Doutoramento em Saúde Pública Especialidade em Política, Gestão e Administração em Saúde DA ASSISTÊNCIA AOS POBRES AOS CUIDADOS DE SAÚDE PRIMÁRIOS EM PORTUGAL: O PAPEL DA ENFERMAGEM 1926-2002 Ana Paula Gato R. Polido Rodrigues Orientador: Professor Doutor Constantino Sakellarides Co-Orientadora: Professora Doutora Laurinda Abreu Tese submetida como requisito para a obtenção do grau de Doutor em Saúde Pública Lisboa, 2013 Doutoramento em Saúde Pública Especialidade em Política, Gestão e Administração da Saúde DA ASSISTÊNCIA AOS POBRES AOS CUIDADOS DE SAÚDE PRIMÁRIOS EM PORTUGAL: O PAPEL DA ENFERMAGEM 1926-2002 Ana Paula Gato R. Polido Rodrigues Orientador: Professor Doutor Constantino Sakellarides Co-Orientadora: Professora Doutora Laurinda Abreu Tese submetida como requisito para a obtenção do grau de Doutor em Saúde Pública Lisboa, 2013 À minha família AGRADECIMENTOS Ao meu orientador, Professor Doutor Constantino Sakellarides, e à minha coorientadora Professora Doutora Laurinda Abreu, pelo seu constante apoio ao longo destes anos. O afeto e as aprendizagens feitas não cabem nas palavras que possa escrever. Sem o seu incentivo, sabedoria, sensibilidade e rigor científico não teria sido possível fazer este caminho. Aos meus entrevistados, por partilharem comigo as suas experiências e memórias: Adriano Silva Campos, Carlota Braz de Oliveira, Cesaltina Marquês Coelho, Cristina Correia, Constantino Sakellarides, Eduarda Cabral Tinoco, Ernesto Tocantins Rodrigues, Fernanda Dias, Fernando Vasco, Francisco George, Isabel Azevedo Costa, Manuela Santos Pardal, Maria João Bastos, Maria José Crespo, Natália Vieira da Costa, Nazaré Graça, Zita Alves, X. Aos responsáveis e funcionários dos diversos arquivos e bibliotecas que consultei. Destaco pelo acolhimento e disponibilidade: Dr.ª Elvira Silvestre, Dr. Artur Antunes e Sr. Miguel Flores, do Instituto Nacional de Saúde Prof. Ricardo Jorge; Dr.ª Cristina Nogueira da Fundação Bissaya Barreto; Dr.ª Fátima Santos do Centro de Documentação do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses e Dr. Albertino Figueira da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo. À Isabel Cachão, ao Ricardo Gonçalves, ao Francisco Matias e à Carolina Grohman Pereira por toda a ajuda. Aos colegas da Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Setúbal, de forma especial ao Professor Doutor António Manuel Marques pelos momentos de apoio, discussão e partilha. À Profª Maria da Conceição Rainho, da ESS da UTAD, a sua amizade permitiu que o longe se tornasse perto. Aos meus amigos pelo incentivo e apoio, e por esperarem por mim. Ao Professor Doutor Padre Fernando Alves Cristóvão, pelo seu exemplo e pela luminosidade das suas palavras. À minha família, de forma especial aos meus filhos e à minha mãe pelos afetos, por todo apoio e paciência. Um agradecimento especial ao Filipe. Ao Fernando Cristóvão, meu marido, por tudo. i RESUMO Este estudo analisa a forma como os cuidados de saúde não hospitalares e a enfermagem comunitária, se desenvolveram e se influenciaram mutuamente, no período 1926-2002. Trata-se de um estudo histórico que recorre a fontes escritas, imagéticas e orais, e utiliza conceções do novo institucionalismo e os conceitos de poder e biopoder de Foucault, para investigar este processo. Apresenta e analisa as origens destes cuidados e da enfermagem comunitária, o modo como se institucionalizaram e como evoluíram. A criação e desenvolvimento dos cuidados de saúde não hospitalares foram acompanhados pela individualização da enfermagem comunitária. As políticas e práticas dos cuidados de saúde primários e da enfermagem comunitária apresentam uma clara dependência do percurso já realizado. A sua génese está ligada a práticas de caridade cristã de assistência aos mais pobres liderada pelas Misericórdias e ordens religiosas. O novo entendimento sobre o papel do Estado relativamente à saúde conduziu à criação de instituições não hospitalares e à diferenciação da enfermagem comunitária. Assinale-se como momentos positivos para enfermeiros e instituições a formação das visitadoras sanitárias, apoio à formação em saúde pública pela Fundação Rockefeller, a criação de instituições corporativas, privadas e públicas de cuidados não hospitalares, a reforma de 1971 e o movimento dos CSP. As políticas institucionais condicionaram o próprio desenvolvimento e o da enfermagem comunitária, devido aos estereótipos associados ao papel da mulher, à multiplicidade e disparidade de formações e às visões divergentes sobre o que era a enfermagem comunitária. Este processo de desenvolvimento entretecido entre enfermagem comunitária e CSP apresenta influências e contributos mútuos. Os cuidados de saúde não hospitalares proporcionaram aos enfermeiros formação, desenvolvimento profissional, oportunidade de uma intervenção diversificada e com elevado grau de autonomia. Já estes trouxeram aproximação à comunidade, atenção especial aos mais vulneráveis, criatividade, capacidade de adaptação perante condições adversas, contribuindo