L. S. S. Ramiro, J. F. Batalla Ecologia alimentar de Pulsatrix koeniswaldiana (Bertoni & Bertoni, 1901) em uma área sob influência antrópica em Ubatuba-SP. Observações preliminares. Lucas S. S. Ramiro¹, Judith F. Batalla² 1Graduando em Ciências Biológicas Bacharelado, Centro Universitário Módulo, Campus Martin de Sá. 2Profa. Dra do Centro Universitário Módulo, [email protected] Resumo O presente trabalho tem por objetivo estudar a relação ecológica de indivíduos de Pulsatrix koeniswaldiana (STRIGIFORMES) em um ambiente de mata secundária, com base em sua dieta. Para desenvolvimento do projeto foram realizadas caminhadas de uma hora, de acordo com a variação climática, em um grid de aproximadamente 15x20 metros, onde encontram-se os poleiros de murucututu-de-barriga-amarela (Pulsatrix koeniswaldiana), que são utilizados para descanso diurno das corujas. Estes locais foram visitados periodicamente afim de encontrar egagrópilas, penas e outras estruturas não digeridas sob os poleiros e obter informações de espécies de presas e outros possíveis comportamentos desta espécie. Até o momento foram encontradas apenas 7 egagrópilas e 2 “bolas de penas”. As análises preliminares do conteúdo das egagrópilas denotam uma predileção ornitófaga (Picidae e Ardeidae), seguida de coleoptera (Tenebrionidae e Scarabaeidae). As bolas de penas parecem pertencer a surucuá (Trogon sp.) e Pariri (Geotrygon montana). Foram observados o uso de habitat recorrente e um indivíduo predando um Japu, o Psarocolius decumanus. Algumas espécies de aves foram registradas realizando mobbing contra as corujas. É evidenciado até o atual estágio de desenvolvimento do trabalho a relação ambiente, predador e presa. O uso de habitat das corujas pode estar intimamente relacionado a disponibilidade de alimento, e a estrutura vegetal. Palavras-chave - Ecologia; Alimentação; Comportamento animal. Introdução (MOTTA-JUNIOR et al., 2004; SICK, 1997). A ocupação humana no Bioma São predadoras topo de cadeia Mata atlântica resultou na drástica alimentar, portando mais sensíveis a fragmentação de seus ecossistemas e qualquer tipo de fragmentação em seu consequentemente uma grande habitat e por isso importantes diminuição da biodiversidade. Essa indicadores ambientais. Se alimentam fragmentação já é conhecida a algum tanto de vertebrados como tempo, sendo que as medidas de invertebrados, tais como insetos, preservação vêm as freando anfíbios, aves e roedores (MOTTA- gradativamente (RAMBALDI et al., JUNIOR et al., 2004). 2003; ALMEIDA, 2000). São poucos os estudos acerca da As corujas, caburés e mochos alimentação e ecologia relacionados a são aves da ordem dos Strigiformes, que ordem dos Strigiformes, sendo quase por sua vez são divididas em duas inexistentes para a espécie Pulsatrix famílias: Tytonidae e Strigidae. koeniswaldiana. A escassez de Possuem características morfológicas, informações se refletem até sobre a anatômicas e comportamentais ausência destes na lista de animais peculiares que desde a antiguidade vem ameaçados de extinção do IBAMA, despertando a curiosidade humana sendo que a baixa densidade UNISANTA Bioscience Vol. 7 nº 2 (2018) p. 126-132 Página 126 L. S. S. Ramiro, J. F. Batalla populacional de algumas espécies aliada Para obtenção dos dados as atividades extrativistas podem gerar amostrais foram realizadas caminhadas extinções locais (CLARK et al., 1978). em campo, em um grid de 15x20 A maior parte dos estudos acerca metros, no Horto Florestal de Ubatuba- das aves Strigiformes são feitos a partir SP. O ambiente está localizado em uma do de sua alimentação, uma vez que antiga plantação de Palmito-juçara essas aves tem o hábito de regurgitar Euterpe edulis, a qual já apresenta uma pelotas (egagrópilas), constituídas por fisionomia de mata secundária (Figura partes não digeridas de suas presas, e 1). Durante as caminhadas também contém material em bom estado para foram observadas a presença de análise, constituindo um método seguro amostras sob o poleiro e na serra para determinar a dieta de muitas pilheira. As amostras foram constituídas espécies (ERRINGTON, 1932). por egagrópilas regurgitadas pelas Esta pesquisa objetivou corujas, além de penas e plumas das estudar a relação ecológica de aves predadas. indivíduos de Pulsatrix koeniswaldiana As amostras foram fixadas em (STRIGIFORMES) em um ambiente de campo com formalina 4%, etiquetadas e mata secundária sob influência enumeradas para análise em laboratório. antrópica constante, com base em sua Em laboratório, com auxílio da lupa e dieta. chave de identificação o material coletado foi analisado e identificado Material e métodos com base na bibliografia especializada para chegar no menor nível taxonômico possível. Figura 1 - Fitofisionomia vegetal da área de estudo. Fonte: Próprio autor (2017). UNISANTA Bioscience Vol. 7 nº 2 (2018) p. 126-132 Página 127 L. S. S. Ramiro, J. F. Batalla Resultados e discussão as egagrópilas podem deteriorar, já foram observados decompositores nas amostras em menos de 10 minutos após Até o momento foram a coruja regurgitar (Figura 2 e 3). As encontradas somente 7 egagrópilas e 3 análises preliminares do