1 UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA – UFPB CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS EDVÂNEA MARIA DA SILVA Expressividade poética à flor da tela: janelas para pensar três filmes latino-americanos João Pessoa – PB 2015 2 EDVÂNEA MARIA DA SILVA Expressividade poética à flor da tela: janelas para pensar três filmes latino-americanos Tese de Doutorado apresentada ao Colegiado do Progra- ma de Pós-Graduação em Letras do Centro de Ciências Humanas Letras e Artes da Universidade Federal da Pa- raíba, como requisito parcial para obtenção do título de Doutora em Letras. Área de concentração: Literatura e Cultura Orientadora: Profª Drª Genilda Azerêdo. João Pessoa – PB 2015 3 4 Para Dnalva e Kátia, que não puderam ver esta janela. Para meus alunos, que vivem me levando a olhar por aí! 5 AGRADECIMENTOS A Genilda Azerêdo pela competência, compreensão, firmeza e delica- deza na condução de minha pesquisa, e por uma parceria que vem desde o mestrado. Sentirei saudade. Aos professores da Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal da Paraíba (PPGL/UFPB), pelas disciplinas ministradas que amplia- ram a minha percepção acerca deste objeto de pesquisa. À minha família, pela torcida de sempre e por compreender a minha ausência em determinados momentos/eventos. Aos colegas do Núcleo de Língua Portuguesa do Instituto de Educa- ção Ciência e Tecnologia de Pernambuco (NLP/IFPE), com os quais pude dividir a (pesada) carga horária de um professor da área de Hu- manas de uma instituição técnica. Aos amigos (e amigos destes), por me emprestarem livros, por doarem seu tempo na leitura de fragmentos deste trabalho e por me ―aturarem‖ falar de cinema e de poesia; em especial, Artur Carrazzone, Clara Ca- tanho, Danielle Wanderley, Djair Teófilo, Elilson Duarte, Eneias (Ju- ninho), Francisca Nascimento, Germana Cruz, Isa Wanessa, Jacinto dos Santos, Jonas Lucas Vieira, Marcelo Bezerra, Margarida Barros e Medianeira Souza. Sem vocês, sequer teria sido possível pensar em ―abrir‖ esta janela- tese! 6 AS JANELAS Quem olha de fora por uma janela a- berta não vê nunca tantas coisas como quem olha uma janela fechada. Não há objeto mais profundo, mais misterio- so, mais fecundo, mais tenebroso, mais deslumbrante, do que uma janela iluminada por uma candeia. O que se pode ver ao sol é sempre menos inte- ressante do que o que se passa por de- trás de uma vidraça. Dentro daquela abertura negra ou luminosa, a vida vi- ve, a vida sonha, a vida sofre. Para além das vagas de tetos, distingo uma mulher madura, já enrugada, po- bre, sempre curvada sobre alguma coi- sa, e que não sai nunca. Com seu ros- to, com sua roupa, com seus gestos, com quase nada, eu refiz a história dessa mulher, ou antes, sua lenda, e às vezes, chorando, conto-a a mim mes- mo. Se fosse um pobre velho, eu teria feito o mesmo com igual facilidade. Deito-me, orgulhoso de ter vivido e sofrido em outros que não eu. Dir-me-ei talvez: - Estás certo de que é essa a lenda ver- dadeira? Que importa o que pode ser a realida- de colocada fora de mim, se ela não me ajudou a viver, a sentir que sou, o que sou? Charles Baudelaire 7 RESUMO Os filmes A teta assustada (2009), de Claudia Llosa, Whisky (2003), de Juan Pablo Rebella e Pablo Stoll, e O segredo de seus olhos (2009), de Juan José Campanella, como todo texto ar- tístico, existem ―somente no espírito que lhe[s] proporciona[m] sua realidade‖ (AUMONT, 1995, p. 225). As estratégias de cada cineasta dotaram as narrativas de poeticidade e abriram espaço para uma política da ficção. Tais narrativas serviram-nos como janelas para pensar o cotidiano do homem comum, tendo sido escolhas declaradamente parciais, impregnadas de um olhar afetivo e político que buscou compreender as agruras nossas de cada dia a partir da história de ―seres‖ (personagens) singulares. Visando ampliar a compreensão dessa questão, realizamos análises de textos de ficção diversos a partir dos quais discutimos os princípios teóricos de poeticidade e metaficção, à luz de Jacques Rancière, Roman Jakobson, Linda Hut- cheon, Patricia Waugh e de textos dos formalistas russos. O objetivo dessa pesquisa foi, por- tanto, investigar como o cinema latino-americano, representado em três filmes deste início de século, vem propondo novas formas de pensar o político e a subjetividade a partir de um fazer e olhar poéticos. Palavras-chave: Subjetividade política; cotidiano; poeticidade; cinema latino-americano 8 ABSTRACT The films A teta assustada (2009), directed by Claudia Llosa, Whisky (2003), directed by Juan Pablo Rebella and Pablo Stoll and O segredo de seus olhos (2009), by Juan José Campanella, as