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DOUTORAMENTO EM ANTROPOLOGIA ESPECIALIDADE EM ANTROPOLOGIA VISUAL A ... PDF

289 Pages·2013·3.56 MB·English
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DOUTORAMENTO EM ANTROPOLOGIA ESPECIALIDADE EM ANTROPOLOGIA VISUAL A ausência do Corpo na Comunicação Online – a descoberta da identidade no Second Life Maria Paula Oliveira Justiça _________________________________________ Abril de 2013 A ausência do Corpo na Comunicação Online Maria Paula Oliveira Justiça DOUTORAMENTO EM ANTROPOLOGIA ESPECIALIDADE EM ANTROPOLOGIA VISUAL A ausência do Corpo na Comunicação Online – a descoberta da identidade no Second Life Tese orientada pelo Professor Doutor José Ribeiro Maria Paula Oliveira Justiça _________________________________________ Abril de 2013 1 A ausência do Corpo na Comunicação Online Maria Paula Oliveira Justiça Agradecimentos O meu percurso, desde que entreguei o projeto da tese de doutoramento, não foi linear e por isso acabei por demorar muito mais do que previa na consecução dos objetivos pretendidos, devido a uma série de razões: primeiro, porque depois de já ter iniciado este projeto decidi centrar o meu estudo no metaverso, o que implicou voltar ao início e esquecer quase tudo o que já tinha delineado; segundo, porque quando tomei essa decisão, durante aproximadamente seis meses estive completamente imersa nessa segunda vida, o que corresponde a ter ficado viciada supostamente num jogo virtual; terceiro, porque só passado um ano, durante um período semelhante, pude dedicar-me inteiramente ao mundo virtual, nomeadamente à organização de sessões semanais nas Imagens da Cultura, no Second Life; e por fim, porque a minha vida profissional não me tem proporcionado o tempo necessário para refletir acerca do material reunido durante estes últimos anos. Refiro tudo isto por considerar que só consegui ultrapassar algumas destas fases com a ajuda da família mais próxima e de amigos, reais ou virtuais, a quem pretendo agradecer nas próximas linhas, pois sem eles teria sido impossível estar aqui neste momento a escrever estas palavras. Quero agradecer primeiro que tudo aos meus pais, à minha irmã e à minha tia, assim como a todos os que compartilham o meu dia-a-dia, que sempre me deram o suporte afetivo e material para me ser mais fácil prosseguir, mas também aos meus colegas de doutoramento, a Adelina e o Casimiro, e ao meu orientador, Professor José Ribeiro, sempre disponíveis para ajudar e partilhar, assim como à Professora Luísa Aires, pela sua simpatia e compreensão. Quero agradecer ainda a todos com quem contatei no mundo virtual e que de alguma forma contribuíram para a realização deste projeto, mas uns mais do que os outros, por isso vou realçar, por ordem alfabética, alguns dos que indubitavelmente o marcaram: Aerdna Beaumont, Alma Myoo, 1afterlab Aeon, Alexandre Macpherson, Alvari Decosta, Amadeu Gazov, Amitaf Citron, Ana Vhargon, Andabata Mandelbrot, Anem Qunhua, Anemolif Petrovic, Arménio Pessoa, Avatarzinha (Bia), Bankinha Papp, Betinaastride, Beto Sabretooth, Butler2 Evelyn, Camie Rembrandt, Capcat Ragu, Carmindaproenca Magic, Dalia Flores, Diana 2 A ausência do Corpo na Comunicação Online Maria Paula Oliveira Justiça Merchiston,Eggy Lippmann,Eros Reinard, Eunice Galaxy, Feijocama Ubble,Fernando Westminster, Frapau kling, Freddyx Menges, Fredyribeiro Writer, Galadriel Lund, Genius Bikcin, Golfinhazul Rosca, Gotti Taurus, Guerreira Xue, Hugomorais, Janjii Rugani, Jazz62 Masala, Joaoluis5858 Foden, Jorgealmart Thor, Karllos Decosta, Kiko Freng, Ladiestoilet Avedon, Lena Lastchance, Lemac Arai, Linda Faith, Luisalberto Rajal, Luana kenin, M2life Paravane, Marga Ferrer, Maria Pessoa, Martinne Zeitman, Mei Nemeth, Meilo Minotaur, Merck Nieuport, Mirror Amorosi, Morgen String, Mysa Randt,Natem Andel, Oscar Mildor, Pedroferreira Petrov,Pmal Magic,Reviriato Merlin, Saga Tuqiri, Serpico Gyranaut, Sil Batriani, Silvanaf Demina, Sofia Ishelwood, Sophialan Bandler, Spyvspy Aeon,To Mielziner,Violeta Yakan,Wan Laryukov,Winter Wardhani, Zeus Bedrosian e Zoree Jupiter. Só estou aqui a referir os nomes dos avatares que indiscutivelmente me marcaram, me ajudaram e me fizeram entender o que estava a vivenciar de uma outra forma, no entanto quero agradecer também a todos os outros que foram fundamentais no decorrer deste percurso1, mas também aos que me fizeram companhia nas noites de estudo, de reflexão ou apenas de divertimento. Quase todos estes avatares, ou já eram ou se transformaram em pessoas reais, mas alguns deles passaram a fazer parte do meu círculo de amigos e outros, apesar de terem desaparecido do Second Life ou da minha vida, ficarão para sempre na minha memória e nas minhas palavras. 