ebook img

Em guarda contra o perigo vermelho: o anticomunismo no Brasil (1917-1964) PDF

315 Pages·01.743 MB·Portuguese
Save to my drive
Quick download
Download
Most books are stored in the elastic cloud where traffic is expensive. For this reason, we have a limit on daily download.

Preview Em guarda contra o perigo vermelho: o anticomunismo no Brasil (1917-1964)

EM GUARDA CONTRA O PERIGO VERMELHO: O ANTICOMUNISMO NO BRASIL (1917-1964) Rodrigo Patto Sá Motta Tese apresentada à Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP para a obtenção do título de Doutor em História Econômica. Orientadora: Professora Doutora Suely Robles Reis de Queiroz São Paulo, outubro de 2000 2 NOTA EXPLICATIVA: TRATA-SE DO TEXTO ORIGINAL DA TESE DEFENDIDA EM 2000, E QUE FOI PUBLICADA COMO LIVRO EM 2002 PELA EDITORA PERSPECTIVA (COM APOIO DA FAPESP). ESTA VERSÃO EM PDF NÃO CONTÉM O CAPÍTULO 4, SOBRE ICONOGRAFIA ANTICOMUNISTA SUMÁRIO INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 4 CAPÍTULO 1. PRIMÓRDIOS DO ANTICOMUNISMO NO BRASIL: 1917-1935.. 16 CAPÍTULO 2. MATRIZES DO ANTICOMUNISMO .............................................. 32 Catolicismo ............................................................................................................... 35 Nacionalismo ............................................................................................................ 49 Liberalismo ............................................................................................................... 60 CAPÍTULO 3. IMAGINÁRIO ANTICOMUNISTA ................................................. 71 “Demônios” ............................................................................................................ 73 Agentes patológicos .................................................................................................. 78 Ameaça estrangeira ................................................................................................... 81 Desafio à moral ......................................................................................................... 89 Inferno soviético ....................................................................................................... 97 A “Intentona Comunista” .......................................................................................... 104 O “cavaleiro da desesperança” ................................................................................... 114 CAPÍTULO 4. ICONOGRAFIA ANTICOMUNISTA .............................................. Comunismo diabólico ................................................................................................ Comunismo e religião ................................................................................................ Imagens sinistras: violência, escravidão e doença ....................................................... Comunismo internacional .......................................................................................... A insurreição de 1935 ............................................................................................... Prestes ...................................................................................................................... 3 Disputas eleitorais ..................................................................................................... Infiltração no governo Goulart .................................................................................. CAPÍTULO 5. ORGANIZAÇÕES ANTICOMUNISTAS ......................................... 173 Cruzada Brasileira Anticomunista .............................................................................. 180 Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade ........................... 187 Organizações terroristas ............................................................................................ 194 CAPÍTULO 6. “INDÚSTRIA” DO ANTICOMUNISMO ......................................... 202 CAPÍTULO 7 - A PRIMEIRA GRANDE “ONDA” ANTICOMUNISTA: 1935/37 .. 224 O levante ................................................................................................................... 231 A reação ................................................................................................................... 242 O grande engodo ....................................................................................................... 266 CAPÍTULO 8 - O SEGUNDO GRANDE SURTO ANTICOMUNISTA: 1961/64 ... 286 A ascensão de Goulart ............................................................................................... 