UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ ReitoR José Jackson Coelho Sampaio Vice-ReitoR Hidelbrando dos Santos Soares editoRa da Uece Erasmo Miessa Ruiz conselho editoRial Antônio Luciano Pontes Lucili Grangeiro Cortez Eduardo Diatahy Bezerra de Menezes Luiz Cruz Lima Emanuel Ângelo da Rocha Fragoso Manfredo Ramos Francisco Horácio da Silva Frota Marcelo Gurgel Carlos da Silva Francisco Josênio Camelo Parente Marcony Silva Cunha Gisafran Nazareno Mota Jucá Maria do Socorro Ferreira Osterne José Ferreira Nunes Maria Salete Bessa Jorge Liduina Farias Almeida da Costa Silvia Maria Nóbrega-Therrien conselho consUltiVo Antônio Torres Montenegro | UFPE Maria do Socorro Silva Aragão | UFC Eliane P. Zamith Brito | FGV Maria Lírida Callou de Araújo e Mendonça | UNIFOR Homero Santiago | USP Pierre Salama | Universidade de Paris VIII Ieda Maria Alves | USP Romeu Gomes | FIOCRUZ Manuel Domingos Neto | UFF Túlio Batista Franco | UFF Gisafran nazareno Mota Jucá alteMar da costa Muniz (orGanizadores) EntrE FrontEiras múltiplas abordagens em História Cultural 1a Edição Fortaleza - CE 2016 ENTRE FRONTEIRAS: múLTIpLAS AbORDAgENS Em HISTóRIA CULTURAL © 2016 Copyright by Gisafran Nazareno Mota Jucá e Altemar da Costa Muniz Impresso no Brasil / Printed in Brazil Efetuado depósito legal na Biblioteca Nacional TODOS OS DIREITOS RESERVADOS Editora da Universidade Estadual do Ceará – EdUECE Av. Dr. Silas Munguba, 1700 – Campus do Itaperi – Reitoria – Fortaleza – Ceará CEP: 60714-903 – Tel: (085) 3101-9893 www.uece.br/eduece – E-mail: [email protected] Editora filiada à Coordenação Editorial Erasmo Miessa Ruiz Imagem da Capa “Americae Pars Meridionalis”. Mapa antigo da América do Sul de 1636 elaborado por Johannes Janssonius gravada por seu parceiro de negócios Henricus Hondius. Diagramação Narcelio Lopes Revisão de Texto EdUECE Ficha Catalográfica Camila Gomes da Silva CRB/9- 1794 E61 Entre Fronteiras [livro eletrônico] : múltiplas abordagens em História Cultural / Gisafran Nazareno Mota Jucá, Altemar da Costa Muniz (orgs.). – Fortaleza: EdUECE, 2016. 391 p. ISBN: 978-85-7826-492-5 1. Civilização - História. I .Jucá, Gisafran Nazareno Mota. II. Muniz, Altemar da Costa. CDU (2. ed.): 930.85 pREFÁCIO gisafran Nazareno mota Jucá1 O Mestrado em História, (MAHIS), da nossa Universi- dade Estadual do Ceará, (UECE), na comemoração dos seus dez anos, pode ser considerado um curso ainda novo se o comparar- mos aos demais cursos de pós-graduação da região nordeste. O MAHIS é jovem como os seus alunos e a maioria do seu quadro docente. Essa não é uma classificação apenas discursiva, mas a expressão de um sentimento íntimo de um narrador bem mais antigo, um professor, cada vez mais aluno das lições de vida e trabalho dos seus colegas e alunos. No labirinto do tempo, diviso um tênue laço, que me prende à história do nosso curso de uma forma especial. Sem desmerecer as experiências vividas, em outros tempos e lugares - outras instituições de ensino, - Faculdade de Filosofia de Cajazei- ras-Pb, - onde dei meus primeiros passos, com continuidade nos Departamentos de História da Universidade Federal da Paraíba, (UFPB) e da Universidade Federal do Ceará, (UFC), um senti- mento saudoso, mas saudável, persiste, sobre o meu percurso na UECE. Só laços sentimentais o explicam. A Faculdade de Filosofia do Ceará, (FAFICE), onde me licenciei, foi uma continuidade da Antiga Faculdade Católica de 1 Professor Titular do Curso de História (CH) e do quadro docente do Mestrado Acadêmi- co em História, (MAHIS), do Centro de Humanidades da Universidade Estadual do Ceará (UECE) e Coordenador do Grupo de Pesquisa Oralidade, Cultura e Sociedade. Professor integrante da Pós-Graduação em Educação, da Universidade Federal do Ceará (UFC), na linha temática História da Educação Comparada. Filosofia, dos Irmãos Maristas, uma instituição encampada pelo governo estadual nos anos sessenta, do século passado; anos one- rosos para quem viveu naquele momento crítico da nossa histó- ria, após a “Gloriosa” de 1964. Em sua maioria, seu quadro do- cente provinha dos Maristas2: eram antigos professores do Liceu do Ceará e da Escola Normal, do Estado; mas, pouco a pouco, muitos professores do Colégio Militar foram ganhando espaço, nessa Faculdade, com o compromisso de “salvar a pátria”, pois o quadro docente constituía um campo especial desse compro- misso. Não havia ainda