any artistic text, exist ―only in the spirit which endows them with reality‖ (AUMONT, 1995, p. 225). The strategies adopted by each filmmaker have impregnated the narratives with poetical quality and opened a space for a politics of fiction. These narratives have functioned as windows which allowed us to think about the common human being; these were deliberate partial choices pregnant of an affective and a political perspective, whose aim was to under- stand the vicissitudes of our everyday life, through the stories of singular subjects/characters. Aiming to amplify the understanding of this issue, we carried out analyses of various fictional texts, through which we discussed the theoretical principles of poeticalness and metafiction, based on Jacques Rancière, Roman Jakobson, Linda Hutcheon, Patricia Waugh and texts by the Russian formalists. The objective of this research was therefore to investigate how Latin- American cinema, represented in three early films of the twenty-first century has proposed new ways of thinking about politics and subjectivity through a poetical action and vision. Keywords: Political subjectivity; daily life; poeticalness; Latin-American cinema 9 RESUMEN Las películas La teta asustada (2009), Claudia Llosa, Whisky (2003), de Juan Pablo Rebella y Pablo Stoll, y El secreto de sus ojos (2009), de Juan José Campanella, como todo texto artísti- co, existen ―solo en el espíritu que le(s) da su realidad‖ (AUMONT, 1995, p. 225). Las estra- tegias de cada cineasta proporcionaron poeticidad a las narrativas y abrieron espacio para una política de la ficción. Estas narrativas nos sirven como ventanas para pensar el cotidiano del hombre común, opciones declaradamente parciales y que están imbuidas de una perspectiva afectiva y política que busca comprender nuestras dificultades de todos los días a partir de la historia de ―seres‖ (personajes) singulares. Con el objetivo de ampliar la comprensión de este tema, hicimos análisis de varias obras de ficción a partir de las cuales discutimos los princi- pios teóricos de la poética y de la metaficción a luz de Jacques Rancière, Roman Jakobson, Linda Hutcheon, Patricia Waugh y de textos de formalistas rusos. El objetivo de este estudio fue, por tanto, investigar como el cine latinoamericano, representado en tres películas de este inicio de siglo, propone nuevas formas de pensar lo político y la subjetividad política desde un hacer y mirar poéticos. Palabras clave: Subjetividad política; cotidiano; poeticidad; cine latinoamericano 10 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ......................................................................................................................12 1 ESCOLHAS POLÍTICO-AFETIVAS: O TEMA, O CORPUS, A PARTILHA 1.1 O porquê do tema e da escolha do corpus...................................................................17 1.2 Por que cinema latino-americano ................................................................................22 1.3 O ―Fim‖ do cinema de protesto ou uma nova subjetividade política?.........................27 1.4 Sobre nossa iniciação no cinema latino-americano.....................................................33 1.5 Três filmes latino-americanos e seus diretores: o que diz a crítica..............................45 1.5.1 A teta assustada, de Claudia Llosa……………………………………….………46 1.5.2 Whisky, de Juan Pablo Rebella e Pablo Stoll…………………………..…………52 1.5.3 O segredo de seus olhos, de Juan José Campanella...............................................56 2 JANELAS PARA PENSAR O CINEMA LATINO-AMERICANO 2.1 Sobre estética e política..................................................................................................65 2.1.2 Da apreensão do objeto artístico e da (re)definição da partilha: o estético como inscrição no sensível........................................................................................................71 2.1.3 O cinema latino-americano como ato estético e espaço de manifestações das subje- tividades políticas ...........................................................................................................83 2.2 ―Preâmbulo‖ às narrativas poéticas e autorreflexivas: acordes para o cotidia- no..........................................................................................................................................87 2.2.1 As funções de Jakobson e a poesia tirada de uma notícia de jor- nal....................................................................................................................................96
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