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Espaçotempo & Ancestralidade de matriz africana em terras caboclas PDF

190 Pages·2015·15.99 MB·Portuguese
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Erenay Martins Espaçotempo & Ancestralidade de matriz africana em terras caboclas Dissertação apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Educação no Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, sob a orientação do Prof. Dr. Marcos FERREIRA-SANTOS. São Paulo – 2015 VERSÃO REVISADA 1 Ficha catalográfica: Palavras-chaves: Ancestralidade – Espaço e Tempo – Antropologia da Educação – Negritude. 2 Resumo: Esta pesquisa tem como objetivo investigar a simultaneidade crepuscular do espaçotempo unitário de matriz afroameríndia, pensando o lugar, a paisagem, como portas abertas, um espelho das culturas que possibilita a inspiração de símbolos, de suas matrizes ancestrais à arte e cotidiano das cidades e campos. Ao mesmo tempo, possibilita que o contexto tradicional na contemporaneidade auxilie em desdobramentos suscetíveis à superação de situações-limites sociais e educacionais. Uma pretaíndia desaldeada como pesquisadora contou com o primeiro conjunto de pensadores, além dos Situacionistas1 que apoiaram nossa constituição epistemológica, assim como Juana Elbein dos Santos e mestre Didi. O estilo investigativo se apóia na leitura mitohermenêutica de Marcos Ferreira-Santos, atrelados às coorientações de Kabengele Munanga e Carlos Serrano. Milton Santos e Paulo Freire complementam a abordagem apoiando a compreensão e a fundamentação do que podemos chamar de Epistemologias do Sul ou ainda de uma antropologia cabocla. Abstract: This work talks about spacetime notion in AfroAmerIndians Thought and the researsh have been doing since author graduate in Geography. In that time the Situacionists thinkers and Henry Lefebvre were composed the eyes of critics theorys of everyday lives with Black Antropology suports. Its a interdisciplinary study that becomes a intersectional researsh between race, class, gender and cultures. We were studing with prof. Kabengele Munanga and Carlos Serrano, about their Cultural Antropology of SubSaarian Africa and the theory of race and racism, especially in Brazil. In Education, the teses chair was in Imaginary Studies with prof. Marcos Ferreira-Santos, so this work became to be suported by Hermeneutics ways of thinking. The foudation of this master work was the Ancestrality, the Orality, the Corporelity, the Word, the Arts and Traditional Crafts. The simbology is, in that dimensions, like messages of its philosophy and comunication, all this concepts are impressed in the territoriality of those communities and in its landscapes that permeates the body until the Arquiteture, the Mitology (cosmology and the cosmogony). 1 A Internacional Situacionista – IS foi uma revista fundada por Guy Debord em 1957, reuniu intelectuais de diversas nacionalidades com publicações políticas e artísticas que inspiraram o espírito revolucionário instaurado em 1968 na França. 3 Agradecimentos: Agradeço aos ancestrais por abrirem caminhos e darem sustento a nossa jornada, a mainha, voinha e família, que nos mostra como a união supera os aperreios e com o fino trato nos tornamos um seixo, uma preciosa joia. Agradeço a meu pai, com sua matutice me ensinava valores da terra, percebi que precisava me defender no mundão, encontrei a capuera. Agradecida ao professor Marcos Ferreira-Santos, por sua dedicação, benevolência e cumplicidade, sua luta para que este e muitos trabalhos parentes pudessem se realizar. Agradecida pela vida, pela amizade, por todas as pessoas que acreditaram ser possível e continuam persistindo na resistência (co)reexistente preta-cabocla. À irmandade do Terreiro do Bogum e todas as comunidades de axé em que meus odus se