nhecimento no campo, dificulta uma avaliação da ímportêncía que a área temática "farn� lia e escola" vem ocupando em nossa produção contemporanea. Um levantamento d I ª produção discente de teses e dissertações nos cursos de pós-graduação em Educação n período 1982-1991, oferece alguns indicadores qua�titat��os5 · Dos 1 � grupos temátic� classificados nesse levantamento, o que se refere a familia e educaçao/mulher" reúne os temas educação e família, mãe, mulher, mulher/professora e, apesar desse leque di- 1 versificado de assuntos, ocupa, na produção total, um dos menores percentuais, mais : precisamente: 1,77%. . A essa observação deve-se acrescentar uma outra atinente ao fato de que sob a rubri­ ca "relação família e escola" abriga-se uma problemática extremamente ampla, suscetí- 1 vel de ser abordada com base em diferentes campos disciplinares e grupos temáticos. Embora nem sempre tratado de forma central, tal objeto constitui) muitas vezes, parte importante de pesquisas desenvolvidas em outras áreas, como, por exemplo, a Antropa- logia ou a Psicologia Social e Escolar", No campo da Educação, esse tema está presente em diferentes grupos temáticos como Movimentos Sociais e Educação, Educação Infan- til, Educação de Jovens e Adultos, para citar alguns eixos com possíveis interfaces. O fato é que uma grande dispersão vem dificultar a realização de um trabalho de organização e classificação dessa produção, de modo que não dispomos de um levantamento, de um "estado da arte" das diferentes tendências temáticas e teórico-metodológicas dos estu­ dos que abordam as relações entre as famílias e a educação escolar, no Brasil. Mesmo assim, vale destacar que existe um relativo consenso, entre os autores, de que se trata de uma relação complexa e, por vezes, assimétrica, no que diz respeito aos valores e objetivos entre as duas instituições; relação essa sujeita a conflitos de diferentes ordens, em especial nos bairros particularmente marcados por condições socioeconômi- cas desfavoráveis 7. Outra consideração que cabe aqui assinalar é a interdependência entre as condições sociais de origem das famílias e as formas de relação que estas estabelecem com a escola. As famílias, assim como a escola, não podem ser consideradas de forma abstrata, disso- ciadas de suas condições históricas e socioculturais. Como já tem sido apontado por vá- da 5. Associação Nacional de Pós-graduação em Educação. Aoollação e perspectioos na área Educação 1982-1991. P. Alegre, 1993, mimeo. 6. Cf., entre outros, Gomes, J.V., Família, escola, trabalho: construindo desigualdades e identidades subalternos (Faculdade de Educação, USP, 1996-Tese, livre-docência); Mello, S.L. de, Trabalho e sobrevivência: mulhertSdo campo e do periferia de São Paulo (S. Paulo, Atica, 1988); Nicolaci-da-Costa, A.M., Sujeito e cotidiano: um estudo da dimensão psicológica do social (Rio, Campus, 1987); Simoni, L.G., Jogo de corpo (Niterói, EOUFF, 1997). 7. Cf., entre outros estudos, Gomes, J.V., Relações família e escola -Continuidade/descontinuidade no processo edua' T, tiv� (Sérl� Idéias. S. �a�o, 1993, �- 16, p. �-9�); Zago, N., Transformações urbanas e dinâmicas escolares: urna laçao de mterdependenaa num bairro da penfena urbana (Educação, Sociedade & Culturas. Porto, 1997, n.d mai., p. 29-54); Carvalho, M.P. de, Um invisível cordão de isolamento: escola e participação popular (Cadernos e Pesquisa. S. Paulo, 1989, n. 70, ago., p. 65-73). 10 rios pesquisadores, variam consideravelmente as formas de Interação que as camadas médias e as camadas populares estabelecem com os professores e - de modo geral - com a instituição onde estudam seus filhos, ou ainda as práticas que adotam para favorecer a es- colarização dos mesmos. Explicitar algumas dessas variações é um dos propósitos dos tra- balhos aqui reunidos. Eles fazem parte de uma tendência que vem procurando superar as análises deterministas da relação entre as condições sociais e escolares e se abrir para a ca- pacidade de ação dos atores sociais", por meio de pesquisas voltadas para domínios mais restritos da realidade social, como as práticas e as estratégias cotidianas, e seus significados para as famílias. Como observam Duru-Bellat & Van-Zanten, "pensar a articulação entre esses processos e essas interações, por um lado, o contexto e as estruturas nas quais eles se inscrevem, por outro", parece ser um desafio para as sociologias de hoje 9. Não tivemos a intenção de abordar o vasto leque de questões que o tema das rela- ções família/escola possibilita investigar. Apoiados em uma leitura sociológica, nosso interesse foi organizar uma publicação voltada para a construção das trajetórias escola- res, considerando a realidade material e simbólica de escolarização em famílias de cama- das médias e populares 10. Nossa incursão na bibliografia pertinente permite adiantar que é especialmente no