UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE ARTES E COMUNICAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS E LINGÜÍSTICA DOUTORADO EM TEORIA DA LITERATURA “Dor-Amor”: Leitura e Escritura dos Contos de Fadas Joana D’arc de Mendonça Cavalcanti Recife 2002 UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE ARTES E COMUNICAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS E LINGÜÍSTICA DOUTORADO EM TEORIA DA LITERATURA “Dor-Amor”: Leitura e Escritura dos Contos de Fadas Joana D’arc de Mendonça Cavalcanti Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras e Lingüística, da Universidade Federal de Pernambuco, como requisito parcial à obtenção do título de Doutor em Teoria da Literatura. Orientador: Prof. Dr. Sébastien Joachim Recife 2002 DEDICATÓRIA Ao meu avô, José Cavalcanti (In memorian): Pelas trocas, afetos e histórias compartilhadas. Pelo mundo reinventado no cheiro da terra molhada, da chuva batendo no telhado, do perfume de jasmim, da visão de acácias vermelhas, dos riachos cristalinos e do vôo de borboleta. Pela oferta de um tempo mágico eternizado no “Era uma vez…” . AGRADECIMENTOS A Carlos Afonso, companheiro de todas as horas, parceiro na vida, nas buscas e no amor, pelo estímulo constante e pela ajuda incondicional nos momentos mais árduos da realização deste trabalho. Às minhas filhas Luana e Laura pela vivência de muitas histórias e construção de um grande amor. À minha mãe, pelo incentivo e presença constante, pelas histórias que embalaram a infância e me garantiram o prazer pela leitura. Ao meu mestre e orientador, Professor Doutor Sébastien Joachim, por mais uma vez poder com ele compartilhar minhas histórias, assegurada por sua competência intelectual, seu rigor científico e sua grandiosidade humana. Sébastien, obrigada! À minha avó Eula que entre um segredo e outro foi ensinando-me o delicado e misterioso mundo das palavras. À minha tia Colija Pacheco por ter sido referência de amor, doação e esperança e, também, passaporte para muitas conquistas. À minha irmã, Conceição, pelos momentos da infância e pela cumplicidade afetiva. Estamos juntas na “chuva com sol e festa de rouxinol”, nos nascimentos e casamentos...na vida e nos caminhos da alma. À Norma Menezes pelos laços construídos, pela amizade alinhavada no dia-a dia de muitas conversas, mas principalmente por ter apresentado-me à beleza e a grandeza que existem em muitas das pequenas coisas que pontuam a vida. Amiga, obrigada pela força e credibilidade durante todo o percurso do desenvolvimento destes escritos. À Márcia Basto, pela amizade de sempre. À Elizabeth Cavalcanti, pelo respeito e amizade que nos une. A Luiz Otávio de Melo Cavalcanti pela confiança e respeito ao ajudar-me na construção de um tempo dividido entre o desempenho das minhas funções no DIARIO DE PERNAMBUCO e a realização do curso de Doutorado. À Cleide Delmácia, pela colaboração. À Universidade Federal de Pernambuco, em especial ao Programa de Pós-Graduação em Letras e Lingüística por ter possibilitado a realização de um desejo pessoal e compromisso profissional: ampliar a produção dos estudos e discussões em torno dos contos de fadas no âmbito da academia. Às professoras Nelly Carvalho e Luzilá Gonçalves pela competência e sensibilidade com as quais sugeriram mudanças e apontaram caminhos durante o Exame de Qualificação. As observações foram fundamentais para a conclusão destes escritos. Aos alunos de Pós-Graduação de Literatura Infanto-Juvenil da FAFIRE, pelas trocas e aprendizado. À Inês Fornari, pelo incentivo. À Laura Cardozo pela amizade, além de muitos momentos onde pude reconhecer a dimensão da sua sensibilidade. À Cristhianni Beserra com quem pude contar com a acolhida imediata para a reorganização dos texto que compõem esta tese. À Diva e Eraldo pela constante disposição em atenuar os inúmeros problemas que surgem no decorrer dos cursos de pós-graduação e pela cordialidade com a qual sempre me acolheram. A Lucas, representando todas as crianças, pela inspiração diária e a crença permanente de que devemos fazer das narrativas infantis uma janela para o mundo. Finalmente, a todos que direta ou indiretamente colaboraram com este trabalho. SUMÁRIO RESUMO...................................................................................................................... 08 RÉSUMÉ...................................................................................................................... 09 ABSTRACT................................................................................................................. 10 INTRODUÇÃO........................................................................................................... 11 CAPÍTULO 1 – A IMPORTÂNCIA DOS CONTOS DE FADAS NA FORMAÇÃO E EDUCAÇÃO DA CRIANÇA......................................................... 29 1.1 - Os contos de fadas......................................................................................... 29 1.2 – Os contos e a educação afetiva e moral da criança ...................................... 37 CAPÍTULO 2 – VASALISA: A SÁBIA: SÏMBOLO E NARRATIVA NA ENUNCIAÇÃO DOS AFETOS................................................................................. 