Curso de História na Federal, daí o re- conhecimento da tarefa pioneira da FAFICE, na formação de professores de história da rede pública e privada do Ceará. A pai- sagem era árida, mas nem tudo foi “tempo perdido”, se evocar- mos o compromisso de alguns de seus docentes, que deixaram um saldo positivo na formação de seus alunos. Como exemplo dessa marca profissional, sem esquecer outros nomes, como o de Eduardo Diatahy Bezerra de Menezes, do Curso de Filosofia, me vem à mente a ação de dois professores meus, rememorados numa dedicatória, quando do lançamento de um livro de minha autoria: “aos mestres, João Alfredo de Sousa Montenegro e Lui- za Teodoro, professores de “Filosofia da História” e “História da Arte”, na antiga Faculdade de Filosofia do estado do Ceará, FAFI- CE, agregada à Universidade Federal do Ceará, nos anos sessenta, anos não dourados que nos ensinaram a estudar história, em sua essência, pensando sobre o que foi dito e foi feito, para com- preensão da sua contínua mutabilidade.” (JUCÁ, 2014). Antes, eu já evocara o meu guia profissional, Manoel Sedrim de Castro Jucá, o “Professor Sedrim”, do Liceu do Ceará e de História An- 2 Essa Faculdade foi instalada pelos Irmãos Maristas, no prédio onde funcionava o Colé- gio Cearense, sendo a primeira “Faculdade de Filosofia” do Ceará. tiga, da “FAFICE, o “Ti Manéu da dispersa tribo dos jucás”, que em resposta a uma indagação minha, às vésperas do vestibular, me recomendou ingressar no Curso de História, ao invés de Le- tras, pois nessa rota profissional havia mais vagas. Após um longo percurso, quando da minha aposentado- ria na UFC, voltei ao velho aconchego, agora no Itaperi, muito mais do que uma FAFICE, a UECE institucionalizada e muito mais burocratizada. Mudaram os tempos, os títulos e os agentes da história. Em síntese, são “Novas Abordagens”, “Novos Ob- jetos,” “Novos Problemas” (LE GOFF e NORA,1976). Até o método dialético desenvolveu novos métodos, ao revelar novos objetos, “... exatamente como a forma se caracteriza na arte por desenvolver novas formas ao levar a novos conteúdos”. (BENJA- MIN, 1985; 2006) O “continuum” da história permanece vivo e os anseios de mudanças tornaram-se uma realidade cotidiana, quando da im- plantação do Mestrado Acadêmico em História (MAHIS), na nossa UECE. A princípio achei uma precipitação, dos meus ex – alunos e de uma carioca, recém-concursada, querer montar um Mestrado, numa instituição carente de recursos financeiros e de um espaço adequado, mas não me opus àquela ideia, tanto que fui escolhi- do como primeiro vice – coordenador do curso. Hoje o “valeu a pena” está explícito nos dados indicadores do seu histórico. O sal[do] positivo se revela, na história de vida de alguns dos nossos orientandos, cursando doutorado ou como professores de insti- tuições de ensino superior, aqui e em outros estados. As reminiscências, aqui evocadas, podem parecer evasi- vas e/ou narcisistas, mas as visualizo como reflexo de uma das oscilações do “pêndulo do tempo:” o ontem, o hoje e o amanhã. (ELIAS, 1998) Para quem se deixa enlevar pelo caudal da memó- ria, a memória individual só revela a sua razão de ser, quando se funde com a memória coletiva (HALBWACHS) e/ou se projeta numa memória social, com seus fluxos e refluxos. Portanto, as memórias individuais e coletivas, do nosso mestrado, demons- tram o valor de uma luta por um bem coletivo, algo raro na “Era do Vazio,” (LIPOVETSKY, 2009). É o resultado de uma inte- ração plural, que suplanta uma simples relação nominal de um agente “a” ou “b”, que tenha efetuado o milagre. As discordâncias e os dissabores representam o pano de fundo da tragédia cotidia- na, mas sem elas a história perde a sua aura. E esse valor fica evidente na expressão de um esforço co- mum, nas atividades cotidianas da nossa vida acadêmica, trans- parentes nas duas linhas temáticas ofertadas pelo nosso MAHIS: “Práticas Urbanas” e “Oralidade, Memória e Cultura Escrita.” Pouco se fez, mas muito se obteve com as práticas realizadas. Com o objetivo de abrir uma nova via de pesquisa, uma vez que a maioria dos cursos, que compõem a pós-graduação regional está voltada à história social ou mesmo política, o enlevo da história cultural cativou os membros do nosso quadro docente, embora na sua quase totalidade tenham cursado uma pós-graduação no campo da história social. E na abertura desse leque metodológico, uma