íL".,)1,.::;p)<,\..'" .." ~,~ Estes Escritos sobre Goethe dão início à 4'd.t'",,,,t J"~"i. •••G.",e-...1~1""~"'~I ~1w- publicação, pela Coleção Espírito Crítico, dos "'''''fj!'J<"trfJIIJ.IL rJi>fr'rl.··/I."/f,::v ;:;''l+tI.." Ik *TJll.~' ensaios mais importantes de Walter Benjamin """'"SJl.-.•.".ft..:::.....CJ~t.I.""rJ"f-j-'''' u-L.-i.rr-r/n·.-j(-J-1-.4(~ :.J.J .••. ",~W<i""" f!!:'~-~..tw';.w (1892-1940). O presente volume écomposto &'?Jm,JJa..'JJrWfv.,~Jfjf..J.fi.'~j..;Jr~~p;.";ft., P•·•f•·..·n.',-;.f;i)/vy.".e«~.',~1J-ww,1f.'b•I.'•;.. "t", .No"', ~..-;"j.., ·~4---:Z:/'>I 'õ:2. pelos textos "Asafinidades efetivasde Goethe" "'1H':if' r'f"! ,J'r"Afl·fi•.~""""'..fo.'.$(..!JJJ,.,;-••J; (1922) e "Goethe" (1928). Este último, redi rrJi.•f••ic/Ol.tf«.,""""'"j'1',fJ.rt.,r,',,4,, '<-,4M-...f<l(!,h'hjIl 'pfJ..1..:J.rf:<.a-.z;:"~"".;~,1,),.1'\ gido sob encomenda para uma enciclopédia, fJ1-" P1;.r.J r-::' ~; ..J..u~ __ ",.JU. C··· .. , mas sópublicado na íntegra após asuamorte, "F'!'rI.Í.Iwo.J/(i.,.~."tl."J1luIt.J.!JJ1.,·''.'.*.r.W' .,')",y.aJ_:":JfffJ-"v'-.w.J k.;~ traça um perfil abrangente da vida e da obra ~~.,t...A ..:f1;.;''''fIJJ'!t.Jt.J, """'" "'" do grande poeta alemão, relacionando-as às ~"';i,;~j", •••.•,.;,+,-1*+.1'r.t,J';J)v;"r'ri.'.-~0~f•f.tv.-",~""o,~o/..?j..JiAz "'j<hJr:-f.;.v:, '" .;-~tt,-I<>Jr~yr..J<- circunstâncias da história europeia. Inédito no Brasil, o primeiro ensaio, de dicado àleitura do romance As afinidades efe tivas (1809), obra da maturidade de Goethe, éuma indagação de longo alcance sobre ana tureza da obra de arte, a tarefa da crítica e da interpretação. Partindo da distinção decisiva entre "teor factual" e "teor de verdade", cons titui um dos exemplos mais finos da arte re flexivade Benjamin, tendo setornado referên cia indispensável para a teoria da literatura e a crítica de arte de modo geral. BSP 809 lnl Livraril editora.34 lnl Duas" LIV B468e 1111111111111111111 ISBN 978-85-7326-431-9 25187 ISBN 978-85· O I JPírito Crítico Duas Cidades 9"78J 11~~!~~11 9"788573"264319 Editora 34 Walter Benjamin Coleção Espírito Crítico ENSAIOS REUNIDOS: Conselho editorial: ESCRITOS SOBRE GOETHE Alfredo Bosi Antonio Candido Augusto Massi Tradução DaviArrigucci Jr. Mônica Krausz Bornebusch, Irene Aron eSidney Camargo Flora Süssekind Gilda deMello eSouza Supervisão enotas Roberto Schwarz Nlarcus Vinicius Mazzari rnJ Livraria rnJ Duas Cidades editora.34 Livraria Duas Cidades Lrda. Rua Bento Freitas, 158 Centro CEP 01220-000 SãoPaulo -SP Brasil [email protected] índice Editora 34 Ltda. Rua Hungria, 592 Jardim Europa CEP 01455-000 SãoPaulo -SP Brasil TellFax (lI) 3816-6777 www.editora34.com.br Copyright © Editora 34 Ltda. (edição brasileira), 2009 WalterBenjamin GesammelteSehriften © Suhrkamp Verlag, Frankfurt a.M., 1977 Afotocópia de qualquer folha deste livro éilegal econfigura uma apropriação indevida dos direitos intelectuais epatrimoniais do autor. Nota àpresente edição . 7 Atradução desta obra contou com oapoio do Goethe-Institut, que épatrocinado pelo Ministério dasRelações Exteriores daAlemanha. 1.As afinidades eletivas de Goethe . 11 Capa, projeto gráfico eeditoração eletrônica: 2. Goethe . 123 Braeher&Malta ProduçãoGrdfiea Revisão: Sobre ostextos . 179 Sobre oautor . 181 CidePiquet, Fernanda Diamant 1aEdição -2009 CIP -Brasil. Catalogação-na-Fonte (Sindicato Nacional dos Editores deLivros, RJ,Brasil) Benjamin, Waltet, 1892-1940 B468e Ensaios reunidos: escritos sobre Goethe; tradução deMônica Krausz Bornebusch, Irene Aron e Sidney Camargo; supervisão enotas deMarcus Vinicius Mazzati. SãoPaulo: Duas Cidades; Ed. 34, 2009. 