UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO INSTITUTO DE PSICOLOGIA MAURICIO RODRIGUES DE SOUZA Experiência do Outro, Estranhamento de Si: dimensões da alteridade em antropologia e psicanálise SÃO PAULO 2007 MAURICIO RODRIGUES DE SOUZA Experiência do Outro, Estranhamento de Si: dimensões da alteridade em antropologia e psicanálise Tese apresentada ao Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Doutor em Psicologia. Área de Concentração: Psicologia Experimental Orientador: Prof. Dr. Luís Claudio Mendonça Figueiredo SÃO PAULO 2007 AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE. Catalogação na publicação Serviço de Biblioteca e Documentação Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo Souza, Mauricio Rodrigues de. Experiência do outro, estranhamento de si: dimensões da alteridade em antropologia e psicanálise / Mauricio Rodrigues de Souza; orientador Luís Claudio Mendonça Figueiredo. -- São Paulo, 2007. 211 p. Tese (Doutorado – Programa de Pós-Graduação em Psicologia. Área de Concentração: Psicologia Experimental) – Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. 1. Psicanálise 2. Antropologia 3. Alteridade I. Título. RC504 FOLHA DE APROVAÇÃO Mauricio Rodrigues de Souza Experiência do outro, estranhamento de si: dimensões da alteridade em antropologia e psicanálise Tese apresentada ao Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Doutor. Área de Concentração: Psicologia Experimental Aprovado em: Banca Examinadora Prof(a). Dr(a). ________________________________________ Instituição: __________________________ Assinatura: ________________________ Prof(a). Dr(a). ________________________________________ Instituição: __________________________ Assinatura: ________________________ Prof(a). Dr(a). ________________________________________ Instituição: __________________________ Assinatura: ________________________ Prof(a). Dr(a). ________________________________________ Instituição: __________________________ Assinatura: ________________________ Prof(a). Dr(a). ________________________________________ Instituição: __________________________ Assinatura: ________________________ DEDICATÓRIA Aos meus pais, Ana Lúcia e Nivaldo, por todo o seu precioso, generoso e incondicional apoio ao longo da longa gestação desta tese. Também dedico este trabalho à memória de Raymundo Messias, meu querido “Tio Ray”. AGRADECIMENTOS Aos meus familiares e amigos em Belém e Recife, pelo seu carinho e interesse, particularmente quando da minha estada em São Paulo; Ao Prof. Luís Claudio Figueiredo, da Universidade de São Paulo, por suas generosas: orientação, confiança, paciência e disponibilidade quando solicitado; Ao Yannick e ao Marcos, amigos de todas as horas; Ao Prof. Ernani Chaves, da Universidade Federal do Pará - ex-orientador, mas jamais um ex-amigo -, pela sua escuta, carinho e também pela sugestão de que, curiosamente, residiria no “inquietante” a possibilidade de um caminho para apaziguar as inquietações impostas pela escrita desta tese; À Maria Tereza, pelo carinho e pela nossa bela amizade desta e de “outras” vidas; Aos primos: Izavan, Celina, Mariana e Carolina pelo apoio e generosas acolhida e hospitalidade quando da minha chegada a São Paulo; Ao Diego, pela amizade, pela acolhida na “terra da garoa” e pelas nossas elucubrações metafísicas acerca do funcionamento de uma máquina de lavar roupas; À Isolda, Carol, Vanessa e toda a comunidade da “Bartira”, por tudo que vivemos juntos; Ao Prof. Nelson da Silva Junior, da Universidade de São Paulo, pela amiga compreensão das angústias do desterro e por sua grande generosidade intelectual; Aos Profs. Nelson Coelho Júnior e Eunice Durham, da Universidade de São Paulo, pela leitura deste trabalho e por sua paciência e orientações quando do exame de qualificação desta tese; Aos colegas de orientação da USP, pelas sugestões de idéias e leitura de diversas partes deste trabalho; Aos Profs. Emmanuel Tourinho e Ana Cleide Moreira, da Universidade Federal do Pará, pela atenção e indicação do caminho das pedras que levava à USP; Ao Prof. Heraldo Maués, da Universidade Federal do Pará, meu ex-orientador no campo da Antropologia, pela leitura do projeto desta tese e apoio quando da minha estada em São Paulo; Aos Profs. André Barretto, Ricardo Pimentel e Marilu Campelo, da Universidade Federal do Pará, por seu interesse, leitura e comentários acerca do projeto desta tese; À Profa. Monique Augras, da PUC-Rio, pela leitura do projeto e indicações bibliográficas; Ao Prof. Benedito Nunes, pela simpática gentileza com que dispôs do seu precioso tempo para ler e comentar o projeto desta tese; Aos Profs. Antonio, Berenice e demais colegas do Sedes Sapientiae, pela acolhida, incentivo e por me mostrarem o quanto o psicanalista também pode e deve ser “humano, demasiado humano”; À Profa. Caterina Koltai, pela atenção que dispensou a este “estrangeiro” e pelo empréstimo de alguns textos citados aqui. Às Profas. Marisa Peirano e Rita Laura Segatto, da Universidade de Brasília, pelas indicações bibliográficas no campo da antropologia; Ao Prof. José Sávio, da Universidade Federal Fluminense, pelo seu interesse e sugestões quanto ao contraponto entre as atividades do antropólogo e do analista; Ao Depto. de Psicologia Experimental da Universidade de São Paulo e ao CNPQ, pela confiança e pela bolsa de estudos com a qual pude desenvolver o presente trabalho “Hoje, quando o pensamento não aspira mais ao universal, quando sua melhor história seria a dos seus arrependimentos, sabemos que o sistema, quando é válido, não se separa de seu autor (...) O pensamento abstrato reencontra, enfim, seu suporte de carne”. Albert Camus – O Mito de Sísifo RESUMO SOUZA, M. R. de. Experiência do Outro, Estranhamento de Si: dimensões da alteridade em antropologia e psicanálise. 