289 Os anticomunistas se organizam ................................................................................ 293 Representações ......................................................................................................... 301 Guerra de posições ........................................................................... 307 A crise se agrava ....................................................................................................... 315 Desfecho ................................................................................................................... 329 CONCLUSÃO .......................................................................................................... 342 RELAÇÃO DAS FONTES E BIBLIOGRAFIA ........................................................ 346 4 INTRODUÇÃO A definição de anticomunismo é, em princípio, relativamente elementar. Mas tal aparente simplicidade recobre uma realidade bastante complexa. Anticomunistas seriam os indivíduos e grupos dedicados à luta contra o comunismo, pela palavra ou pela ação1. A base de sua atuação estaria centrada, portanto, numa atitude de recusa militante ao projeto comunista. Ressalte-se, comunismo entendido como a síntese marxista-leninista originadora do bolchevismo e do modelo soviético2. Se a convergência entre os diversos grupos anticomunistas era plena na postura negativa em relação ao adversário comum, o mesmo não ocorria quando se tratava de atitudes positivas: no interior do amplo arco que compõe o anticomunismo podem ser encontrados projetos tão díspares quanto o fascismo e o socialismo democrático, ou como catolicismo e liberalismo. As diferenças não se restringiam às formas diferentes de conceber a organização social, mas também se faziam presentes na elaboração de estratégias de combate ao comunismo. Considerada esta heterogeneidade, característica inerente a um movimento e ideário que se constituía em ser contra, não a favor de algo, não se deve estranhar o fato de que a união e atuação conjunta ocorressem raramente, em momentos críticos. E mais, tal cooperação envolvendo as diversas facetas do anticomunismo, verdadeiras “frentes anticomunistas”, tendia a ser efêmera, durando enquanto o “perigo comunista” fosse considerado grave. 1 BERSTEIN, Serge & BECKER, Jean-Jacques. Histoire de l’anticommunisme. Paris: Olivier Orban, 1987. p.10. 2 Antes do bolchevismo já havia algo como um anti-socialismo, mas foi apenas após a ascensão dos seguidores de Lênin ao poder e a conseqüente formação do Estado soviético que o anticomunismo tomou formas definitivas e consistentes. 5 Mas, em que pese a heterogeneidade, ou talvez por causa dela, o fato é que o anticomunismo tornou-se uma força decisiva nas lutas políticas do mundo contemporâneo, alimentado e estimulado pela dinâmica do inimigo que era sua razão de ser, o comunismo. Como imaginara Karl Marx, o comunismo foi efetivamente um espectro rondando a sociedade capitalista. No entanto, embora tal afirmação tenha sido feita em meados do século XIX, ela se aplica melhor ao século atual, quando o “fantasma” adquiriu um poder sem precedentes de amedrontar os setores mais conservadores da sociedade. Durante os cerca de 70 anos compreendidos entre a Revolução de outubro de 1917 e a crise do socialismo real ocorrida na virada da década de 1980 para 1990, o comunismo tornou-se muito mais que um espectro. A ascensão dos bolcheviques ao poder na Rússia causou um impacto muito forte: o que antes era somente uma promessa e uma possibilidade teórica transformou-se em existência concreta. O entusiasmo e a esperança dos revolucionários somados à crise da sociedade liberal, emergente no contexto pós-Primeira Guerra, provocaram considerável crescimento da influência dos ideais comunistas. O que para algumas pessoas era a concretização de um sonho dourado, para outras era um pesadelo tomando formas reais. O comunismo despertou paixões intensas e opostas: de um lado, o dos defensores, encaravam-no como revolução libertadora e humanitária, que abriria acesso ao progresso econômico e social; de outro ponto de vista, o dos detratores, viam-no como uma desgraça total, a destruição da boa sociedade e a emergência do caos social e do terror político. A força do comunismo, consubstanciada na expansão e crescimento dos partidos e ideais comunistas, engendrou o anticomunismo. Os grupos sociais atemorizados pela “ameaça” ou “perigo” comunista, por sinal expressões reveladoras de seu estado de espírito, trataram de organizar-se e articular uma contra-ofensiva visando combater o projeto revolucionário. Genericamente, pode-se dizer que o sentimento