Artur Bispo dos sAntos neto ESTÉTICA E ÉTICA NA PERSPECTIVA MATERIALISTA © do autor Creative Commons - CC BY-NC-ND 3.0 Pré-diagramação: Glauber Andrade Silva Leal Diagramação: Estevam Alves Moreira Neto Revisão: Pablo Polese de Queiroz Capa: Luciano Accioly Lemos Moreira Catalogação na fonte Departamento de Tratamento Técnico do Instituto Lukács Bibliotecária Responsável: Fernanda Lins S237e Santos Neto, Artur Bispo dos. Estética e ética na perspectiva materialista / Artur Bispo dos Santos Neto. – São Paulo : Instituto Lukács, 2013. 142 p Inclui bibliografia. ISBN 978-85-65999-16-8 1. Estética. 2. Ética. 3. Georg Lukács. 4. Bertolt Brecht. 5. Materialismo histórico. I.Título. CDU: 141.82:177 Esta obra foi licenciada com uma licença Creative Commons - Atribuição - NãoComercial - SemDerivados 3.0 Brasil. 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Lukács.............................................. 13 Capítulo II A constituição histórico-ontológica da ética..................................... 29 Capítulo III Estética e “fenômeno originário” (Urphanomen) em Goethe........... 47 Capítulo IV Catarse (Katharsis) como articulação entre estética e ética em G. Lukács......................................................................................... 57 Capítulo V O ethos da amizade feminina em Goethe.......................................... 71 Capítulo VI As contradições da moral burguesa em Denis Diderot e Bertolt Brecht........................................................................................ 89 Capítulo VII A moral das classes dominantes em Goetz von Berlichingen de Goethe............................................................................................. 107 Capítulo VIII O cientista e o desafio ético em Bertolt Brecht............................... 123 Artur Bispo dos Santos Neto Apresentação Em um momento histórico dominado pela lógica do mercado, que tem como pressuposto que o consumo torna as pessoas mais felizes, mais modernas, sempre “antenadas” com as novas tecno- logias, as quais ditam o padrão para a medida do conhecimento, de mais produção acadêmica, mais uso de novos softs, mais leituras dinâmicas e menos críticas, um livro tendo como objeto de estudo a ética e a estética deve ser louvado por todos aqueles que ainda acre- ditam na possibilidade de outras formas de sociabilidade. O livro de Artur Bispo dos Santos Neto enfatiza, por intermédio de pensadores clássicos, a importância da arte para a humanização do ser social e o fortalecimento de uma ética verdadeiramente hu- mana. O autor estabelece desde o início os parâmetros que nortea- ram sua obra, que se calca na perspectiva do materialismo histórico- dialético, fundamentalmente nas formulações de G. Lukács sobre a ética e a estética. Neste livro, Artur Bispo dos Santos Neto, visando situar histori- camente as problemáticas da estética e da ética, realiza análises lite- rárias que discutem a base ontológica da subjetividade no capitalis- mo nascente. Tendo sempre por base a estética e a ontologia lukacsianas, dis- cute a importância da ética para a harmonia humana, na medida em que as possibilidades da individualidade se dão diretamente na sua relação com a universalidade. O autor ressalta, a partir de Lukács, a impossibilidade de uma éti- ca verdadeiramente humana nas sociedades de classe, ao tempo que reafirma o papel do direito como a forma moderna de manutenção de uma ética classista, que desloca o ser social da centralidade das sociabilidades contemporâneas. 7 Estética e Ética na Perspectiva Materialista Essas são algumas questões levantadas pelo livro de Artur Bispo, que vai muito além do aqui mencionado e que trará, com certeza, prazer e conhecimento para o leitor. Belmira Magalhães 8 Artur Bispo dos Santos Neto Introdução O presente livro tem como propósito tratar da relação entre es- tética e ética numa perspectiva materialista. Para isso recorre às re- flexões desenvolvidas tanto pelo materialismo dialético expresso nas produções de Georg Lukács e Bertolt Brecht, quanto às dos materia- listas da época revolucionária da burguesia como Johann Wolfgang von Goethe e Denis Diderot. O fato