1 Para além dos já mencionados, vou ainda indicar os que também responderam aos questionários e às entrevistas, que participaram ativamente nas tertúlias e nas sessões das Imagens da Cultura, assim como os que de alguma forma colaboraram ou influenciaram o desenvolvimento da pesquisa: Afrodite Ewry, Aggio Piaggio, Ale Lomes, Alexandra Belargio, Alexandre Maurer Anairda Bulloch, Angelom Jarvinen, Anitia Loire, Antonius Dollinger, Bebe Reifsnider, Benedita Aries, Berta Merit, Capa Langer, Carlinha Aristocrat, Carol Iasmertz, Chagalvision, Charlee Luminos, Chupacabra Decosta, Deliciosa Pera, Deise Ducrot, Doutor Dorben, Dubai Avril, Eilis Pessoa, , Eudigo Oh, Fernanda Composer, Fidalgo Falta, Filipe Cobalt, Florcampestre, Gaspar Balazic, Geo Meek, Gipsi Karas, Golberg Sabahi, Ho Peccable, Ibrahim Bates, Isabelle Schnyder, Isor Portland, Jessi Platt, Jessica Broono, Jp Macfanatic, kitaro Vella, kk2r5 Back, Kyrion Yalin, Labai Afterthought, Lara Rosenberg, Larissa Quinote, Lauran Quan, Lauriza Lavecchia, Lenalis Benoir, Lenz Bovarro, Llilithy Chaplin, Loren Melody, Lusitania Bernitz, Maa Giha, Manha Teixeira, Manoella Moonites, Mike Guardian, Mitsuki Faith, Mokann Petrov, Msu Speiser, Nalemi Canucci, Nyne Wolfe, Orangelife Holmer, Othelo Ayres, Padma Guisse, Palup Ling, Paulo Webwyre, Pedro Duarte, Pituxa Cortes, Priscilla Coeyman, Rafaela Avedon, Radioactive Rosca, Ricardo Gelles, Rogy Catronis, Rosanah Darkbyrd, Scalabis Paulino, Sininho Mildor, Sofy Woller, Solrak Footman, Syrena Merlin, Tary Allen, Taty Oller, Tb Andel, Tpglourenco Forcella, Uglydalking, Untolerable Bohemian, Miguel Rotunno, Vitos Porta, Vladimiro Renoir, Vmnf Korpov, Wilson Galicia, 7xy Core, Xdeco Sabra, Xcf Seetan, Xico Almodovar, Zesoca Dezno e Zet667 Avril. Entre os que não foram referidos incluem-se os que preferiram manter o anonimato, mesmo o virtual, mas de qualquer modo seria demasiado exaustivo referi-los aqui a todos. 3 A ausência do Corpo na Comunicação Online Maria Paula Oliveira Justiça Resumo Num mundo onde pudéssemos satisfazer os nossos desejos, jogar, namorar, assistir a concertos e visitar exposições, entre muitas outras opções, que vida escolheríamos ter? E se pudéssemos ser mais altos, mais morenos, mais musculados, mais magros, de cabelo ruivo encaracolado e de olhos verdes, quem é que escolheríamos ser? Mas por trás dos avatares, quase tão perfeitos como o mundo em que habitam, estão os seus eus, que conseguem saber os desejos que pretendem satisfazer e que possuem gostos, interesses, que se inserem em grupos e até podem pertencer a uma família, tal como na vida real. Aqui, no mundo virtual do Second Life, mundo simultaneamente dos arquétipos platónicos e das ilusões consentidas do Matrix, os avatares alienam-se dos seus eus, vivem intensamente experiências que não dispõem na vida real, como acontece nos jogos em que têm de assumir o papel de determinada personagem e o vivem como se fosse o seu. Há também quem considere este mundo como um complemento da vida quotidiana e não necessariamente uma segunda vida, em que os avatares representam as pessoas reais que os escolheram, mesmo que aparentemente não se identifiquem com elas. Mas quem são as pessoas por trás dos avatares? Possuem várias identidades? Os corpos reais confundem-se com os dos avatares? Existe uma dissociação entre corpo real e virtual? O corpo físico, sentado em frente ao computador, é substituído por um corpo virtual, por um corpo sem carne, com o qual nos podemos ou não identificar, mas que representa o que podemos ser no mundo virtual, porque mesmo aí não existimos sem corpo, que pode ou não ser como nós o idealizamos e até ser semelhante ao nosso corpo real. Seja como for e mesmo que aparentemente não pareça, há sempre algo de nós próprios no corpo que escolhemos para nos encarnar no metaverso, no corpo do avatar. E é com ele que formamos e desenvolvemos a nossa identidade, sem corpo não existe identidade, pois nós somos o nosso corpo. 