anticomunista nasceu espontaneamente, gerado pelo medo e pela insegurança. No entanto, transformou-se em movimento organizado a partir da necessidade percebida por algumas lideranças conservadoras de conter a escalada revolucionária. No decorrer do século XX, o conflito opondo comunismo e anticomunismo ocupou posição central, colocando-se como elemento destacado na dinâmica política, cultural e nas 6 relações internacionais. Não é possível compreender os acontecimentos mundiais dos últimos decênios sem levar em consideração os embates em torno da utopia comunista. Tal centralidade ficou ainda mais evidente no quadro da guerra fria, momento a partir do qual o comunismo tornou-se de fato uma força planetária, na medida em que estados da Ásia, América e África (além da Europa oriental) começaram a aderir aos ideais de Marx, rompendo o isolamento da União Soviética. Como resposta ao crescimento da área sob influência soviética, os Estados Unidos se propuseram a desempenhar o papel de principal fortaleza anticomunista, ocupando posição de coordenação na guerra contra o “perigo vermelho”, postura que derivava tanto de compromissos ideológicos quanto de interesses geoestratégicos e econômicos. Para cumprir a contento o objetivo de defender o planeta da “ameaça revolucionária” passou a ser imperativo para os EUA reunir em torno de si os países do “mundo livre”, mesmo a contra- gosto de alguns deles. A guerra fria produziu a intensificação do anticomunismo, pois o Estado norte-americano empenhou o peso de seu poder e riqueza na sustentação aos grupos dispostos a enfrentar o “inimigo” comunista, oferecendo-lhes suporte ideológico, político e material. Voltando a atenção para o quadro nacional pode-se dizer, sem temer o exagero, que o anticomunismo teve papel marcante na história política brasileira das últimas décadas. No período imediatamente posterior à Revolução de 1917 e no decorrer da década de 1920, as manifestações contra o comunismo já começaram a aparecer na imprensa, e o assunto entrou para o rol de preocupações dos grupos privilegiados. No entanto, a “questão social” e os riscos políticos a ela ligados ainda não eram associados de maneira predominante ao comunismo, inclusive porque os anarquistas tinham mais força e visibilidade política no Brasil que os seguidores de Lênin. Com o crescimento experimentado pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB) nos anos 1930, fato sem dúvida ligado, entre outras coisas, à adesão do popular líder “tenentista” Luiz Carlos Prestes e à formação da Aliança Nacional Libertadora (ANL), tal quadro começa a se alterar. O anticomunismo começou a ganhar maior substância na mesma medida em que se dava o processo de expansão da influência do Partido Comunista; 7 a partir da transformação do comunismo em “perigo” real ganharam ânimo e começaram a organizar-se seus adversários. Porém, foi a “Intentona Comunista”, em novembro de 1935, a maior responsável pela disseminação e consolidação do anticomunismo no Brasil. O impacto foi enorme sobre a opinião conservadora, afinal, não era uma rebelião comum: tratou-se de uma tentativa armada dos comunistas de tomarem o poder, a qual, uma vez bem sucedida, poderia ter provocado grandes transformações na organização social brasileira. A comoção tornou-se ainda maior quando a imprensa começou a divulgar indícios, encontrados pela polícia, da participação de um grupo de estrangeiros ligados à Internacional Comunista (Komintern) na frustrada tentativa revolucionária. Na insurreição estariam presentes elementos clássicos da ação comunista, tal como a representavam e denunciavam os anticomunistas: práticas conspiratórias e envolvimento de agentes estrangeiros guiados por Moscou. Criaram-se, assim, bases para estabelecimento de uma sólida tradição anticomunista na sociedade brasileira, reproduzida ao longo das décadas seguintes através da ação do Estado, de organismos sociais e mesmo de indivíduos, cujo zelo militante levou à constituição de um conjunto de representações sobre o comunismo, um verdadeiro imaginário anticomunista. Tal tradição passou a ser elemento constante nas campanhas e nas lutas políticas, o que não significa que suas manifestações tenham tido sempre a mesma intensidade. Em determinados períodos a presença do anticomunismo foi fraca, quase residual. Mas houve radicalização do fenômeno em algumas conjunturas históricas, sempre ligadas a fases de crescimento da influência do PCB, em particular, e da esquerda, em geral. No que se refere às fases de anticomunismo agudo, três momentos se destacam: primeiro, o período entre 1935-37, já mencionado; depois, o início da Guerra Fria, principalmente nos anos de 1946 a 1950, quando após breve interregno legal o PCB foi proscrito e voltou a ser perseguido; por fim, a crise de 1964, que levou ao golpe militar. Nos três períodos referidos, as atividades anticomunistas foram intensificadas, sendo que em 1937 e 1964 a “ameaça comunista” foi argumento político decisivo para justificar os respectivos golpes políticos, bem como para convencer a sociedade (ao menos parte dela) da necessidade de medidas repressivas contra a esquerda. 