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Em busca da identidade perdida. Sujeito e Comunicação na obra de Marcel Proust1 PDF

148 Pages·2013·0.51 MB·Portuguese
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Gisela Marques Pereira Gonçalves Em busca da identidade perdida. Sujeito e Comunicação na obra de Marcel Proust1 Universidade da Beira Interior 1DissertaçãodeMestradoapresentadaàUniversidadedaBeiraInterior,em2000, paraaobtençãodoGraudeMestreemCiênciasdaComunicação. Índice Notabrevesobretextoscitadosetraduções 3 INTRODUÇÃO 4 1 OSUJEITOMODERNO 12 1.1 AConstituiçãodesi . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 1.2 ARelaçãoaoOutro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 1.3 SujeitoeComunicação . . . . . . . . . . . . . . . . . 44 2 OSUJEITOPROUSTIANO 52 2.1 DialécticadaSuperficialidade . . . . . . . . . . . . . 54 2.2 DialécticadoDesejo . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68 2.3 ComunicaçãoPerdida . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80 3 ÀPROCURADOSUJEITOIDEAL 90 3.1 AExperiênciadoTempo . . . . . . . . . . . . . . . . 92 3.2 AExperiênciaEstética . . . . . . . . . . . . . . . . . 108 3.3 ComunicaçãoeContemplação . . . . . . . . . . . . . 123 CONCLUSÃO 138 BIBLIOGRAFIA 142 BibliografiaGeral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 142 BibliografiaseleccionadasobreMarcelProust . . . . . . . . 147 ObrascitadasdeMarcelProust . . . . . . . . . . . . . . . . 147 Embuscadaidentidadeperdida 3 Nota breve sobre textos citados e traduções As citações de Proust são retiradas da edição de À la Recherche du Temps Perdu pela La Pléiade (4 volumes sob a organização de Jean- YvesTadiè,Paris,Gallimard,1987-9)eacompanhadasnotextocentral pelonúmerodovolume,emnumeraçãoromana,edarespectivapágina. As traduções portuguesas são extraídas da edição Em Busca do Tempo Perdido em sete volumes de Livros do Brasil – Colecção Dois Mun- dos, e também serão seguidas do número do volume e página. Foram alterados, sempre que pertinente, alguns pormenores gramaticais nas citaçõesemportuguês. O romance em si, e os volumes que o compõem são referidos pelos títulosfrancesesoupelasiniciais,assim: Àlarecherchedutempsperdu/EmBuscadoTempoPerdido CS:I.DucôtédechezSwann/1. NocaminhodeSwann JF: I./II . A l’ombre des jeunes filles en fleurs / 2. À sombra das raparigasemflor CG:II.LecôtédeGuermantes/3. OcaminhodeGuermantes SG:III.SodomeetGomorrhe/4. SodomaeGomorra P:III.LaPrisonnière/5. APrisioneira AD:IV.AlbertineDisparue/6. AFugitiva TR:IV.LeTempsretrouvé /7. OTempoRedescoberto A fonte de todas as outras citações e referências é apresentada em notaderodapéounasecçãobibliográfica. www.labcom.ubi.pt 4 GiselaMarquesPereiraGonçalves INTRODUÇÃO NA arte do romance, que nas palavras de Umberto Eco, é“a grande arte e a maior aventura da palavra literária” os problemas reais de cada homem e da humanidade são transportados para um texto que reinventa a história, procura o que está por detrás dos comportamentos, aquilo que provoca ou perturba, enfim, desoculta o “Eu”. O romance, de entre a evolução das fórmulas literárias narrativas, como a novela, o conto ou a epopeia, impôs-se, enquanto fenómeno de real importância. Alargando continuamente o domínio da sua temática, interessando-se pelapsicologia,pelosconflitossociaisepolíticos,ensaiandoconstante- mente novas técnicas narrativas e estilísticas, o romance transformou- se,nodecorrerdosúltimosséculos,massobretudoapartirdoséc. XIX, na mais importante e mais complexa forma de expressão literária dos temposmodernos. O universo romanesco abrange uma grande variedade da experiên- cia humana, desde os acontecimentos triviais extraídos da rotina da vida, como os ambientes realistas e naturalistas, aspirantes à exactidão damonografia,doestudocientíficodostemperamentosedosmeiosso- ciais, até às vivências mais perturbadoras e demoníacas das narrativas românticas, onde um herói altivo, dominador e bom, acaba