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Duce - Ascensão e Queda de Benito Mussolini PDF

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Duce! Ascensão e Queda de Benito Mussolini Richard Collier Tradução de Leonidas Gontijo de Carvalho DISTRIBUIDORA RECORD RIO DE JANEIRO • SÃO PAULO Título original inglês: DUCE! THE RISE AND FALL OF BENITO MUSSOLINI Copyright (C) 1971 by Richard Collier O contrato celebrado com o autor proíbe a exportação dêste livro para Portugal Continental e Ultramarino Direitos exclusivos de publicação no Brasil reservados pela Distribuidora Record de Serviços de Imprensa S. A. Av. Erasmo Braga, 255 — 8.° andar — Rio de Janeiro, GB que se reserva a propriedade desta tradução. Impresso no Brasil Aos Homens e às Mulheres da Itália que viveram esses momentos O que eu sou para a Alemanha, vós sois, ó Duce, para a Itália. Mas o que juntos somos para a Europa somente a posteridade poderá avaliar e decidir. Adolf Hitler a Benito Mussolini 28 de fevereiro de 1943 Depois de todo esse sofrimento e de toda essa luta, de todas essas lágrimas e angústias, de todo esse sangue, ódio e desespero, que devemos fazer? Ignazio Silone, Fontamara I. “Roma ou Morte” 27-30 de outubro de 1922 Não parecia noite apropriada para uma revolução. Às 18 horas a chuva começara a cair, castigando com furiosas rajadas o mar Tirreno e encharcando os homens que, com brilhantes capas pretas, se acocoravam em montes de palha diante de uma fogueira muito fraca. Naquela noite de outubro de 1922, entretanto, para além das colinas que aninhavam Roma, cerca de 40.000 homens aguardavam a queda da cidade. Durante todo o dia os milicianos do exército dos camisas-negras, tropa de choque dos 300.000 homens do Partido Fascista italiano, tinham-se preparado para a marcha sobre Roma. De Bolzano, nas Dolomitas, a Palermo, na Sicília, mais de 1.600 quilômetros ao sul, legiões de Camisas-Pretas, ao ouvirem a palavra mágica “Roma”, haviam saltado para caminhões, carroças e sacolejantes carruagens puxadas a cavalo. Havia camisas-negras acampados em olarias, vinhedos e vilas, em celeiros, estábulos e adegas. Fazia apenas três anos que cem homens haviam fundado o Partido Fascista num salão com paredes de pinho, na Piazza San Sepulcro, de Milão, e seus objetivos semelhavam os de piratas, com suas bandeiras ostentando uma caveira e duas tíbias cruzadas: esmagar os adversários socialistas e comunistas e apoderar-se, pela força, das rédeas do governo. Teoricamente, o plano resistia a toda prova. Em Tivoli, a 35 quilômetros de Roma, mais de 4.000 fascistas, acampados nos extensos jardins do século XVI de Villa D’Este, dominavam as fontes de abastecimento de água e eletricidade de Roma. Em Monterotondo, a 24 quilômetros a nordeste, 13.000 camisas-negras procedentes da Toscana achavam-se prontos para ocupar a principal linha férrea que descia pela espinha dorsal da Itália. A oeste, em Civitavecchia — antigo porto no Mediterrâneo —, camisas-negras vindos de Pisa, Lucca e Carrara tinham outro objetivo vital: a principal via férrea que seguia ao longo da costa. Já a cidade de Cápua, junção para o sul, era o alvo dos camisas-negras procedentes de Nápoles. Ao alvorecer de 28 de outubro, os camisas-negras de uma centena de cidades revelar-se-iam o inimigo dentro delas, entrosados para apoderarem-se, rápida e silenciosamente, dos correios, das prefeituras, das estações ferroviárias e dos quartéis militares. Dentro de horas os fascistas estariam controlando a Itália e cercando a Cidade Eterna. Por mais incrível que pareça, no entanto, na undécima hora, o exército dos camisas-negras estava tão mal equipado para realizar sua tarefa quanto os mercenários do século XIV. Aos homens acampados naquela noite chuvosa de outubro, o termômetro marcando nove graus acima de zero, faltavam mantimentos, armas e, acima de tudo, diretriz. Típico era o caso da companhia do conde Valentine Cencelli, composta de 130 homens, que rumava para Monterotondo. Além de duas metralhadoras, somente 80 deles portavam armas, que não passavam de espingardas usadas na caça aos ursos e porcos selvagens nas colinas nativas de Sabine. As quatro colunas que empreendiam a Marcha sobre Roma não puderam contar com um único canhão para fazerem frente aos 30.000 soldados da guarnição de Roma, comandados pelo general Emanuele Pugliese. Na casa de um negociante da piazza principal de Monterotondo, o comandante de coluna Ulisse Igliori — jovem de 26 anos de idade, alto e louro, aviador na Primeira Guerra Mundial — confiou suas preocupações a seu diário: “Nem um ceitil para alugar carros … nossos homens estão completamente encharcados e não se alimentam desde ontem.” No Castelo Odescalchi, orlado de pinheiros, em Santa Marinella, empoleirado numa costa alcantilada acima do inquieto mar Tirreno, o marquês Dino Perrone Compagni, ex-oficial de cavalaria, que havia sido expulso das fileiras do Exército, também fazia registros em seu diário. Presa de certa tensão, anotou: “Necessidades: água, mantimentos e dinheiro. É impossível manter contato com o Alto Comando de Perugia.” Perrone escreveu isso em razão de amarga experiência. Recebendo ordem para assumir o comando de seus homens à meia-noite de 27 de outubro, levara nove horas, embora guiando a alta velocidade pelas estradas atormentadas pela chuva, para cobrir a distância de 218 quilômetros até Perugia. O resultado era claro: qualquer ordem para atacar de rijo e depressa, visando à conquista de Roma, estaria com nove horas de atraso antes de ser recebida, e já fazia muito tempo que mantivera contato com seus colegas comandantes de colunas. Entrementes, a noite parecia eterna; a chuva continuava a cair e a terra vermelha deslizava, qual um riacho, para os esgotos. Em meio ao frio e à escuridão, e pouco conhecendo de sua triste situação, 40.000 homens aguardavam, pacientemente, instruções de seus chefes e, com maior urgência, armas e reforços. Em Ferrara — a quase 400 quilômetros ao norte daquelas colunas a postos e à espera — a chuva havia cessado. Nas proximidades da estação ferroviária, às vinte e três horas, Carlos Goldoni, de vinte e quatro anos de idade, agachado nas sombras e presa de grande tensão, apenas ouvia o sussurrar do vento nos pinheiros e o ruído abafado que vinha do pátio de manobras. À feição de centenas de outros fascistas naquela noite, Goldoni não se preocupava com decisões dos chefes do Partido; sua tarefa era procurar armas, munições e transportes. Fascista veterano, que ganhava precariamente a vida como taquígrafo independente, já se acostumara com a situação; usava agora, de acordo com o regulamento, capacete de aço c camisa preta, uniforme de campanha das tropas de choque. Durante os últimos três anos sangrentos, desde que o Partido Fascista criara uma secção em Ferrara, trinta e dois camaradas seus haviam sucumbido por ocasião de choques com a polícia ou com os rivais socialistas e comunistas. A procura de armas aumentara duas noites antes, às vésperas da revolução. O guarda do museu da cavalaria local foi dominado, numa incursão levada a efeito, às duas horas da madrugada, sob a chefia de Goldoni; por meio de ameaças impuseram silêncio ao guarda e limparam as salas de todas as armas que ali havia, embora a maioria fosse obsoleta. Conseguiu-se, no saque, o total de três metralhadoras e vinte fitas de munições. Foi então que o chefe de Goldoni, Ítalo Balbo — o “Barba de Ferro” —, tomou a iniciativa. Ex-oficial, com 26 anos de idade, barba vermelha e fala ciciosa, cujo amuleto era um anel de cabelos de Lucrécia Bórgia, Balbo era um dos quatro chefes do Alto Comando que estavam organizando a marcha da coluna de Perugia. Via a revolução em termos de sangue. — Você precisa descobrir mais — ciciou. — Rendernos-emos somente depois de gasto o último cartucho. Em seguida, Goldoni — juntamente com dois camaradas que se achavam acocorados a seu lado: Umberto Turati e Carlo Liverani, violinista de um café — levou a efeito uma incursão noturna contra o quartel do 28º Batalhão de Infantaria. Equipados com sacolas, à semelhança de caçadores furtivos, formaram uma escada humana para galgar o muro elevado, assaltaram o depósito de armas e escaparam com vinte mosquetões e seis revólveres. Comentou inteligentemente o comandante do esquadrão de Goldoni: — Embora apenas quarenta em cem trabalhem, mesmo assim isso representou um belo feito. A colheita estava aumentando. Poderia elevar-se mais ainda. Sob a luz brilhante dos globos de gás da entrada da estação, Goldoni viu o homem a quem esperava: o Dr. Caputo, antigo conhecido, chefe da polícia rodoviária. O fascista fez sinal aos outros para guardarem silêncio e, com passo firme, saiu das sombras, encaminhando-se para a claridade do lampião do outro lado do pátio molhado pela chuva. — Goldoni? — perguntou o chefe da polícia, olhando para a porta escura da estação. — Que o traz aqui a esta hora? — Vim fazer uma visita — respondeu Goldoni e tranquilamente, qual um profissional, encostou o revólver nas costelas do policial. — Levante as mãos e entregue-me sua arma. Caputo espantou-se. — Você está louco? — Isso não importa. Tenho minha gente lá fora. Trate de dar-me a arma, chame seus