para a visibilidade e relevância afetiva dos CSP. Palavras-chave: cuidados de saúde não hospitalares, cuidados de saúde primários, enfermagem comunitária, política de saúde. ii ABSTRACT This study examines how primary healthcare and community nursing, developed and influenced each other, over the period from 1926 to 2002. It is a historical study and uses conceptions of the new institutionalism and the concepts of power and biopower of Foucault, to investigate this process. The aim of this study is to analyze the origins and development of primary healthcare and community nursing, how they became institutionalized and evolved. The creation of primary healthcare was followed by individualization of community nursing. The policies and practices of primary health care and community nursing show clear path dependence. Its origins are linked to the practice of Christian charity to assist the poor, led by “Misericórdias” and religious orders. The new understanding about the role of the State in relation to healthcare led to the creation of primary healthcare services and the differentiation of community nursing. The visiting nurses education, supporting training in public health by the Rockefeller Foundation, the creation of corporate, private and public primary healthcare services, the 1971 reform and the movement of primary healthcare, were positive marks for the nurses and institutions. The institutional policies conditioned the community nursing and primary healthcare, due to the stereotypes associated with the role of women, the multiplicity and disparity of backgrounds and divergent conceptions about community nursing. This development process reveals influences and multiple contributions. The primary healthcare provided training to nurses, professional development, and an opportunity for a diversified intervention with a high degree of autonomy. On the other hand, the nurses brought concern to the vulnerable and poor people, creativity, and adaptability against adverse conditions, contributing to the visibility and affective relevance of primary healthcare. Keywords: primary healthcare, community nursing, health policies. iii ÍNDICE AGRADECIMENTOS ............................................................................................................................ i RESUMO ............................................................................................................................................. ii ABSTRACT ......................................................................................................................................... iii ÍNDICE ................................................................................................................................................ iv ÍNDICE DE FIGURAS ....................................................................................................................... viii ÍNDICE DE GRÁFICOS ....................................................................................................................... x ÍNDICE DE QUADROS ....................................................................................................................... xi LISTA DE SIGLAS ............................................................................................................................ xiii INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 1 OBJETO DE ESTUDO E ABORDAGENS HISTORIOGRÁFICAS .............................................. 1 FONTES E OPÇÕES METODOLÓGICAS ............................................................................... 12 MODELO DE ANÁLISE............................................................................................................. 16 ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO ................................................................................................. 28 PARTE I - O ESTADO NOVO: CONTROLAR E CUIDAR ............................................................... 31 CAPÍTULO 1 - ESTADO, POLÍTICAS E INSTITUIÇÕES PÚBLICAS ...................................... 33 1.1. SAÚDE PÚBLICA E CUIDADOS NA COMUNIDADE ................................................................... 33 1.2. SAÚDE E CONTEXTO POLÍTICO ........................................................................................... 42 1.3. AUTARQUIAS, MÉDICOS MUNICIPAIS E DELEGADOS DE SAÚDE ............................................... 53 1.4. COMBATER AS EPIDEMIAS E A IMORALIDADE ....................................................................... 61 iv 1.5. VIGIAR A SAÚDE DAS MÃES E DAS CRIANÇAS ....................................................................... 76 1.6. OS PRIMEIROS CENTROS DE SAÚDE .................................................................................. 91 CAPÍTULO 2 - AS INSTITUIÇÕES CORPORATIVAS E PRIVADAS ....................................... 