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Entre borrões e cadáveres: os sermões de Dominga da Quaresma de antônio Vieira PDF

311 Pages·2009·1.83 MB·English
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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE LETRAS CLÁSSICAS E VERNÁCULAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LITERATURA PORTUGUESA RODRIGO GOMES DE OLIVEIRA PINTO Entre borrões e cadáveres: os sermões de Dominga da Quaresma de Antônio Vieira São Paulo 2009 2 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE LETRAS CLÁSSICAS E VERNÁCULAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LITERATURA PORTUGUESA Entre borrões e cadáveres: os sermões de Dominga da Quaresma de Antônio Vieira Rodrigo Gomes de Oliveira Pinto Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Literatura Portuguesa do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, para a obtenção do título de mestre. Orientadora: Profª. Drª. Adma Fadul Muhana São Paulo 2009 3 RESUMO Os sermões de Dominga de Quaresma do Padre Antônio Vieira interessam segundo as suas práticas contemporâneas de produção e recepção. Historicamente, foram preparados para circular de forma escrita e publicados dispersos pelos tomos da editio princeps do Sermões, entre 1679 e 1699. Editados, destinaram-se a um leitor em momento distante da pregação, que se constrói, porém, circunstancialmente na página. Para discutir esses sermões de Quaresma, são importantes as noções de ductus e eschematisménos lógos. A primeira é lida em Fortunaciano e Marciano Capela, sistematizada por Heinrich Lausberg e tratada por leitores de Vieira. A segunda procura iluminar as lições desses retores dito menores e embasar as leituras dos sermões a partir de passagens de outros textos, de outras doutrinas, de retores latinos e gregos, como Quintiliano, Demétrio, Hermógenes e, no século XV, Jorge de Trebizonda. PALAVRAS-CHAVE: Antônio Vieira; sermão; dominga de Quaresma; retórica; retores gregos e latinos. E-MAIL: [email protected] 4 ABSTRACT Sunday of Lent sermons by Father Antônio Vieira are of interest in conformity to their contemporary practices of production and reception. Historically, they had been composed to circulate in written form and to be published dispersed in the volumes of the editio princeps of the Sermões between 1679 and 1699. Nevertheless, from the moment they were printed they were direct to a reader who was, in a way, distant from the preaching, which is framed, even though circimstantially, in the pages. So as to discuss these Lent sermons, notions of ductus and eschematisménos lógos are fundamental. The former is read in Fortunatianus and Marcianus Capella, systematized by Heinrich Lausberg and debated by Vieira’s readers. The latter aims to cast light on the lessons of these so-called rhetores latini minoris and also to give foundation to the readings of the sermons from excerpts of other texts, other doctrines, and Greek and Latin rhetoricians, as Quintilian, Demetrius, Hermogenes and, in the fifteenth century, George of Trebizond. 5 AGRADECIMENTOS À Profª. Drª. Adma Fadul Muhana, paciente e arguta condutora, a quem devo a orientação e a confiança. Ao Prof. Dr. João Adolfo Hansen, sempre generoso, que as veredas rutila. Ao Prof. Dr. Leon Kossovitch e ao Prof. Dr. Marcos Martinho dos Santos, leitores implacáveis e atenciosos, de contribuições imensas no exame de qualificação. À Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela concessão da bolsa de estudos que permitiu a elaboração desta dissertação. Aos colegas de empreitada Flávio Reis, Marcelo Lachat e Alexandre Bonilha, amante das fragilidades. À Izabella Lombardi Garbellini, pela tradução italiana da Arte retórica de Fortunaciano. Aos professores das Letras Clássicas, de quem fica, desde a Graduação, o deslumbramento: Prof. Adriano Scatolin, Prof. Alexandre Pinheiro Hasegawa, Profª. Drª. Angélica Chiappetta, Profª. Drª. Elaine Cristine Sartorelli, Prof. Dr. João Angelo Oliva Neto, Prof. Dr. José Eduardo dos Santos Loher, Prof. Marcelo Vieira Fernandes, Prof. Dr. Paulo Martins. Ao Eduardo, ao Ivan, ao Diego, parceiros de todas as horas. Aos meus pais, a quem devo tudo. À Priscila, dedirósea, meus amor supra omnem amorem est. 6 “O resto é mar” 7 SUMÁRIO Prólogo ............................................................................................................................. 