sempre por vencer sobre o mal. Na transição para o século XX começa a verificar- se de forma mais explícita a metamorfose do romance moderno, rela- tivamente aos modelos entendidos como “clássicos”. Aparecem os ro- mances de análise psicológica de Marcel Proust e de Virgínia Woolf; James Joyce cria romances de dimensões e heróis míticos; e Kafka dá a conhecer os seus romances simbólicos e alegóricos. Uma nova con- cepção de romance que se afasta, cada vez mais, do clássico “romance fechado”, instala-se como um enigma para o leitor, de perspectivas e limitesincertos,compersonagensestranhoseanormais. O cerne do romance encontra-se, agora, no desvelamento da subtil complexidade do Eu, intentando criar uma nova linguagem capaz de traduzir as contradições e o ilogismo do mundo interior do homem: «o herói interessa como ponto de vista particular sobre o mundo e sobre ele próprio, como a posição do homem que busca a sua razão de ser e o valor da realidade circundante e da sua própria pessoa» (Aguiar www.labcom.ubi.pt Embuscadaidentidadeperdida 5 e Silva, 1990: 707). No fundo, o propósito primário e tradicional da literatura–contarumahistória–estáobliteradooudesfigurado. A escolha da obra prima do consagrado escritor francês Marcel Proust À la Recherche du temps perdu como pano de fundo para um trabalhodedissertaçãoemCiênciasdaComunicação deve-se, nãoape- nas ao facto de se tratar de um ex-libris da literatura moderna, mas so- bretudo pelo seu pensamento continuar actual, pois é revitalizado por estudos das mais variadas áreas, e pelas suas características intrínsecas se adequarem, natural ou curiosamente, ao tema escolhido para esta in- vestigação: “Em busca da identidade perdida - Sujeito e Comunicação naobradeMarcelProust”. NãoéfácilabordaraobradeMarcelProustmesmocomorecursoà imensa bibliografia existente sobre a sua Recherche (talvez até por isso mesmo). A riqueza e fecundidade do seu romance provoca no leitor mais experiente uma incursão alucinante por variadíssimos temas que, sónofinaldaleitura,permitevislumbrarogéniodohomemquelhedeu corpo. Mas uma dissertação impulsionada pela obra de Marcel Proust não pretende ser um trabalho sobre este autor francês. À partida, está excluída a intenção de elaborar uma biografia. Não se encontrará aqui qualquer alusão à vida e morte lendárias de Proust (1871-1922), nem à sua correspondência, nem ao poeta, nem ao autor de ensaios. Muitas são as obras especializadas em descrições factuais, como o trabalho de referência de Jean-Yves Tadiè: Marcel Proust – biographie, que se re- cusa a oferecer uma biografia novelística, mas apresenta um magnífico compêndio de material proustiano; ou então, a narrativa carinhosa da suaíntimagovernanta,CelesteAlbaret,comolivroMonsieurProust. Tambémnãosepretendeconcretizarmaisumestudo-sãojámuitos e admiráveis – introdutório ao pensamento de Proust e à leitura das cerca de três mil páginas que constituem o romance, só terminado al- guns dias antes da sua morte. Naturalmente que não se pode passar por cima dos fios condutores patentes na obra e inalienáveis em qualquer análise: uma inovadora investigação psicológica do homem (do amor à morte, do snobismo ao julgamento estético) e uma peculiar contextua- lização histórico-social (documentação de usos e costumes, de movi- mentossociais,depolíticaetemposdeguerra). Tãopoucoseanseiaporcriarumtrabalhoaltamenteindividualizado de análise crítica. Muitos e inesquecíveis são os contributos que se po- www.labcom.ubi.pt 6 GiselaMarquesPereiraGonçalves dem encontrar na voz de Samuel Beckett ou de Gilles Deleuze – en- tre outros – que incidindo numa análise quase “à la lettre” de determi- nadas passagens, expõem uma teoria fundamentada sobre o tempo (um dos temas proustianos mais comentado), ou sobre a vida em sociedade, neste caso a parisiense na transição do século, e todas as vivências a ela associadas – amorosas, mundanas, políticas ou artísticas. Na rea- lidade, como o universo