99 2.1. AS CASAS DO POVO....................................................................................................... 101 2.2. AS CASAS DOS PESCADORES ......................................................................................... 109 2.3. AS CAIXAS DE PREVIDÊNCIA ........................................................................................... 118 2.4. AS MISERICÓRDIAS ........................................................................................................ 124 2.5. OUTRAS INSTITUIÇÕES – MARCAS PARA A POSTERIDADE ................................................... 135 CAPÍTULO 3 - ENFERMEIRAS COMUNITÁRIAS ................................................................. 143 3.1. TRAJETÓRIA DE UMA PROFISSÃO ..................................................................................... 143 3.2. ENFERMAGEM COMUNITÁRIA – OS PRIMÓRDIOS ................................................................ 151 3.3. AS VISITADORAS SANITÁRIAS........................................................................................... 166 3.4. ENFERMEIRAS COMUNITÁRIAS - DIVERSIDADES ................................................................. 200 SÍNTESE ANALÍTICA DA PRIMEIRA PARTE ........................................................................ 217 PARTE II - DA PRIMAVERA MARCELISTA AO NOVO MILÉNIO ................................................ 229 CAPÍTULO 1 - GRANDES ESPERANÇAS ............................................................................ 231 1.1. A REFORMA DE 1971 – A LEGISLAÇÃO DE GONÇALVES FERREIRA ...................................... 232 1.2. O PÓS-25 DE ABRIL ....................................................................................................... 250 1.3. ENFERMEIROS EM MUDANÇA ........................................................................................... 264 CAPÍTULO 2 - DESCONTINUIDADES E REFORMAS .......................................................... 277 2.1. NOVAS POLÍTICAS PARA OS CUIDADOS DE SAÚDE PRIMÁRIOS ............................................ 278 2.2. UMA REFORMA ADIADA ................................................................................................... 284 2.3. ENFERMAGEM – TEMPOS DE INCERTEZAS E DESAFIOS ...................................................... 292 SÍNTESE ANALÍTICA DA SEGUNDA PARTE ........................................................................ 303 v PARTE III - SER ENFERMEIRO NOS CSP: HISTÓRIAS DE VIDA .............................................. 313 CAPÍTULO 1 - ORIGENS, FORMAÇÃO E ESCOLHAS ........................................................ 315 1.1. CONTEXTOS FAMILIARES E SOCIAIS .................................................................................. 316 1.2. A OPÇÃO PELA ENFERMAGEM .......................................................................................... 319 1.3. FORMAÇÃO ................................................................................................................... 328 1.4. ESCOLHER A ENFERMAGEM COMUNITÁRIA ....................................................................... 336 CAPÍTULO 2 - DIVERSIDADE DE CONTEXTOS, PRÁTICAS E PERSPETIVAS ................. 345 2.1. CONTEXTOS DE PRÁTICA – MULTIPLICIDADES.................................................................... 345 2.2. AS PRECÁRIAS CONDIÇÕES DE TRABALHO E OUTRAS DIFICULDADES.................................... 356 2.3. O INVESTIMENTO PROFISSIONAL ...................................................................................... 358 2.4. SOBRE O SER ENFERMEIRO COMUNITÁRIO ........................................................................ 368 SÍNTESE ANALÍTICA DA TERCEIRA PARTE ....................................................................... 373 CONCLUSÕES............................................................................................................................... 377 FONTES E BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................... 387 FONTES ORAIS ..................................................................................................................... 387 FONTES MANUSCRITAS ....................................................................................................... 387 FONTES IMPRESSAS ............................................................................................................ 389 LEGISLAÇÃO E FONTES OFICIAIS ............................................................................................. 389 PUBLICAÇÕES PERIÓDICAS .................................................................................................... 393 RELATÓRIOS E ATAS ............................................................................................................. 396 BIBLIOGRAFIA ....................................................................................................................... 403 REFERÊNCIAS ELECTRÓNICAS ............................................................................................... 420 vi
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