40 2.1 – No princípio… era dor.................................................................................. 40 2.2 – E a palavra se fez ação… ............................................................................ 52 CAPÍTULO 3 - O PEQUENO POLEGAR: NARRATIVA DO MEDO E COMPLEXO DE CASTRAÇÃO .............................................................................. 74 3.1 – Complexo de castração................................................................................. 74 3.2 – Narrativa e medo.......................................................................................... 93 CAPÍTULO 4 - O JUNÍPERO E AS TRÊS ETAPAS DA DOR............................. 115 4.1 - A primeira etapa da dor: a ruptura................................................................ 120 4.2 - A segunda etapa da dor: a comoção ............................................................ 146 4.3 - A terceira etapa da dor: a reação ................................................................. 158 CAPÍTULO 5 - A BELA E A FERA: UMA TRAVESSIA POÉTICA DA DOR- AMOR ......................................................................................................................... 181 5.1 - Mito e contos de fadas – itinerários do simbólico com resoluções diferentes .................................................................................................... 181 5.2 - Limites da dor-amor: percurso de “transubjetividade”................................. 204 5.3 - No reino do “isso”: conquista e autonomia – travessia para o amor............. 224 CONCLUSÃO ............................................................................................................ 242 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 251 ANEXOS ...................................................................................................................... 263 8 RESUMO “Dor-amor”: leitura e escritura dos Contos de Fadas propõe um trabalho de hermenêutica baseado na análise psíco-crítica, assumindo como referência os pressupostos teóricos dos especialistas Jean Bellemin-Nöel e Juan-David Nasio, nos quais fundamentamos nossas hipóteses e interpretações para dizer que tais narrativas nos desafiam na base dos nossos desejos mais profundos, portanto lugar de busca onde o leitor vivencia sua subjetividade de forma mais plena possível. Por meio da análise crítica das narrativas Vasalisa: a sábia, O Pequeno Polegar, O Junípero e A Bela e a Fera apontamos para o fato de que os contos de fadas constituem-se num território de transubjetividade, fonte inesgotável da experiência simbólica e do encontro entre o eu e o outro que se podem ver no “mais-além” que caracteriza a dimensão da ficção e da obra de arte. Por meio desses contos e dos autores que nos apoiam na aliança entre literatura e psicanálise, além dos já citados, visitamos Bruno Bettelheim, Sheldon Cashdan, Melanie Klein, Maud Mannoni, Alfredo Garcia-Roza, entre outros para dizer que os contos encantam porque nos ensinam que a vida é busca, desafio e captura de um sentido sem o qual não conseguimos uma resolução satisfatória para nossos dramas e conflitos. Enfim, o mágico “Era uma vez...” da história de todos nós. Por isso, desde que o mundo é mundo as histórias existem e um conto de fadas é uma das mais elevadas expressões simbólicas de que o bem sempre vence o mal, que a palavra salva e faz esperançar. Apesar de todas as dores e etapas a serem vencidas, os contos de fadas nos ensinam que somos salvos pelo amor. 9 RÉSUMÉ “Douleur-Amour”: lecture et écriture des contes de fées propose un travail herméneutique basé sur l’analyse psycho-critique, avec pour références les présuposés théoriques des spécialistes Jean-Bellemin-Noel et Juan David Nasio, sur lesquels nous avons basé nos hypothèses et nos interprétations, pour dire que telles histoires défiaient nos désirs les plus profonds, donc lieu de recherche où le lecteur vit sa subjectivité de la forme la plus complète possible. A travers l’analyse critique des Histoires : Vasalise: la sage, Le Petit Poucet, Le Juniper - l’arbre sacré et La Belle et la Bête, qui soulignent le fait que les contes de fées se forment dans un territoire de transubjectivité. C’est une source inépuisable de l’expérience symbolique et de la rencontre entre le moi et l’autre qui peuvent se voir dans un “ailleurs plus lointain” et caractérise la dimension de la fiction, ainsi que l’oeuvre d’art. Parmi ces contes et ces auteurs, permettant l’union entre la littérature et la psychanalyse, et en plus de ceux déjà cités, nous avons exploré Bruno Bettelheim, Sheldon Cashdan, Mélanie Klein, Maud Mannoni, Alfredo Garcia-Roza, entre autres, pour dire que les contes enchantent parqu’ils nous apprennent que la vie est une quête, un défi, la capture d’une signification sans laquelle nous ne trouverions pas de satisfactions pour résoudre nos drames et nos conflits internes. Enfin le magique “il était une fois ....”de notre histoire à nous tous. Pour cela, depuis que le monde est monde, les histoires existent et un conte de fées est l’une des expressions symboliques les plus élevées, du bien surpassant le mal, du mot qui nous sauve et nous fait garder espoir. Malgré toutes les douleurs et les étapes à surmonter, les contes de fées nous apprennent que nous sommes sauvés par l’amour.
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