campo da Sociologia da Educação, notadamente de língua estrangeira, que essas ques- tões vêm sendo tratadas; podendo-se já contar com uma produção significativa dedicada à compreensão dos processos de escolarização, suas variações entre os diferentes gru- pos sociais, mas também no interior de um mesmo grupo entre famílias com característi- cas socioeconômicas relativamente homogêneas. Esses estudos chamam atenção para , questões que nos parecem ainda muito pouco exploradas no Brasil, tendo proporciona- � do aportes teóricos e metodológicos importantes para o desenvolvimento das pesquisas ""' reunidas na presente obra. Trata-se de um conjunto de pesquisas empíricas recentes, realizadas a partir de fins dos anos 1980, que têm por objetivo geral investigar a crescente e estreita conexão, nas sociedades contemporâneas, de dois territórios: vida familiar e vida escolar. Na origem desse movimento de interdependência e de influências recíprocas entre família e escola, estariam as transformações por que passam, a um só tempo, as estruturas e os modos de vida familiar, por um lado, e as instituições e processos escolares, por outro. Mas o apa- recimento de novos estudos deveu-se igualmente a uma dinâmica interna ao pensamen- to científico, mais precisamente à uma reorientação da conjuntura teórica que veio deslo- car o olhar sociológico das macroestruturas para as pequenas unidades de análise. Sob o influxo de todos esses fatores, foram, pois, os sociólogos levados a interrogar os processos e as dinâmicas intrafamiliares, as práticas socializatórias e as estratégias educativas internas ao microcosmo familiar. Ao fazê-lo, puderam se aperceber que a transmissão dos capitais familiares requer condições adequadas e um trabalho de apro- priação por parte do "herdeiro", sem o que a cadeia da transmissão corre o risco de ser 8. Ver a esse respeito, Duru-Bellat & Van·Zanten, Socfo/ogfe de l'école (Paris, Armand Colln, 1992). 9. Id., lbld., p. 4. 10. Uma coletanea de textos sobre A escolarização das elites, organizada por Maria Alice Nogueira e Ana Almeida, en· contra-se em preparação e deverá ser lançada dentro em breve, pela Editora Vozes, nesta mesma coleção. 11 rompida. A partir de então ficaria questionado o pressuposto (freqüentemente implícit da atuação (inevitavelmente) positiva do capital cultural e escolar da família, nos result�� dos escolares dos descendentes. Ocasião, por excelência, de observação desses processos, o estudo das trajetória escolares vem ganhando novos contornos e também o interesse crescente dos sociólo� gos. Se, em momentos anteriores, estes últimos limitavam-se a acompanhar, com a aju- da de instrumentos estatísticos, o percurso de coortes de alunos, no intento de discernir os principais determinantes das desigualdades educacionais ou, até mesmo, de predizer os destinos escolares, atualmente, com a chegada de uma nova geração de pesquisado- res, a tentativa será a de conhecer as diferentes etapas, os diferentes mecanismos, os di- ferentes contextos e modos de constituição das desigualdades. Mas também a de ir além disso, abandonando - quando necessário - as grandes regularidades sociais e se debru- çando sobre os casos "improváveis" de sucesso ou de fracasso frente aos estudos. Um ní- vel mais alto de teorização vai, assim, gradativamente sendo atingido, permitindo relatiVi- zar as teses da reprodução cultural e escolar. � No estágio atual de construção do objeto, algumas temáticas vêm se constituindo no , confronto com a realidade empírica. A primeira a ser mencionada aqui, em razão de sua importância nas análises, é aquela que gira em torno do grau e da natureza dos investi- mentos familiares na vida escolar dos filhos. Sob terminologia diversificada, os diferentes autores buscam construir indicadores de uma "mobilização" ou "implicação" dos pais. Da ajuda nos deveres de casa à organização dos tempos e espaços domésticos, passando pelos dispêndios financeiros, toda uma gama de comportamentos operantes sobre O processo escolar é, assim, inquirida pelo sociólogo. A escolha do estabelecimento de ensino pelas famílias constitui uma outra temática que vem atraindo o pesquisador. A partir de interrogações sobre o ato de escolher (quem escolhe? mediante quais critérios? através de quais procedimentos? com que resulta- dos?), os estudos sobre as estratégias familiares foram deixando ver o peso das vanta- gens sociais (sobretudo culturais) na estruturação de uma hierarquia social das escolhas. Outros temas vêm se somar a esses. Dentre outros, poderíamos citar: a divisão do trabalho educativo no seio do casal; a tensão dos pais entre a realização pessoal e a com· petitividade escolar do filho; o extra-escolar e o lazer dos jovens em suas relações com o mundo escolar; as estratégias familiares de internacionalização dos estudos, verificadas em certos meios sociais. Todos