4 A ausência do Corpo na Comunicação Online Maria Paula Oliveira Justiça Abstract In a world where we could satisfy our wishes, play, win, date, attend concerts and visit exhibitions, among many other options, which life would we choose to live? What if we could be taller, more brunet, stronger, thinner, have curly red hair and green eyes, who would we choose to be? But behind the avatars, almost as perfect as the world they inhabit, there are their selves, who are able to know the wishes they intend to satisfy and who also have their own tastes, interests, who are part of groups and who can even belong to a family as in real life. Here, in Second Life virtual world, simultaneously the world of Plato’s archetypes and of Matrix allowed illusions, the avatars alienate themselves from their selves, living intensely experiences that do not have in real life, as it happens in the games where they have to perform the role of a certain character and live it as if it was his. There are also those who consider this world as a complement of everyday life instead of seeing it as a Second Life, in which the avatars represent the real people who have chosen them, even if apparently they don’t identify with them. But who are the people behind the avatars? Have they multiple identities? The real bodies are almost like the bodies of the avatars? There is a dissociation between the real and the virtual body? The physical body, sitting in front of a computer, is replaced by a virtual body, for a body without flesh, with which we can or can not identify, but it represents what we can be in the virtual world, because even there we do not exist without a body, which may or may not be as we idealize it and even be similar to our real body. Whatever and even though apparently not enough, there is always something of ourselves in the body that we chose to incarnate in the metaverse, the body of the avatar. And with it is that we form and develop our identity, there is no identity without body, we are our body. 5 INDICE: 1. INTRODUÇÃO…………………….………………………………………………………….8 2. PERCURSO EPISTEMOLÓGICO……………………………………………………..........31 2.1 CONTEXTUALIZAÇÃO ............................................................................................................ 36 2.2 ALGUNS PROBLEMAS ............................................................................................................ 44 2.3 OBJETIVOS E PLANIFICAÇÃO ................................................................................................. 50 2.4 UMA VIAGEM NO SECOND LIFE ............................................................................................. 54 2.5 GLOSSÁRIO ............................................................................................................................ 63 3. A AUSÊNCIA DO CORPO NA COMUNICAÇÃO ONLINE ............................................................... 65 3.1 ALTERIDADE E CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE ..................................................................... 78 3.2 DA IDENTIDADE DO AVATAR À DO GRUPO ........................................................................... 85 3.3 A VOZ COMO DIMENSÃO CORPORAL ..................................................................................... 95 3.4 CORPO E IDENTIDADE NO METAVERSO ............................................................................... 104 3.5 VIVER NÃO É APENAS UM JOGO ........................................................................................... 113 4. PERCURSO METODOLÓGICO .................................................................................................. 120 4.1 ANTROPOLOGIA VISUAL E ETNOGRAFIA VIRTUAL ............................................................. 128 4.2 SELEÇÃO DE DOCUMENTOS DIGITAIS .................................................................................. 136 4.3 INQUÉRITOS E ENTREVISTAS ............................................................................................... 145 4.4 HISTÓRIAS DA SEGUNDA VIDA ............................................................................................ 162 4.5 PERTENÇA À COMUNIDADE ................................................................................................. 173 5. A DESCOBERTA DA IDENTIDADE NO SECOND LIFE ................................................................ 181 5.1 ATIVIDADES LÚDICO-EDUCATIVAS .................................................................................... 189 5.2 O QUOTIDIANO DE UM AVATAR COMO EU .......................................................................... 197 5.3 CORPOS REAIS E IDENTIDADES VIRTUAIS ............................................................................ 207 5.4 SEXO VIRTUAL ENTRE CORPOS DIGITAIS ............................................................................. 222 5.5 O LUGAR DO CORPO NA ARTE VIRTUAL ............................................................................. 234 5.6 O CORPO COMO REFLEXÃO ANTROPOLÓGICA .................................................................... 242 6. CONCLUSÃO .......................................................................................................................... 