emília saraiva nery devires na música popular brasileira

178 Pages·2009·6.08 MB·Portuguese

1

UFPI - UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ
CCHL - CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA
MESTRADO EM HISTÓRIA DO BRASIL

EMÍLIA SARAIVA NERY

DEVIRES NA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA:
As aventuras de Raul Seixas e as tensões culturais no Brasil dos anos 1970.

Teresina -PI
2008
2

EMÍLIA SARAIVA NERY

DEVIRES NA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA:
As aventuras de Raul Seixas e as tensões culturais no Brasil dos anos 1970.

Dissertação apresentada por Emília Saraiva Nery ao
Programa de Pós-Graduação em História da
Universidade Federal do Piauí, como requisito
parcial para a obtenção do grau de Mestra em
História do Brasil. Escrita sob a orientação do
Professor Doutor Edwar de Alencar Castelo Branco.

Teresina -PI
2008
3

N456d Nery, Emília Saraiva.
Devires na música popular brasi leira: as aventuras de Raul Seixas e as
tensões culturais no Brasil dos anos 1970 / Emília Saraiva Nery: --

Teresina, 2008.
180f.: il.

Dissertação (Mestrado em História do Brasil) – Universidade Federal
do Piauí, 2008.
Orientador: prof. Dr. Edwar de Alencar Castelo Branco.

1. História do Brasil. 2. Música Popular Brasileira. 3. Raul Seixas.
I. Título.

CDD – 981
4
EMÍLIA SARAIVA NERY

DEVIRES NA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA:
As aventuras de Raul Seixas e as tensões culturais no Brasil dos anos 1970.

Dissertação apresentada por Emília Saraiva Nery ao
Programa de Pós-Graduação em História da
Universidade Federal do Piauí, como requisito
parcial para a obtenção do grau de Mestra em
História do Brasil. Escrita sob a orientação do
Professor Doutor Edwar de Alencar Castelo Branco.

Aprovada em / /

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________________
Prof. Edwar de Alencar Castelo Branco - Orientador
Doutor em História Cultural
Universidade Federal do Piauí

_________________________________________________________
Prof. Alcides Freire Ramos
Doutor em História Social
Universidade Federal de Uberlândia

_________________________________________________________
Prof. Teresinha de Jesus Mesquita Queiroz
Doutora em História Cultural
Universidade Federal do Piauí
5

Ê meu pai.

Ê meu pai, olha teu filho, meu pai!/ Ê meu pai/
Ajuda o filho, meu pai/ Quando eu cair no chão/
Segura a minha mão/ Me ajuda a levantar/ Para
lutar/ Se o medo da loucura/ Nessa estrada escura/
Me afastar da luz/ Que me conduz/ Se eu me sentir
sozinho/ Ou sair do caminho/ E a dor vier de noite/
Me assustar/ E se eu perder coragem/ Prá seguir
viagem/ A fé que me faltar/ Eu vou buscar com você
meu pai.

Raul Seixas/ Cláudio Roberto

Ao meu pai José Antonio Nery – in memorian.
6
AGRADECIMENTOS

Ao professor Edwar de Alencar Castelo Branco, por seu espírito rock and roll, por
ter me feito vislumbrar a poesia na escrita da história e pelos debates, na orientação, sempre
parceira e descolada.
Aos professores Paulo Fernando e Teresinha de Jesus Mesquita Queiroz, pelas
sugestões criteriosas e fundamentais para o texto, no Exame de Qualificação.
À professora Elisângela, pelas referências bibliográficas, que foram primordiais
para a fundamentação do terceiro capítulo, e por ter me acolhido em sua casa, regando com
cajuína nossas conversas acadêmicas.
Aos professores Francisco Alcides do Nascimento, Pedro Vilarinho, Teresinha de
Jesus Mesquita Queiroz e Áurea Paz, ministrantes de disciplinas na fase de integralização dos
créditos, pelas discussões teórico-metodológicas que foram fundamentais ao trabalho.
Aos professores Francisco Barros Júnior e Paulo Ângelo Meneses de Sousa, que
me iniciaram no mundo acadêmico.
À revisora de texto Socorro Magalhães, que meus deslizes não sejam creditados a
ela.
Aos meus amigos Marylu Alves Oliveira e Warrington Wallace Veras, pelas
cocas-cola bebidas, pautas discutidas em trânsito pela cidade, após as aulas das disciplinas, e
pela parceria na coleta das mais variadas fontes e na elaboração/revisão do trabalho.
Aos meus amigos Luciana Pereira, Mairton Celestino e Nilsângela Cardoso, pelo
companheirismo e a alegria na pesquisa de campo na cidade de Salvador - Bahia.
Ao meu amigo Francisco Santiago Júnior, pelas observações fundamentais ainda
na elaboração do projeto da dissertação e incansável pesquisa bibliográfica na USP.
Ao meu amigo Jaison Castro, por suas pesquisas bibliográficas na USP e pelos
caminhos apontados para a contextualização dos anos 1970.
Ao meu amigo Demétrios Gomes Galvão, pela concessão da entrevista do poeta
Chacal.
À minha amiga Maria do Rosário Silva, pela pesquisa documental na FUNDAJ na
cidade de Recife - Pernambuco.
Aos meus amigos José Maria Vieira de Andrade, Elson Rabelo, Natália Dias da
Rocha, Flávia Ferreira Amorim, Nayra Fernandes e Sara Maria, pelas sessões de psicanálise
nos bares e pelo crédito na realização do trabalho.
7
À minha mãe, Maria de Lourdes Marreiros Saraiva Nery, por seu amor
incondicional e por sua torcida pelo término do trabalho.
Aos amores vividos.
À FAPEPI e à CAPES pelo financiamento.
8

