Ensaios sobre a Antropologia da alimentação: saberes, dinâmicas e patrimônios Ellen Woortmann e Julie A. Cavignac (organizadoras) UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ASSOCIAçãO BRASILEIRA DE ANTROpOLOGIA Reitora Coordenador: Antonio Carlos Motta de Lima (UFPE) Ângela Maria Paiva Cruz Vice-Coordenadora: Jane Felipe Beltrão (UFPA) Vice-Reitor Patrice Schuch (UFRGS) José Daniel Diniz Melo Thereza Cristina Cardoso Menezes (UFRRJ) Diretoria Administrativa da EDUFRN Luis Álvaro Sgadari Passeggi (Diretor) Conselho editorial Wilson Fernandes de Araújo Filho (Diretor Adjunto) Judithe da Costa Leite Albuquerque (Secretária) Andrea Zhouri (UFMG) Antonio Augusto Arantes Neto(UNICAMP) Conselho Editoral Luis Álvaro Sgadari Passeggi (Presidente) Carla Costa Teixeira (UnB) Ana Karla Pessoa Peixoto Bezerra Carlos Guilherme Octaviano Valle (UFRN) Anna Emanuella Nelson dos S. C. da Rocha Anne Cristine da Silva Dantas Cristiana Bastos (ICS/Universidade de Lisboa) Christianne Medeiros Cavalcante Cynthia Andersen Sarti (UNIFESP) Edna Maria Rangel de Sá Fábio Mura (UFPB) Eliane Marinho Soriano Fábio Resende de Araújo Jorge Eremites de Oliveira (UFPel) Francisco Dutra de Macedo Filho Maria Luiza Garnelo Pereira (Fiocruz/AM) Francisco Wildson Confessor George Dantas de Azevedo María Gabriela Lugones (Córdoba/ Argentina) Maria Aniolly Queiroz Maia Maristela de Paula Andrade (UFMA) Maria da Conceição F. B. S. Passeggi Maurício Roberto Campelo de Macedo Mónica Lourdes Franch Gutiérrez (UFPB) Nedja Suely Fernandes Patrícia Melo Sampaio (UFAM) Paulo Ricardo Porfírio do Nascimento Ruben George Oliven (UFRGS) Paulo Roberto Medeiros de Azevedo Regina Simon da Silva Wilson Trajano Filho (UnB) Richardson Naves Leão Rosires Magali Bezerra de Barros Diretoria Tânia Maria de Araújo Lima Tarcísio Gomes Filho Presidente: Antonio Carlos de Souza Lima (MN/UFRJ) Teodora de Araújo Alves Vice-Presidente: Jane Felipe Beltrão (UFPA) Editoração Secretário Geral: Sergio Ricardo Rodrigues Castilho (UFF) Kamyla Alvares (editora) Secretária Adjunta: Paula Mendes Lacerda (UERJ) Alva Medeiros da Costa (supervisora editorial) Tesoureira Geral: Andrea de Souza Lobo (UnB) Natália Melão (colaboradora) Emily Lima (colaboradora) Tesoureira Adjunta: Patricia Silva Osorio (UFMT) Diretora: Carla Costa Teixeira (UnB) Revisão Wildson Confessor (coordenador) Diretor: Carlos Guilherme Octaviano do Valle (UFRN) Márcio Xavier Simões (revisor) Diretor: Julio Assis Simões (USP) Design Editorial Diretora: Patrice Schuch (UFRGS) Michele de Oliveira Mourão Holanda (coordenadora) Márcio Xavier Simões (miolo e capa) Coordenadoria de Serviços Técnicos Catalogação da Publicação na Fonte. Ufrn / Biblioteca Central Zila Mamede Ensaios sobre a antropologia da alimentação [recurso eletrônico]: saberes, dinâmicas e patrimônios / organizadoras Ellen Woortmann, Julie A. Cavignac. – Natal, RN: EDUFRN, 2016. PDF; 12 MB 553 p.: il. Modo de acesso: <www.edufrn.ufrn.br> Vários autores ISBN 978-85-425-0676-1 1. Antropologia nutricional. 2. Alimentos – Aspectos sociais. 3. Hábitos alimentares. I. Woortmann, Ellen. II. Cavignac, Julie A. CDD 306.4 RN/UF/BCZM 2016/87 CDU 392.81 Associação Brasileira de Antropologia – ABA Universidade de Brasília – Campus Universitário Darcy Ribeiro – Asa Norte Prédio do ICS – Instituto de Ciências Sociais Térreo – Sala AT-41/29 – Brasília/DF – CEP: 70910-900 Caixa Postal 04491 – Brasília/DF – CEP: 70904-970 Original aprovado pelo conselho Editorial da UFRN, 2016. Ensaios sobre a Antropologia da alimentação: saberes, dinâmicas e patrimônios Ellen Woortmann e Julie A. Cavignac (organizadoras) Sumário 09 | Apresentação | Ellen Woortmann e Julie Cavignac 15 | Introdução | Esther Katz parte 1 | Alimentação, patrimônio e dinâmicas sociais 33 | Jean-Pierre Poulain | A gastronomização das cozinhas locais 57 | Ellen Woortmann | Memória alimentar: prescrições e proscrições 91 | Julie Cavignac, Danycelle Silva, Maria Isabel Dantas, Muirakytan K. de Macêdo | O Seridó nas panelas: história, organização social e sistema alimentar 183 | May Waddington Telles Ribeiro | Da embriaguez à sobriedade: a história da cajuína e a modernização do Piauí parte 2 | Sabores étnicos 243 | Evander Eloí Krone, Renata