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Enéada VI, 9 - Tratado 9, sobre o Bem ou o Um PDF

107 Pages·2020·0.652 MB·Portuguese
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ENÉADA VI, 9 Tratado 9: sobre o Bem ou o Um PLOTINO TRADUÇÃO, INTRODUÇÃO E NOTAS - BERNARDO LINS BRANDÃO Enéada VI, 9 - Plotino / Bernardo Lins Brandão @Editora Paideusis (Petrópolis), 2020 Todos os direitos reservados. ISBN: 978-6586855-00-5 [ 2 ] Enéada VI, 9 - Plotino / Bernardo Lins Brandão I. INTRODUÇÃO Plotino e as Enéadas Plotino nasceu em 204/205 d.C., provavelmente em Licópolis, no Egito, e faleceu em 270, na Campania. Segundo nos conta Porfírio, em sua Vida de Plotino, ele se tornou discípulo de Amônio Saccas, um platônico de Alexandria, quando tinha 28 anos. Após passar onze anos frequentando o seu círculo, decidiu se juntar à expedição do imperador Gordiano III contra os persas, para que pudesse conhecer a filosofia dos indianos e dos próprios persas. No entanto, a expedição fracassa, o imperador é assassinado por seus próprios soldados e Plotino, com muita dificuldade, consegue chegar a salvo em Antioquia. Muda-se então para Roma, onde abre sua escola, que atrai uma grande quantidade de estudantes. Entre seus admiradores estavam senadores e até mesmo a esposa do imperador Galieno. [ 3 ] Enéada VI, 9 - Plotino / Bernardo Lins Brandão Plotino passa a escrever seus textos após dez anos de atividade em Roma. Esses textos, em geral, eram dirigidos para seus discípulos e, portanto, tratam de questões específicas de sua filosofia. Sua obra foi editada por seu discípulo Porfírio algum tempo após sua morte. Ele dividiu alguns desses textos em duas ou três partes e reuniu alguns outros, mais breves, em um único tratado, chegando ao número de 54 tratados, que dividiu em seis livros de nove tratados cada. Daí o nome Enéadas (ennéa, em grego, significa nove). A ordem dos tratados segue um princípio anagógico: representam a ascensão do filósofo, do mundo sensível ao Um. A Enéada I trata de questões éticas. As Enéadas II e III, de temas cosmológicos. A Enéada IV, de temas relativos à Alma; a V tem como tema o Intelecto e, por fim, a VI, trata do Um. O texto aqui traduzido, a Enéada VI, 9, é o nono tratado do sexto livro, ou seja, o último dos textos da edição de Porfírio, ainda que tenha sido o nono a ter sido escrito por Plotino. É que [ 4 ] Enéada VI, 9 - Plotino / Bernardo Lins Brandão nele, o filósofo faz sua mais veemente exposição do Um e trata da necessidade do caminho de ascensão para o filósofo, que tem como ápice uma experiência supradiscursiva de união com o primeiro princípio. As hipóstases Como os textos de Plotino pressupõem o conhecimento das linhas gerais de sua doutrina, convém apresentá-las aqui. Na Enéada IV, 3, 17, Plotino apresenta uma interessante imagem. Nela, o princípio supremo é considerado um centro. Em torno dele, está um círculo de luz, gerado a partir de seu esplendor. Ao redor desse círculo, como que emanando dele, encontra-se outro círculo de luz, “luz da luz”, ele escreve. Por fim, existe um último círculo, sem luz própria. O centro, gerador de todas as coisas, é chamado por Plotino de Um, Bem ou Deus, ainda que nenhum nome lhe [ 5 ] Enéada VI, 9 - Plotino / Bernardo Lins Brandão convenha, por estar acima de todas as coisas e ser absolutamente simples. O círculo de luz que dele procede é o Intelecto, que é, ao mesmo tempo, a totalidade das ideias inteligíveis e a inteligência que as pensa. O segundo círculo é a Alma, que procede do Intelecto. Por fim, o último dos círculos, que não possui luz própria e, portanto, não gera um círculo ulterior, está o mundo sensível. Na Enéada I, 6, 6, Plotino faz um resumo dessa concepção, pensando-a na perspectiva da beleza, que é o tema central do tratado: “em primeiro lugar, deve ser colocada a beleza, que é também o Bem; deste, vem imediatamente o Intelecto, o belo. E a Alma é bela pelo Intelecto. As outras coisas são belas formadas pela alma, nas ações e modos de vida. E os corpos, na medida em que