fizeram presença, a quem compartilhou axé nessa jornada e fortalece o pirão nosso de cada dia. 4 Dedicatória: Dedico este trabalho a meu padrinho, Cesar Augusto Ribeiro Alves, em sua memória que presente se faz vigente. Proseávamos tanto sobre esta realização em corpo presente, mas seus olhos não o puderam apreciar, então lhe entrego ao coração que tudo sempre poderá tocar. Notas de aperfeiçoamento indicadas pela banca examinadora: A organização deste trabalho em capítulos não surgiu de uma derivação de categorias separadas ou hierarquizadas, eles constituem um desenrolar de perspectivas de um mesmo fenômeno ou noção, que é o espaçotempo afroameríndio. Este se dá a partir da ancestralidade, a tradição de matrizes culturais e nações que valorizam a ancestralidade como alicerce de sua permanência e manifestação. Matrizes expropriadas e escravizadas no período colonial e ainda continuam sendo as mais exploradas, por isso tiveram de encontrar maneiras de re(ex)sistência2 e que se fundiram na noção de povo negro, preto, caboclo... de Norte a Sul das Américas temos noções de o que é ser isso ou aquilo, nossa investigação é desvendá-las. Com relação ao conceito desenvolvido de caboclo, nos é muito caro, como também o termo preto, resignam povos e nos parecem ser nomes atribuídos genuinamente por si mesmo, e não um outro o denominando, deste modo consideramos estas noções a abertura para nossa jornada investigativa das diásporas culturais realizadas por povos subalternalizados na sociedade moderna pela imposição e dominação da raça, da classe e do gênero. Se desdobram em quilombagem e caboclagem como facetas da mesma territorializade, por laços de cooperação que existe no âmago de ambas as filosofias ancestrais, africanas e ameríndias. De corporeidades diversas e imbricadas pelo entremeio e alinhavo da ancestralidade. 2 Este termo aparecerá mais a frente no trabalho como junçãodas palavras reexistência e resistência, mostrando facetas da vida fundamentada pelas matrizes perseguidas desde o período colonial. 5 Sumário: 1. Memorial, fecundação e nascimento da pesquisa, p.7 2. Pessoa, comunidade, família e educação, p.18 3. Apro-fundamentos, p.30 4. Fruição, p. 35 5. Da superfície dos símbolos à ancestralidade, p.42 6. Espaçotempo de matriz africana em terras caboclas, p.55 7. Espaçotempo territorialidade, p.76 8. Espaçotempo quilombagem, p.81 9. Espaçotempo Caboclo, p.87 10. Matrial versus Patriarcal – aproximações afroameríndias, p.96 11. Formas culturais da ancestralidade, p.106 12. Espaçotempo Ancestralidade, p.116 13. Calunga, Bonecas Pretas, p. 128 14. Espaçotempo Corporeidade, p.142 15. Corporeidade em Consciências Negras, p.156 16. In-conclusões: “toca prá subir”..., p. 173 17. Bibliografia citada, p.185 6 1. Memorial, fecundação e nascimento da pesquisa Mãe, obra malinke, do antigo Mali, Museu Afro-Brasil3 Sou Erenay, Martins pela família de minha mãe, centrada na figura de minha avó, Oswaldina Evangelista Martins, de Juazeiro-BA, preta, veio com uma tia procurar melhores oportunidades em São Paulo. Em período de êxodo rural reencontrou-se com a família de meu avô, Manuel Felix Martins, já conhecidos em Juazeiro, constituíram laços firmes e gerativos, com elos em narração de histórias, encontros celebrativos e de convívio cotidiano, formaram meu imaginário infantil e familiar. Maciel, de meu pai José Geraldo, de família mineira negra cabocla, mais ainda fragilizada pelos estigmas do racismo em Minas Gerais, a maioria optou pela assimilação. Que nem mesmo com origens indígenas em Rio Pardo de Minas, de onde meu avô Manuel Maciel era o 3 As fotografias aqui utilizadas foram realizadas por mim com as devidas autorizações para os fins desta investigação, salvo as indicadas de outra autoria também autorizadas. 