Menasche | Comida, festa e patrimônio cultural no mundo rural pomerano: a construção da pomeraneidade ao Sul do Brasil 283 | Carlos Alexandre B. Plínio dos Santos | Festejo e comensalidade: a festa de São Pedro dos Negros do Largo da Baía 323 | Aderval Costa Filho | Saberes, memória, práticas alimentares e reprodução social da diferença no quilombo do Gurutuba-MG 347 | José Glebson Vieira | Cachaça, consumo e sociabilidades alargadas entre os Potiguara da Paraíba parte 3 | produtos e mercados 381 | Jorge Freitas Branco | O vinho do padre Vale: incursões contemporâneas em vinho Madeira 409 | Maria José Carneiro | Melhor pra cabeça do que para o bolso: o significado do suco de maçã para os camponeses dos Alpes franceses 437 | Patrícia Alves Ramiro | A reinvenção do rural pelo turismo: o caso dos gîtes rurais 493 | Marie France Garcia Parpet | Patrimonialização de produtos alimentícios na França: construções simbólicas e reinvenção do passado 545 | Sobre os autores 7 8 Apresentação Ellen Woortmann (UnB) Julie Cavignac (UFRN) J’ay la complexion du corps libre, et le goust commun, au- tant qu’homme du monde: la diversité des façons d’une na- tion à autre, ne me touche que par le plaisir de la varieté. Cha- que usage a sa raison. Soyent des assietes d’estain, de bois, de terre: bouilly ou rosty; beurre, ou huyle, de noix ou d’olive, chaut ou froit, tout m’est un. Et si un, que vieillissant, j’accuse ceste genereuse faculté: et auroy besoin que la delicatesse et le choix, arrestast l’indiscretion de mon appetit, et par fois sou- lageast mon estomach. Quand j’ay esté ailleurs qu’en France: et que, pour me faire courtoisie, on m’a demandé, si je vouloy estre servi à la Françoise, je m’en suis mocqué, et me suis tou- sjours jetté aux tables les plus espesses d’estrangers. Michel de Montaigne, Les Essais, livre III, chapitre IX, 1581. 1 “Tenho a compleição física livre e o paladar comum, como homem do mundo. A diversidade de usos de uma nação para outra não me afeta, a não ser pelo prazer da variedade. Cada uso tem sua razão. Seja pratos de estanho, de madeira, de bar- ro, cozido ou assado, manteiga ou óleo de nozes ou de oliva, quente ou frio, tudo me é indiferente, e tão indiferente que, envelhecendo, reprovo essa generosa faculdade e precisaria que o refinamento e a preferência detivessem a falta de mode- ração de meu apetite e às vezes dessem alívio a meu estômago. Quando estive alhures que não em França e que, para serem corteses comigo, perguntaram-me se queria ser servido à francesa, recusei e sempre me atirei às mesas mais copiosas de estrangeiros.” Michel de Montaigne. Os Ensaios, Livro III, cap. 9, São Paulo: Martins Fontes, 2001, p. 301 (Tradução: Ro- semary C. Abílio). 9 A alimentação é um tema antropológico por excelên- cia: universal e particular ao mesmo tempo, é a prática experimentada cotidiana e ritualmente por todos os ho- mens; para viver, os seres humanos, independentemen- te das suas diferenças morfológicas ou etárias, precisam se alimentar. Mas, antes de tudo, é um ato social e cultu- ral alicerçado em significados que agrega pessoas, ritma o cotidiano, marca os momentos festivos, requer conhe- cimentos técnicos para a preparação das receitas e cui- dados para a manipulação e o cozimento dos alimentos. Montaigne, que ao seu modo, foi um dos primeiros a se destacar ao fazer uma observação participante dos modos à mesa, se mostra entusiasta ao provar novos sa- bores. Já chamava atenção para a importância da des- coberta gustativa que revela especificidades culturais e modos de vida. Gourmet, ele descobre os países que vi- sita sentando-se à mesa dos seus anfitriões e provando pratos desconhecidos. De fato, a produção e a transformação das matérias- -primas em alimentos é marcada pela diversidade e an- corada no meio ambiente: há uma variação quase infini- ta nos ingredientes utilizados nos preparos, nas técnicas de corte ou de cozimento, no uso de condimentos etc., o que torna a comida um dos principais marcadores de diferenças sociais e culturais. Comer e beber são atos so- ciais que produzem modelos identitários contrastados, revelam desigualdades ou reforçam laços sociais; impli- 10
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