eles obedecendo a um propósito geral: o de refinar nossa visão do papel do pertencimento social no destino escolar dos indivíduos, através da in- trodução, na análise, dos modos de funcionamento e dos estilos educativos das famílias. Em consonância com as tendências acima apresentadas e coerentes com o momen- to de renovação teórica e metodológica no campo da Sociologia da Educação, alguns es- tudos têm permitido avançar na compreensão das relações que os sujeitos dos diferentes meios sociais estabelecem com a educação escolar. E, no Brasil, a produção é especial- mente significativa em relação aos meios populares. O objetivo é de compreender medi- ante que processos e através de quais interações são produzidos os desempenhos associa- dos ao fracasso escolar, mas também aqueles que levam ao êxito nos estudos. Dar visibi� !idade a essas duas dimensões da realidade escolar foi o propósito da primeira parte des· te livro, que trata da escolarização nos meios populares. 12 O texto denominado "Processos de escolarização nos meios populares ­As contra- dições da obrigatoriedade escolar", de autoria de Nadír Zago, apresenta resultados de pesquisas nos niveis do ensino fundamental e médio. A tônica do trabalho é o desenvolvi- mento de uma análise que procura mostrar a relação dos meios populares com a escola, de forma dialética e complexa, no quadro de uma inter-relação de fatores e nas experiên- cias sócio-históricas de sujeitos concretos. Com base em uma análise microssociológi- ca - feita a partir de dados obtidos em um bairro de Florianópolis, no estado de Santa Ca- tarina -, a autora procura mostrar as condições objetivas, as práticas e os significados atribuídos à escolarização, assim como o caráter heterogêneo e não-linear dos percursos escolares nesses meios sociais. Dedica lugar importante à interrupção dos estudos, en- tendida não como um fenômeno estanque, mas como parte de um processo de elimina- ção que se desenrola durante todo o período de vida escolar. Questiona, ainda, a noção genérica de evasão escolar, ao mesmo tempo em que procura mostrar as contradições entre as políticas de democratização do ensino e a realidade concreta da população pro- veniente de meios socialmente desfavorecidos. Se o trabalho acima citado enfocou processos escolares nos níveis do ensino funda- mental e médio, os dois outros que se seguem tratam da escolaridade de jovens originá- rios de famílias populares que conseguiram ingressar no ensino superior, tendo, portan- to, como centro de análise, o estudante universitário. O texto de Maria José B. Viana, que tem por título "Longevidade escolar em famílias de camadas populares - Algumas condições de possibilidade", está voltado para as traje- tórias escolares e a compreensão das condições que possibilitaram o acesso e a manuten- ção em instituições de ensino superior do estado de Minas Gerais, de indivíduos provenien- tes de meios sociais cuja probabilidade estatística de chegar à universidade é reduzida. Apoia- da na noção de "interdependência de traços estruturantes", a autora desenvolve uma análi- se com base em alguns traços gerais capazes de representar um denominador comum en- tre os casos singulares: os significados que a escola assume para pais e filhos; as disposi- ções e condutas em relação à temporalidade; os processos familiares de mobilização esco- lar; outros grupos de referência e modelos socializadores familiares ou tipos de presença educativa das famílias. Contrariando alguns estudos que colocam peso central no supe- rinvestimento educativo como traço explicativo das situações de longevidade escolar, o trabalho reconhece a existência de um tipo particular de presença familiar. É nessa mesma perspectiva que se situa o terceiro texto "O trabalho escolar das fa- mílias populares", de Écio A. Portes, baseado em pesquisa realizada na cidade de Belo Horizonte e voltado para o trabalho escolar das famílias de meios socioeconómicos des- favorecidos, cujos filhos chegaram à universidade pública e em cursos bastante disputa- dos. Um dos aspectos levantados pelo autor é o erro em que incorremos quando analisa- mos o trabalho familiar nos meios populares com base nas condutas típicas observadas nas camadas médias. Ele procura identificar um certo número de práticas familiares (cir- cunstâncias atuantes) que teriam favorecido o acesso e a permanência dos filhos nos ní- veis mais altos do sistema de ensino: a ordem moral doméstica; a presença e o apoio constante no trabalho escolar, especialmente por parte das mães; formas de solidarieda- de exterior ao grupo familiar nuclear, como importante apoio - tanto material quanto psicológico - nesse processo de construção de uma trajetória de escolaridade longa. E acaba por concluir que as diversas formas de trabalho empreendidas pelas famílias foram 13

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