nova linha temática, sobre a Cultura, a Ciência e a Natureza, está sendo montada. É mais uma janela, em busca de novas paisa- gens e de novos panos de fundo do palco histórico. Esse intento em querer dividir o campo da história, em diversas áreas, tem a sua validade, tendo em vista um maior mer- gulho em cada uma delas, mas no fundo é ilusória a tentativa de uma rígida divisão, entre as “várias histórias,” que se torna tão inócua quanto o enunciado e a prática da decantada interdisci- plinaridade. Tanto o mestrado quanto o doutorado, por mim cursa- dos na Universidade Federal de Pernambuco, (UFPE) e na Uni- versidade de São Paulo, (USP) me remeteram ao campo da histó- ria econômica e social, fortalecida pelo legado “marxiano” de uma infra e super estrutura. Só no estágio do pós-doutorado, sob a supervisão da Professora Sandra Pesavento, que cedo nos deixou, pude descobrir as proposições e revelações do campo salutar da história cultural. Embora o modelo da pós-graduação, elaborado pelo Mi- nistério da Educação e Cultura, (MEC), tenha sido orientado pelo modelo norte – americano, a pós-graduação em história, no Brasil, teve como seu marco inicial a experiência posta em práti- ca pela USP, na esteira dos historiadores franceses, dos Annales, como Braudel e outros pesquisadores convidados, como Claude Lévi-Strauss. E assim a relação de teses e dissertações não se res- tringiu apenas à história política, campo criticado pelos inovado- res franceses, favorecendo o surgimento do interesse pela história econômica e social. Com a expansão dos cursos de pós-gradua- ção nos anos oitenta, salvo raras exceções, a história cultural não constituía objeto prioritário de pesquisa dos historiadores. Só no final do século passado e em princípios deste, paulatinamente, a história cultural passou a ser cultivada e, como é costume, entre nós, “está na moda,” apesar dos protestos e críticas de represen- tantes de outras vias de estudo. As paisagens históricas passam a ser observadas no cam- po de uma “Nova história em perspectiva,” (NOVAIS e SILVA, 2011) com inúmeros desdobramentos e propostas, onde os An- nales continuam sendo evocados e o “retorno à narrativa” remete o pesquisador ao enlace entre “Antropologia, etnologia e história” e “o [novo] objetivo da interpretação é provocar perplexidade em face do real”. (NOVAIS e SILVA, 2013). A História Cultural ganha espaço, abrindo novas rotas e trazendo novos problemas, que motivam “a vez da antropologia histórica,” sem fugir a novas indagações: “um novo paradigma?” (BURKE, 2005); em síntese, são “mudanças epistemológicas: as estratégias do fazer História” ante “uma difusão mundial: a histó- ria sem fronteiras”. (PESAVENTO, 2005). A descoberta de uma “Herança Imaterial” (LEVI, 2000), numa trajetória do “... fio e [d]os rastros”(GINZBURG, 2007) revela “escalas, indícios e singularidades” da chamada micro-his- tória, (LIMA, 2006), deixando fluir “as sensibilidades na histó- ria” com suas “memórias singulares e identidades sociais.” (PESA- VENTO, 2007). Com a chamada “... humanização das Ciências Huma- nas,” (DOSSE, 2003), “entre certezas e inquietudes” (CHAR- TIER, 2002), “a história em migalhas” (DOSSE, 1992) descobre a força de um “poder simbólico” na busca de uma compreensão da “miséria do mundo.” (BOURDIEU, 2001; 2011). A “narrativa” toma fôlego, entre os novos historiadores, uma “narrativa” bem diferente daquela ditada pela “História de cola e tesoura” (COLLINGWOOD, s. d., p. 316-320). E uma demonstração da produção cultural do nosso MAHIS decorreu de uma iniciativa dos mestrandos deste ano, que apresentaram a proposta de organização de uma publicação especial com um artigo de cada um deles, relativo aos temas de suas dissertações. Os doze artigos elaborados constituem um leque com diferentes opções temáticas, no campo da história cultural e/ou social, na busca de uma resposta aos “desafios da escrita.” (CHARTIER, 2002). Os temas são múltiplos, de temporalidades diferencia- das e expressam a descoberta “[d]a cultura no plural”(CER- TEAU,1995) pelos seus autores. “Entre a Profecia e a Conversão,” José Lucas e seu orien- tador, Gleudson Passos Cardoso, estudam a representação literá- ria de uma “fonte islandesa medieval,” buscando “analisar uma parte da estética cristã no texto e o jogo da disputa no imaginário religioso contido na obra” estudada. Os demais temas constituem
Description: