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Econometria PDF

1021 Pages·2014·8.25 MB·Portuguese
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CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO 1.1 - De que trata a Econometria? Numa primeira aproximação, pode dizer-se que a Econometria procura fornecer uma base empírica para o estudo de relações entre variáveis económicas (ou, em ge- ral, de natureza social). Para atingir este objectivo, a Econometria dedica-se ao desen- volvimento de métodos estatísticos para estimar e testar tais relações. Em especial, no campo da Economia, estes métodos devem possibilitar o teste das teorias económicas que podem estar na base das relações preconizadas, e a avaliação e fundamentação de decisões de natureza empresarial ou de política económica. Estas considerações vão ser analisadas nas secções seguintes deste capítulo. Para motivar a análise que vai ser feita, apresentam-se alguns exemplos. Exemplo 1.1 – O consumo privado, considerado como agregado macroeconómico, é uma variável cujo comportamento tem sido amplamente estudado pela teoria macroeco- nómica. A especificação mais simples é a função consumo keynesiana, onde, para su- cessivos períodos de tempo, se procura explicar o consumo, cons, a partir do rendimento disponível, rdisp: cons=h(rdisp). É habitual propor a função h seguinte: cons=α +α rdisp, 1 2 onde α e α são parâmetros desconhecidos (em particular, α é a propensão marginal 1 2 2 para consumir, a verificar 0<α <1). Esta função é razoavelmente adequada para anali- 2 sar a evolução do consumo privado? Se a resposta for afirmativa, é desejável conhecer uma boa estimativa da propensão marginal a consumir. ∇ Exemplo 1.2 – Para as unidades produtivas que se dedicam ao fabrico de um bem é, muitas vezes, possível estabelecer, em certas condições, e para um determinado período de tempo, uma relação funcional h entre a produção, Q, do bem, e determinada combi- nação de factores produtivos (por exemplo: capital, K, e trabalho, L): Q=h(K,L). Esta relação funcional chama-se função de produção. O estudo deste tipo de funções faz parte de um capítulo muito importante da teoria microeconómica: a teoria da produção. Uma especificação muito utilizada é a função Cobb-Douglas, Capítulo 1 – Introdução 2 Q=αKα2Lα3, 1 onde α, α e α são parâmetros positivos (α e α representam, neste caso, as elasti- 1 2 3 2 3 cidades pontuais da quantidade produzida relativamente ao capital e ao trabalho, respec- tivamente; ver secção 1.4). A análise estatística destas elasticidades (estimação pontual e por intervalos, teste de hipóteses, etc.) é uma preocupação empírica muito importante. Outra especificação corrente, na teoria da produção, é a função de produção CES (elasticidade de substituição constante), γ − Q=β{(1−δ)L−ρ+δK−ρ} ρ, com parâmetros β>0, γ>0, 0<δ<1 e ρ. ∇ Exemplo 1.3 – Quando pretende explicar-se o comportamento, ao longo de vários pe- ríodos de tempo, das importações portuguesas, a nível agregado, em função de um indi- cador de preços relativos e de um indicador do nível de actividade, pode estabelecer-se a relação funcional h, import =h(prm,pib), onde: import designa as importações portuguesas a preços constantes; prm é o rácio en- tre o índice de preços implícito nas importações e o índice de preços implícito no PIB; pib é o produto interno bruto português a preços constantes. Uma especificação possível da função h é a seguinte: import =α prmα2pibα3 (α >0). 