192p. (Coleção Espítito Ctítico) ISBN 978-85-23500-42-9 (Duas Cidades) ISBN 978-85-7326-431-9 (Editota 34) 1.Goethe, Johann Wolfgang von, 1749-1832. 2.Literatura alemã -História ecrítica. I.Bornebusch, Mônica Ktausz. 11.Aron, !tene. m.Camatgo, Sidney. IV.Mazzari, Marcus Vinicius. V.Título. VI. Série. CDD -834. Nota à presente edição Este volume, que reúne osdois principais textos de Walter Benjamin acerca de J. W. Goethe, é publicado no ano em que se comemoram duzentos anos da primeira edição de As afini dades eletivas, e se insere no quadro mais amplo da publicação dos ensaios fundamentais de Benjamin, aserrealizada dentro da Coleção Espírito Crítico. A tradução tomou por base a edição dos escritos comple tos deWalter Benjamin (GesammelteSehriften), da editora Suhr l kamp, realizada sob a direção de Theodor W. Adorno e Ger shom Scholem, eestabelecida por RolfTiedemann eHermann I Schweppenhauser. ~ I ~fj1 I t~ If 7 As afinidades eletivas de Goethe DedicadoaJula Cohn1 "Aquem elegeàscegas,fumaça do sacrifício golpeia-lhe Nos olhos." Klopstock2 Abibliografia disponível sobre criações literárias sugere que oprocedimento minucioso em tais investigações deve sermobi lizado mais em função de um interesse filológico do que crítico. Por isso, a interpretação que sesegue do romance As afinidades eletivas, interpretação minuciosa também nos seus elementos particulares, poderia facilmente induzir a um equívoco quanto 1Aescultora berlinense Jula Cohn (1894-1981) erairmã deAlfred Cohn, um dos amigos mais íntimos de Benjamin. Em 1926 elaesculpiu um busto do ctítico, queseperdeu durante aguerra (masdoqual existemduasfotografias). Em 1921, passou um período como hóspede deWalter Benjamin esuamulher Dora, durante oqual criou-se uma situação erótico-afetiva que Gershom Scholem des creveu como análoga àapresentada por Goethe no romance Asafinidadeseletivas. (N. da E.) 2 "Wer blind wahlet, dem schlagtOpfirdampf! In dieAugen", no original. Benjamin tomou estesversos àsegunda estrofe do poema "Asgraças", de Fried- 11 As afinidades eletivas de Goethe Ensaios reunidos: escritos sobre Goethe o teor de verdade, que inicialmente se encontravam unidos na àintenção com que seapresenta. Ela poderia aparecer como co mentário; todavia, foi concebida como crítica. A crítica busca o obra, separam-se na medida em que elavaiperdurando, uma vez teor de verdade de uma obra de arte; o comentário, o seu teor que este último sempre se mantém oculto, enquanto aquele se factual.3 A relação entre ambos determina aquela lei fundamen coloca em primeiro plano. Consequentemente, torna-se cada vez mais uma condição prévia para todo crítico vindouro ainterpre tal da escrita literária segundo a qual, quanto mais significativo for o teor de verdade de uma obra, de maneira tanto mais ina tação do teor factual, isto é, daquilo que chama aatenção ecau saestranheza. Pode-se comparar essecrítico aopaleógrafo peran parente eÍntima estará eleligado ao seu teor factual. Se, em con te um pergaminho cujo texto desbotado recobre-se com os tra sequência disso, as obras que se revelam duradouras são justa I çosde uma escrita mais visível,que serefere ao próprio texto. Do mente aquelas cuja verdade está profundamente incrustada em mesmo modo como o paleógrafo deveria começar pela leitura seu teor factual, então os dados do real4na obra apresentam-se, desta última, também o crítico deveria fazê-Io pelo comentário. no transcurso dessa duração, tanto mais nítidos aos olhos do E inesperadamente surge-lhe