proustiano é muito fértil em várias temáticas, a produção académica não mais estagnou desde a sua edição (publi- cadoentre1912e1927). Amor,sexo,moral,homossexualidade,morte, política, tempo, arte, música, são alguns dos temas mais explorados. E não podem ser deixados de lado, porque são sem dúvida, um suporte fundamental para as análises teóricas por onde se pretende, aqui, en- veredar. O porquê de basear esta tese de mestrado em Marcel Proust encon- tra-senãoapenasnofactodaRechercheserumapéroladaliteraturamas sobretudo,porquedasualeiturasepodeobterumadefiniçãodesujeito, em resposta a uma das questões mais importantes que tem percorrido a humanidade: “Qual o significado da minha vida? Será que a minha vida tem peso e substância ou está a decorrer em direcção ao nada? E terá unidade ou é apenas um dia a seguir ao outro, sem qualquer sentido, caindo o passado numa espécie de vazio, tornando-se apenas tempoperdido–“TempsPerdu”–nosentidopretendidoporProust,de um tempo que é gasto e irremediavelmente perdido, sem retorno, pelo qualpassamoscomosenuncalátivéssemosexistido?” Todosqueremosqueanossavidatenhasentido,istoé,quecaminhe para a sua realização. Mas toda a nossa vida. Se possível, queremos que o futuro redima o passado, para fazer parte de uma história de vida que tem sentido ou propósito quando tomada na sua unidade signifi- cante. À la Recherche du temps Perdu é um exemplo paradigmático desde desejo humano. O melhor exemplo, pode-se mesmo defender. O próprio título da obra indica o esforço duplo do autor: esforço pro- gressivo de “Recherche” de uma vocação e esforço regressivo sobre o “Temps Perdu” numa vida que funda o romance. É no episódio da bi- bliotecadosGuermantes,jánoúltimovolume,queonarradordescobre o significado completo do seu passado e a partir daí restaura o tempo que foi “perdido”, nos dois sentidos já mencionados. O passado ir- reparável é recuperado na sua unidade através da vida ainda por viver, www.labcom.ubi.pt Embuscadaidentidadeperdida 7 e todo o tempo “perdido” tem agora um significado, como tempo de preparaçãoparaotrabalhodoescritorquedaráformaaessaunidade. ARecherchenãoseassemelhaaumromanceestruturadosegundoa tradição– eventosimplicadosnumaintriga quesedesenrolapor ordem cronológica–poissenoiníciooheróiéumacriançaenofimdanarra- tiva um homem, em vão se procura o fio condutor de uma aventura ou reconstituição cronológica do passado. Parece-se com uma grandiosa sinfonia, onde os grandes temas que surgem logo desde o início, ou apenas insinuados, aqui e ali, são mais tarde retomados e inteiramente desenvolvidos,dentrodaunidadedoconjuntoparaoqualcontribuem2. Esta obra permite observar uma tematização sui generis da questão do Eu, uma percepção do sujeito entre dois extremos, que se sobrepõe à influência óbvia de duas importantes correntes: o classicismo e o romantismo. As diferenças entre estas duas expressões artísticas são muitas e de complicada exposição, por isso mesmo, se pode recorrer à sistematização realizada por A.W. Schlegel, na décima terceira lição do seu Curso de Literatura Dramática. Este autor caracteriza a arte clássica como uma espécie de «nómos rítmico, uma revelação harmo- niosaeregulardalegislação–fixadaparasempre–deummundoideal em que se reflectem os arquétipos eternos das coisas», ao passo que a poesia romântica «é expressão de uma misteriosa e secreta aspiração pelocaosincessantementeagitadoafimdegerarnovasemaravilhosas coisas»3. O Classicismo harmonizou-se, sem dificuldade, nas tendências ge- rais da Aufklärung da cultura europeia pois os seus princípios estéti- cos estão impregnados de um profundo racionalismo. Pelo contrário, a característica fundamental da literatura pré-romântica consiste na va- lorização do sentimento: o coração triunfa sobre o racionalismo ilumi- nista transformando-se na fonte dos valores humanos. A sensibilidade aparececomoomaislegítimotítulodenobrezadasalmaseabondadee a virtude são consideradas como atributos naturais das almas sensíveis. 