ebook img

Em Casa - Uma Breve História da Vida Doméstica PDF

539 Pages·2011·6.01 MB·Portuguese
Save to my drive
Quick download
Download
Most books are stored in the elastic cloud where traffic is expensive. For this reason, we have a limit on daily download.

Preview Em Casa - Uma Breve História da Vida Doméstica

Para Jesse e Wyatt Sumário Introdução 1. Aquele ano 2. O ambiente 3. O vestíbulo 4. A cozinha 5. A área de serviço e a despensa 6. A caixa de fusíveis 7. A sala de estar 8. A sala de jantar 9. O porão 10. O corredor 11. O estúdio 12. O jardim 13. A sala cor de ameixa 14. A escada 15. O quarto de dormir 16. O banheiro 17. O quarto de vestir 18. O quarto das crianças 19. O sótão Bibliografia Agradecimentos Lista de ilustrações em casa Introdução Pouco depois que mudei, com minha família, para a antiga casa paroquial de uma igreja anglicana, em uma aldeia tranquila e anônima de Norfolk, extremo leste da Inglaterra, tive de subir ao sótão para descobrir a origem de uma misteriosa goteira. Como na casa não havia escada para o sótão, precisei subir por uma escada de mão e me contorcer, sem nenhuma elegância, através de uma portinhola no teto. Aliás, foi por isso mesmo que eu nunca havia subido ali (nem me animei a voltar depois). Quando por fim desabei no chão empoeirado, na escuridão do sótão, e consegui me levantar, fiquei surpreso ao descobrir uma porta secreta, não visível de fora da casa, em uma parede externa. A porta se abriu com facilidade e levou a um minúsculo espaço no telhado, não muito maior que uma mesa, entre as empenas frontal e traseira. Muitas casas vitorianas são uma coleção de esquisitices arquitetônicas, mas essa era totalmente incompreensível: por que um arquiteto haveria de colocar uma porta dando para um espaço sem nenhuma utilidade? Não havia explicação; mas teve o efeito mágico e inesperado de me proporcionar uma vista maravilhosa. É emocionante estar em um lugar onde você pode contemplar um mundo que conhece bem, mas nunca tinha visto daquele ângulo. Eu estava a uns quinze metros de altura, o que em Norfolk mais ou menos garante uma boa paisagem. Logo na minha frente ficava a antiga igreja de pedra, que outrora pertencera a nosso presbitério. A alguma distância, em um ligeiro declive, ficava a aldeia a que ambos pertenciam. Mais longe, no outro sentido, vi a abadia de Wymondham, em seu esplendor medieval, dominando o horizonte ao sul. Em um campo a meia distância, um trator roncava, traçando linhas retas no chão. Tudo o mais em todas as direções era tranquilo, agradável, atemporal, despretensioso — a paisagem campestre inglesa por excelência. O que dava a tudo isso mais relevância era que na véspera eu tinha caminhado por essa mesma área com um amigo, Brian Ayers. Brian acabava de se aposentar como arqueólogo do condado, e possivelmente sabe mais sobre a história e a geografia de Norfolk do que qualquer outra pessoa no mundo. Ele nunca tinha estado na igreja da cidade e queria muito dar uma olhada. É uma bela igreja, e muito velha — mais velha que a Notre Dame de Paris, mais ou menos da mesma safra que as catedrais de Chartres e Salisbury. Mas Norfolk está cheia de igrejas medievais — há nada menos do que 659 no condado —, de modo que é fácil esquecer alguma delas. “Você já percebeu”, perguntou Brian quando entramos na igreja, “que as igrejas do interior parecem afundadas no chão?” E mostrou que aquela estava aninhada em uma ligeira depressão, como um peso colocado sobre uma almofada. Os alicerces ficavam quase um metro abaixo do pátio da igreja ao redor. “Sabe por quê?” Reconheci, como tantas vezes faço ao acompanhar Brian em suas caminhadas, que eu não fazia ideia. “Bem, não é que a igreja esteja afundando”, disse Brian, sorrindo. “É que o pátio ao redor se levantou. Quantas pessoas você acha que estão enterradas aqui?” Dei uma avaliada nas lápides ao redor e disse: “Não sei. Umas oitenta? Cem?”