conteúdo das “bolas de penas”. A dificuldade em egagrópilas mostraram a que sua dieta encontrar amostras está em parte pode estar composta por ossadas de relacionada com a fisionomia do Picidae e Ardeidae, além de insetos da ambiente com densa serra pilheira no família dos Coleoptera (Tenebrionidae e ambiente florestal (MOTTA-JUNIOR et Scarabaeidae) (Tabela 1). al., 2004). Apesar da rapidez com que Figura 2 - Casal de Murucututu-de-barriga-amarela (Pulsatrix koeniswaldiana) residentes no local de observação. Fonte: Próprio autor (2017). UNISANTA Bioscience Vol. 7 nº 2 (2018) p. 126-132 Página 128 L. S. S. Ramiro, J. F. Batalla Tabela 1 - Conteúdo das Egagrópilas analisadas até o momento. Fonte: Próprio autor (2017). A frequência de avistamento do juntos. Dedicando em média 50 horas Casal de Murucututu-de-barriga- de campo foram encontradas 2 amarela em períodos diurnos na área de egagrópilas e 2 amostras de penas ocorrência no Horto Florestal de passíveis de identificação sob os Ubatuba-SP é superior a 70%, poleiros. As bolas de penas parecem corroborando a residência no local. pertencer a surucuá (Trogon sp.) e Pariri (Geotrygon montana) (Figura 3). Foram Com auxílio do playback foi observados o uso de habitat recorrente e possível avistar a espécie em todas as um indivíduo predando um Japu, o visitas noturnas. Em todos os casos os Psarocolius decumanus. indivíduos foram avistados sempre Figura 3 - Remiges de Potamotrygon montana e Caudais de Trogon sp. Fonte: Próprio autor (2017). UNISANTA Bioscience Vol. 7 nº 2 (2018) p. 126-132 Página 129 L. S. S. Ramiro, J. F. Batalla Os dados preliminares indicam exatidão tais preferencias, uma vez que uma alimentação com predileção a abundância de alimento pode ornitófaga, seguida de Coleoptéra. É influenciar diretamente os dados (Figura necessário efetuar uma comparação 4 e 5). sazonal para determinar com maior Figura 4 - Conteúdo das egagrópilas. Fonte: Próprio autor (2017). UNISANTA Bioscience Vol. 7 nº 2 (2018) p. 126-132 Página 130 L. S. S. Ramiro, J. F. Batalla Figura 5 - Egagrópila com ação de decompositores (Isoptera). Fonte: Próprio autor (2017). As “bolas de penas” foram (Drymophila squamata), Arapaçu-liso identificadas como pertencentes à (Dendrocincla turdina) e o Beija-flor- Surucuá (Trogon sp.), Pariri (Geotrygon de-fronte-violeta (Thalurania montana) e a Pombão (Patagioenas glaucopis). O comportamento de picazuro). Foram constatados o uso de Mobbing ou “comportamento de habitat recorrente nas incursões à tumulto” (Figura 6) pode estar campo e algumas espécies de aves relacionado a pressão predatória que as foram registradas realizando mobbing populações sofrem em determinado contra as corujas, como a Balança-rabo- ambiente, logo, é possível especular de-bico-torto (Glaucis hirsutus), Sabiá- hábitos de forrageio das corujas dentro poca (Turdus amaurochalinus), Sabiá- do fragmento florestal. una (Turdus flavipes), Pintadinho Figura 6 - Balança-rabo-de-bico-torto (Glaucis hirsutus) investindo contra a Murucututu-de-barriga-amarela (Pulsatrix koeniswaldiana) em um Mobbing. Fonte: Próprio autor (2017). UNISANTA Bioscience Vol. 7 nº 2 (2018) p. 126-132 Página 131 L. S. S. Ramiro, J. F. Batalla Considerações finais MOTTA-JUNIOR-JUNIOR, J. C.; BUENO, A. de A.; BRAGA, A. C. R. O uso de habitat das corujas pode Corujas brasileiras. Departamento de estar intimamente ligado a fisionomia Ecologia, Instituto de Biociências da vegetal e o grande adensamento de Universidade de São Paulo, p. 6-18, Palmito-Juçara Euterpe edulis, que 2004. oferece não só fonte abundante de alimento para outras espécies, além de RAMBALDI, D. M.; OLIVEIRA, D. A. um microclima confortável. S. Fragmentação de ecossistemas: As análises preliminares do causas, efeitos sobre a biodiversidade e conteúdo das egagrópilas e penas recomendações de políticas públicas. denotam uma predileção ornitófaga, Ministério do Meio Ambiente, Brasília. seguida de coleóptera. Se evidencia até 2003. p. 24-82. 2003. o presente momento, que a atividade de forrageio e o uso de habitat de Pulsatrix SICK, H. Ornitologia brasileira. 2ª. koeniswaldiana nesse fragmento de ed. Editora Nova Fronteira. Rio de mata secundária pode corroborar sua Janeiro. 1997. 393p. importância ecológica como controladora de populações, ocupando uma lacuna importante na cadeia alimentar de ecossistemas em ascensão. Além de contribuir com dados que são escassos em literatura, como a predileção de certos táxons na alimentação. É evidenciado até o atual estágio de desenvolvimento do trabalho a relação ambiente, predador e presa. O uso de habitat das corujas pode estar intimamente relacionado a disponibilidade de alimento, e a estrutura vegetal. Referências ALMEIDA, A.F. Influência de corredor florestal sobre a avifauna da Mata Atlântica. Scientia Forestalis, n. 58, p.99-109, 2000. CLARK, R. J., SMITH, D. G.; KELSO L. H. Working bibliography of owls of the world. Washington, D.C: National Wildlife Federation, Sci. Tech, v. 1, p: 30-43, 1978. ERRINGTON, P. L. Technique of raptor food habits study. The Condor, v. 34; p: 75-86, 1932. UNISANTA Bioscience Vol. 7 nº 2 (2018) p. 126-132 Página 132