daí um inestimável critério de seu observador quanto mais sevão extinguindo no mundo. Mas com isso, eem consonância com asua manifestação, o teor factual e julgamento: só agora ele pode formular a pergunta crítica fun damental, ou seja, seaaparência5 do teor de verdade sedeve ao teor factual ou seavida do teor factual sedeve ao teor de verda de. Pois na medida em que sedissociam na obra, eles tomam a rich Gottlieb Klopstock (1724-1803). O verbo "eleger" (wiihlen) remete aotítu decisão sobre aimortalidade da mesma. Nesse sentido, ahistó lodo romance (literalmente: "AI; afinidades de eleição") eéde fundamental im ria das obras prepara asua crítica e, em consequência, a distân portância nainterpretação deBenjamin. Observe-se, contudo, que emváriosmo cia histórica aumenta o seu poder. Se, por força de um sÍmile, mentos da tradução, wiihlen,assim como osubstantivo Wahl, aparecem não co mo "eleger" e"eleição", mas sim como "escolher" e"escolha", como, por exem quiser-se contemplar aobra em expansão como uma fogueira em plo, na observação de Benjamin de que "toda escolha, considerada apartir do chamas vívidas, pode-se dizer então que ocomentador seencon destino, é'cega' econduz, cegamente, àdesgraça". (N. da E.) tra diante dela como o químico, eocrítico semelhantemente ao 3Os termos "teor deverdade" e"teor factual" correspondem no original a alquimista. Onde para aquele apenas madeira e cinzas restam WahrheitsgehalteSachgehalt.O substantivo masculino Gehaltpode sertraduzido como objetos de sua análise, para este tão somente a própria também por "conteúdo", mas este corresponde mais propriamente aInhalt, o conteúdo objetivo - assunto, argumento, acontecimentos - de uma obra lite rária. Gehalt,por suavez,conota também avisãodemundo ou osvalores envol 5 Empregado inúmeras vezesao longo deste ensaio, otermo "aparência" vidos na obra, razão pela qual optou-se aqui por "teor". Contudo, quando em corresponde no original aSchein, substantivo masculino que também significa pregado no plural ou em outros contextos, Gehalt foi traduzido também como "brilho". Do mesmo modo, overbo scheinenpode sertraduzido tanto por "pare "conteúdo". (N. da E.) cer"ou"aparentar", quanto por "brilhar", "reluzir".Aocampo semântico deSchein pertence, portanto, não sóaconotação negativa de "ilusão, aparência enganosa", 4Aexpressão "dados do real"corresponde no original aosubstantivo plu mas também ade manifestação sensível,fenomênica, relacionada aErscheinung, ralRealien,conhecimentos objetivos, "fatos" ou "coisas"da realidade incorpora dos àobra dearte. (N. daE.) isto é,"aparição" (phainomenon, emgrego). (N. da E.) 12 13 Ensaios reunidos: escritos sobre Goethe As afinidades efetivas de Goethe chama preserva um enigma: o enigma daquilo que está vivo. floresta desfolhada do real, iniciava-se aprocura goethiana pelas Assim, o crítico levanta indagações quanto à verdade cuja cha sementes do eterno crescimento. Essa procura foi ao encontro ma viva continua aarder sobre aspesadas achas do que foi eso daquela tendência do Classicismo que procurava apreender, não bre aleve cinza do vivenciado. tanto o ético eo histórico, mas antes o mítico eo filológico. O Para opoeta, assim como para o público de sua época, não seu pensamento direcionava-se, não para asideias em devir, mas ébem aexistência, mas, na verdade, o significado dos dados do sim para os conteúdos configurados, da maneira como vida e real na obra que irá manter-se sempre oculto. Uma vez, no en linguagem os preservavam. Depois de Herder e Schiller, foram I tanto, que