são ditos belos, é a alma que os faz”. Ao contrário do que os textos dos comentadores nos sugerem, a palavra hipóstase não é, em Plotino, um termo técnico [ 6 ] Enéada VI, 9 - Plotino / Bernardo Lins Brandão empregado com exclusividade para falar da Alma, do Intelecto e do Um. O termo é empregado nas Enéadas para uma variedade de coisas, como a sabedoria, o amor, os números e o movimento, significando, nessas passagens, algo que possui existência extramental. Parece que hipóstase consagrou-se nessa acepção a partir do título do tratado V, 1, Sobre as três hipóstases principais, que, no entanto, não foi dado por Plotino. Mas, consagrando-se nos trabalhos dos estudiosos posteriores, é usado, nos dias de hoje, para se referir mais especificamente ao Um, o Intelecto e a Alma. As hipóstases não são meros entes, tais como os seres corpóreos que vemos com os sentidos. É que a expressão tò ón refere-se, de modo mais preciso, ao Intelecto e às formas inteligíveis que o compõem. As formas inteligíveis são os entes por excelência, ou seja, aquilo que tem uma existência determinada e permanente. A Alma e o mundo sensível são imagens do Intelecto [ 7 ] Enéada VI, 9 - Plotino / Bernardo Lins Brandão e, portanto, imagens do ente. O Um, por sua vez, também não é um ente, mas superior a ele. É que, sendo causa do Intelecto, é superior a toda delimitação. Mais adequado talvez é falar em seres: a expressão tó eínai é usada por Plotino para se referir a uma variada gama de realidades, dos corpos ao Um. Mas não podemos pensar que os princípios são seres como os corpos o são. Quando falamos que um corpo sensível existe, pensamos que, justamente por isso, ele é diferente de outros corpos, ainda que em sua essência possa ser semelhante. Mas, com exceção do Um, que, por ser a unidade absoluta, não é como nenhum dos outros seres, nem admite nenhuma composição, as demais hipóstases são unas e múltiplas. O Intelecto é um ser, mas também é a totalidade das formas inteligíveis. A hipóstase Alma, sendo una, é o conjunto das várias almas, que, portanto, de algum modo, são uma só. E o próprio mundo sensível, formado por um [ 8 ] Enéada VI, 9 - Plotino / Bernardo Lins Brandão conjunto de corpos, é, para Plotino, um único grande animal, cuja alma é a Alma do mundo. Em Plotino, pensando no sistema das hipóstases em suas relações de anterioridade e posterioridade, as hipóstases superiores possuem mais unidade e beleza que as posteriores e o mundo sensível. Como a unidade é um pressuposto fundamental para a existência dos seres, os seres mais unos possuem uma existência superior. Assim, o Um não depende de nenhum outro ser para existir e é o que existe de mais simples; o Intelecto, causado pelo Um, depende dele em sua existência; a Alma, que procede do Intelecto, depende do Um e do Intelecto, etc. O homem O homem, em Plotino, é um ser complexo, que comporta níveis diversos da realidade. Em outras palavras, segundo Plotino, [ 9 ] Enéada VI, 9 - Plotino / Bernardo Lins Brandão é como se existissem em todos nós dois homens, aquele que se liga volta para o sensível e aquele que se liga ao inteligível: E nós (hemeîs), o que somos nós? Somos aquele ou somos o que se aproximou e surgiu no tempo? Na verdade, antes de acontecer o nascimento, estávamos lá [no inteligível], sendo outros homens e, alguns, também deuses: almas puras e intelectos unidos à essência total, partes do inteligível, sem separação, sem divisão, mas sendo do todo (e nem mesmo agora estamos separados). Mas agora, daquele homem se aproximou outro homem, querendo existir. E nos encontrando, pois não estávamos separados do todo, ele se revestiu de nós e acrescentou a si mesmo aquele homem, o que cada um de nós era então (VI, 4, 14). O homem inteligível é aquela parte do homem que se volta ao Intelecto, enquanto o sensível se volta para o corpo. O homem inteligível vive a eternidade, enquanto o sensível surgiu no tempo, com o nascimento do corpo ao qual é ligado. Por causa dessa [ 10 ]

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