1 1 Estabelecida esta relação teórica entre as três variáveis, põe-se a questão de esti- mar os respectivos parâmetros (nomeadamente as elasticidades pontuais), e de proceder a outras análises estatísticas. ∇ Exemplo 1.4 – Considere-se as variáveis educ (número de anos de escolaridade de um trabalhador) e salar (salário mensal médio num determinado ano do mesmo trabalha- dor), com o objectivo de saber se educ influencia salar. O efeito da escolaridade sobre o salário chama-se habitualmente retorno da educação. É consenso na economia do trabalho que exper (número de anos de experiência profissional do trabalhador), empc (número de anos de trabalho no emprego corrente), mulher (variável binária que assume o valor 1 quando se trata de uma mulher, e o valor 0 quando é um homem; a discriminação salarial com base no género do trabalhador con- tinua a ser realidade em muitos sectores de actividade) e aptid (aptidão ou capacidade inata da pessoa; variável não observável) são variáveis que também podem influenciar o salário. Tem-se, então, salar =h(educ,exper,empc,mulher,aptid). Capítulo 1 – Introdução 3 Evidentemente, outros factores – como o número de anos de escolaridade da mãe, do pai e do cônjuge do trabalhador, e outros antecedentes familiares, o número de filhos, o estado civil, a localização da habitação, a região onde trabalha, a origem social ou étnica, a nacionalidade, etc. – poderiam ser acrescentados à relação funcional; facil- mente se compreende que não é candidato a figurar em h o número de golos que o clube de futebol da preferência do trabalhador faz em média por mês. Desprezando a variável aptid, podia propor-se a seguinte especificação: salar =exp{α+αeduc+αexper+αempc+αmulher}, 1 2 3 4 5 ou ainda, lsalar =α+αeduc+αexper+αempc+αmulher, 1 2 3 4 5 onde lsalar =ln(salar). Com facilidade se interpreta o significado dos parâmetros (esta questão vai ser aprofundada nas próximas secções). Por exemplo: α (multiplicado por 2 100) mede, aproximadamente, a variação percentual do salário quando um trabalhador tem mais um ano de escolaridade (em estudos deste tipo é particularmente útil conhecer uma estimativa deste parâmetro, que representa o retorno da educação); α (multiplica- 5 do por 100) mede, aproximadamente, a diferença percentual de salário entre uma mu- lher e um homem. ∇ Exemplo 1.5 – Procura saber-se se a assiduidade às aulas de um aluno de Estatística du- rante um semestre (assid) é factor explicativo da nota no exame final da unidade curri- cular (nest). Para isso, considera-se que nest =h(assid,tae,mis), onde tae (nota obtida num teste geral de aptidão escolar) e mis (média geral das notas já obtidas até ao início do semestre) são medidas gerais que reflectem a capacidade e os hábitos de estudo dos alunos. Estas variáveis (conjuntamente com assid) são adequadas para explicar nest? Talvez não, porque podem não reflectir a aptidão e o interesse do aluno pela Estatística. Sendo assim, seria importante a inclusão de uma variável que contemplasse estes aspectos, mas teria o inconveniente de não ser observável. ∇ Exemplo 1.6 – Suponha-se que pretende estimar-se o número diário de viagens de au- tomóvel (viag) entre os concelhos da Área Metropolitana de Lisboa (AML) situados a norte do Tejo, por motivo de deslocação para o trabalho, com vista a tomar decisões so- bre a construção de novas vias rápidas ou alargamento das existentes. Com o objectivo de melhor entender estes movimentos, decidiu-se propor uma relação funcional, onde os factores explicativos de viag são a população activa no concelho de origem (pop), o nú- mero de empresas no concelho de destino (nemp) como sucedâneo do emprego, e a dis- tância entre as sedes dos concelhos de origem e destino (dist). Assim, viag =h(pop,nemp,dist). Capítulo 1 – Introdução 4 Podia propor-se a seguinte especificação de h: viag =α popα2nempα3distα4 (α >0). 