o eterno da obra se destaca apenas por sobre o fun Goethe eWilhelm von Humboldt que assumiram a liderança. damento dessesdados, toda crítica contemporânea, por mais ele Seoteor factual renovado, que vigorava nas criações literárias do vada que possa estar, abarca na obra mais a verdade em movi velho Goethe, escapava aosseuscontemporâneos na medida em mento do que a verdade em repouso, mais a atuação temporal que esseteor não seenfatizava asipróprio, como no Divã,7 isso do que o ser eterno. Ora, por mais valiosos que os dados do real acontecia porque até mesmo a procura por um tal teor lhes era possam ser para ainterpretação da obra, seria quase desnecessá estranha, muito ao contrário do fenômeno correspondente na rio dizer que aprodução goethiana não sedeixa examinar como Antiguidade. a de um Píndaro. Pelo contrário: certamente jamais houve um 1 tempo que, como o de Goethe, tenha estranhado tanto a ideia Por mais nítidas que a intuição do conteúdo ou a percep de que os conteúdos mais essenciais da existência pudessem se ção do fato fossem para os espíritos mais elevados do Iluminis configurar no mundo das coisas e que, sem uma tal configura mo, mesmo estes semostraram incapazes de seelevar à contem ção, sequer poderiam realizar-se. A obra crítica de Kant ea Obra plação do teor factual, o que setorna forçosamente evidente em elementar de Basedow,6 uma dedicada ao sentido, aoutra à con relação ao casamento. Entendido este como uma das configura templação da experiência daquele tempo, dão testemunho de çõesmais rigorosas eobjetivas do conteúdo da vida humana, nas maneira bem diversa, porém igualmente concludente, da preca Afinidades eletivas de Goethe pela primeira vezseexpressa anova riedade dos conteúdos factuais de então. Nesse traço determi visão do poeta voltada para acontemplação sintética dos conteú nante do Iluminismo alemão - quando não do Iluminismo dos faetuais. Adefinição kantiana do casamento naMetaftsiea dos europeu em geral - pode ser avistada, por um lado, uma pre condição imprescindível da obra kantiana e, por outro, da pro 7 West-ostlicher Divan (Divã do Ocidente edo Oriente), omaisextenso ciclo dução goethiana. Pois exatamente na época em que a obra de depoemas deGoethe, redigido principalmente entre junho de 1814eoutubro de Kant estava concluída e, assim, traçado o itinerário através da 1815 epublicado em 1819. O ciclo reflete ointenso contato de Goethe com a poesia oriental, emespecial opoeta persaHafiz (1326-1390), mestre incompará veldo "gazel" ecaracterizado até hoje pelos iranianos como "língua do mundo 6Johann Bernhard Basedow (1724-1790), pedagogo alemão cujasteorias, invisível". No idioma persa, "Divã" significacoleçãoou coletânea depoemas, em muito apreciadas por Goethe, revelam forte influência de Rousseau. (N. daE.) geralorganizados emordem alfabética. (N. da E.) 14 15 Ensaios reunidos: escritos sobre Goethe As afinidades efetivas de Goethe costumes,8 lembrada muitas vezesunicamente como exemplo de refutabilidade - e é a essa conclusão que inesperadamente se clichê rigoroso ou enquanto curiosidade da fase tardia esenil, é chega no pensamento de Kant. Apenas isso é, pois, o decisivo: o produto mais elevado de uma ratio que, permanecendo fiel a que oseuconteúdo jamais secomporta em relação aofato de ma si mesma de modo incoercível, penetra de forma infinitamente neira derivável, mas deve ser apreendido antes enquanto chan mais profunda na correlação dos fatos do que o faria um racio cela que o representa. Assim como a forma da chancela não é nalizar imbuído