2006. 211 f. Tese (Doutorado) – Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007. O presente trabalho consiste em um estudo acerca do impacto psíquico provocado pela experiência da alteridade. Com efeito, enfatizando a dimensão inconsciente que permeia tanto a prática clínica quanto a pesquisa com grupos das mais diversas naturezas, visa estabelecer pontos de contato entre a antropologia e a psicanálise no terreno interpretativo e político da negociação de sentido. Para tanto, realizou um percurso histórico por algumas das principais escolas da antropologia para, em tal movimento, localizar um contraponto nas matrizes dessa disciplina que pode ser qualificado como “explicação” versus “compreensão”. Ou seja, trata-se da maior ou menor afirmação da capacidade de traduzir ou representar objetivamente as diferenças expostas por culturas alheias. Visando propor saídas para tal dilema ao mesmo tempo ético e epistemológico, este estudo ampliou tal discussão para nela incluir um outro ramo do saber: a psicanálise. Então, pela via de leituras pormenorizadas dos conceitos de “inquietante” e de “construção”, alcançou a idéia de que a diferença imposta pelo outro no contexto da clínica é inseparável da diferença do Inconsciente, dono de uma narrativa e de uma temporalidade particulares que se recusam a obedecer aos ditames do pensamento representacional. Em decorrência disso, o estranho e o negativo do encontro analítico passam a aparecer como lugares do possível, ampliando o conceito de alteridade e as capacidades da interpretação – agora um meio termo entre a produção de sentido e a experiência do vazio. Eis a lição da não-lição proposta por este inquietante outro do Inconsciente à etnografia e mesmo às chamadas Ciências Humanas como um todo: admitir a possibilidade do sentido, mas não necessariamente o seu encerramento, fornecendo assim uma expressão menos comprometida a um estrangeiro agora irredutível a códigos pré-estabelecidos. Isso significa a admissão de que o movimento do conhecimento não pode prescindir da criação de espaços para o novo e mesmo para o desconcertante, incluindo-se aí tudo aquilo que escapa à procura racional, como os afetos, as surpresas e, com eles, uma por vezes dolorosa – mas, ao mesmo tempo, potencialmente criativa - sensação de incompletude. Palavras-Chave: Psicanálise. Antropologia. Alteridade. ABSTRACT SOUZA, M. R. de. Experience of the Other, Strangeness of the Self: dimensions of otherness in anthropology and psychoanalysis. 2007. 211 f. Thesis (Doctoral) - Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007. This work studies the psyquic impact provoked by the experience of otherness. Furthermore, emphasizing the unconscious dimension that is present in clinical practice and in researches concerning groups of different natures, it intends to establish points of contact between anthropology and psychoanalysis in the political and interpretative field of negotiation of meaning. To pursue this aim, it performed an historical review of the contributions of some of the most important anthropological schools, locating in the matrix of this discipline a counterpoint that can be qualified as “explication” versus “comprehension”. In other words, the problem here is to affirm the major or minor capacity to traduce or represent objectively the differences exposed by alien cultures. In a way to propose some possibilities for this ethical and epistemological dilemma, the present study extended this discussion to include on it the knowledge brought by psychoanalysis. Therefore, by detailed readings of the concepts of “uncanny” and “construction” it reached the idea that the difference imposed by the other in the clinics is not separated from the difference of the Unconscious, owner of particulars narrative and temporality that refuse to obey the principles of representational thought. Because of that, the strangeness and the negative of the analytic encounter become places of possibility, amplifying the concept of otherness and the capacities of interpretation – now placed in a mid-point between the production of sense and the experience of emptiness. That’s the lesson of non-lesson proposed by this uncanny other of the Unconscious to ethnography and even to Human Sciences as a whole: to admit the possibility of sense, but not necessarily its ending, offering a less compromised expression to a stranger that now cannot be reduced to previously set codes. This means to admit that the movement of knowledge cannot give up the creation of spaces to the new and even to what is disconcerting, including all that escapes a rational search, like feelings, surprises and, together with them, a sometimes painful – but also potentially creative - sensation of incompleteness. Keywords: Psychoanalysis. Anthropology. Otherness.
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