1 1 ∇ Os exemplos seguintes consideram modelos económicos com duas ou mais rela- ções. Exemplo 1.7 – Sabe-se da teoria económica que, em muitos casos, o factor principal que explica a procura mensal de um certo bem, q , é o respectivo preço, p. Tem-se, en- d tão, a seguinte função procura: q =h (p). d d Como se sabe, a quantidade e o preço de equilíbrio do mercado (respectivamen- te, q∗ e p∗) não podem ser determinados apenas com aquela função. É indispensável considerar também a função oferta, q =h (p), e a relação de equilíbrio, q =q , o que s s d s permite determinar simultaneamente q∗ e p∗. Obtém-se, assim, um modelo de procu- ra e oferta num mercado em equilíbrio: q =h (p) (função procura) d d  q =h (p) (função oferta) s s  q =q (equilíbrio de mercado).  d s A especificação mais habitual é a seguinte: q =α +αp (função procura) d 0 1  q =β +βp (função oferta) s 0 1  q =q (equilíbrio de mercado).  d s Devido à simultaneidade atrás referida, o modelo apresentado tem o grave in- conveniente de nem sequer permitir estimar a função procura (ou a função oferta), por- que são observáveis apenas a quantidade e o preço de equilíbrio: muitas funções procura (oferta) são compatíveis com o par (q∗, p∗). Uma especificação mais adequada seria, por exemplo, q =α +αp+αr (função procura)  d 0 1 2 q =β +βp+βz (função oferta) s 0 1 2 q =q (equilíbrio de mercado).  d s onde r é o rendimento médio dos consumidores do bem, e z é um indicador da dimensão média das empresas que vendem o bem. Este assunto será retomado no capítulo 4. ∇ Exemplo 1.8 – Sabe-se da teoria macroeconómica que a função consumo introduzida no exemplo 1.1 não deve ser considerada isoladamente, mas integrada num sistema de equações que traduza as relações entre os agregados macroeconómicos. Por exemplo, podia considerar-se o seguinte modelo macroeconómico simples: Capítulo 1 – Introdução 5 cons=β+βpnb (função consumo)  1 2 pnb=cons+invest (identidade do PNB), onde cons é o consumo agregado, pnb é o produto nacional bruto (PNB) ou rendimento nacional, e invest é o investimento agregado. O parâmetro β desempenha um papel 2 fundamental neste modelo, já que representa a propensão marginal a consumir a partir do rendimento (0<β <1). 2 Outro caso típico é o modelo keynesiano simples da procura agregada, onde se tem, por exemplo, cons=β+β(pnb−impd)+βtjuro 1 2 2  invest =γ +γtjuro 1 2  pnb=cons+invest+dp,  onde impd é a receita dos impostos directos, tjuro é a taxa de juro, e dp é a despesa púb- lica. Podia, também, propor-se o seguinte modelo: cons=β+β(pnb−impd)+βtjuro+βcons 1 2 3 4 −1  invest=γ +γtjuro+γ(pnb− pnb ) 1 2 3 −1  pnb=cons+invest+dp,  onde cons é consumo do período anterior, e pnb é o PNB do período anterior. −1 −1 O estudo empírico destes pequenos protótipos de funcionamento de uma econo- mia pode ser particularmente útil para esclarecer certos aspectos das complexas relações entre as grandezas macroeconómicas. ∇ Exemplo 1.9 – Suponha-se que pretende determinar-se a influência do número de agen- tes de polícia (pol) existente em cada cidade sobre a respectiva taxa de criminalidade (crime), admitindo que outro factor explicativo de crime é o rendimento percapita dos habitantes da cidade (rpc). Assim, tem-se crime=h( pol,rpc). 1 Mesmo admitindo que esta relação traduz adequadamente o comportamento dos criminosos, o modelo a considerar não pode ser composto apenas por h , pois é admis- 1 sível que crime e pol sejam interdependentes, e, portanto, determinados simultaneamen- te. Assim, teria de considerar-se uma segunda relação que reflectisse o comportamento das autoridades camarárias relativamente a pol. Por exemplo, poderia supor-se que pol =h (crime,imunicip), 2 onde imunicip é a receita de impostos municipais. Podia, então, especificar-se o seguinte modelo: crime= β + β pol+ β rpc  1 2 3 pol =γ +γ crime+γ imunicip.  