8 Da página ao púlpito ....................................................................................................... 11 Borrões e cadáveres .................................................................................................... 13 As palavras e as estrelas .............................................................................................. 31 O momento oportuno .................................................................................................. 47 Sobre o ductus ................................................................................................................ 57 Segundo a Ars rhetorica de Fortunaciano .................................................................. 61 Segundo o De nuptiis Philologiae et Mercurii de Marciano Capela .......................... 69 Ductus ex consilio nascitur ......................................................................................... 77 §sxhmatism°now lÒgow ........................................................................................... 84 Segundo os Rhetoricorum libri V de Jorge de Trebizonda ......................................... 98 Os remédios da alma..................................................................................................... 103 A dominga das tentações .......................................................................................... 104 A peçonha e a triaga .................................................................................................. 131 A jornada romana ...................................................................................................... 146 A dominga das mentiras ........................................................................................... 159 Outra segunda ........................................................................................................... 184 O demônio mudo ...................................................................................................... 197 Alegoria do ausente .................................................................................................. 210 Conselho, conselhos .................................................................................................. 225 Os remédios do corpo ............................................................................................... 241 Quare non creditis in me? ......................................................................................... 254 A dominga das verdades ........................................................................................... 273 A dominga derradeira ............................................................................................... 284 Epílogo ......................................................................................................................... 296 Referências bibliográficas ............................................................................................ 298 8 PRÓLOGO Este trabalho mira os sermões de Dominga de Quaresma do Padre Antônio Vieira; desvia-se, é certo, por lições de retores gregos e latinos, no entanto, espera não perder o fio. Dos sermões, essa parte, arbitrária como há de ser, conta apenas uma dúzia, que se recolhe entre os tantos que a obra parenética do jesuíta, tal como estampada na editio princeps, dá a conhecer. É essa dúzia tudo o que de Dominga de Quaresma resta. Está dispersa entre os doze tomos dos Sermões que Vieira ideou e formou para publicação, impressos, como é sabido, entre 1679 e 16991. O leitor, atravessando esses tomos, isto achará: (t. I, 1679) “Sermão da Terceira Dominga da Quaresma”; (t. II, 1682) “Sermão da Primeira Dominga da Quaresma”, “Sermão da Quinta Dominga da Quaresma”; (t. III, 1683) “Sermão da Quarta Dominga da Quaresma”; (t. IV, 1685) “Sermão da Segunda Dominga da Quaresma”, “Sermão da Quinta Dominga da Quaresma”; (t. V, 1689) “Sermão da Segunda Dominga da Quaresma”; (t. VII, 1692) “Sermão da Primeira Dominga da Quaresma”; (t. XI, 1696) “Sermão da Quinta Dominga da Quaresma”; (t. XII, 1699) “Sermão da Primeira Dominga da Quaresma”, “Sermão da Quarta Dominga da Quaresma”, “Sermão da Quarta Dominga da Quaresma”. Contam-se, assim, os sermões, indicados pela data de impressão. A indicação é proposital, entrevê a estampa, pensa os textos escritos, cada