de sentimentos. É verdade que o próprio teor derivável da substância da cera, nem da finalidade do lacre, nem factual, que sóseentrega àcontémplação filosófica - mais pro mesmo do sinete, onde é côncavo o que ali é convexo; assim priamente: à experiência filosófica -, permanece oculto para como é compreensível apenas para aquele que já teve a expe ambos, mas onde esseracionalizar leva à perda do chão, aquela riência do procedimento da chancela, e evidente somente para definição atinge exatamente o fundamento em que se constitui aquele que conhece o nome que asiniciais apenas insinuam overdadeiro conhecimento. Segundo oexposto, adefinição kan assim o conteúdo do fato não pode serderivado nem da percep tiana explica ocasamento como a"ligação entre duas pessoas de ção de sua constituição, nem mediante a exploração de sua de sexodiferente tendo emvista aposse recíproca eperpétua desuas terminação, enem mesmo apartir da intuição do conteúdo; mas propriedades sexuais. - A finalidade de gerar e educar filhos antes só éapreensível na experiência filosófica de seu cunho di pode sersempre uma finalidade da natureza, para aqual elaim vino, só éevidente para aventurosa contemplação do nome di planta a inclinação recíproca dos sexos; mas para a legitimação vino. Dessa maneira, apercepção consumada do teor factual das dessa ligação não éexigência obrigatória que o ser humano que coisas em vigor coincide por fim com apercepção de seu teor de contrai matrimônio tenha de propor asimesmo essafinalidade; verdade. O teor de verdade revela-se como sendo aquele do teor pois do contrário, cessando a procriação, o casamento ao mes factual. Mesmo assim asua diferenciação - e, com ela, a dife mo tempo sedissolveria por sisó". É certo que setratou do mais renciação entre comentário e crítica das obras - não é ociosa, colossal erro do filósofo acreditar que, apartir da definição que na medida em que aspirar por acessoimediato não éem nenhu apresentou da natureza do casamento, pudesse expor por meio ma outra parte mais confuso do que aqui, onde oestudo do fato de derivação sua possibilidade ética, até mesmo sua necessidade, ede sua determinação, assim como aintuição de seu conteúdo, edesse modo ratificar sua realidade jurídica. Derivávelda natu devem preceder toda experiência. Numa tal determinação obje reza objetiva do casamento seria manifestamente apenas a sua tiva do casamento, atese de Kant éalgo consumado e, na cons ciência de sua ingenuidade, ésublime. Ou será que, divertindo -nos com as suas frases, esquecemo-nos do que as precede? O 8Referência àobra Grundlegung zur Metaphysik der Sitten (Fundamentação início daquele parágrafo diz: "Acomunhão sexual (commercium para a metaflsica dos costumes), que Immanuel Kant publica nos anos de 1785 e sexuale)é o uso recíproco que um ser humano faz dos órgãos e 1786. Essaobra, em que ofilósofobusca investigar o"mais elevado princípio da faculdades sexuais de outro (usus membrorum etjàcultatum se moralidade", desempenhou papel relevante na constituição do pensamento de Walter Benjamin, como jáodemonstra oseuprimeiro texto publicado ("O ensi xualium alterius), etal uso ou énatural (aquele pelo qual sepode no demotal", 1913). (N. daE.) conceber um sersemelhante) ou antinatural, eeste, por sua vez, 16 17 Ensaios reunidos: escritos sobre Goethe As afinidades efetivas de Goethe é O uso ou de uma pessoa do mesmo sexo ou de um animal de do poeta. Nada autoriza auma talsuposição, mas elaébem com outra espécie que não ahumana". Assim diz Kant. Colocando preensível. De fato, o