1 2 3 Capítulo 1 – Introdução 6 A análise empírica da interdependência entre as variáveis crime e pol pode ser um objectivo importante do estudo econométrico. ∇ Exemplo 1.10 – Os países de economia mais aberta têm menores taxas de inflação? Para responder a esta pergunta, considerou-se que inf =h(ga,rpc), 1 onde inf é a taxa de inflação, ga é o grau de abertura da economia medido pelo quo- ciente entre as importações e o PIB, e rpc é o rendimento per capita. Como é admissível supor que ga também é influenciado por inf (há interdepen- dência entre as duas variáveis), deve considerar-se uma segunda relação funcional, que, por exemplo, poderia ser ga=h(inf,rpc,ap), 1 onde ap é a área do país em quilómetros quadrados. Fazendo inf =β+βga+βln(rpc)  1 2 3 ga=γ +γinf +γ ln(rpc)+γ ln(ap), 1 2 3 4 é de admitir, por exemplo, que β <0 (quanto maior é o grau de abertura da economia, 2 menor a taxa de inflação), e γ <0 (quanto menor é o país, maior é o grau de abertura). 4 A interdependência sugerida entre inf e ga deve ser submetida a uma análise em- pírica adequada. ∇ Ragnar Frisch (economista norueguês, prémio Nobel da Economia em 1969 – conjuntamente com o economista holandês Jan Tinbergen –, e um dos fundadores da Econometric Society), apresentou em 1936 (“Note on the term `Econometrics´”, Eco- nometrica, vol. 4) a primeira definição consistente de Econometria. Trata-se de uma definição ampla (“ideal”), enunciada nos seguintes termos: “a Econometria é uma disci- plina que visa estudar a aplicação da Matemática e dos métodos estatísticos à análise dos dados económicos”. O mesmo economista já afirmava, em 1933, o seguinte: “A ex- periência tem mostrado que cada um destes três pontos de vista, o da Estatística, o da Teoria Económica e o da Matemática, é condição necessária, mas não em si suficiente, para uma verdadeira compreensão das relações quantitativas na vida económica moder- na. É a unificação dos três pontos de vista que é fecunda e constitui a Econometria” (Econometrica, Editorial, 1933). Outra definição célebre deve-se a Samuelson (prémio Nobel em 1970), Koop- mans (prémio Nobel em 1975) e Stone (prémio Nobel em 1984): “A Econometria pode ser definida como a análise quantitativa dos fenómenos económicos, baseada na teoria e na observação, e utilizando os métodos de inferência apropriados”. Muitos outros autores têm apresentado definições de Econometria. Indicam-se mais três citações de econometristas proeminentes: Capítulo 1 – Introdução 7 − “A Econometria pode ser definida como a ciência social em que as ferramentas da teoria económica, da matemática e da inferência estatística são utilizadas na análise de fenómenos económicos” (Goldberger). − “A Econometria preocupa-se com a determinação empírica de leis económicas” (Theil). − “A arte do econometrista consiste em procurar o conjunto de hipóteses que são sufi- cientemente específicas e suficientemente realistas para permitir tirar o melhor parti- do dos dados disponíveis” (Malinvaud). Embora se esteja ainda relativamente distante desta situação ideal, a Econome- tria constitui, actualmente, uma área científica autónoma, que muito tem contribuído para o avanço da ciência económica. Este avanço está bem patente nos contributos de alguns econometristas que foram prémios Nobel recentemente. No ano 2000, o prémio foi atribuído a dois microeconometristas: James Heckman (University of Chicago, USA) [“for his development of theory and methods for analyzing selective samples”]; Daniel Mc Fadden (University of California, at Berkeley, USA) [“for his development of theory and methods for analyzing discrete choice”]. Em 2003, os galardoados foram dois macroeconometristas: Clive Granger (University of California, at San Diego, USA) [“for methods of analyzing economic time series with common trends (cointegra- tion)”]; Robert Engle (University of New York, USA) [“for methods of analyzing eco- nomic time series time-varying volatility (ARCH)”]. A econometria não é, longe disso, “um conjunto de métodos para medir a altura dos economistas”. Em termos muito gerais, pode afirmar-se que o progresso da Econometria é re- levante nos seguintes aspectos: a) nas técnicas de estimação e de análise estatística dos modelos (nos métodos econométricos); b) nas aplicações; c) e mais recentemente, nas tentativas de sistematizar os seus fundamentos metodológicos. 