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Essencial Padre Antônio Vieira PDF

654 Pages·2011·2.34 MB·Portuguese
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ESSENCIAL PADRE ANTÔNIO VIEIRA antônio vieira nasceu em Lisboa, em 1608, mas viveu grande parte de sua vida no Brasil. Passou a infância e a juventude na Bahia, onde se tornou jesuíta. Acompanhou as invasões holandesas e a tomada de Pernambuco, e descreveu em relatórios e cartas as vitórias e derrotas portuguesas, pregando em favor da resistência. Após um período em Portugal como conselheiro e diplomata de d. João iv, tendo lutado com veemência pela legitimação de seu reinado, viveu oito anos no Grão-Pará e Maranhão, entre 1653 e 1661. Já septuagenário, voltou à Bahia, onde viveu quase recluso, preparando a publicação de seus sermões, que representam a maior parte de sua vasta obra. Considerado por Fernando Pessoa o imperador da língua portuguesa, destacou-se por sua habilidade como orador sacro, missionário e político. Defendeu os cristãos-novos contra a Inquisição, condenou a rebeldia do quilombo dos Palmares e reprovou as reformas da capitania de São Paulo que favoreciam a escravização dos índios. Morreu lúcido aos 89 anos de idade, em Salvador, em 1697. alfredo bosi nasceu em São Paulo, em 1936. Cursou Letras Neolatinas na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo e estudou Filosofia da Renascença e Estética na Facoltà di Lettere de Florença. Lecionou Literatura Italiana na usp, onde defendeu doutoramento sobre a narrativa de Pirandello e livre-docência sobre poesia e mito em Leopardi. Desde 1971 é professor da área de Literatura Brasileira da usp. De 1996 a 1999 foi professor convidado na École des Hautes Études en Sciences Sociales e, entre 1997 e 2001, diretor do Instituto de Estudos Avançados. Desde 2003, é membro da Academia Brasileira de Letras. É autor de, entre outros, O pré-modernismo (1966); História concisa da literatura brasileira (1970), O conto brasileiro contemporâneo (1975), O ser e o tempo da poesia (1977), Céu, inferno (1988), Dialética da colonização (1992), Machado de Assis: O enigma do olhar (1999), Literatura e resistência (2002), Brás Cubas em três versões (2006) e Ideologia e contraideologia (2010), os três últimos pela Companhia das Letras. Sumário Introdução — Alfredo Bosi ESSENCIAL PADRE ANTÔNIO VIEIRA sermões Sermão da Sexagésima Sermão décimo quarto do Rosário Sermão vigésimo do Rosário Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda Sermão dos Bons Anos Sermão de Santo Antônio Sermão do mandato Sermão da primeira dominga do Advento Sermão da terceira dominga do Advento Sermão de Santo Antônio aos peixes Sermão da primeira dominga da Quaresma Sermão do bom ladrão Sermão da quarta-feira de cinzas Sermão vigésimo sétimo do Rosário cartas do maranhão Carta ao rei d. João iv (4 de abril de 1654) Carta ao rei d. João iv (6 de abril de 1654) Carta ao rei d. Afonso vi (21 de maio de 1661) Carta ao padre André Fernandes (29 de abril de 1659) resposta a uma objeção: mostra-se que o melhor comentador das profecias é o tempo a chave dos profetas Apêndice — J. G. Ilusius Bibliografia António Vieira O céu strela o azul e tem grandeza. Este, que teve a fama e à glória tem, Imperador da língua portuguesa, Foi-nos um céu também. No imenso espaço seu de meditar, Constelado de forma e de visão, Surge, prenúncio claro do luar, El-Rei D. Sebastião. Mas não, não é luar: é luz do etéreo. É um dia; e, no céu amplo de desejo, A madrugada irreal do Quinto Império Doira as margens do Tejo. fernando pessoa, Mensagem Introdução Antônio Vieira: Vida e obra Um esboço alfredo bosi O padre Antônio Vieira passou a sua longa vida entre os cuidados do presente e os sonhos do futuro. À primeira vista essa junção de constante operosidade e fantasias de visionário deixará perplexo quem quiser traçar a sua biografia. O diplomata solerte, o conselheiro de projetos econômicos de longo alcance e o missionário zeloso parecem incompatíveis com o leitor crédulo das trovas do sapateiro Bandarra e o crente na ressurreição de um rei morto havia poucos anos. O homem realista do aqui e agora, convicto da primazia do dinheiro e do poder militar no xadrez da política europeia, é, ao mesmo tempo, o milenarista que espera o advento iminente do Quinto Império universal figurado nas profecias de Daniel. Embora seja possível delimitar um campo comum de motivações em que se atem os fios díspares dessa trajetória feita de contrastes, sempre resta um sentimento de estranheza quando se veem misturadas prudência e temeridade, capacidade de observação atenta e entrega sem reservas aos poderes da imaginação. Em uma bela carta endereçada ao amigo e confidente Duarte Ribeiro de Macedo, Vieira admite como sua paixão dominante “o afeto português e imoderado