2Porissoqualquersíntesedaobra,pormelhorqueseja,nãopassadeumatentativa queficamuitoaquémdoqueéesteromance. 3CitaçãodeSchlegel,LesRomantiquesallemands;pp.286-287,referidoporVítor ManueldeAguiareSilva(1990: 540). www.labcom.ubi.pt 8 GiselaMarquesPereiraGonçalves A vida moral passa a ser regida pelo sentimento, sobrepondo-se os di- reitosdocoraçãoàsexigênciasdasconvençõessociaisouéticas.4 O espírito humano, para os românticos, constitui uma entidade do- tada de uma actividade que tende para o infinito, que aspira a romper os limites que o constrangem, numa busca incessante do absoluto, em- bora este permaneça sempre como um alvo inatingível. Porque o ver- dadeiroconhecimentoexigequeohomemdesvieoolhardetudoquanto orodeiaedesçadentrodesipróprio. «Éparaointeriorquesedirigeo caminho misterioso. Em nós ou em parte nenhuma, estão a eternidade e os seus mundos, o futuro e o passado. O mundo exterior é o universo dassombras»,concluiNovalis.5 Existenoromantismo,apresençaconstantedanostalgiadealgodis- tante (Sehnsucht) para onde o espírito tende irresistivelmente, sabendo de antemão que lhe é impossível alcançar esse bem absoluto sonhado. Estaprocuraéregidaporum“Eu”românticoqueseconfiguracomoum rebelde altivo e desdenhoso, contra as leis e os limites que o oprimem, que desafia a sociedade e o próprio Deus. Por outro lado, muitos au- tores, consumidos pelo desafio idealista vão exaltar as figuras dos poe- tas geniais: seres condenados à solidão, incompreendidos pelos outros homens,desafiandoodestino. Porissomesmo,oromânticoprocuraan- siosamente a evasão da realidade através do sonho e do fantástico, ou a evasãonoespaçoenotempo(daíogostopeloexotismoeaglorificação daIdadeMédia,tãodenegridapeloracionalismoiluminista). Na constituição do sujeito proustiano, como será referido ao longo destadissertação,transparecemasduascorrentesartísticas. Deumlado, a figura do génio romântico, que se pode identificar no culto da ge- nialidade, materializada na Recherche, uma vez que, é pela arte, pelo podercriadorqueele,MarcelProustseconstituieseredime. Oexcerto 4SegundoAguiareSilva(1990:535),«Aliteraturacomeçaadevassarossegredos dainterioridadehumana,dissecandogostosaedespuradamenteosrecantosmaisín- timosdaalmaedocorpo. Primeirageraçãoeuropeiadeegotistas,ospré-românticos criaram uma literatura confessionalista que alcança por vezes uma audácia e uma profundidadeaindahojesingulares(bastaapontar“Lesconfessions”deRousseau)e queprovocaviolentasreacçõesafectivasemlargonúmerodeleitoresdotempo(caso do “Werther” de Goethe, que originou na juventude europeia uma onda de suicí- dios).» 5ExtractodeumtextodeNovalis, LesRomantiquesallemands; p. 20, citadopor VítorManueldeAguiareSilva(1990: 544). www.labcom.ubi.pt Embuscadaidentidadeperdida 9 sobre a morte do escritor Bergotte é elucidativo do poder salvífico e eternodoautor-génio,queseráparasempreexaltado.6 Poroutrolado,o sujeito proustiano apresenta-se também como um sujeito programado, mecanizado, no sentido clássico, como se pode observar em algumas passagens da obra, como aquela, no início de Sodome et Gomorrhe, onde se desenvolve uma metáfora sobre as leis do mundo vegetal e sua relação com as substancias químicas dos insectos que esclarecem a sua visão,decertomodosistémica,sobredeterminadasrelaçõesamorosas.7 «C’estlelivreessencial,leseullivrevrai»,afirmaProust,sobreuma obra que traduz a sua própria experiência de sujeito, não no mero sen- tido de um recontar, mas sim de criar. Trata-se de um romance de ma- nifestaçãomuitopessoaldomundo,dosseres,dascoisasedesimesmo. De certa forma, esta é a razão porque a obra de Proust pode ser a base deuma investigação sobre a identidade do sujeito moderno. Ao longo deste trabalho, a trama do seu pensamento irá servir de catapulta para outros voos, desta feita, na análise do papel da comunicação na consti- tuiçãodosujeito. Papelfundamentalporqueinesgotáveleindispensável nacriaçãodeum“Eu”autêntico,naedificaçãodeumaidentidade. Humanidade, sociabilidade