1.2 - Modelo teórico Quando se estuda, com base em dados, um determinado fenómeno de natureza social (em particular, de índole económica), com o objectivo de descrever, explicar ou prever o seu comportamento, procura-se conceber, ainda que de forma aproximada ou simplificada, o mecanismo subjacente ao fenómeno observável. Este mecanismo é desi- gnado habitualmente por modelo teórico. O modelo é assim adjectivado para salientar que deve ser baseado numa determinada teoria (construção conceptual fornecedora de uma descrição idealizada do fenómeno em estudo). No entanto, a teoria subjacente ao modelo não é necessariamente uma conceptualização matemática formal (como mui- tas vezes acontece em macroeconomia e em microeconomia), mas pode consistir numa análise menos formal – em muitos casos apoiada no bom senso e na intuição – com vista a estabelecer meras relações entre variáveis. Deve enfatizar-se ainda que o mode- lo a adoptar é objecto de uma teoria, mas também deve ser encarado como a fonte gera- dora dos dados observáveis. Capítulo 1 – Introdução 8 Exemplo 1.11 – Retome-se os exemplos anteriores: a) No exemplo 1.4 sugeriu-se, tendo por base considerações da área da economia do trabalho, que o modelo teórico a adoptar poderia ser lsalar =α+αeduc+αexper+αempc+αmulher. 1 2 3 4 5 b) Na sequência do exemplo 1.8, e apoiados na teoria macroeconómica, podia ser ra- zoável adoptar o modelo teórico cons=β+β(pnb−impd)+βtjuro+βcons 1 2 3 4 −1  invest =γ +γtjuro+γ(pnb− pnb ) 1 2 3 −1  pnb=cons+invest+dp,  para estudar as relações entre os agregados económicos referidos. c) O exemplo 1.9 sugere que o modelo teórico para estudar as interdependências entre a taxa de criminalidade e o efectivo policial numa cidade poderia ser crime= β + β pol+ β rpc  1 2 3 pol =γ +γ crime+γ imunicip.  1 2 3 d) Fica ao cuidado do leitor indicar modelos teóricos para estudar os fenómenos referi- dos nos exemplos 1.1, 1.2, 1.3, 1.5, 1.6, 1.7 e 1.10. ∇ Cada relação do modelo teórico proposto – exceptuando possíveis relações de equilíbrio ou identidades (ver exemplos 1.7 e 1.8) – procura estabelecer o comporta- mento de uma variável, z, em função de outras variáveis, w,w , ,w . Na relação K 1 2 p funcional considerada, diz-se que z é a variável explicada (a variável dependente ou a variável resposta), e w,w , ,w são as variáveis explicativas (as variáveis indepen- K 1 2 p dentes ou as variáveis controlo). Pode dizer-se que “z é explicado como função de w,w , ,w ”; “os factores explicativos de z são w,w , ,w ”. K K 1 2 p 1 2 p Assim, tem-se a função h de p variáveis (1.1) z=h(w,w , ,w ). K 1 2 p Pressupõe-se que (1.1) envolve um conjunto finito de parâmetros desconheci- dos, α,α, ,α . Diz-se, então, que se tem uma relação paramétrica. O modelo teó- K 1 2 k rico pode ser composto por várias relações de tipo (1.1). As variáveis que fazem parte de um modelo teórico podem ser consideradas atri- butos de uma determinada população em estudo. Deste modo, o modelo teórico compor- ta uma ou mais relações que visa explicar o comportamento de certos atributos da popu- lação. Por exemplo, a relação (1.1) procura estudar o comportamento do atributo z das entidades de uma determinada população em função dos atributos w,w , ,w das K 1 2 p mesmas entidades. Assim, como para qualquer modelo teórico está subjacente uma po- pulação, também se diz que este modelo é um modelo da população. A relação (1.1) também pode ser apresentada na forma seguinte: z=h(w), Capítulo 1 – Introdução 9 onde, por convenção, w é o vector-linha das variáveis explicativas, e α é o vector-colu- na dos parâmetros desconhecidos. Assim, α 1 α w=[w w L w ] e α= 2. 