homens e diga-lhes que façam o mesmo. Nesse momento os camisas-negras para ali convergiam vindos das sombras; Caputo e seus sete policiais foram desarmados sem opor resistência. Por motivos estratégicos, Goldoni e seus companheiros haviam sido instruídos, dias antes, a respeito da necessidade de se apoderarem, logo, daquele ponto-chave. Nessa noite chuvosa e lúgubre fora reservada aos passageiros do DD-49 — o expresso Trieste—Roma — a mais desagradável das surpresas. A velha máquina Pacific surgiu no horário, uma hora e oito minutos de 28 de outubro, procedente de Pádua. Antes de a composição chegar a parar, os fascistas saltaram para dentro dos vagões e, empunhando as armas, percorreram rapidamente os compartimentos fracamente iluminados. Dos passageiros revoltados, de olhos sonolentos, despertados pelo grito de “Toda gente para fora!” e empurrados, sem cerimônia, para a plataforma, foram arrebanhados mais trinta revólveres. Com a chegada de outros fascistas, instalaram-se cantinas móveis e distribuíram-se pequenas rações: pãezinhos, mortadela e água mineral. Outros ocuparam-se em instalar as três metralhadoras surripiadas do museu: uma no vagão da bagagem, na cauda do trem, outra na parte central do comboio e o próprio Goldoni ajudou a acomodar a terceira num degrau, ao lado do engenheiro Vittorio Nespoli. Subiram para a cabina da máquina e os dois homens trocaram um aperto de mão com ar triunfante. Dias antes, Goldoni havia prevenido Nespoli: — Mande avisar quando for passar por Ferrara. Necessitamos de um trem que nos leve a Roma. Não podemos ir de bicicleta. Imperturbável, Nespoli respondera: — Passarei no dia 26, ou 27. Em toda a Itália, naquela noite, 11.000 ferroviários — membros leais do Partido Fascista — seguiam um plano pré-estabelecido: acumpliciavam-se calmamente com os camisas-negras locais no sequestro dos trens em que trabalhavam. Às duas horas da madrugada, com os 120 fascistas de Ferrara no trem, ouviu-se um apito estridente; ao som ruidoso de uma charanga, o comboio começou a ganhar velocidade. Num compartimento apinhado de gente, de um dos últimos vagões, Carlos Goldoni relaxou o corpo, satisfeito; sabia que naquela noite não poderia dormir, pois em Bolonha, a parada seguinte, outros quatrocentos elementos da linha de frente estavam escalados para embarcar no comboio. Extensos carros-dormitório deslizaram, noite adentro, um após outro, estrepitosamente, em direção a Roma. No escritório do chefe da estação de Civitavecchia, o major Ugo Azzi, da 16ª Divisão de Infantaria, quebrava o lacre de um volumoso envelope. Um telegrama havia chegado pouco antes das vinte e uma horas de 27 de outubro, conforme prevenira três dias antes o Diretor-Geral da Segurança Pública. Era a mensagem que Azzi e três outros comandantes do destacamento da via férrea esperavam: “Ponham imediatamente em execução a ordem combinada. Pugliese.” Restava, agora, abrir o envelope lacrado que continha a ordem já recebida do general Pugliese, comandante da guarnição de Roma. À luz vacilante de um lampião a querosene, o major Azzi estudou as instruções. Tratava-se de um memorando com oito itens. O primeiro ressaltava, com bastante clareza: “Caso o trem dos fascistas tente alcançar a Capital, procure impedi-lo por todos os meios de intimidação, excluído o emprego de armas … permitindo que o trem prossiga sua marcha com qualquer número de fascistas até ao total de 300. “Uma vez atingido esse total, obstrua a linha para que não possam seguir outros trens, recorrendo a todo e qualquer meio, inclusive à força das armas…” O Rei Vittorio Emanuele III bateu com o punho fechado da mão direita sobre a palma da esquerda, sinal seguro de que estava preocupado ou desolado. Às vinte e uma horas de 27 de outubro, andando de um lado para outro em seu gabinete coberto de tapeçaria, no Palácio do Quirinal, que datava do século XVI e dominava a cidade de Roma, o Rei mostrava-se tão receoso do futuro do trono quanto qualquer outro monarca da Europa. Cenho franzido pela irritação, mordendo os agressivos bigodes, o pequenino Rei de um metro e meio de altura contemplava com alguma dureza quem lhe perturbara o dia e a paz de espírito: o velho Presidente do Conselho, Luigi Facta, homem de 63 anos de idade. Às seis horas daquela manhã, o Rei preparava-se para uma caçada em sua propriedade campestre de San Rossore, a mais de 320 quilômetros de Roma, quando chegou a suas mãos um telegrama urgente de Facta, em código. Presa de vaga inquietação, perdeu todo o ânimo para a caçada. Decifrada, a mensagem

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