252 7. BIBLIOGRAFIA………………………..………………………..…………………………273 7. 1 BIBLIOGRAFIA TEMÁTICA .................................................................................................. 273 7. 2 BIBLIOGRAFIA ONLINE ....................................................................................................... 280 7. 3 BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR ........................................................................................ 285 7. 4 FILMOGRAFIA ..................................................................................................................... 288 A ausência do Corpo na Comunicação Online Maria Paula Oliveira Justiça INDÍCE DE IMAGENS Figura 1 – Uma nova identidade, do Solrak ............................................................................ 8 Figura 2 - Senses Places and Embodied Mixed Reality Interfaces, no Minho ................. 17 Figura 3 - Yoga do Riso, com Eunice Galaxy, em Portucalis ............................................ 18 Figura 4 – PaulaJ e Sil, cavalgando na floresta de Bliss ..................................................... 30 Figura 5 – Bankinha e CarmindaProenca, no Café Livraria Nova Águia ......................... 56 Figura 6 - Genius à porta da Gatafunhos, na Alma Land .................................................... 58 Figura 7 - Merck com os seus dois filhos, da Merck ........................................................... 89 Figura 8 - A marcha poética das Galdérias e dos Trengos, em Portugal Center .............. 89 Figura 9 – Frapau, em Ozicawa City, da Guerreira ............................................................. 92 Figura 10 – Gotti nos Gatafunhos, na Alma land – Gaia Portugal .................................... 92 Figura 11 – Janjii e PaulaJ no Workshop: A construção do avatar, da Sinara ............... 105 Figura 12 – O rosto de Diana, da Cher ................................................................................ 109 Figura 13 - Exposição de fotografia do Jazz, na Costa de Aveiro ................................... 118 Figura 14 - Anemolif Petrovic nas Imagens da Cultura, no Minho ................................. 122 Figura 15 – Uma das Noites de Poesia no SL, no Minho, da Anemolif .......................... 122 Figura 16 - Guerreira Xue numa das Noites de Poesia no SL, no Minho ....................... 142 Figura 17 - eTICtar nas Imagens da Cultura, em Portucalis ............................................. 170 Figura 18 - Betina Astride e Bia Dreamstime nas Imagens da Cultura, no Minho ....... 170 Figura 19 - Sophialan nas Imagens da Cultura, em Portucalis ......................................... 174 Figura 20 - Desenho da Wan sobre uma viagem de amigos virtuais na RL ................... 180 Figura 21 - A importância do design no dia-a-dia, na Costa de Aveiro .......................... 193 Figura 22 - Arménio Pessoa em Música Portuguesa, na Ilha da Presidência ................. 201 Figura 23 - Primeira peça de teatro em língua portuguesa - Portugal Center ................. 201 Figura 24 - Lena Lastchance nas Imagens da Cultura, no Minho .................................... 208 Figura 25 - Avatar feliz flutuando com arte, por Aerdna .................................................. 242 Figura 26 – Minho – Portugal Center, por Winter ............................................................. 256 Figura 27 - Capcat Ragu nas Imagens da Cultura, em Portucalis .................................... 269 7 A ausência do Corpo na Comunicação Online Maria Paula Oliveira Justiça Figura 1 – Uma nova identidade, do Solrak 1. INTRODUÇÃO A escolha deste tema para o projeto de investigação, “A ausência do Corpo na Comunicação Online”, partiu de uma interrogação acerca do papel que atribuímos ao nosso próprio corpo quando criamos personagens fictícias ou nos relacionamos com corpos virtuais, assim como da sua ausência ou presença no mundo virtual. O ambiente escolhido para o seu desenvolvimento foi o Second Life, considerado por alguns como um jogo2, mas na realidade uma tecnologia criativa3, em que se pode ter uma vida paralela à real ou simplesmente fazer o que, por várias razões, é dificultado na vida quotidiana presencial. Numa época em que é comum a criação de avatares para a 2 «Social worlds are socially driven systems in which a player tries to achieve social position under emergent rule sets. Avatar-based social world systems, such Second Life, or There, have rolls to be palyed.» (MEADOWS, 2008, p. 34) 3 «O Second Life (SL) é uma plataforma de