Disparo contra o sol
Sou forte, sou por acaso
Minha metralhadora cheia de mágoas
Eu sou um cara
Cansado de correr
Na direção contrária
Sem pódio de chegada ou beijo de
namorada
Eu sou mais um cara
Mas se você achar
Que eu tô derrotado
Saiba que ainda estão rolando os dados
Porque o tempo, o tempo não pára
Dias sim, dias não
Eu vou sobrevivendo sem um arranhão
Da caridade de quem me detesta
A tua piscina tá cheia de ratos
Tuas idéias não correspondem aos fatos
O tempo não pára
Eu vejo o futuro repetir o passado
Eu vejo um museu de grandes novidades
O tempo não pára
Não pára, não, não pára
Eu não tenho data pra comemorar
Às vezes os meus dias são de par em par
Procurando uma agulha num palheiro
Nas noites de frio é melhor nem nascer
Nas de calor, se escolhe: é matar ou
morrer
E assim nos tornamos brasileiros
Te chamam de ladrão, de bicha,
maconheiro
Transformam o país inteiro num puteiro
Pois assim se ganha mais dinheiro.

Cazuza/Arnaldo Brandão
9

RESUMO

Trata-se de um estudo sobre as tensões no campo da música brasileira, na década de 1970,
feito a partir de 21 letras de músicas do músico baiano Raul Seixas (1945-1989). As referidas
letras constituem as principais fontes do trabalho e foram analisadas, tendo em vista,
principalmente, a noção de “linha evolutiva na Música Popular Brasileira”, formulada por
Caetano Veloso, em meados da década de 1960 e que, desde então, passou a ser um
significativo parâmetro para se pensar a MPB. O trabalho mostra a objetivação histórica do
conceito de linha evolutiva, a partir de uma situação dos debates sobre o ser da MPB entre os
meados da década de 1960 e por toda a década de 1970. Neste quadro, a obra de Raul Seixas e
de seus parceiros é apresentada como um contra discurso que reage e resiste ao conceito de
“linha evolutiva”. O estudo, a pretexto do debate referido, também reflete sobre a maneira
singular como Raul Seixas se inseriu nos debates sobre sua época, favorecendo a
popularização de temas como vida em comunidades alternativas, uso das drogas e esoterismo.
Em seguida, aborda-se a vida privada dos sujeitos nas suas dimensões amorosas como um
outro desvio do conceito de linha evolutiva na obra do Raul Seixas, que defende uma forma
sofisticada, despolitizada e contida de falar de amor e desejo, ao problematizar temas tais
como: as relações monogâmicas e a heterossexualidade. Por fim, aponta-se a especificidade
da obra de Raul Seixas enquanto lente de conflitos históricos e culturais. Assim sendo, a
grande tônica de sua obra foi a recusa às formas de existência e a construção de uma
temporalidade própria para os anos 1970 por meio da abordagem múltipla do universo
cultural do período, ao contrário das sínteses culturais direcionadas e evolutivas.
Palavras-chave: História do Brasil. Música. Raul Seixas.
10

ABSTRACT

This paper talks about the tensions in the field of the Brazilian music in decade of 1970,
produced by 21 letters of music of the baiano Raul Seixas (1945-1989). The mentioned letters
constitute the principals resources of the work and were analysed principally the notion of the
“evolutionary line in the Popular Brazilian Music”, it is formulated by Caetano Veloso, in
middle of the decade of 1960, and this moment it passed to be a parameter significant to think
the MPB. The paper present the historic objectivity of the conceit of evolutionary line, began
as situation of debates about the be of MPB between the middle of the decade of 1960 and for
all decade of the 1970. In these board the production of Raul Seixas and your patters is
presented as a discourse opposite that is not according and resist the concept of “evolutionary
line”. The estudy that is mentioned to debate, too reflect about the singular manner as Raul
Seixas came in the debates about your epoch that in favor of the popularization of the themes
as life and alternatives communities and use of some drugs and esoteric. In the begin, talks
about the private life of the subjects in your loves dimensions as other different concept
evolutionary line in the production of Raul Seixas that defend a sophisticate form, unpolitical
and included to speak of love and desire, and to discus themes as: monogamic relations and
the heterosexuality. In the end present the specify of the production of the Raul Seixas in the
moment of the historic conflicts and cultural. Therefore, the big tonic of the your production
was a rejection of the forms of existence and the construction of a temporality proper to the
years of 1970 for middle of the multiple boarding of the period cultural universe, and the
opposite of the cultural syntheses directed and evolutionary.
Key-words: Brazil History. Music. Raul Seixas.