1 2 p M   α k Exemplo 1.12 – Considerem-se, novamente, os exemplos 1.1, 1.2, 1.4 e 1.5, e as últi- mas especificações propostas (os outros exemplos da secção 1.1 ficam ao cuidado do leitor). Tem-se: a) Exemplo 1.1: z=cons e w=rdisp. b) Exemplo 1.2: z =Q, w = K e w = L. 1 2 c) Exemplo 1.4: z=lsalar, w =educ, w =exper, w =empc e w =mulher. 1 2 3 4 d) Exemplo 1.5: z=nest, w =assid , w =tae e w =mis. 1 2 3 ∇ 1.3 - Relações lineares Um caso particular muito importante das relações de tipo (1.1) é aquele que é caracterizado pela linearidade relativamente aos parâmetros, isto é, as relações assu- mem a forma (1.2) y = β x + β x + + β x , L 1 1 2 2 k k onde y é a variável explicada ou dependente (ou uma função desta variável), x,x , ,x K 1 2 k são as variáveis explicativas ou independentes (ou determinadas funções destas variá- veis), e β,β, ,β são os parâmetros. K 1 2 k Muitas vezes, a variável x é identicamente igual a 1. Trata-se de uma conven- 1 ção que permite considerar, na relação linear, um termo independente ou constante. Na maioria das situações a relação (1.2) tem termo independente, β, uma vez que ape- 1 nas em casos muito especiais se supõe que a nulidade das variáveis explicativas implica a nulidade de y. A relação (1.2), também, pode apresentar-se da seguinte maneira: y = xβ, onde β 1   β x=[x x x ] e β= 2. L 1 2 k   M   β   k Em muitas situações, a relação (1.1) não é linear (relativamente aos parâmetros), mas mediante uma transformação da variável z, g(z), consegue obter-se uma relação da forma (1.2), ou seja, linearizou-se (1.1). Uma relação linear ou linearizável diz-se intrinsecamente linear (relativamente aos parâmetros). Capítulo 1 – Introdução 10 Exemplo 1.13 – Retome-se alguns dos dez exemplos da secção 1.1: a) A função de consumo keynesiana referida no exemplo 1.1, cons=β+βrdisp, é li- 1 2 near relativamente aos parâmetros. Tem-se: y=cons, x =1, x =rdisp, β =α e 1 2 1 1 β =α . 2 2 b) A função de produção Cobb-Douglas (exemplo 1.2), Q=αKα2Lα3 (α >0), é li- 1 1 nearizável. Com efeito, logaritmizando a expressão anterior, obtém-se uma função, linear nos parâmetros, equivalente à relação anterior, ln(Q)=β+β ln(K)+βln(L), 1 2 3 onde: y=ln(Q), x =1, x =ln(K), x =ln(L), β =ln(α ), β =α e β =α . 1 2 3 1 1 2 2 3 3 Verifica-se, assim, que a função de produção Cobb-Douglas, embora não linear nos parâmetros, é intrinsecamente linear, pois a transformação logarítmica permite con- vertê-la numa função linear. c) A função de produção CES (ver exemplo 1.2) não é intrinsecamente linear nos parâ- metros, pois não existe qualquer transformação de Q que permita obter uma relação linear. d) Considere-se a relação import=α prmα2pibα3 (α >0) do exemplo 1.3. Logaritmi- 1 1 zando esta expressão, obtém-se ln(import)=β+β ln(prm)+βln(pib), 1 2 3 em que: y=ln(import), x =1, x =ln(prm), x =ln(pib), β =ln(α), β =α e 1 2 3 1 1 2 2 β =α. 3 3 e) No exemplo 1.4 a relação salar =exp{α+αeduc+αexper+αempc+αmulher} 1 2 3 4 5 não é linear nos parâmetros. No entanto, facilmente se passa a lsalar =β+βeduc+βexper+βempc+βmulher, 1 2 3 4 5 onde: y=lsalar, x =1, x =educ, x =exper, x =empc, x =mulher, β =α, 1 2 3 4 5 1 1 β =α , β =α, β =α e β =α. 2 2 3 3 4 4 5 5 f) Se, no exemplo 1.5, a especificação de nest =h(assid,tae,mis) for nest=β+βassid +βtae+βmis, 1 2 3 4 obtém-se uma relação linear relativamente aos parâmetros, onde y=nest, x =1, 1 x =assid , x =tae e x =mis. 2 3 4 ∇ É particularmente importante não confundir linearidade relativa aos parâme- tros com linearidade relativa às variáveis. Por exemplo, uma relação linear nos parâ- metros, mas não linear nas variáveis, é dada por z =α +α w+α w2. Contudo, a relação 1 2 3 z=α +αw +α2w é linear nas variáveis, mas não é linear (nem linearizável) nos pa- 1 2 2 2 3 râmetros. A função de produção Cobb-Douglas referida no exemplo 1.2 é intrinseca- mente linear nos parâmetros, mas não é linear relativamente às variáveis. A relação

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