um, como se verá, 1 Esmiúça Margarida Vieira Mendes o caso: Os Sermoens, estampados entre 1679 e 1699, têm doze tomos, reunindo 182 sermões; considerou-se o t. XIII a obra Palavra de Deus Empenhada e Desempenhada, de 1690; os t. XIV e XV, de 1710 e 1748, respectivamente, são póstumos e recolhem textos acabados e inacabados; cf. MENDES, M. V. A oratória barroca de Vieira. Lisboa: Editorial Caminho, 1989, p. 301. Recorde-se que formados pelo jesuíta para estampa, como planificado e informado ao leitor no volume que veio a público em 1679. Observe-se: “O nome de Primeira parte, com sai este Tomo, promete outras. Se me perguntas quantas serão? Só te pode responder com certeza o Autor da vida. Se esta durar à proporção da matéria, a que se acha nos meus papéis, bastante é formar doze desta mesma, e ainda maior estatura”; VIEIRA, A. Sermoens do P. Antonio Vieira da Companhia de Iesu, Pregador de Sua Alteza. Primeyra parte dedicada ao Príncipe, N. S. Em Lisboa: na officina de Joam da Costa, 1679, p. [7]. 9 particularizado nos vários tomos pela rubrica, que circunstancia os sermões, fazendo-os letra que forja a voz, em página que forja o púlpito. Pretende-se, pois, tomá-los como os formou o jesuíta para que fossem lidos. Foram escolhidos sermões da Quaresma pela importância que esse período tem para o jesuíta, visto momento de purificação da alma e tempo privilegiado para que os cristãos “examinem mais autenticamente quais são os vícios, quais são as doenças, quais são as feridas a que se deve aplicar tratamento mais austero”2, por meio da prática da virtude, da contrição, da penitência e do perdão, para a celebração digna e intensa do mistério pascal de Cristo, segundo a liturgia. Ou nas palavras de Vieira, no “Sermão da Sexagésima”: “o tempo em que principalmente se semeia a palavra de Deus na Igreja, e em que ela se arma contra os vícios”3. Foram selecionados os sermões de Dominga de Quaresma pela imbricação doutrinária que deixam ler. Isso posto, este trabalho, de início, traz à discussão questões relativas à produção e à recepção histórica da obra parenética de Vieira, as quais intentam não deixar desvanecer a preparação escrita dos textos, amiúde obnubilada pelo púlpito e a actio do pregador. Por conta disso, procurou-se recordar a redação dos sermões para estampa, algo que as cartas do jesuíta a destinatários vários informam, de modo a evidenciar a distância entre o púlpito e a página, destinada a uma recepção em momento distante da pregação, circunstancialmente encenada no texto, e que faz outros os remédios do jesuíta. Depois, vêm à discussão as noções de ductus e §sxhmatism°now lÒgow, eschematisménos lógos. A primeira é lida em Fortunaciano e Marciano Capela, cujas doutrinas sistematizou Heinrich Lausberg, e ainda tratada por leitores de Vieira, em 2 Cf. LEÃO MAGNO. “Sexto Sermão Sobre a Quaresma”, in: Sermões. Organização, introdução e notas explicativas de Roque Frangiotti. São Paulo: Paulus, 1996, p. 90. Os sermões XXXIX, XL, XLI, XLII, XLIII, XLIV, XLV, XLVI, XLVII, XLVIII, XLIX, L, incluídos nessa edição, tematizam a Quaresma. 3 VIEIRA, A. Sermoens (edição fac-similar), t. I, p. 85. 10 especial, Margarida Vieira Mendes e João Adolfo Hansen, que servem de estopim para o que aqui se propõe, a análise dos referidos sermões de Dominga de Quaresma. A segunda é decorrente das tentativas de trabalhar as lições desses retores dito menores e busca embasar as leituras desses sermões a partir de passagens de outros textos, de outras doutrinas, de retores latinos e gregos, em particular Quintiliano, Demétrio, Hermógenes, que podem iluminar o que propõem Fortunaciano e Capela sobre uma noção dita incomum, a que se dedicou também Jorge de Trebizonda, que a sistematizou no transcorrer do século XV. Então, à luz dessas lições, propõe-se discutir a dúzia de sermões de Quaresma indicada. Dos discursos acerca deles aqui redigidos, tanto mais breves, tanto mais longos, quanto necessário. De fato, o propósito da porção final deste trabalho é operar analiticamente as diversas noções que os retores citados preceituam, de modo a perceber como se atualizam em Vieira. Por fim, vai o que deixa Dostoiévski ao leitor em Os irmãos Karámazov, nas palavras do tradutor Paulo Bezerra: “Bem, eis todo o prólogo. Concordo plenamente que isso é excessivo, mas como já está escrito, que fique”.

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