de esses últimos pensadores estarem longe de ser considerados representantes do proletariado, enquanto classe social em ascensão, não impede de conferir relevân- cia aos seus escritos. É importante destacar que o propósito fundamental da arte é despertar a autoconsciência da humanidade, o que implica dizer que a primazia da grande obra de arte não é conferida simplesmente pela posição individual do artista perante as classes sociais em disputa, mas pela forma particular como aborda os grandes problemas da humanidade. O avanço do capitalismo tem claramente se configurado como uma inusitada guerra declarada à possibilidade de estabelecimento de qualquer conexão entre estética e ética, pois a arte deve compa- recer como uma forma de reflexo completamente desarticulado do mundo objetivo e da vida cotidiana. Nesse aspecto, são relevantes as reflexões desenvolvidas por Georg Lukács e Bertolt Brecht. Con- trariamente às posições amplamente hegemônicas no interior das academias da burguesia, no decorrer desta obra o leitor terá oportu- nidade de conhecer como as posições dos referidos marxistas estão articuladas na confirmação da necessidade de superação das rela- ções sociais reificadas da sociedade capitalista. O presente livro está estruturado em oito capítulos que versam sobre os eixos da ética e da estética. Alguns concentram sua atenção 9 Estética e Ética na Perspectiva Materialista especificamente na elucidação desta relação, enquanto outros estabe- lecem as bases para a compreensão do reflexo estético e da práxis éti- ca. Observar-se-á que cada um deles tem uma estrutura própria e um encadeamento específico, mas todos possuem o mesmo fio condutor. O primeiro capítulo concentra sua atenção teórica no sentido de elucidar as principais mediações que articulam o âmbito materialista da vida cotidiana com as objetivações superiores da subjetividade que permeiam a atividade estética no pensamento de G. Lukács. Primeiramente, tenta-se descrever as conexões elementares que es- tão na gênese do desenvolvimento e da autonomia do fenômeno estético e que permitem esclarecer a peculiaridade dessa forma de reflexo da realidade. Tarefa, esta, que tem o seu ponto de partida na compreensão do entendimento da conexão existente entre ativida- de artística e vida cotidiana, estética e ciência, estética e magia. Por sua vez, o cumprimento desses preceitos categoriais presume uma posição de fidelidade ao procedimento dialético que compreende a realidade numa perspectiva eminentemente unitária, e não segundo as concepções teóricas que não se cansam de afirmar a prioridade da consciência sobre o ser, da teoria sobre a prática. Uma vez estabe- lecidos os fundamentos constituintes do reflexo estético, adentra-se na descrição do papel primordial que ocupa o preceito da subjetivi- dade na formulação de uma estética marxista, através da apresenta- ção do desenvolvimento fenomenológico da autoconsciência e sua relação com a objetividade. O segundo capítulo apresenta uma reflexão sobre a natureza his- tórico-ontológica da ética, em consonância com as reflexões desen- volvidas por G. Lukács e Karl Marx. Partindo do entendimento de que existe uma distinção relevante entre eticidade e direito, busca-se, primeiramente, ilustrar a gênese e o desenvolvimento da eticidade no contexto das sociedades de classes, bem como os limites e as possibi- lidades acerca do processo de constituição do indivíduo plenamente articulado à universalidade; a seguir, evidencia-se a articulação entre direito e complexo econômico, destacando a peculiaridade de sua autonomia relativa em face dos demais complexos que envolvem a totalidade social. Por fim, destaca-se como o estabelecimento das bases ontológicas do sistema da eticidade, na perspectiva marxiana, permite uma crítica contundente às impostações axiológicas dos di- reitos humanos e às vacuidades reformistas do sistema da eticidade hegeliana, que tem no Estado sua forma mais elevada de realização. O terceiro capítulo tem como corolário investigar a gênese cons- titutiva do “fenômeno originário” no grande materialista alemão. Para isso, parte-se da consideração da natureza enquanto topos fun- 10