8 Para exemplificar a força e mesmo a longevidade da argumentação e do imaginário anticomunista basta lembrar um episódio relativamente recente. Quando Tancredo Neves articulava sua candidatura presidencial, em 1984, um grupo político de extrema direita imprimiu e fez circular material de propaganda acusando o então Governador mineiro de possuir vínculos com os comunistas. O objetivo, obviamente, era desqualificar o candidato ante a população, tentando despertar e jogar contra ele a força da tradição anticomunista, que em momentos anteriores demonstrara notável capacidade de influir no jogo político. Considerando a importância do fenômeno anticomunista para a compreensão da história do século XX, chama atenção a escassez de estudos acadêmicos devotados ao tema. De maneira geral, tanto no Brasil como no exterior3, a historiografia e as ciências sociais demonstraram maior interesse em pesquisar os revolucionários e a esquerda que seus adversários, deixando para segundo plano as propostas ligadas à defesa da ordem. E é interessante observar que, mesmo quando contemplados pela bibliografia, os conservadores são freqüentemente tratados de forma esquemática e superficial, quando não maniqueísta. Muitas vezes, o empenho em compreender e explicar é suplantado pela ânsia de denunciar. Nos dias atuais, com a obliteração das acirradas disputas ideológicas de épocas passadas, estabeleceu-se um quadro propício a avaliações mais imparciais da história - embora a objetividade pura continue sendo meta inatingível -, assim como um interesse renovado pelo estudo do conservadorismo. E o esforço de pesquisar os grupos conservadores revela-se extremamente necessário, tendo em vista que é essencial avaliar corretamente sua influência para compreender nossa história política, mormente quando consideramos a centralidade de seu papel na condução dos destinos do Brasil. O que foi dito genericamente sobre o conservadorismo4 se aplica ao caso particular do anticomunismo. Pelas mesmas razões já apontadas o tema ainda não recebeu a atenção 3 É o que apontam autores como STERNHELL e MAYER, que se dedicaram ao estudo dos movimentos contra-revolucionários. Cf. STERNHELL, Zeev. La droite revolutionnaire. Les origines françaises du fascisme (1885-1914). Paris: Seuil, 1978.p.9; e MAYER, Arno J. Dinâmica da contra-revolução na Europa (1870-1956). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977.p.45. 4 A rigor, não é apropriado resumir o anticomunismo a uma pura expressão do conservadorismo, pois existia uma esquerda anticomunista, ainda que as forças conservadoras geralmente ocupassem o lugar principal no combate aos comunistas, especialmente no Brasil. Esta discussão será retomada no capítulo 2. 9 devida5: não foi estudado suficientemente nem observado em sua complexidade. A literatura acadêmica devotada ao estudo do anticomunismo no Brasil é bastante escassa. A maioria dos autores a lidar com a questão o faz no bojo de obras dedicadas ao Estado Novo ou ao movimento de 1964. O anticomunismo aparece nestes trabalhos como questão subsidiária, desdobramento analítico operado a partir do enfoque em conjunturas históricas mais abrangentes que compõem o centro da abordagem6. Poucos estudos foram dedicados integralmente à questão anticomunista e dentre estes quase todos enfocaram um único período histórico, normalmente as décadas de 1930 ou 1960, e/ou uma única região7. No que respeita ao problema da complexidade, não raro encontramos apreciações superficiais e às vezes parciais do anticomunismo, apresentado ora como mera conspiração imperialista, ora como simples “fantasma” manipulado pela burguesia dominante, ora como reles manifestação de irracionalismo e fanatismo. De fato, tais aspectos são elemento importante para a compreensão do fenômeno anticomunista e não podem ser esquecidos. Mas são facetas de uma realidade complexa, que demanda um olhar mais cuidadoso. Parte da bibliografia tendeu a realçar a instrumentalização do anticomunismo, manipulado por forças imperialistas ou grupos nacionais (muitas vezes atuando em cooperação) visando outros objetivos que não o combate aos comunistas. Com