desenvolvimento de ambientes virtuais criada em 2002 pela Linden Labs. Nestes ambientes os utilizadores podem criar avatares, interagir com outros avatares, construir qualquer tipo de objeto, trocar e comprar criações feitas, assim como comprar terrenos virtuais. Fundamentalmente, e à imagem da Web 2.0, é um ambiente que vive da presença e criatividade dos utilizadores, ou seja, fornece todas as ferramentas necessárias para que cada um dos participantes possa criar um pedaço desse mundo. Tudo o que podemos ver no interior do SL é criado pelos seus utilizadores sem qualquer orientação ou direção. Julgamos mesmo que a única linha orientadora deste universo acaba por ser a constante tentativa de replicação do mundo real, através dos monumentos, das personagens, suas roupas e qualidades físicas, assim como hábitos e comportamentos das comunidades no SL.» (PEREIRA & ZAGALO, 2008, p. 149) 8 A ausência do Corpo na Comunicação Online Maria Paula Oliveira Justiça representação de cada identidade nas redes sociais virtuais, parece pertinente questionar o futuro acerca das consequências dessa ausência ou presença do corpo no metaverso4. Na realidade, em termos históricos e sociais, o papel do corpo não tem sido merecedor de grande atenção pela denominada cultura ocidental, pelo menos desde a expansão do cristianismo5 e por influência da filosofia antiga, nomeadamente do orfismo e da ontologia platónica, que consideram o corpo como a prisão da alma6. Esta reduzida valorização do corpo estaria essencialmente ligada a razões de ordem cultural, pois tradicionalmente ele era escondido e, de acordo com os cânones culturais e conforme as épocas, só se podiam descobrir partes restritas do corpo, considerando-se como imoral a obediência aos prazeres físicos7. Por outro lado, os pensadores ocidentais legaram-nos, principalmente desde Sócrates e Platão, a conceção de um dualismo antropológico, ainda exaltado por Descartes e por todos os racionalistas, que continua a marcar a forma como cada um perceciona o seu próprio corpo. Desde a idealização do corpo, na tradição cultural da Grécia antiga, até à glorificação da dor física, instaurada pelo cristianismo, o caminho para a civilização passa por uma domesticação e controle do próprio corpo. Apesar destes discursos já não 4 Numa entrevista de Jacinto Godinho, José Gil questiona: «Suponhamos uma sociedade de controlo, ou seja uma sociedade dominada pelas novas tecnologias. O que é o corpo aí? Como dizem todas as utopias das novas tecnologias que aparecem, o corpo desaparece, passa a ser virtual. Que é o corpo que está à frente de um computador, e desaparece? (…) de onde é que vem a produção dessa subjetividade, de onde vem o desaparecimento do corpo? Vem de uma, digamos, para empregar uma expressão antiga, de uma “estrutura de produção” que tem a ver com o universo das novas tecnologias, que vai ser o futuro. Universo no qual não haverá lugar para o corpo. A menos que haja, da nossa parte, da parte das pessoas que podem pensar viver com um corpo, um corpo real, uma luta contra esse desaparecimento do espaço real do corpo, que é um espaço que tem a ver com a terra, que tem a ver com as cidades, que tem a ver com o espaço real tal como o respiramos, não é?» (disponível em http://perguntodromo.blogspot.pt/2011/12/jose-gil-2003.html) [19/03/13]. 5 «Na cultura ocidental a apropriação do corpo é relativamente recente. Como o resto do universo, ele era tido como uma criação de Deus (Sua obra prima) e, logo, intocável, inquestionável e inescrutável. Desde os seus primórdios, a cultura ocidental traz a marca de uma aversão, ou mesmo ódio, que hostilizava o prazer e o corpo.» (CECCARELLI, 2011, p. 15-34) 6 « Pero, si no me engaño, los partidarios de Orfeo aplican esta palabra a la expiación de las faltas que el alma ha cometido. Ella está encerrada en el recinto del cuerpo, como en una prisión, en que está guardada, (soodseetai). El cuerpo, como lo indica la palabra, es para el alma, hasta que ésta ha pagado su deuda, el guardador, (sooma), sin que haya necesidad de alterar una letra. » (PLATÃO, s/d, p. 20) 7 «O corpo da mulher está sob suspeita, porque é nele que residem os atrativos que nos ligam ao mundo.» (BRAUNSTEIN & PÉPIN, 2001, p. 85) 9

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could be time-consuming, many residents told me they found it easy to participate at a basic level even if .. 60 «Second, it should be possible for the virtual world client software to be somewhat independent of the Machinima – Machine Animation, que é a filmagem de cenas dentro de jogos de.
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