e comunicação são temas que as ciên- ciashumanassehabituaramaconjugar. Falardohomeméfalardavida socialeéfalardasformasdecomunicar. Peranteaheterogeneidadedas formas de experiência, dos modos de compreensão do que nos rodeia e dosmodelosderelacionamentosocialimpõe-seumprocessoinevitável de figuração do mundo que está impregnado de linguagem. Só com a linguagem nomeamos a natureza, os objectos, os outros, e assim repre- sentamosonossomundo,trabalhamosanossaidentidadeeaidentidade dascoisas. Aracionalidadeécomunicacionaleética. Comunicaréemprimeiro lugar reflectir, interiorizar e depois, gerir diferenças e pontos de vista comuns. A linguagem de cada indivíduo é acompanhada por juízos es- téticos que conduzem ao respeito pelas diferenças e outras formas de figuração do mundo, ou que bloqueiam o sujeito num cerco demasiado fechado. Afiguraçãodomundopodesertransfiguraçãoquandoseabre 6OepisódiodedicadoàmortedeBergotteencontra-senovol. “LaPrionnière”p. 693(versãoportuguesa: 5,180). 7A temática homem criador/criado será aprofundada no capítulo seguinte, mais especificamenteapropósitodasrelaçõesamorosaseseussimbolismos. www.labcom.ubi.pt 10 GiselaMarquesPereiraGonçalves ao outro e desfiguração quando rejeita as figurações alheias, empobre- cendo assim, as possibilidades de criação de sentido e de identidade própria. Aquestãodoindividualismoearelação“Eu-outro”marcaqualquer tentativa de instituição da identidade do sujeito moderno. A relação comunicacional do sujeito consigo próprio e com o outro é alimentada por um estado de tensão entre os homens e as coisas, e entre o homem e a sua forma de figuração do mundo. Os consensos absolutos, por um lado, e as transgressões extremas por outro, são condições de comuni- cabilidade. Já o excesso de transparência numa relação pode ser um impedimentoàverdadeiracomunicação. Háqueencontraracomunica- bilidadeidealeperdida,acomunicaçãodasverdadesessenciais,inseri- das num contexto ético de experiência do mundo. Esta é a questão de princípio: há que conhecer alternativas para a incomunicação vigente nassociedadesmodernasapologistasdoindividualismo,quenoseuex- tremo cai no solipsismo. Por isso a proposta de Marcel Proust é tão interessante. A Recherche mais não é de que uma constante e intensa procura do Eu, perdido nos conflitos modernos mas reencontrado na manifestaçãomaisabsolutadasuafiguraçãodomundo–aarte. A constituição da identidade moderna será aqui estuda num movi- mentoternário. OcapítuloI“OSujeitoModerno”resume-seaumade- scriçãodacomunicaçãointersubjectivaedacomunicaçãocomoMundo ondeosujeitoseinscreve,comointuitodeesboçarasraízesdasubjec- tividade moderna. Esta preocupação será concretizada no capítulo II “O Sujeito Proustiano”, graças à fertilidade da Recherche, que deixa antever, ou mesmo extrapolar para o estudo em questão a ineficácia da comunicação com o Outro. Finalmente, no capítulo III “O Sujeito Ideal” é enfatizada a solução apresentada por Marcel Proust na busca da sua própria identidade – a criação artística – alcançada na única co- municação autêntica, a intrasubjectiva. A comunicação do sujeito con- sigo mesmo remete para a importante questão da dialéctica comuni- cação/contemplação,atravésdaqualseequacionacomosepodecomu- nicaraessênciaaoOutro,atravésdarelaçãoartística,queéaverdadeira relaçãointersubjectiva. Ninguém como Proust soube questionar o “Eu” e tirar o máximo partido das possibilidades da subjectividade: o “self” é uno ou múlti- plo, concentrado ou disperso, contínuo ou fragmentado? Em “Le Côte www.labcom.ubi.pt

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Como disse Hannah Arendt “A experiência é o estado da Natalidade, antes da linguagem”, porque é nah Arendt que fez a aplicação do juízo estético à política, para explicar fenómenos como o Nazismo e Totalitarismo. xara amolecer um pedaço de madalena. Mas no mesmo instante em que
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