efeito, a “ameaça comunista” serviu como pretexto para justificar golpes autoritários, reprimir movimentos populares, Para uma conceituação acerca de “conservadorismo”, podemos nos apoiar em MANNHEIM: “Conservatism (...) arises as a counter-movement in conscious opposition to the highly organized, coherent and systematic ‘progressive’ movement”. MANNHEIM, Karl. Conservative thought. In Essays on sociology and social psychology. London: Routledge & Kegan Paul, 1953, p.99; e em ROSSITER: “Conservatism is committed to a discriminating defense of the social order against change and reform. The conservative knows that change is the rule of life among men and societies, but he insists that it be sure-footed and respectful of the past”. ROSSITER, Clinton. Conservatism in America. 2 ed. New York: Random House, 1962, p.12. Ambos distinguem conservadorismo de posturas contra-revolucionárias mais viscerais, que o primeiro chama “tradicionalismo” e o segundo “reacionarismo”. Conferir também NISBET, Robert. O conservadorismo. Lisboa: Editorial Estampa, 1987. 5 Referindo-se à existência de poucos estudos sobre o anticomunismo BERSTEIN & BECKER afirmam: “... l’evidente contradiction entre l’importance du phénomène et la place modeste qui est la sienne dans les travaux historiques et même dans le vocabulaire usuel ne laisse pas de poser problème”. Op.cit.. p.8. 6 É o caso, por exemplo, dos trabalhos de René DREIFUSS (1964: a conquista do Estado. 2 ed. Petrópolis: Vozes, 1981), Eliana DUTRA (O ardil totalitário: imaginário político no Brasil dos anos 30. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 1997) e Heloísa STARLING (Os Senhores das Gerais: os novos inconfidentes e o golpe militar de 1964. Petropólis: Vozes, 1986), cuja importante contribuição ao estudo do tema procuramos incorporar. 7 Na maioria são dissertações de mestrado (conferir na Bibliografia). Destacaria os trabalhos de Carla RODEGHERO (O diabo é vermelho: imaginário anticomunista e Igreja Católica no Rio Grande do Sul, 1945-1964. Passo Fundo: Ediupf, 1998), sobre o Rio Grande do Sul, e de Bethania MARIANI (O PCB e a 10 garantir interesses imperialistas ameaçados pelas campanhas nacionalistas, ou seja, manter inalterado o status quo. Porém, a ênfase na dimensão, digamos oportunista do anticomunismo acabou por colocar na sombra outras motivações, igualmente significativas. Houve grupos e indivíduos (não necessariamente fanáticos) que sinceramente acreditaram na existência de um risco real. Mobilizaram-se e combateram por temor que os comunistas chegassem ao poder. E mais, seus temores não eram absurdos, como muitas vezes se supõem. Em algumas situações o medo era justificado ou ao menos tinha fundamento, quer dizer, os comunistas gozavam de uma força que os tornava inimigos temíveis. A motivação anticomunista resultou da intrincada mistura entre instrumentalização (ou manipulação) e convicção, que se combinaram em medida diferente ao longo da história. Para compreender como se deu tal processo é preciso analisar as conjunturas históricas específicas, pois a riqueza inerente a cada caso singular se perderia em uma abordagem excessivamente generalizadora. A proposta da tese é realizar tal esforço analítico: estudar o anticomunismo brasileiro - resguardado seu caráter multifacetado - no decorrer da dinâmica histórica, observando as singularidades presentes em cada momento, mas sem descuidar das regularidades. Embora o recorte cronológico não seja tomado como uma “camisa de força” e as próprias fontes pesquisadas apontem para um universo temporal mais elástico, o enfoque está centrado essencialmente sobre dois períodos, 1935/1937 e 1961/1964. Trata-se precisamente dos contextos em que o anticomunismo se manifestou de maneira mais decisiva no Brasil, transformando-se em força política influente. Em grande medida, a tese empreende uma análise comparativa entre os contextos referidos, observando as regularidades e as especificidades apresentadas pelas manifestações anticomunistas nos dois casos. Há outro aspecto importante a mencionar no que respeita à forma como o tema foi tratado. Aborda-se o anticomunismo em duas dimensões distintas, embora complementares: representações e ações. Analisa-se o fenômeno, por um lado, como um corpo doutrinário ou uma corrente de pensamento que possui discurso e representações próprias e, por outro, imprensa. Os comunistas no imaginário dos jornais, 1922-1989. Rio de Janeiro: Revan, 1998), originalmente

See more

The list of books you might like

Most books are stored in the elastic cloud where traffic is expensive. For this reason, we have a limit on daily download.