zelo da Pátria”. Reconhece que, fiel aos preceitos de Santo Inácio de Loyola aprendidos nos Exercícios espirituais, “contra este tão forte inimigo me tinha armado, convencendo-o com tantas razões quantas em mim concorrem mais que os outros”. Mas em vão. Nada conseguira sofrear a sua paixão. Nem mesmo a intervenção milagrosa da Providência poderia fazê-lo, “pois se observa no Evangelho que, curando Cristo todos os gêneros de enfermidades e ressuscitando mortos, a nenhum doido sarou”.1 Nesse raro momento de autoanálise, Vieira ao mesmo tempo acusa o excesso porventura insano das suas paixões e as dá por inveteradas e incuráveis. E não por acaso ficou registrada no catálogo da sua Ordem a notação de que seu temperamento era “colérico fogoso”.2 A graça, ensina a doutrina de Santo Tomás, supõe a natureza, supre-lhe as falhas, modera-lhe os ímpetos, mas não a suprime. Mas talvez venha do próprio Vieira uma tentativa de explicação que aproxime aquelas direções da sua existência aparentemente tão díspares. No primeiro sermão da série que dedicou a São Francisco Xavier (“Xavier dormindo”), o orador define os sonhos como “filhos dos cuidados” ou, ainda mais argutamente, “relíquias dos cuidados”. Sonha-se com o que se deseja ou se teme, sonha-se com o ideal frustrado que só a fantasia sublimadora pode alcançar. infância e mocidade na bahia (1608-41) Antônio Vieira nasceu em Lisboa em 6 de fevereiro de 1608. Foram seus pais Cristóvão Vieira Ravasco e Maria de Azevedo. A atribuição de fidalguia à linha paterna, que se lê na Vida do padre António Vieira do jesuíta André de Barros,3 foi cabalmente desmentida pelo mais idôneo dos seus biógrafos, João Lúcio de Azevedo. Diz este, baseando-se em informações colhidas no processo inquisitorial: “O avô e o pai de Vieira tinham sido” — consta de informações do Santo Ofício — criados dos condes de Unhão; e, tomando a palavra no sentido menos piorativo, para não tratarmos a um e a outro de fâmulos, dependentes desses fidalgos e com certeza assalariados. “Fidalgo da casa de Sua Majestade”, como diz André de Barros, não era Cristóvão Ravasco quando o filho nasceu. Somente mais tarde, por graça feita àquele por d. João iv, foi concedido o título que o aproximava da verdadeira fidalguia. “Meu moço de câmara” lhe chama o decreto que o nomeia escrivão dos agravos e apelações cíveis da Relação da Bahia, o que é diferente […]. O futuro fidalgo da Casa Real teve por mãe uma mulata ou índia — também houve quem dissesse mourisca, de toda maneira mulher de cor — serviçal da casa dos condes, de onde com o galã, avô de Vieira, foi despedida, por não lhes levarem os amos a bem os amores, que o casamento em seguida consagrou. Não custa crer tivesse vindo a bisavó de África, trazida por escrava a Portugal. Em negros e mulatos abundava a população do Reino nesse tempo; e o retrato de gravura, feito em Roma, presumidamente cópia de outro, a que serviu de modelo o cadáver antes da inumação, como informa André de Barros, lembra muito nas feições essa espécie de mestiçagem.4 Quanto à ascendência pelo lado materno, o mesmo biógrafo nos esclarece que Maria de Azevedo, também lisboeta, era filha de um armeiro da Casa Real, Brás Fernandes, e de uma padeira dos frades de São Francisco. A modéstia apenas remediada de ambos os lados parece, portanto, comprovada. Igualmente atestado é o valimento do conde de Unhão, d. Fernão Telles de Meneses, padrinho de batismo do menino Antônio, celebrado na Sé metropolitana aos 15 de fevereiro de 1608. Em 1614 partiu Cristóvão Vieira Ravasco com a família para a Bahia, onde fora nomeado escrivão da Relação. O que se sabe da infância e adolescência de Vieira deve-se, em boa parte, às páginas do já mencionado padre André de Barros, que, tudo indica, misturava informações exatas e narrativas talvez romanceadas para melhor enaltecer a figura do seu biografado. O caso do estalo (conhecido proverbialmente como estalo de Vieira) ficou antológico. Transcrevo a sua primeira versão: Chegados os anos da puerícia, e empregados nos primeiros rudimentos, houve de passar aos estudos das boas letras no colégio da companhia. Aqui entre a competência dos condiscípulos sentiu com generosa índole não poder decorar as lições, nem compor com tanta certeza, como outros seus iguais. Uma espessa nuvem, que lhe ofuscava o entendimento, o tinha até então menos hábil para aprender; mas no meio dessa escuridade

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O enfático juízo de Fernando Pessoa sobre Antônio Vieira contido num verso de Mensagem conserva sua plena validade neste início de século XXI. O perfeito domínio das sutilezas da retórica seiscentista, a impressionante erudição bíblica e literária e a inigualada capacidade de instruir, co
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