olhar vertiginoso buscava um ponto de -se ao lado deste parágrafo da Metaflsica doscostumes a Flauta apoio nesse mundo que afunda como seestivesse girando num mdgicade Mozart, então parecem apresentar-se asmais extremas redemoinho. Ali se achavam somente aspalavras daquele falas e, ao mesmo tempo, asmais profundas visões que aquela época trão encrespado, as quais os leitores se contentavam em poder tinha do casamento. Pois a Flauta mdgica tem como tema, na tomar ao pé da letra, tal como ashaviam encontrado. medida em que isso épossível a uma ópera, exatamente o amor "Aquele que, na minha frente, atacar o matrimônio conjugal. Nem mesmo Cohen,9 em cujo estudo tardio sobre os exclamou ele -, aquele que, com palavras e também com libretos de Mozart as duas obras mencionadas se confrontam ações minar esse fundamento de toda a sociedade ética, terá num espírito tão digno, parece ter reconhecido isso completa de haver-se comigo; eseeu não conseguir prevalecer sobre ele, mente. Émenos o anelo dos amantes do que a constância dos então não tenho nada mais aver com ele. O casamento é o cônjuges que constitui o conteúdo da ópera. Não éapenas para início eoápice de toda acultura. Ele transforma apessoa gros seconquistarem um ao outro que elessãoobrigados aatravessar seira em afável, e a pessoa mais civilizada não tem oportuni fogo e água, mas sim para permanecerem unidos para sempre. dade melhor para demonstrar sua afabilidade. O casamento Por mais que o espírito da franco-maçonaria tivesse de dissolver tem de ser indissolúvel, pois traz tanta felicidade que toda in todos os vínculos objetivos, aqui a intuição do conteúdo alcan felicidade isolada não conta diante dele. E quem vai querer çou aexpressão mais pura no sentimento da fidelidade. falar aqui de infelicidade? Impaciência é o que acomete o ser Será que Goethe, nas Afinidades eletivas, estará realmente humano de tempos em tempos, e ele tende então a sentir-se mais próximo do teor factual do casamento do que Kant eMo infeliz. Mas que se deixe passar esse momento e a pessoa irá zart?Teríamos pura esimplesmente que negar sequiséssemos sedeclarar feliz por continuar vigorando o que vigora há tan na esteira de toda afilologia de Goethe - tomar asério aspala to tempo. Para separar-se nunca haverá motivo suficiente. A vras de Mittler10 sobre esseassunto, como sefossem aspalavras condição humana está assentada em tal profusão de sofrimen tos e alegrias que de modo algum pode ser calculado aquilo 9Hermann Cohen (1842-1918), filósofo neokantiano efundador da cha que um cônjuge fica devendo ao outro. Trata-se de uma dívi mada Escola de Marburg (cidade em cuja universidade foiprofessor). Entre suas da infinita, que só pode ser saldada pela eternidade. Pode ser principais obras estão Teoria kantiana da experiência (1871), Sistema defilosofia incômodo àsvezes, sei muito bem, eisso até que ébom. Não (1902-1912), Estética dosentimento puro (1912), Religião da razão apartirdasjóntes dojudaísmo (1919). (N. daE.) 10As palavras deMittler citadas na sequência encontram-se no nono capi função jávemexpressano nome Mittler, "mediador", elogoemsuaprimeira apa tulo daprimeira parte doromance. Como revelaoteor dessafala,opapel desem rição no romance observa onarrador: "Aqueles que sãosupersticiosos em relação penhado por Mittler éode defensor encarniçado eintransigente do casamento, aosignificado denomes afirmam que onome Mittler oobrigou aassumir amais procurando agir como "mediador" em todos oscasosde conflito conjugal. Essa insólita dasresoluções". (N. daE.) 18 19