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Evolução da Cidade de Deus PDF

234 Pages·1965·13.305 MB·Portuguese
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ÉTIENNE GILSON {Da Academia Francesa) EVOLUÇÃO DA CIDADE DE DEUS ! 18739009 EDITÔRA HERDER SÃo Paulo 1965 SUMÁRIO i Nota do tradutor ........................................................... 9 Prefácio .............................................................................. 11 Capítulo I — As Origens do Problema ............... 15 Capítulo II — A Cidade de Deus ......................... 43 Capítulo III — A República Cristã ....................... 73 Capítulo IV — O Império Universal ................... 100 Capítulo V — A Paz da Fé ..................................... 135 Capítulo VI — A Cidade do Sol ........................... 157 Capítulo VII — O Nascimento da Europa ........ 175 Capítulo VIII — A Cidade dos Filósofos ........... 191 Capítulo IX — A Cidade dos Sábios ................... 207 Capítulo X — A Igreja e a Sociedade Universal.. 223 V !*■ ( . « Nota do tradutor A gradecendo a insigne honra que me confe­ riu a ilustre editora Herder de fazer a tradução brasi­ leira deste magnífico livro de Étienne Gilson, cabe-me dizer duas palavras acêrcá da tradução. Primeiramente, devo informar que me conformei com o uso em matéria de nomes de livros e de pessoas. Às obras de caráter universal, conhecidas em todos os países, ou que circulam entre nós, dei o nome portu­ guês; nas de caráter puramente erudito ou menos usuais, conservei o nome original. Igualmente com relação aos nomes próprios: De certas figuras históricas é de uso ime­ morial a tradução do nome; de outras é uso conservá-lo. Assim fiz, conforme as usanças. Depois, uma rápida referência a dois “avatares da Cidade de Deus”, ligados à nossa história. Coube ao Padre Antônio Vieira a responsabilidade de uma tentativa que ainda não foi estudada convenien- temente e que está exigindo uma análise mais profunda. O grande jesuíta, preocupado com as dificuldades na conversão de gentios, hereges e infiéis, de que tinha expe­ riência pessoal, quer relativamente a índios brasileiros, quer a protestantes de vários tipos e judeus, ele que passava das cortes mais requintadas às florestas virgens do Brasil, alarmado com todos os problemas de seu tempo, procurou uma solução extraordinária, que demonstra com lógica implacável, que quase chega a convencer... Suas bases foram: as trovas do sapateiro Bandarra, que tinha por profecias, e a convicção em que se achava de que o reinado temporal do Messias, profetizado no Velho Testamento, não poderia deixar de realizar-se. Baseando-se nisto, convenceu-se de que um milagre portentoso, irre­ sistível, resolvería todos os problemas. Este seria a res­ surreição del-rei D. João IV, seu amigo e protetor, re­ centemente falecido. Ora, a ressurreição do rei de Por­ tugal não poderia deixar de ter os inevitáveis resultados: aceitação da fé pelo gentio americano, volta dos irmãos dissidentes, reconhecimento pelos judeus de que o Messias já viera, fim do Islã, volta das dez tribos perdidas de Israel, resgate do Santo Sepulcro e mil anos de paz abso­ luta e de justiça sob o reinado de Cristo por seu alferes- mor, o rei de Portugal. Também não era para menos. Como aconteceu a Rogério Bacon e Tomás Cam- panella, Vieira viu-se às voltas com a Inquisição por suas novidades suspeitas, não obstante ser a maior cabeça do reino de Portugal e Algarves, em seu tempo. O outro avatar nos diz mais de perto. Gilson escre­ veu um capítulo magnífico sobre o positivismo, dando à Religião da Humanidade importância e interesse pouco comuns. Lendo este capítulo sentimos que nossos “após­ tolos da Humanidade”, Miguel Lemos e Teixeira Mendes, viram algo de especialmente valioso no positivismo. É pena que Gilson não mencionasse a aventura brasileira do positivismo, caso único em que a Religião da Humani­ dade foi realmente praticada. O assunto foi primeira­ mente estudado por nós em O Positivismo■ no Brasil, livro para o qual esse capítulo de Gilson seria um grande prefácio. Posteriormente outros autores trataram do assunto, como o Prof. Cruz Costa, de São Paulo, em obras bem conhecidas. J. C. O. T. Belo Horizonte, 24 de junho de 1961. 10 Pr ef áci o A E ste livro contém a substância do curso inaugural da Cátedra Cardeal Mercier, feito na Univer­ sidade de Lovaina, no mês de maio de 1952. Solicitados a permitir a publicação do texto, consen­ timos nisto de muito bom grado. Encontrar-se-ão, pois, aqui as lições exatamente como foram proferidas, nenhuma oferecendo maior interesse fora da série que elas cons­ tituem. Algumas notas, mais ou menos numerosas se­ gundo os capítulos, ou as referências que acrescentamos com as vistas à publicação, não seriam capazes de transfor­ mar êste curso numa obra de erudição. A História não é aqui senão matéria para a reflexão filosófica e, ocasio­ nalmente, oportunidade para um leigo levantar uma ques­ tão aos teólogos. Não conhecemos nenhum tratamento teológico explícito da noção de Cristandade. Deseja­ ríamos saber se esta noção deve ser tida por estritamente idêntica àquela de Igreja, ou se uma se distingue da outra, e como ? As observações esparsas ao longo dêste livro, e especialmente aquelas do fim, não exprimem nenhuma intenção de dogmatizar a respeito de um problema que ultrapassa a competência do historiador e do filósofo. Têm por único objeto reunir alguns de seus dados e fixar o sentido exato da questão. As vistas descontínuas sobre a história, que servem de ocasião para levantar o problema, marcam as etapas de uma evolução que não consideramos absolutamente um progresso. Será visto claramente isto, nós o espera­ mos, mas podem ocorrer confusões a respeito da pró­ 11 pria matéria de nossas reflexões. Não se trata aqui, dire­ tamente, da noção de Igreja, nem mesmo das relações entre o temporal e o espiritual, mas unicamente da noção, extremamente confusa ainda hoje, do Povo que formam os cristãos dispersos através das nações da terra e cujas relações temporais são atingidas, ou deviam sê-lo, pela comum ’ filiação à Igreja. É isto o que explica a ausência de nomes ilustres como aquêles de São Boaven- tura, São Tomás de Aquino, ou Duns Escoto, ao longo das lições que se seguem. Indispensáveis para uma teolo­ gia da Igreja, seriam consultados em vão a respeito do problema que nos preocupa. É justamente por isto que a questão deve ser proposta. A Respublica fidelium, da qual tão bem falou Rogério Bacon e que comumente denominamos Cristandade, nascería de uma ilusão de pers­ pectiva à qual os leigos estariam particularmente expos­ tos, pelo simples fato de que, empenhados no temporal, êles lhe exagerariam a importância ? Ou, ao contrário, chegamos ao momento em que a realidade da Cristan­ dade deve ser reconhecida, descrita, definida e integrada em seu lugar na noção de Igreja ? Se os teólogos, para os quais admitimos sem esforço que o problema seja menos urgente do que para os leigos, estimarem que não é destituído de sentido, é dêles sòmente que pode­ mos aguardar a solução. Uma das razões que nos fazem crer na realidade do problema é a própria história, cujas principais etapas estas lições resumem, posto que bem sumàriamente. Mesmo que os teólogos devessem concluir que não há uma ver­ dadeira Cristandade, poderiamos lhes assegurar que exis­ tem muitas falsas. A história e nosso próprio tempo estão cheios de paródias da Cidade de Deus. E que, como era de temer-se da parte de membros da Cidade Terrestre, quiseram-na tornar temporal. A preparação a longo prazo, pela Igreja, duma organização temporal do povo cristão e de sua integração temporal na Cidade de Deus, faria, sem dúvida, muito para evitar ou limitar a reno­ vação destas experiências custosas das quais as duas ordens em causa assumem inevitavelmente os riscos. Ver-se-á, por nossas conclusões, que nenhum reforço de erudição 12 mudaria a sua natureza. Estamos no problemático e a própria realidade do problema está, aqui, em questão. Que nos seja permitido agradecer à Universidade de Lovaina por nos haver oferecido a ocasião de publicar estas reflexões que, sem sua graciosa hospitalidade, não teriam provàvelmente jamais sido públicas. Esperamos não ter cometido qualquer erro grave. Se forem encon­ trados neste livro, deverão ser tidos como exclusivamente nossos. Deve ficar bem claro que não temos qualquer intenção de nêles fixarmo-nos. Nada há de interessante senão a verdade. Lovaina, l.° de maio de 1952. 13 ■■ i l Capítulo I As Origens do Problema S eja qual fôr o julgamento da história fu­ tura sobre o nosso tempo, nós, que o vivemos, não hesitare­ mos sobre o sentido profundo de seus esforços, de suas misérias e de tantas convulsões de que somos causas ou vítimas; As dores do mundo contemporâneo são as de um parto, e o que nasce com tanto sofrimento é uma sociedade humana universal, que seria, para os Estados de hoje, o que êles próprios se tornaram para os povos outrora divididos, de que se compõem; como êsses mes­ mos povos parecem ter sido, mais remotamente, repar­ tidos em famílias, clãs e tribos, de que, afinal, consegui­ ram garantir a unidade. Como nasceu êste ideal ? E poderá êle se realizar fora do clima espiritual em que teve origem ? Eis o problema que será objeto destas lições. O que caracteriza os acontecimentos de que somos testemunhas, o que os distingue de todos aquêles que os precederam desde as origens da história, c seu caráter mundial, como se diz, ou, como se poderia dizer mais exatamente, planetário. Não mais história local. Não existe mais história exclusivamente nacional, cujos acon­ tecimentos interessariam a um povo particular e tão-sò- mente êste, no sentido que seria unicamente a causa dêle ou sofrer-lhe-ia os efeitos. A unidade do planeta já se fêz. Devido a razões econômicas, industriais e, geral­ mente falando, técnicas, das quais se pode dizer que se acham todas ligadas às aplicações práticas das ciências da natureza, tal solidariedade de fato estabeleceu-se entre os povos da terra, de modo que suas vicissitudes se inte- 15

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