7 conhecido filho de “índia Novaes” curandeira da cidade-vilarejo, gerações contemporâneas guardam nas práticas cotidianas em Montes Claros, cidade de minha avó Terezinha Silveira, o imaginário do branqueamento e misoginia preservados pela tradição católica, que hostilizou minha avó Teresinha quando decidiu que seria mais feliz estando solteira. De consciência negra, minha pertença, desde criança, me reconhecia diferente do padrão “global”, como quando ouvia os tratamentos de meus primos mineiros quando insinuantes me diziam que eu tinha lábios grossos e quadril avantajado, para ser considerada “bonita”. Isso porque apesar de terem a tonalidade de pele acentuada, não se viam como negros, mas descendentes de indígenas que procuravam minimizar a presença de origem africana que literalmente “denegrissem”4 seu fenótipo “quase” branco. Já com minha família materna, baiana de origem, incontestavelmente negra, não costumávamos problematizar muito nossa identidade racial, eu me deparava com o conflito quando meu pai resolvia comentar comportamentos de minha avó considerados por ele não aceitáveis, e eu sempre ouvi com um soar de preconceito e discriminação. Também desde cedo me reconheci fenotipamente e originariamente indígena, quando ouvia de meus parentes de ambas as linhagens (materna e paterna) “sua bisavó foi pega no laço”. Ao longo de meu maturamento intelectual fui localizando estas narrativas, reunindo como sintomas as atitudes que poderiam se consideradas como repúdia, mas acabei por entender como vísceras de um povo que introjetou o racismo em seu próprio espelho. O conflito já está dado, entendi desde criança a diferença entre a branquetude mineira e a negritude baiana, infelizmente por maneiras bem sofridas. Também, Lins, levo o nome por um passado casamento de memórias afetuosas com Rinaldo Lins Barreto Filho, Abuhl Jr., de quem escolhi o nome da avó materna... a quem nutro respeito, admiração artística-profissional, profunda amizade e aprendizagens budistas. Ere, na capoeira, Nanã de família, geógrafa, bailarina em danças negras, arteducadora, pesquisadora engajada e implicada. Pretaíndia desaldeiada. Venho de uma família afroameríndia, residente em São Miguel Paulista, extremo leste da cidade de São Paulo, bairro que traz heranças históricas muito fortes de fundação indígena, em que 4 Enquanto para eles “denegrir” era considerado algo ruim, entre a família de minha mãe, reforçar a cor, o sotaque e os laços ancestrais significavam fortalecer-se a si mesmo. 8 nações de localizades circundantes realizavam encontros periódicos para celebração e trocas material-culturais. De entreposto ameríndio se tornou o primeiro vilarejo colonial em São Paulo quando a 25 de Janeiro de 1.554, Padre José de Anchieta chega a terras de Piratininga e funda a aldeia de São Paulo de Piratininga. Foi também entremeio de bandeirantes e de tropeiros rumo às minas, desde o século XVII este ativamente presente nos arranjados escravocratas da colônia e guarda memórias profundas de uma história não contada pelos livros de História. Tempos depois, entre 1930 e 1940, São Miguel recebeu infraestrutura urbana e industrial que o preparou a ser um dos primeiros bairros industriais de São Paulo, com a Nitro-Química Brasileira, com 2.700 trabalhadores veio também à primeira vila operária de São Paulo que contou com aporte populacional de migração nordestina desde então. Neste contexto vieram famílias baianas, cearenses, pernambucanas, piauienses, mineiras, nortistas, sertanejas e litorâneas... Enfim, se faz conhecida a Praça Padre Aleixo onde se encontrava a Igreja Matriz de São Miguel Arcanjo por “Praça do Forró” e chamaram de Nordestina uma das principais vias que ligam o centro do bairro à Guaianases, bairro irmão de fundação igualmente indígena. Com uma herança escravagista de povoamento que, através da mobilização de mão- de-obra negra (ameríndia e africana) fez surgir um bairro onde o termo Nordestino aparece como a valorização de uma memória marginalizada. Filha do encontro de famílias sertanejas, do norte da Bahia, Juazeiro, vieram meus avós maternos , o avô, com os irmãos no lombo do “jegue” de São Vicente a São Miguel, tornaram-se exímios alfaiates e costureiras, e também foram os primeiros operários da Nitro-Química e Light de São Paulo, geraram minha mãe já nesta terra, educadora das séries iniciais na rede municipal de São Paulo. Narravam histórias de passagens de Lampião e seu bando, assim como contavam que, também de mouros, os Martines vinham de famílias itinerantes e navegantes. Minha avó Oswaldina, de família Evangelista, que renomeou pretos açougueiros e roceiros, fala até hoje de sua infância em Senhor do Bonfim. Do norte de Minas Gerais, Rio Pardo de Minas, “Grande Sertão Veredas”, de onde veio meu pai com suas raízes de nação indígena renomeada por Novaes e de Montes Claros, os mouros Silveira, que de engraxate, promotor de vendas à quitandeiro, desenhista e poeta, acompanhava a produção de música negra (blues, 9 reggae, rock) estadunidense desde a adolescência em Montes Claros, hoje transporta trabalhadores da construção civil no Brasil afora. Sertanejos que, na busca por melhores condições de vida na magnífica metrópole de deterioração da vida cotidiana, tiveram de sobrepor memórias Tupinambá – o máximo que consegui chegar perto de minha tataravó materna foi ouvir: “Sua vó foi pega no laço” – e africanas – que o suposto sincretismo fez questão de abafar – por memórias do êxodo rural. Minhas memórias de infância oscilam entre momentos felizes na convivência com a família de minha mãe, fortemente mantida pela força feminina de minhas tias e avó negra baiana, quando meu tioavô Zé contava as peripécias de juventude com irmãos na beira do Rio São Francisco, das travessias pro Forró em Petrolina que era “do bom” e as passagens deixadas pelo Cangaço na memória coletiva do sertão da Bahia, os jogos do Corinthians com meu avô e tias nos domingos à tarde... E o resto do mundo, onde passava boa parte do tempo de minha vida e geralmente enfrentava os conflitos cotidianos de retaliação racial e social, assistia aos programas infantis e não me reconhecia entre aquelas imagens construídas, me perguntava o que me diferenciava de minhas amigas que eram mais parecidas com as princesinhas das histórias contadas. Até mesmo em vivências que tive com a família mineira, ainda na infância, sofri pelo racismo incutido de meus primos pretos, mestiços afrodescendentes e índios com traços do dominador também, e que, por terem na tonalidade de pele a melanina menos acentuada, se pensavam brancos e caçoavam de meus traços demasiadamente negróides. Minha avó Vadinha vai todos os anos com excursões organizadas pela comunidade na Vila Jacuí, entre os jovens há mais tempo, filho(a)s e neto(a)s, vão de ônibus à Bom Jesus da Lapa e Feira de Santana. Além de fazerem sua romaria aproveitam para reforçar suas memórias afetivas vividas e imaginadas na beira do Velho Chicão. Assim o chama minha avó, quando nos relata suas viagens e as conversas com o rio, com sua progressiva vazante por causa da transposição, chamada pelo povo de suas margens de imigração do rio. Ela me conta triste, quase chega a chorar ao demonstrar sua preocupação com a alma do rio e sua sequidão. Na zona leste, das tijupares às senzalas5, quilombos rurais a urbanos e às favelas e vilas 5 Nomes atribuídos aos conjuntos arquitetônicos reservados aos nativos escravizados, que ao longo do processo de declínio e encarecimento das bandeiras em busca da preia de cativos ameríndios foi sendo substituída pelo arranjo chamado de senzala a que foi atribuído no imaginário elitista e também popular 10

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