. “Acho que você está subestimando um pouquinho”, respondeu Brian com ar bondoso e equânime. “Pense um pouco. Uma paróquia do interior como esta tem, em média, 250 pessoas, ou seja, cerca de mil mortes de adultos por século, além de alguns milhares de pobres almas que não chegaram à maturidade. Multiplique isso pelo número de séculos de existência da igreja e você verá que o que temos aqui não são oitenta ou cem sepultamentos, mas, provavelmente, algo em torno de 20 mil.” Isso tudo, veja bem, a poucos passos da porta da minha casa. Falei: “Vinte mil?”. Ele confirmou tranquilamente. “No total, acaba sendo uma massa enorme, nem é preciso dizer. Por isso, o solo levantou quase um metro.” Parou um momento para me deixar absorver o fato, e continuou: “Há mil paróquias em Norfolk. Multiplique todos os séculos de atividade humana por mil paróquias e você verá que temos à nossa volta um volume enorme de cultura material”. Apontou as várias torres de igreja visíveis na paisagem ao redor. “Daqui podemos ver doze outras paróquias, de modo que temos, provavelmente, um quarto de milhão de sepultamentos bem aqui, nesta área à nossa volta — e tudo isso em um lugar que sempre foi apenas calmo e rural, onde nada de muito importante aconteceu.” Foi dessa maneira que Brian explicou como um condado bucólico, esparsamente povoado como Norfolk, podia produzir 27 mil achados arqueológicos a cada ano, mais que qualquer outro condado na Inglaterra. “Há muito tempo que as pessoas deixam cair objetos no chão por aqui — desde muito antes de a Inglaterra ser a Inglaterra.” E me mostrou um mapa com todos os achados arqueológicos da nossa paróquia. Quase todos os campos cultivados tinham rendido alguma coisa — ferramentas da era neolítica, moedas e cerâmicas romanas, broches saxões, sepulturas da Idade do Bronze, fazendas vikings. Em 1985, logo além dos limites da nossa propriedade, um agricultor que atravessava o campo encontrou um artefato raro, impossível de interpretar equivocadamente: um pingente fálico romano. Para mim isso foi, e continua a ser, algo espantoso: pensar em um homem de toga, parado ali na divisa da minha propriedade, dando uns tapinhas no pescoço e percebendo, consternado, que acabava de perder seu precioso pingente. Este, por sua vez, depois ficou enterrado por dezessete ou dezoito séculos, passando por incontáveis gerações de atividade humana, durante as idas e vindas de saxões, vikings e normandos, a ascensão do idioma inglês, o nascimento da nação inglesa, o desenvolvimento da monarquia contínua e tudo o mais, até finalmente ser apanhado por um agricultor do século xx, talvez com um olhar consternado. Agora, postado no telhado da minha casa, absorvendo essa vista inesperada, fiquei impressionado ao pensar neste fato que é mesmo glorioso: em 2 mil anos de atividade humana, a única coisa que despertou a atenção do mundo exterior, ainda que brevemente, foi o achado de um pendente fálico romano. O resto foram apenas séculos e séculos de gente tratando, sem alarde, dos seus afazeres diários — comer, dormir, fazer sexo, tentar se divertir —, e ocorreu-me, com o vigor de uma ideia pensada em 360 graus, que a maior parte da história é realmente isto: as massas humanas fazendo suas atividades comuns. Até mesmo Einstein deve ter passado grandes trechos da vida pensando nas férias, ou no que comeu no jantar, ou no gracioso tornozelo da moça que descia do bonde do outro lado da rua. São coisas desse tipo que preenchem a nossa vida e os nossos pensamentos; e, no entanto, nós as tratamos como incidentais e indignas de séria

Description:
Em casa, novo livro de Bill Bryson, é simultaneamente uma narrativa histórica, um tratado de sociologia, um compêndio de história da ciência e uma divertida coleção de curiosidades culturais. Viajando pelo interior de sua própria casa — uma antiga residência paroquial no nordeste da Ingla
See more

The list of books you might like

Most books are stored in the elastic cloud where traffic is expensive. For this reason, we have a limit on daily download.